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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mulheres e Islão




O símbolo de Tianamen foi a foto de um indivíduo solitário de braços abertos frente a um carro de combate.
O símbolo do que se passou no Irão foi a morte em directo de Neda Soltan. Uma mulher.
E o que se passou no Irão tem tudo a ver com as mulheres. Consta até que na origem da revolta esteve a mulher do candidato derrotado, Zahra, professora de História, autora de vários livros e antiga dirigente da Universidade de Teerão, despedida aliás por Amadinejad.
As imagens disponíveis mostram também uma espantosa quantidade de mulheres nas manifestações.

O que se compreende, porque o Islão é essencialmente mau para as mulheres. No Irão elas são detidas por “crimes” como usar baton ou mostrar o cabelo. Ao terceiro “crime” cumprem pena de prisão e ao 4º são vergastadas em público.
No Islão a mulher ideal é aquela que não é vista. A sociedade ideal é aquela onde as mulheres são invisíveis e inexistentes na vida e no espaço público. Em última análise, a opressão das mulheres é o verdadeiro símbolo do Islão e os delirantes códigos de vestuário são uma das mais visíveis expressões dessa opressão.
É também por isso que os acontecimentos no Irão são importantes. Zahra, que por vezes é vista em público de mãos dadas com o marido, comportamento perigosamente nos limites da legalidade islâmica, disse em 2006 que Amadinejad odiava as mulheres. Foi despedida logo a seguir e enganou-se num ponto importante: Amadinejad não é apenas um indivíduo misógino. É um bom muçulmano e a personificação da misogenia do Islão.
Na verdade a luta do Islão contra o resto do mundo, expresso na jihad, funda-se numa secular e profunda desconfiança nas mulheres, vistas sempre como encarnações do demónio e que têm de ser controladas, escondidas e reprimidas.
No Afeganistão a luta do Islão contra as mulheres atingiu o zénite. Mulheres impedidas de estudar e de trabalhar, presas por saírem à rua sem acompanhante masculino, vergastadas por não usarem bem a burga, fuziladas e lapidadas em estádios de futebol, por dançarem, cantarem ou usarem saltos altos sob a burga,.
Garante a esquerda multiculturalista que é uma cultura diferente, nem melhor nem pior, e que nós não devemos fazer juízos de valor, já que não há culturas melhores que outras. Uma bela treta, se me permitem, marca inconfundível da hipocrisia fundamental da esquerda, sempre pronta a desculpar as piores aberrações de certas culturas, com a mesma intensidade com que se esganiça contra as pequenas imperfeições de outras. Há tempos uma juíza alemã recusou o divórcio a uma mulher marroquina que era agredida pelo marido, também ele um bom muçulmano, alegando que a agressão da mulher pelo marido é uma prática cultural islâmica e que por isso a vítima já sabia o que esperar.
Ou seja, na prática esta inacreditável juíza, produto da mentalidade esquerdista que domina os campus das universidades das chamadas “ciências humanas”, não hesita em regular que os direitos humanos não são universais, como pensávamos, e, pelo contrário, devem ceder aos valores das culturas, pelo que os indivíduos, queiram ou não, são prisioneiros da cultura onde nasceram.
O actual Presidente americano, vai também por aí. Ao advogar o não envolvimento, ao não querer interferir, ao alegar que se trata de “assuntos internos iranianos” e de “questões de soberania iraniana”, na pratica age como o polícia que observa um marido a bater na mulher, encolhe os ombros e recita a velha máxima de que “entre marido e mulher não se mete a colher.”
Discordo. Nestas coisas não há neutralidade. Os direitos humanos são universais e os seus detentores são os indivíduos, incluindo as mulheres. Não são concessões dos estados, nem cedem face às culturas ou religiões. A neutralidade face à agressão de uma ditadura é cumplicidade e apenas dá força ao agressor. É como ir na rua, observar um meliante a roubar uma velhota e filosofar que é melhor não interferir, apesar de a vítima gritar por ajuda.
Não, o herói não foi Obama, como os adoradores do Escolhido insistem em asneirar. As heroínas foram Zahra e Neda.
Elas e o que fizeram, dão a dimensão do pesadelo em que o Islão transformou a vida das mulheres.
A vida de Neda é o exemplo perfeito daquilo que devia mobilizar a chamada “esquerda”, que se acredita “progressista”, mas é profundamente reaccionária e hipócrita.
As fotos dela enquanto mulher livre, reduzida à servidão islâmica e finamente morta ao lutar pela liberdade, dizem-nos que por vezes vale mais morrer de pé do que viver de gatas.
Não é nada connosco, garante Obama, fazendo vénias ao “supremo líder” e agachando-se perante a “República Islâmica do Irão”, como faz questão de lhe chamar.

Está enganado e esta é a "change we don’t need".

58 comentários:

Sérgio Pinto disse...

O actual Presidente americano, vai também por aí. Ao advogar o não envolvimento, ao não querer interferir, ao alegar que se trata de “assuntos internos iranianos” e de “questões de soberania iraniana”, na pratica age como o polícia que observa um marido a bater na mulher, encolhe os ombros e recita a velha máxima de que “entre marido e mulher não se mete a colher.”
Discordo. Nestas coisas não há neutralidade. Os direitos humanos são universais e os seus detentores são os indivíduos, incluindo as mulheres. Não são concessões dos estados, nem cedem face às culturas ou religiões. A neutralidade face à agressão de uma ditadura é cumplicidade e apenas dá força ao agressor. É como ir na rua, observar um meliante a roubar uma velhota e filosofar que é melhor não interferir, apesar de a vítima gritar por ajuda.


Tem razão, nada como um bom neoconservador, para tratar de resolver a coisa com uma invasão. Aliás, como é do conhecimento geral, os direitos das mulheres melhoraram muitíssimo no Iraque desde a queda do Saddam.

E explique lá, de que forma é que uma intervenção directa do Obama poderia melhorar a situação? Estamos a falar de um país que, em tempos, foi liderado por Mossadegh e tinha um regime bem mais livre. No entanto, parece que os EUA e o RU acharam que a coisa correria muito melhor se o Xá voltasse ao poder, fosse de que forma fosse. Estamos ainda a falar de um país que, no âmbito da estratégia visionária neoconservadora, foi marginalizado e rotulado como pertencente ao 'Eixo do Mal', numa fase em que o Presidente ainda era o Khatami.

Portanto, não será difícil de imaginar que uma tentativa de interferência/favorecimento externa clara teria resultados contrários aos pretendidos, pois o agitar do fantasma do imperialismo ocidental poderia não apenas servir para os partidários da actual "revolução" perderem força, como poderia servir de elemento aglutinador entre as elites e piorar a actual correlação de forças (sob o ponto de vista dos 'reformistas').

Mas, provavelmente, bastaria perguntar-lhe em que se baseia para achar que os iranianos que neste momento arriscam o pelo para se manifestarem contra a provável fraude (sim, esses são heróis e deve ser a única coisa de jeito que o seu post tem) pretendem uma intervenção externa, particularmente proveniente dos EUA.

Ah, e faça o favor de morder a língua quando fala de 'hipocrisias de esquerda' ao mesmo tempo que se arvora em defensor dos Direitos Humanos. Podia perguntar-lhe onde anda a sua preocupação relativa ao Darfur, à Arábia Saudita ou à Palestina, mas há exemplos mais simples: também defendia os Direitos Humanos e a liberdade na América Latina enquanto o Reagan tratava de ajudar os seus amigos?

Unknown disse...

Caro, em 1º lugar, a sua visão de Mossdegh como um herói da democracia é uma patetice e demonstra que pouco sabe, para além dos slogans.
O Xá não "voltou" a poder. Já lá estava antes de Mossadegh. Que foi derrubado porque não percebeu que em plena guerra fria, num país na esfera de influência ocidental, não podia prosseguir políticas que mexiam com os interesses vitais das potências directoras.

Não foi derrubado por ser "democrata", que não era. Era um nacionalista, era um esquerdista e as nacionalizações que fez e que motivaram o seu derrube,eram fervorosamente apoiadas pelo Partido Comunista.
Digamos que era uma espécie de Alende. Um peão dos interesses comunistas que não percebeu que estava a jogar num tabuleiro onde não passava de um peão.

Quanto ao resto, percebo a sua ideia. Corresponde ao que digo no texto.
Que resposta se pode dar à hipocrisia?

INvadir o Irão, por causa disto? Claro que não...não é possível arriscar vidas americanas para salvar cidadãos iranianos, o mundo não funciona assim.

Mas dá para perceber que se você deparar com um assalto por esticão na rua a uma velhota, ficará calmamente especado a debicar um bolinho de arroz.
Nem um berro, nem um gesto, nem uma palavra de crítica ao "respeitável ladrão".

Bem, informo-o que eu, pelo contrário, iria atrás dele.
Como de resto já fiz em plena baixa de Lisboa, perante a espantosa e cobarde indiferença de gente como você.

Sérgio Pinto disse...

Caro, em 1º lugar, a sua visão de Mossdegh como um herói da democracia é uma patetice

Lidado, se você soubesse ler, teria visto que eu nem sequer falei em democracia, limitei-me a fazer notar, porque é um FACTO, que o regime era bem mais livre do que o que se lhe seguiu.


Era um nacionalista, era um esquerdista e as nacionalizações que fez e que motivaram o seu derrube,eram fervorosamente apoiadas pelo Partido Comunista.

Quanto a hipocrisias, estamos esclarecidos. A velhinha assaltada só deve ser defendida se não votar na CDU ou no BE.

Quanto ao resto, mais do mesmo. Não responde a absolutamente nada e, como se não fosse suficiente, arroga-se o direito de tergiversar sobre o que lhe parece que sou ou deixo de ser. Enfim, o nível rasteiro de sempre.

Este blogue não começou com um slogan do género "os medíocres discutem pessoas"? Pois, bem me pareceu.

Unknown disse...

Meu caro, lamento que considere o anti-comunismo como hipocrisia. Guerra é paz, como dizia o ideário do Grande Irmão e do Socialismo Inglês.

Não é. É genuíno. Ser-se anti-comunista é um dever de qualquer indivíduo que preza a sua saúde mental.
Tal como ser-se anti-fascista e anti-nazi.
E anti-islâmico.
É assumir que se está do lado certo da barricada.
Por vezes, infelizmente, não é possível escolher entre coisa boa e uma coisa má, mas entre duas más.

Entre morrer queimado ou saltar do 7º andar.

Para pública informação, estou do lado da democracia liberal.
Contra o socialismo e os ismos e que lhe falei.

Mas se a minha opção fosse entre coisas más, escolheria por esta ordem

1-Social-democracia
2-Socialismo democrático
3-Fascismo
4-Nacional-Socialismo
5-Comunismo
6-Islamismo

E você?

Sérgio Pinto disse...

Caríssimo,

Não desconverse. Sabe perfeitamente que o Mossadegh NÃO era comunista, tal como sabe que o regime por ele liderado era bem mais livre que o do Xá. E sim, armar-se em defensor dos Direitos Humanos apenas quando o partido no poder lhe agrada é hipócrita.

Unknown disse...

<" regime por ele liderado era bem mais livre que o do Xá"

Creo que não entendeu. Mossadegh era o 1º ministro daquele Xá. Não era outro regime.
É como dizer que o regime de Marcelo Caetano era mais livre que o de Americo Tomás.
No sense.

RioDoiro disse...

Lidador:

"E você?"

Aí é que a Pinto perde a crista.

Sérgio Pinto disse...

Creio que você é que não entendeu. Estamos a falar de 'faces do regime' ou 'eras'. Objectivamente, se quiser ir ao pormenor, o Governo é do PM, dos Ministros, etc.

Como calculo que também saiba, não foi o Mossadegh que promoveu o culto da personalidade ou que aboliu o sistema multipartidário.

Mas, enfim, pode continuar a tentar chutar para canto.

Sérgio Pinto disse...

Aí é que a Pinto perde a crista.

E eu que tinha mesmo a impressão que vocês tinham inaugurado o estaminé a dizer que os medíocres é que discutem pessoas...

Unknown disse...

"os medíocres é que discutem pessoas..."

Por isso mesmo é que lhe perguntei qual a ordem pela qual faria escolhas, em termos de ideias políticas.
Não porque o seu caso me interesse particularmente, mas apenas para nos situarmos.

Registo que não foi capaz se definir claramente.
O que, só por si, já é uma boa definição.

Quanto às "eras" ou "faces", ainda bem que entendeu a inconsistência daquilo que escreveu.
Reconheço que a culpa não é sua. Este é um daqueles temas que a esquerda antiamericana tem no baú, para arremessar a esmo. Na generalidade dos casos, quem arremessa, não tem a mínima ideia do que está ou estava em jogo.
É um enlatado.
É simples, maniqueísta qb, o típico fast-food que o esquerdista ardoroso e fervoroso adora consumir.
Enfim, um bordão...

Sérgio Pinto disse...

Ainda bem que deixa bem claro em si mesmo a hipocrisia que tenta em vão apontar a terceiros.

Entretanto, bom seria que finalmente respondesse a alguma coisa em vez de fazer de mim o tema dos seus comentários. Mediocridade intrínseca e inelutável?

Anónimo disse...

http://egitoebrasil.com/


b) Roubo
A quantidade minima em que pode cortar a mao de um ladrao e quanto da mao pode ser cortado somente pode ser encontrado na Sunnah.
A’aisha relatou que o Mensageiro de Allah (SAWS) disse : « A mao de um ladrao pode corta-la a partir do (valor de) um quarto de dinar ou acima ». (Sahih Muslim, numero 4179).
*Nota da tradutora : A Sharia permite que corte a mao de um ladrao apenas se este roubou por ostentacao, caso o roubo foi cometido por motivo de ma distribuicao de renda, a responsabilidade e do gorverno onde a Sharia e aplicada, pois neste caso se houver o corte da mao a Sharia estara sendo mal aplicada, sob essa condicao

RioDoiro disse...

SP:

"os medíocres é que discutem pessoas..."

Eu tenho, de vez em quando, o mesmo problema com as rodas do meu carro.

Eu adoro discutir o comportamento dos fluídos. Mas quando o pneu fica esburacado tenho outra alternativa que não seja tratar do pneu?

Quando o interlocutor nega a realidade deve continuar-se a alinhar-se no jogo da negação ou chapar nas trombas do caramelo que deve tirar as ramelas para poder abrir os olhos?

Quem é idiota? O que insiste em fechar os olhos colocando-se, como gente, em causa, ou quem lhe diz que use o sabão?

.

Sérgio Pinto disse...

Range,

Esses fenómenos projectivos são curiosos, mas se quiser mesmo resolvê-los terá que se deslocar a um psicólogo clínico. Sugeria-lhe a Joana Amaral Dias, mas essa também é do BE...

RioDoiro disse...

SP:

"Esses fenómenos projectivos"

Não se trata de projecções porque o caro Sérgio não está no cinema.

Se não limpar as ramelas sai-lhe o Michael Jackson em vez da Joana Amaral. Ou melhor, saía ...

Anónimo disse...

" vida de Neda é o exemplo perfeito daquilo que devia mobilizar a chamada “esquerda”, que se acredita “progressista”, mas é profundamente reaccionária e hipócrita."
Interessante, caro Lidador. Subscrevo a 100 % esta afirmação. Porque carga de água isto não é discutido? Para as mulheres, o Irão tornou-se uma gigantesca sala 101 do Ministério do Amor.
ejsantos

NachtEldar disse...

Equipa, aqui vão dois links:

Questões sobre Gaza, 2009

Politicamente correcto

De notar ainda o impressionante silêncio sobre os recentes confrontos entre facções palestinas e a "tese" de Rui Tavares referida pelo Lidador.

Cumprimentos e bom fim de semana.

Anónimo disse...

«Garante a esquerda multiculturalista que é uma cultura diferente, nem melhor nem pior, e que nós não devemos fazer juízos de valor, já que não há culturas melhores que outras.»

Islão é "cultura"? Quando se refere a "Islão", é religiosamente? Civilizacionalmente? Culturalmente acho um tanto absurdo, porque "culturalmente" um Afegão é diferente de um Saudita. Aliás, pressupor uma cultura islâmica homogénea está errado. Civilização Islâmica é uma coisa, cultura islâmica não faz muito sentido.

Stran disse...

Aqui fica o prémio meu atribuido a este blogue:

http://blogdotuga.blogspot.com/2009/06/premio-lemniscata.html

um abraço

Stran

Carmo da Rosa disse...

Minha gente,

Não tenho muito tempo para comentar - TT in Assen comeu-me a sexta-feira (mas valeu a pena), e tenho agora que legendar três filmes sobre carros até segunda feira – mas tenho muita pena, porque este excelente artigo do Lidador dava pano para mangas.

Queria apenas dizer que o Sérgio Pinto perdeu uma bela oportunidade para sacar umas quantas excelentes frases do texto do Lidador, assim como eu anteriormente já tinha feito com recentes comentários do Daniel Oliveira.

Mas sobretudo queria salientar a excelente escala de opções políticas que o Lidador elaborou:

1-Social-democracia
2-Socialismo democrático
3-Fascismo
4-Nacional-Socialismo
5-Comunismo
6-Islamismo

Genial, isto devia ser ensinado às criancinhas a partir da escola primária, que é para depois, quando são estudantes universitários terem uma visão pragmática da política e não acreditarem nas baboseiras do Jean-Paul Sartre, do Gore Vidal, do Alvaro Cunhal, do Miguel Portas e do Arnaldo de Matos...

Bom fim de semana para todos.

Sérgio Pinto disse...

Carmo,

Eu já fiz notar a única coisa que o lidado diz, de jeito, no texto todo. Fora isso, as asneiras e fugas em frente do costume.

Quanto ao mais, acho particular piada a essa vontade de formatar opiniões, em vez de promover o debate e o pensamento próprio.

Carmo da Rosa disse...

@ Sérgio Pinto: "...em vez de promover o debate e o pensamento próprio."

Caneco, eh pá, você está mesmo mal-disposto!

Agarre num copo de whisky e vá ver um pouco de ténis homem, vai ver que fica logo de melhor humor - está a Ivanovic a jogar...

Stran disse...

"Ao advogar o não envolvimento, ao não querer interferir..."

E quando alguém morre por não ter um seguro de saude? Também se pode interferir?

Sérgio Pinto disse...

Carmo,

Por acaso nem estava mal disposto. De qualquer forma, acho que o Wimbledon em Portugal só está disponível em canais 'pay per view', portanto não dá. De qualquer forma, nestas próximas semanas vou ter tempo para pouco mais do que vir aqui derramar a minha 'má disposição'...

Sérgio Pinto disse...

Xiiiiiiii, oh Stran, estás a sugerir que se interfira com o mercado?! Estás a defender intervenções socialistas, quiçá comunistas, do Estado? Olha que esse género de acções, aos olhos dos lidadores deste mundo, cai no 'eixo do mal dos regimes políticos' que ele definiu nesta caixa de comentários.

Renato Bento disse...

"E quando alguém morre por não ter um seguro de saude? Também se pode interferir?"

E quando alguém morre aos 40 anos sem nunca ter usado o Sistema Nacional de Saúde, mas pagando os impostos para o sustentar? Como justifica a vida limitada, sem escolha, deste homem de 40 anos que, pagando todos os seus impostos, reduz a sua capacidade financeira e consequentemente de alcançar a maior felicidade para si e para os seus sem posteriormente tirar proveito disso?

Relembre-se: são muitos anos a pagar impostos, muito dinheiro para o Estado, sendo que alguém se aproveitou dele por este pobre homem.

Outra questão: imagine um homem solteiro, sem filhos, que tem o azar de morrer aos 62 anos. Este homem passou a vida toda a descontar para possuir uma reforma, ficando a três anos de começar a reaver o dinheiro que perdeu. Como justifica a perda de dinheiro que este homem teve, provocada pelos descontos obrigatórios? Quem fica com o dinheiro dos seus descontos? Haverá transferências bancárias para o céu?

Carmo da Rosa disse...

@ Sérgio Pinto: “Por acaso nem estava mal disposto.”

Felizmente que está bem disposto, porque quase que consigo imaginar o que deve ser quando você está realmente mal disposto: lá está, temos certamente auto-crítica, tribunais populares e fáxistas no Campo Pequeno... Just kidding, isto é da falta de whisky mas do conhaque foleiro que tenho cá em casa.

Mas mesmo assim, ou talvez por isso (o conhaque), não estou muito bem a ver como é que você promove o debate e o pensamento próprio, quando afirma com ironia que “os direitos das mulheres melhoraram muitíssimo no Iraque desde a queda do Saddam.”.

Quer dizer, daqui para a frente todos os maus tratos que os Iranianos infligirem às mulheres e aos filhos – já para não falar nos massacres entre eles – é, e sempre será, da culpa do Bush...

Outro pensamento do mesmo género, formatado para Windows XP e muito querido à esquerda – é evidente que não é toda a esquerda, eu já me curei desta e o Daniel Oliveira provavelmente também – serve para dar as culpas dos problemas sociais e económicos de África ao colonialismo, pelo menos durante os próximos dois séculos...

Caro Sérgio, retiro o que disse acerca da sua hipotética má disposição, porque poder ver Wimbledon apenas através de canais a pagantes e continuar bem disposto, é prova de uma disposição a toda à prova... Se na Holanda isso acontecesse eu deixava crescer a barba e aderia à Al Qaeda.

ml disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ml disse...

E quando alguém morre aos 40 anos sem nunca ter usado o Sistema Nacional de Saúde, mas pagando os impostos para o sustentar?

E quando alguém morre aos 40 anos sem nunca ter usado o seguro de saúde, mas pagando regularmente as apólices para sustentar as seguradoras?

Quem fica com o dinheiro dos seus descontos? Haverá transferências bancárias para o céu?

Quem fica com o dinheiro das suas apólices? Haverá transferências bancárias para o céu?

Conhece alguma seguradora que, com prestações semelhantes ao que se desconta para a Segurança Social ou para os subsistemas de saúde, dê cobertura total e absoluta, seja qual for o montante necessário aos cuidados que prestam?
Mas por outro lado conheço muitíssimos relatos de gente com bom e muito bom rendimento mensal, nível de vida elevado, bons seguros de saúde, mas que tiveram o azar de uma queda seguida de tetraplagia. Ou necessidade de um transplante de fígado, rim, tratamentos dispendiosos prolongados.
E depois? Depois ficaram sem nada, saúde, bens, casa.

Os estragos que a palavra ‘estado’ provoca! Já nem falo na insensibilidade social em relação aos que não têm acesso a qualquer seguro ou têm apenas a possibilidade de um seguro básico, o que constitui a larga maioria.

Renato Bento disse...

Cara ml,

eu não defendo o sistema de apólices das seguradoras, nem mesmo o sistema de seguradoras, e não sou o porta-voz delas em Portugal. Também não possuo conhecimento suficiente sobre o caso Americano, que a cara parece estar implicitamente a frisar.

Não sei se o sistema Americano é melhor ou se é pior que o Europeu, se é bom se é mau. Tal avaliação depende de muitos parâmetros a serem avaliados, não apenas do facto de uma percentagem da população Americana não possuir seguro de saúde.

Parece-me, no entanto, existir uma diferença significativa: enquanto que no caso do sistema de seguradoras uma pessoa pode não as pagar se assim o entender, ficando sem a respectiva cobertura, no caso do Estado todos, mesmo sem o utilizar, mesmo sem recorrer aos seus serviços, mesmo sem assinar qualquer tipo de papel, já está a sustentar a existência de tais serviços.

Para acrescentar ao problema, parece que ainda não é suficiente aquilo que se paga: basta olhar para as taxas moderadoras (que têm em conta os rendimentos, creio); basta olhar para os preços das consultas com o médico de família no público (eu pago-as ainda; basta olhar às consultas de dermatologia, onde tinha de esperar 1 ano e picos para ter consulta. Conclusão: fui ao privado. Paguei uma quantia que, apesar de elevada, é uma pequena percentagem daquilo que dei ao Estado em toda a minha vida.

Renato Bento disse...

"Já nem falo na insensibilidade social em relação aos que não têm acesso a qualquer seguro ou têm apenas a possibilidade de um seguro básico, o que constitui a larga maioria."

Tem algum medidor de sensibilidade social consigo?

Citando um velho, com ar sabedor, com quem me cruzei no outro dia em Lisboa:

"(...) Com o mal dos outros posso eu bem."

Uma expressão que a deve deixar a reflectir.

Renato Bento disse...

Atenção: apenas cito o velho, não tenho direitos de autor e, vistas as coisas, não me revejo nas palavras.

Mas isso sou eu...

Sérgio Pinto disse...

Carmo,

Olhe que se põe assim a falar de tribunais populares e Campo Pequeno ainda põe o lidado com uma lágrima no canto do olho, comovido pelas lembravas de militante afincado da AOC.

A minha passagem irónica é uma resposta à enormíssima cara de pau que alguém como o lidado tem que ter para se tentar pôr na pele de defensor dos DH depois de tudo o que já disse. Como rapidamente se tornou visível, a fatiota durou pouco.

Por acaso, em relação a África parece-me mais premente moldar o futuro, particularmente tendo em conta o contexto actual.

Wimbledon ainda vá que não vá - dava para apostar que será o Federer e uma das Williams a ganhar; chateia-me mais ter deixado de ter a F1 com acesso livre.

Sérgio Pinto disse...

Oh ml, estava aqui a pensar em todos os quilómetros de estrada que já se fizeram neste país e que nunca usarei. E depois lembrei-me do facto de nunca ter tido de recorrer à polícia ou a um tribunal.

Enfim, os fiéis fizeram-me ter uma epifania e perceber que no fundo não devia era haver impostos. Nem estado.

Sérgio Pinto disse...

Não sei se o sistema Americano é melhor ou se é pior que o Europeu, se é bom se é mau.

Não? Isso é assaz curioso, tendo em conta a forma como entrou nesta caixa de comentários.


Tal avaliação depende de muitos parâmetros a serem avaliados, não apenas do facto de uma percentagem da população Americana não possuir seguro de saúde.

Já se percebeu que as questões de sensibilidade social que a ml levantou não o incomodam (nada de estranho, deve ter visto a palavra 'social', associado a 'socialista', salivado e concluído que só podia ser coisa má).

Mas olhe, sempre pode ir sabendo que é o sistema, em todo o mundo, que mais custos per capita implica. Com os resultados miseráveis que se conhecem.

Renato Bento disse...

"E depois lembrei-me do facto de nunca ter tido de recorrer à polícia ou a um tribunal."

Sem comentários caro Sérgio. Ou você é burro ou quer-se fazer passar por isso (eu aposto na segunda).

De modo sintético, caro Sérgio, porque já se faz tarde (faço tensões de amanhã continuar), gostaria de lhe dizer que nunca me verá a escamutear o papel do Estado na Justiça e na Segurança.

Tentar induzir das minhas palavras algo contra o papel do Estado na Justiça e na Segurança é de má-fé. Preocupe-se mais com os anarquistas comunitaristas e com outras facções radicais de esquerda, não com os Liberais.

Eu acredito que o homem estava muito pior sem Estado do que está com Estado. Mas, como bem dizia Locke, existem limites á actividade do Estado, devendo este cingir-se aos poderes que lhe foram delegados pela população.

O Estado foi criado para evitar as arbitrariedades, a justiça pelas próprias mãos, a insegurança e para defender a liberdade; não foi criado para andar a dar pão aos pobres. Foi criado para que exista um minímo de interacção social assegurado, interacção que será deixada ao cargo dos indíviduos e não ao Estado, que se deve manter à parte desta situação.

Verá em como todos os autores liberais clássicos de renome partilham desta visão. Locke, Montesquieu, Tocqueville (este último um dos primeiros a insurgir-se contra o paternalismo de Estado), etc.

Não lhe faria mal ler, de igual modo, o Leviatã de Hobbes, que lhe dará o motivo pelo qual o Estado foi criado. Até o próprio Rousseau, que parte a meu ver de premissas erradas, foi parar ao mesmo lugar.

Eu não sou anti-Estado. Eu sou pró-Estado; Mas não sou pró Super Estado visto pelos revisionistas Marxistas nem sou pró Super Estado visto por Hobbes. Sou a favor do Estado para o qual ele foi criado.

E, caro Sérgio, você pode nunca ter ido à polícia, mas certamente que já foi a um Estádio de futebol e ela lá estava; você pode nunca ter sido assaltado, o que pode ser fruto de existir polícia (infelizmente em Portugal não).

A Justiça deve estar nas mãos do Estado, que a deve exercer de forma imparcial. Tal como a Segurança, as Relações Externas, algumas repartições públicas entre outros pequenos pormenores.

Renato Bento disse...

*deduzir

ml disse...

Não, RB, não me referia aos Estados Unidos (há mais países), referia-me ao contraponto ao estado como assegurador de saúde. É claro que a afirmação uma pessoa pode não as pagar se assim o entender, ficando sem a respectiva cobertura só pode ser um gracejo para animar a madrugada.


já está a sustentar a existência de tais serviços

Tais serviços? Não deviam existir? Devia ficar tudo entregue à bicharada? Não entende que a 1ª, a 2ª, a 3ª, a 4ª preocupação das pessoas, em todo o mundo e antes do dinheiro, é a saúde?
Caro RB, uma amiga minha a certa altura da sua vida precisou de um transplante duplo de fígado e rim (por isso me lembro sempre deste exemplo).
Sabe quais os custos de uma operação deste género? Para cima de 500 mil euros e isto porque todos somos dadores de órgãos, imagine o que cresceriam as contas se assim não fosse.
Se lhe batesse esta situação à porta, tinha meios para pagar a cirurgia, o internamento, os tratamentos prolongados que se seguem? E qual a percentagem de pessoas que os teria, quer em Portugal quer no resto do mundo?

É este o meu medidor de sensibilidade social, acrescido de opiniões como essas que transcreve, "com o mal dos outros posso eu bem", quando se referem à distribuição de um bem escasso, vital, e fora do alcance da maioria – a saúde.


não foi criado para andar a dar pão aos pobres.

Tem a certeza? É que todos os estados, em maior ou menor grau, sempre procuraram criar organismos e instrumentos para ajudar os pobres, e isto vem de longe. Já nos Poemas Homéricos, que reflectem uma sociedade muito anterior à nossa era, um dos medidores da nobreza de carácter era o modo como recebiam os pobres que lhes batiam à porta.

ml disse...

Olha, Sérgio, por mim, o estado estava inchado de rico, pois nunca entrei numa urgência, nunca me servi dos tribunais e só recorri à polícia quando me roubaram a matrícula do carro. Isto antes que alguém se servisse dela para alguma brincadeira.

A rua que passa à porta do RB, provavelmente alcatroada e arborizada, com saneamento básico, canalização, infra-estruturas de gás e outras, também não me serve de nada. Nem a tua. Por acaso dá-me jeito que a minha esteja equipada com tudo isso, mas tenho amigos que moram no campo e, gás de rede e outras urbanidades, nem vê-las.
Espero que o Hobbes não se chateie que os serviços autárquicos me tenham fornecido estes equipamentos simpáticos.

Unknown disse...

Meus caros esquerdistas de plantão, faço minhas as palavras do RB, que disse tudo o que é importante dizer sobre as funções do Estado.
É sintomático que a esquerda tonta tente sempre caricaturar a posição dos liberais, pintando-os como anarquistas, como se estes não quisessem Estado.
Uma releitura simples de Adam Smith, seria suficiente para lhes relembrar as inalienáveis funçõps do Estado, mas mais depressa eles lerão as Bíblias das doutrinas mortas que lhes extirparam a capacidade de pensar.
É pena.
O socialismo, meus caros, tende inevitavelmente ao controle totalitário.

Não que os pensadores socialistas tenham alguma vez definido esse objectivo. Pelo contrário, as suas intenções sempre foram as melhores, fundadas numa visão utópica de um futuro radioso; de uma sociedade na qual a existência estaria automaticamente garantida, sem que o indivíduo tivesse de se responsabilizar pela sua sobrevivência; uma sociedade onde reinasse a harmonia e na qual não haveria desafios e mudanças abruptas; uma sociedade em que cada um cumprisse aquilo que lhe fosse prescrito, tendo como objectivo o bem geral; uma sociedade onde os indivíduos não tivessem necessidade de fazer escolhas difíceis e tomar decisões cruciais para a sua vida; uma sociedade onde não houvesse inveja, e onde a benevolência do estado garantisse que o indivíduo que errasse fosse considerado vítima dessa mesma sociedade, sendo esta responsabilizada pelos erros daquele.

Na prática resulta sempre na infatilização dos indivíduos e no seu tratamento como seres menores. Ou à maneira brutal do mundo de Orwell, ou à maneira simpática do admirável mundo de Huxley.

Os indivíduos são transformados em escravos.
Na escravatura o proprietário ordena, controla e dispõe do produto do trabalho de indivíduos que lhe estão sujeitos, sem o seu consentimento. O proprietário, em nome do seu próprio interesse, veste, alimenta, ensina, defende e cuida dos seus escravos.

Há proprietários “bons”, que tratam com desvelo e bondade os seus escravos e até lhe concedem alguma liberdade individual, e proprietários “maus”, que os chicoteiam e os tratam sem qualquer piedade.

Ora, mutatis mutandis, é exactamente isto que se passa com o estado socialista. Na URSS, o estado socialista ordenava, controlava e dispunha de todo o produto do trabalho de todos os cidadãos. Vestia-os, alimentava-os, abrigava-os, ensinava-os, defendia-os e chicoteava-os, se estes se portassem mal.

A versão fabiana do estado social, é o proprietário “bom”. O estado ordena, controla e dispõe de quase 50% do produto do trabalho de todos os cidadãos. E almeja alimentá-los, abrigá-los (direito à habitação), ensiná-los (direito à educação) e cuidá-los (direito à saúde).

Na verdade, os chamados "direitos económicos", tão caros aos socialistas, são, na sua essência, os cuidados que o proprietário toma com a sua mão-de-obra.

Há quem ache isto bem, tal como sempre houve pessoas apaixonadas pelas suas grilhetas.
O meu cão, por exemplo, não sai à rua sem coleira. Foi condicionado a pensar assim e cada vez que vê a coleira, pula de felicidade.

Carmo da Rosa disse...

@ Lidador: “Vestia-os, alimentava-os, abrigava-os, ensinava-os, defendia-os e chicoteava-os, se estes se portassem mal.”

Não era o Lenine que dizia que no paraíso socialista as pessoas trabalhariam só de manhã e à tarde iriam à pesca!

Mas também dizia que mesmo depois do socialismo ter conquistado o mundo não se devia alterar a Suíça, mas construir um muro à volta com entrada e bilheteira, um museu ao ar livre onde ao Domingo levamos as nossas crianças para lhes mostrar o que era o CAPITALISMO...

Sérgio Pinto disse...

Sim, claro, RB. A ladainha do costume. Estado securitário e repressor e acaba-se a festa.

O que é engraçado é que você não percebeu que o argumento que deu (o "pagar impostos por um serviço que não uso? porquê?!") é exactamente do mesmo cariz dos que eu dei sobre estradas, justiça ou segurança.

Portanto, também escusa de vir com argumentos pretensamente eruditos sobre o papel do Estado como se a a sua opinião/posição fosse 'neutra' e 'científica', como se a definição dos seus limites não fosse sempre uma escolha política.

Ah, e não precisa de vir com esses toques de arrogância 'à lidado', que também não consegue grande resultado. E veja lá, não tenha tantas pretensões a saber o que é que eu já li ou não. É que também não seria muito complicado fazer-lhe umas quantas recomendações.

Sérgio Pinto disse...

Lidado,

Não deve haver nada mais giro do que vê-lo, ao fim destes anos todos, a continuar a insistir na história do Orwell, mesmo depois de todos os ensinamentos prestados pela ml.

E olhe, pode começar a fazer aí o eixo dos países adoradores de grilhetas. Já sabe, pode começar pelos nórdicos.

ml disse...

Meu caro sr. Carmo, fica-vos muito bem cantar afinadinhos e em coro, e penso até que as mordomias que a Holanda oferece aos seus cidadãos, muito superiores às que Portugal tem para dar, o deixarão indiferente e até algo irritado. Talvez as decadentes Holanda, Suécia, Noruega, Finlândia, Alemanha, Dinamarca, França, UK, etc., se descartem delas mal as rainhas, reis e governantes actuais fechem os olhinhos.

Embora tenha passado ao lado do texto do prezado, que há muito deixei de ler, o comentário do Sérgio levou-me a procurar a frasezinha, a citaçãozinha compulsiva de um autor que, apesar de ideologicamente nos antípodas do prezado (mais identificável com os neonazis, como o Sérgio tem mostrado), não deixa de ser aqui diariamente tirado da manga como prova de ideias opostas às que defendia.
É engraçado, não é? É assim como citar o ponto de vista de Ahmadinejah para mostrar que Israel é um estado perfeito, sei lá.

O Orwell deve ser actualmente, a seguir a Shakespeare, o autor britânico mais estudado e comentado no mundo. É bizarra tanta, digamos...er...falta de caco por parte do nosso amiguinho.

Não podemos ganhar a guerra sem introduzir o Socialismo [na Grã-Bretanha], nem estabelecer o Socialismo sem ganhar a guerra.[…]
A ineficácia do capitalismo ficou provada em toda a Europa.
Sugiro o seguinte programa como aquele de que necessitamos [...]

1. Nacionalização da terra, minas, caminhos-de-ferro, bancos e indústrias mais importantes.
2. Limitação dos rendimentos de tal modo que o mais alto rendimento não taxado na Grã-Bretanha não exceda o mais baixo em mais do que dez para um.
3. Reforma do sistema educativo de acordo com as orientações democráticas
com encerramento das 10 000 escolas privadas. Simplesmente não passam de empresas comerciais. O estado devia declarar-se responsável por toda a educação. É demasiado óbvio que, falarmos em ‘defender a democracia’, não passa de um disparate enquanto for um mero acidente de nascimento a decidir se uma criança dotada vai ter ou não a educação que merece.

Para qualquer espírito menos, digamos...er...fanático e ridículo, bastaria este simples ensaio escrito em plena guerra, 1941.

Renato Bento disse...

"é exactamente do mesmo cariz dos que eu dei sobre estradas, justiça ou segurança."

Já lhe disse que você está errado. Você usufrui da segurança (da polícia, por exemplo), mesmo que não seja especificamente voltado para si e mesmo que nunca tenha encontrado sequer um polícia na rua.

Quanto à questão da Justiça, você pode muito bem passar a vida sem recorrer a um tribunal. Porém, o Estado Moderno foi criado com o intuito de evitar a justiça pelas próprias mãos, com o intuito de evitar o Estado de Guerra que Hobbes descreve no seu Leviatã e com o intuito de assegurar uma Justiça imparcial, cega, sem amores e sem ódios (daí a venda que a Senhora Justiça usa nos tribunais).

A concepção de Estado não seria a mesma se este não possuísse o monopólio da Justiça e da coerção. Comparar a Segurança e a Justiça com um Serviço de Saúde do Estado parece-me surreal.

Sérgio Pinto disse...

Surreal foi o seu argumento, lamento. Embora ache curioso que você tenha 'esquecido' pela 2ª vez o argumento das estradas (bem como o do saneamento referido pela ml, ou 'n' outros).

Surreal, afinal, é que você defenda o sistema de saúde mais caro do mundo desenvolvido e que pior figura faz.

Quanto ao resto, se você ou o senhor X recebem Y todos os meses é porque têm abaixo de si um substrato (paz e coesão social, infraestruturas, etc.) que o permitem. Ou seja, o seu argumento não é grande coisa.

Renato Bento disse...

"Surreal foi o seu argumento, lamento. Embora ache curioso que você tenha 'esquecido' pela 2ª vez o argumento das estradas (bem como o do saneamento referido pela ml, ou 'n' outros)."

Caro Sérgio,

não deveria querer que eu escrevesse aqui todos os ramos onde acho que o Estado deve intervir e ter um papel activo. Não ficaria aqui tanto tempo como o Sérgio a enunciá-los, mas certamente que era uma tarefa bem longa e morosa, que em nada acrescentava à discussão.

Renato Bento disse...

"Surreal, afinal, é que você defenda o sistema de saúde mais caro do mundo desenvolvido e que pior figura faz."

Não defendi sistema de saúde nenhum em concreto, algo que já tinha dito à ml..

Sérgio Pinto disse...

Desculpe, tem razão, não defendeu nada, claro. Apenas defendeu o papel das seguradoras, como alternativa a estas coisas 'estatizantes' (brrrr!).
Assim de repente, só me recordo de um país em que a população é deixada à sua sorte, mas isso são detalhes.

Não se trata de enunciar todos os ramos em que o Estado deve intervir. Ao invés, é apenas uma forma de ilustrar o quão falacioso e incoerente é o seu raciocínio sobre a 'injustiça' da presença do Estado em certos sectores.

RioDoiro disse...

Teste

Stran disse...

Caro Sergio Pinto,

"Xiiiiiiii, oh Stran, estás a sugerir que se interfira com o mercado?! Estás a defender intervenções socialistas, quiçá comunistas, do Estado? Olha que esse género de acções, aos olhos dos lidadores deste mundo, cai no 'eixo do mal dos regimes políticos' que ele definiu nesta caixa de comentários."

Quem eu? Longe disso :) apenas estava a testar qual a base e coerência do conceito de interferência. :D

RB,

Antes demais, e como cheguei tarde à discussão, julgo que a pergunta que me colocou já foi por demais respondida pelos ilustres comentadores Sergio Pinto e ML.

No entanto deixo um breve comentário (o tempo agora escasseia, eu depois retornarei) a umas frases suas:

"Você usufrui da segurança (da polícia, por exemplo), mesmo que não seja especificamente voltado para si e mesmo que nunca tenha encontrado sequer um polícia na rua.

Quanto à questão da Justiça, você pode muito bem passar a vida sem recorrer a um tribunal. Porém, o Estado Moderno foi criado com o intuito de evitar a justiça pelas próprias mãos..."

Pois mas essa linha de raciocinio também se aplica à saude, aos apoios sociais e até à educação. Ou seja necessita de encontrar outra separação que não esta para conseguir justificar o apoio à segurança e justiça e não à saude, sob pena de ser uma escolha arbitrária...

"não deveria querer que eu escrevesse aqui todos os ramos onde acho que o Estado deve intervir e ter um papel activo"

Mas defende mais algum além dos que já enunciou?

Renato Bento disse...

"Desculpe, tem razão, não defendeu nada, claro. Apenas defendeu o papel das seguradoras, como alternativa a estas coisas 'estatizantes' (brrrr!)."

Não defendi o papel das seguradoras, pode ir ver lá atrás.

Stran disse...

RB,

"Comparar a Segurança e a Justiça com um Serviço de Saúde do Estado parece-me surreal"

Já agora, mas defende ou não que a Saude é um tema do Estado?

"Tentar induzir das minhas palavras algo contra o papel do Estado na Justiça e na Segurança é de má-fé. Preocupe-se mais com os anarquistas comunitaristas e com outras facções radicais de esquerda, não com os Liberais."

É você que na sua argumentação se coloca contra o Estado. Poderia utilizar outra argumentação,mas não. Obviamente que nós pagamos impostos para termos um serviço, se começar a sua critica se baseia no pagamento de impostos é obvio que a sua argumentação é uma argumentação libertária ou anarquica e não uma argumentação liberal.

Aliás julgo que a preocupação nem é com os "liberais" que esses escasseiam ou são uma raridade nos autores deste blogue...

Renato Bento disse...

"Já agora, mas defende ou não que a Saude é um tema do Estado?"

Tudo é passível de se tornar um tema de Estado.

"É você que na sua argumentação se coloca contra o Estado."

Leia todos os comentários e repense a sua frase.

Stran disse...

RB,

""É você que na sua argumentação se coloca contra o Estado."
Leia todos os comentários e repense a sua frase."

Foi mesmo ao seu comentário (que utilizou para contraria o meu) que você escreveu:

"Como justifica a vida limitada, sem escolha, deste homem de 40 anos que, pagando todos os seus impostos, reduz a sua capacidade financeira e consequentemente de alcançar a maior felicidade para si e para os seus sem posteriormente tirar proveito disso? Relembre-se: são muitos anos a pagar impostos, muito dinheiro para o Estado, sendo que alguém se aproveitou dele por este pobre homem."

Que como vê dá para qualquer função do Estado.

Claro que se ler outro comentário fico com a ideia contrária:

"Mas, como bem dizia Locke, existem limites á actividade do Estado, devendo este cingir-se aos poderes que lhe foram delegados pela população."

Onde poderá se legitimar todos os serviços que o Estado presta actualmente.

Como vê os seus comentários dão um pouco para tudo, de uma visão libertária a uma visão comunista...

"Tudo é passível de se tornar um tema de Estado."

Bem julgo que esta é a frase da noite. Fiquei contente pela resposta, obrigado!

Carmo da Rosa disse...

@ ML: “Meu caro sr. Carmo, fica-vos muito bem cantar afinadinhos e em coro, e penso até que as mordomias que a Holanda oferece aos seus cidadãos, muito superiores às que Portugal tem para dar, o deixarão indiferente e até algo irritado.”

Cara ML, não é verdade que sempre cantamos afinadinhos! Do ponto de vista do lay-out do blog até estou em total desacordo com o resto da redacção...

E acha que estou a cantar afinadinho apenas porque neste contexto citei Lenine? Não lhe agrada a ideia de fazer da Suíça um museu ao ar livre do capitalismo?

Creio que vou ter que me habituar à ideia - é a minha cruz - de que 70% destas discussões passam-me ao lado, não faço a mínima ideia do que se trata!!!

As mordomias que a Holanda oferece aos seus cidadãos, deixam-me irritado! E então porque razão? Pode saber-se?

E o que é que eu tenho a ver com o Orwell? O que é que quer que lhe diga acerca do Orwell? A única coisa que li do Orwell tinha a ver com a Guerra Civil de Espanha e o inevitável Animal Farm, que deixou a minha visão marxista do mundo muito abalada...

Chega-lhe isto como informação? Acha que deveria ler mais coisas sobre ele, para ser mais....... ‘salonfähig’?

ml disse...

Chega-lhe isto como informação? Acha que deveria ler mais coisas sobre ele, para ser mais....... ‘salonfähig’?

Nem pó, já é salonfähig enough. Digamos que 70% enough.

EJSantos disse...

Um comentário que encontrei sobre as eleições noIrão:

"O Cardeal Patriarca de Lisboa como Presidente ad-vitam de Portugal, acompanhado de um conselho de guardiães constituido maioritariamente por bispos, que se reunem na cidade santa de Fátima, determinam as escolhas os opções politicas do povo português. O sufrágio universal é um direito adquirido aplicando-se às escolhas filtradas préviamente pelo clero no poder. A vida em Portugal é regulada pelo estrito cumprimento e observância dos textos biblicos, o que é garantido por milicias católicas que intervêm sobre os cidadãos sempre que a integridade do comportamento cristão se encontra em causa. Divórcios, aborto, homosexualidade são liminarmente proibidos por serem anti-católicos. Todas as tentativas de laicização são combatidas com veemência e são consideradas ingerências nos assuntos internos de Portugal. Um controle firme sobre os meios de comunicação garante que os estados imperiais EUA, UE (interesseses de laicização) e UE (judeus) não interferem na República Católica de Portugal. A leitura e estudo da biblia, rezar o terço e peregrinações a Fátima passam a ser elementos estruturantes de cidadania.