Basicamente eram uns biombos com aberturas engalanadas, atrás das quais uma ou mais pessoas enfiavam os braços nuns bonecos, faziam vozes ridículas e contavam histórias nas quais os bonecos eram as personagens.
E os bonecos saltavam, irritavam-se, batiam-se, beijavam-se, dançavam, berravam, etc.
Para miúdos e graúdos era um a festa. Tomava-se partido, odiava-se o fantoche mal-encarado, gostava-se do fantoche mais simpático, aplaudia-se, apupava-se, comentava-se, enfim, vivia-se a estória como se os bonecos fossem reais.
Mas não eram....por trás deles estava, na maioria das vezes, o mesmo titereiro.
Não sei porque razão, lembrei-me disto a propósito das "eleições" iranianas.
5 comentários:
lidador: “...lembrei-me disto a propósito das "eleições" iranianas.”
É engraçado, eu também me lembrei do mesmo, mas a propósito das eleições para o Parlamento Europeu em Portugal. E porque não em relação ao Irão?
Porque a diferença entre Moussavi e Ahmadinejad, pela força das circunstâncias, é muito maior do que a existente entre Vital Moreira e Paulo Rangel.
Cdr, o Vital e o Rangel têm vontade própria, pensam pela sua cabeça, e, a não ser que o Cdr tenha uma qualquer informação que eu não tenho, não há atrás deles um titereiro a falar por eles, para que nós, os espectadores batamos palmas.
Não é o caso do Irão.
Quem escolhe os candidatos é uma e a mesma pessoa, e quem decide os seus movimentos após a eleição, é uma e a mesma pessoa.
Você atira tomates a um deles e flores ao outro e enquanto faz isso, o titereiro está na sombra, fora do alcance dos protestos, a dirigir o espectáculo.
É um gajo esperto. É o responsável pela bostada mas os espectadores atacam o boneco e dirigem-se a ele, para que mexa o boneco de outra maneira, ou para que mude a cara do boneco.
Você veja que o titereiro está num plano superior. Por exemplo, se algum dia houver uma reunião de alo nível entre o Irão e os EUA, terá de um lado o Sr Obama e do outro um boneco.
O líder verdadeiro está noutro plano.
É do caraças, mas é assim mesmo.
Você pode dizer que o Sr Obama tb se reune com o 1º ministro inglês e não com a Rainha, mas acontece que a Rainha não tem real poder. É apenas um símbolo.
No Irão, pelo contrário...
@ lidador: “Quem escolhe os candidatos é uma e a mesma pessoa, e quem decide os seus movimentos após a eleição, é uma e a mesma pessoa.”
De acordo, mas como os candidatos não são TOTALMENTE titeriteiros há falhas no plano. E o que está acontecer no Irão é bem mais grave, e terá repercussões muito maiores do que uma simples escolha entre Rangel e Vital Moreira, ou entre Sócrates e aquela senhora mumificada do PSD que nunca sei o nome – por muito que todos eles pensem pela sua cabeça.
Aliás, os Grandes Ayatolas em Qom (ex. Montezari) estão divididos e Ali Khamenei já foi obrigado a sair da sombra, já foi obrigado a tomar uma posição. Uma posição que não é aquela que o seu protegido, Ahmadinejad, desejaria. Por outro lado, já mataram mais gente que na nossa Revolução dos Cravos e continuam a prender gente da ‘oposição’, mesmo gente ligada ao ex-presidente Khatami. O que significa que não se trata apenas de uma troca de palhaços!
Mas a notícia mais importante, é o facto dos jogadores da selecção de futebol do Irão, no jogo de qualificação contra a Coreia do Sul, terem jogado com fita verde enrolada no punho, em sinal de apoio a Moussavi. Quando isto já chega aos futebóis significa que a coisa vai mesmo muito mal...
(Se o Eusébio, o Mário Coluna (!), o Simões e o José Augusto em 1966 tivessem mandado gravar nas camisolas ABAIXO A GUERRA COLONIAL, QUEREMOS DEMOCRACIA o 25 de Abril não tinha sido em 74 mas, vá lá, em 68)
Moussavi, tal como Kubichek na Checoslováquia (outro titeriteiro), quer apenas com ‘un islam à visage humain’ salvar o regime, só que isso, sem grandes reformas não é possível... Reformas significa que os Mullás vão ter que arranjar trabalho, e eles não sabem fazer mais nada se não rezar, decorar o Corão e cortar cabeças...
Não está mal visto, não senhor, de facto neste caso, um dos bonecos ganhou vida, como o Pinóquio, apesar de ter sido fabricado pelo Gepeto.
Mas creio que o Gepeto tem força suficiente para lhe tirar o sopro vital.
Umas cosméticas aqui e ali, e dentro de uns dias volta tudo ao mesmo.
Ou temos um 1989, em Berlim, ou um 1989 em Pequim.
Penso que será Pequim...
Sintomático disto tudo é o camarada Chavez já ter vindo fazer declarações de apoio ao Amadinejahd, verberando o Império. Provavelmente teme perder um aliado na “luta”.
Correcção.
Na frase Moussavi, tal como Kubichek na Checoslováquia (outro titeriteiro), quer apenas com ‘un islam à visage humain’ salvar o regime, não se trata de Kubitchek (um ex-presidente brasileiro) mas sim de Alexander Dubček, o tal da Primavera de Praga.
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