Teste

teste

sábado, 13 de março de 2010

O orçamento e a muralha de aço


Os discursos completos de Jerónimo, Louçã e algumas discursatas de responsáveis do PS (o Partido Melancia não conta), na discussão do Orçamento, foram autênticas assombrações do passado. As almas mais supersticiosas chegaram mesmo a ouvir assustadores murmúrios marxistas de além-túmulo.
Se Marx ressuscitasse ao 3º dia, como parece ter feito um seu antepassado lá para os lados de Jerusalém, sentir-se-ia ainda mais vivo ao verificar que a sua badalada luta de classes entre a burguesia e o proletariado está aí para lavar e durar, pelo menos na retórica de uma certa classe política portuguesa.
A análise das culpas da crise tem estado ao nível da Internacional que ainda se canta nos rituais religiosos da seita, com o punho erguido, olhar revolucionário e a proverbial falta de sentido do ridículo. A relação com a economia e a política reais é mais ou menos a mesma, se bem que a Internacional, pese embora a pimbalhice da lírica, até tem uma música gira.
Não sei se se recordam , mas há um ano a culpa era do Bush, dos neocon e dos neoliberais, tudo no mesmo saco, já que no escuro convém que todos os gatos sejam pardos.
Depois, quando o Bush, os neocon, os neoliberais, o Obama, o Sócrates e outros tantos por essa Europa fora, trataram de injectar rios de dinheiro dos contribuintes em empresas mal-geridas,to big to fail e outras cavalidades do mesmo saco, a culpa passou a ser dos gajos de Wall Street, dos banqueiros, dos empresários sem escrúpulos. Do "sacrossanto mercado", como resumem os kamaradas, simplificando o habitual fast food ideológico que lhes serve de fardo de palha para encher o bandulho que ocupa o lugar que, no sapiens sapiens, é ocupado pelo córtex cerebral.
O Estado democrático, a "superestrutura" da burguesia, veio mais uma vez salvá-la, espoliando os pobres proletários, como explicaria imediata e automaticamente Marx, acabado de regressar do além.
Mas como, na teologia socialista, a principal tarefa do Estado é proteger os desfavorecidos, temos na nossa frente o quadro completo de culpados, vítimas e salvadores, respectivamente, mercado e estado, povo e estado.
Se repararam na esquizofrenia do estado, repararam bem mas, para os malucos, a coisa faz sentido.
Postas assim a coisas, tudo parece simples e óbvio aos olhos de quem não necessita de mais profundidade que as análises macroeconómicas de Marx ou do Tio Patinhas, entre as quais, verdade se diga, não há assim tão grandes diferenças.
Mas há sempre areia...parece que, por exemplo, os desalmados burgueses de Wall Street deram (muito) mais dinheiro a Obama do que ao "candidato da direita", e por cá, basta saber quem manda na PT, no BCP, na CGD, na Maçonaria, etc, etc, para perceber porque razão Sócrates não tem razões de queixa.
Não é que Obama e Sócrates sejam herdeiros de Marx, embora por vezes zurrem como se fossem, mas os tais empresários egoístas e selvagens , o tenebroso "capital", na algaraviada esquerdista, parecem ter uma tão boa relação com a esquerda, que o proletariado parece cada vez mais estar à direita.
O BE, por exemplo, jura que defende o "proletariado", e um tipo ouve e ri, porque é justamente o partido com maior proporção de eleitores das classes médias-altas. Se o tio Louçã e o seu barco de lazer são proletários, eu sou um ovo cozido.
Pelo que, em suma, pôr-se esta gente a arengar patacoadas marxistas para explicar e "vencer" a crise, é tão adequado, útil e moderno como desatar a cantar a Internacional e o Força Força Companheiro Vasco.
Não há Muralha de Aço que resista.

10 comentários:

Diogo disse...

Um post cheio de parábolas, adjectivado até à medula, mas sem nada de concreto.

O que é que você quis dizer com esta algaraviada?

Anónimo disse...

Quis dizer que a esquerda continua esclerosada, irreformável, agarrada a ideias falidas (que debitaram em Portugal Ucranianos, Russos, Romenos que não foram massacrados em hologroms, Gulags ou dietas ceausescu) e com uma cassete de inutilidades que não é capaz de renovar.

A esquerda vive como a grande burguesia só que enriquece roubando o trabalhador e sem criar emprego nem riqueza.

Bigorna voadora disse...

Excelente tradução, caro anónimo. Mas debalde, demasiada areia para a camionete do Diogo.

Anónimo disse...

“trataram de injectar rios de dinheiro dos contribuintes em empresas mal-geridas,to big to fail e outras cavalidades do mesmo saco...... mas os tais empresários egoístas e selvagens.......”

Exactamente e devia ter havido uma clarificação de aguas e quem não prestava e não tinha base financeira caia e ia na enxurrada, salvavam-se os economicamente / financeiramente bons, e se alguns se atirassem das pontes ou das janelas lembrando o crash de 29 problema deles mas não havia jogo com o dinheiro dos contribuintes.

Hoje em dia tudo tem que ser instantâneo e imediato, não há tempo para esperas. Um negocio é para enriquecer rapidamente não é um modo de vida, uma actividade para a vida como antigamente. O dinheiro tem que começar logo a cantar para uma vivenda, um bom carro, ferias no estrangeiro, dar nas vistas, etc. O emprego igualmente deixou de ser uma esperança e uma actividade com alguma estabilidade de futuro quando se está velho aos 40 a única solução é enriquecer entre os 30/40. Porque o nosso tipico empresario é assim como nesta historia animada satirica da nossa mediocridade, agora chamam-se gestores.

È de baixa / media estatura e/ ou excesso de peso. Na escola nunca foi bom aluno, tendo conseguido concluir a escolaridade primária apenas porque subornou o colega do lado. Já de adulto começou por ser empregado de balcão ou ajudante de trolha. Vigarista convicto, ninguém nas redondezas consegue explicar as razões do seu sucesso. Gosta de enormes vivendas bem hollywoodescas. Tem várias espalhadas pelo país e uma outra no Brasil, onde vai com os amigos em viagens de negócios. Na garagem, um carro para cada elemento da família e dois para ele. Ele gosta particularmente do Mercedes classe S, trocou o Land Rover pelo último jipe da BMW. A excelentíssima esposa tem um classe A. Os filhos estudam no ensino superior nesses institutos que proliferam por esse país. Têm ambos bons carros e gostam de roupa de marca, no entanto, os dois recebem bolsas de estudo. O pai declara-se empregado da fábrica a receber 400€ por mês e a mãe é dona de casa. Ele veste amarelo Gant ou vermelho Paul & Shark. Gosta de sair à noite beber uns copos com os amigos, o jogo é um vício. Conhece as partes intimas de todas as meninas brasileiras do distrito. Tem duas amantes. Uma jovem, separada e mãe de 3 filhos, que ele sustenta porque já não sabe se os filhos são dele ou doutro. A outra amante é a cabeleireira, onde a esposa derrete milhares de euros por mês. Na fábrica ninguém gosta dele. É excessivamente autoritário e paga mal e a más horas. Está convicto de que mais cedo ou mais tarde vai poder trocar os empregados portugueses por ucranianos e moldavos de forma a poupar mais uns cobres. Há 20 anos que não investe nem em equipamento nem na formação dos empregados. Julga que a “fonte” nunca vai secar. No entanto, se isso acontecer, sair-se-á sempre bem. Nada está em nome dele e liquidez financeira apresenta pouca. No café gosta de fazer revelações bombásticas, de forma a chamar a atenção de todos. Afirma que a esposa tem mais de cem vestidos, 300 pares de sapatos, e vai 2 vezes por semana à cabeleireira. Afirma que gosta de comer bem e beber bom vinho. Está a pensar comprar um Jaguar cujo modelo terá de ser importado. No carnaval vai em negócios ao brasil e na páscoa receberá a visita de um grupo de empresários japoneses dispostos a darem milhões pela velha fábrica. Apesar da sua aparente riqueza, afirma sem qualquer problemas que burla o estado à fartazana e nunca teve problemas por isso. Aliás, dá-se muito bem com o “chefe da repartição de finanças”, que lhe garante que tudo está dentro da legalidade.

Unknown disse...

Meus caros…..

Lamento muito mas penso que os Portugueses são como os viciados (droga, alcool, etc. etc.) que vão dizendo que se querem curar mas não querem porque os vendedores da “droga” continuam activos. Até bater no fundo fundo!!!!

Só então aceitarão as terapias que envolvem muito sofrimento (ressaca atrás de ressaca) e vómito.

O que é preciso é acabar com a “droga” da subsídio-dependência e “emprego garantido” (não digo trabalho porque esse poucos querem) no Estado.

Presentemente o pusher é o PS e este garante o Poder porque os “drogados” têm medo que lhes acabe o “fix” mensal se forem para lá outros.

Deixe-se o PS no poleiro até que isto atinja “rock-bottom”!!!! Nada de eleições antecipadas!!!!

Será remédio santo para vacinar a populaça contra os vendedores de ilusões.

Unknown disse...

"Será remédio santo para vacinar a populaça contra os vendedores de ilusões."

Creio que o optimismo do World resulta de uma grave subestimação da estupidez, da amnésia, e da cegueira ideológica.

O que acha que explica este revivalismo do discurso marxista, por parte daqueles que não podem deixar de saber no que redundaram todas as experiências marxistas?

Nausícaa, São Paulo, Brasil disse...

Caro Lidador,

Satisfeitos que nós estamos após esta tarde futebolística, vim visitar-vos com a certeza de encontrar boas notícias e reflexões.

Para início de conversa "[a] retórica de uma certa classe política" não é privilégio português, muito menos europeu. O discurso único está em todos jornais no mundo.

Por ex., Lula, o presidente brasileiro, falou numa entrevista coletiva ao lado de Gordon Brown, que a crise financeira tinha cor e era branca de olhos azuis!!!

Outro ex., a investida contra a democracia hondurenha foi absurda.

O plano de estatização da saúde por Obama, apesar da dívida pública já ter superado a primeira dezena de trilhão, é outro exemplo.

Embora eu considere impróprio o termo "revivalismo" porque o discurso marxista nunca morreu, os porta-vozes desse discurso não percebem as "derrotas" DESSE modelo, ao contrário, eles almejam o imperialismo - transformado noutro termo mais moderninho: a governança mundial - como única alternativa para serem bem sucedidos. Lembre-se que esse apelo agrada até ao Papa [cruz-credo!]. Basta ler o número 67 de sua última encíclica.

Unknown disse...

Caro Lidador diz:

"Creio que o optimismo do World resulta de uma grave subestimação da estupidez, da amnésia, e da cegueira ideológica.

O que acha que explica este revivalismo do discurso marxista, por parte daqueles que não podem deixar de saber no que redundaram todas as experiências marxistas?"

Não foi optimismo não. Antes pelo contrário, foi uma afirmação que estou muito ciente da estupidez, amnésia e cegueira ideológica que campeiam por este sítio muito mal frequentado.

Estupidos porque não pensam pelas suas próprias cabeças nem levam em consideração a Historia de outros povos que também foram levados pela quimera. Ainda não entenderam porque é que o muro caiu….

Amnésicos porque não registam na memória que os tempos correntes levarão a maiores privações do que no tempo do Estado Novo.

Ideologicamente cegos porque pouco depois do entusiasmo do nascimento, os pais se alheiam da formação dos filhos e os entregam a um sistema educativo que em vêz de formar os enforma para a dependência que referi.

Concordo com o que Nausicaa diz. No que diz respeito a Portugal, a cartilha marxista nunca deixou de ser ensinada, nem foi revista, mesmo depois dos milhares de imigrantes de Leste terem dado testemunhos pessoais do que era o tal “paraíso onde o sol nunca se punha”. Cá, tal como lá era, quem está dentro do sistema é que está bem.

Não é por acaso que o sistem sustenta as fundações chulas dos Soares, Saramagos e muitos outros. Sem falar dos “assessores” que vigiam a net…. (o titulo politicamente correcto para os antigos bufos).

É por tudo isto que digo que os portugueses só procurarão a cura quando baterem no fundo. Mas baterem no fundo sob um governo do PS (que desesperadamente quer que sejam outros a dar a pílula amarga da cura).

Daí eu ser contra a demissão do governo PS para que eles sintam a fúria que aí há-de vir.

Unknown disse...

World e Nausicaa, estamos obviamente de acordo. Mas é por isso mesmo que entendo que nenhuma queda servirá de "vacina".
Nesse aspecto sou um pessimista antropológico. Há grupos humanos que vão para o céu, há outros que vão para o inferno, há outros ainda que nem uma coisa nem outra, antes pelo contrário.

Bigorna Voadora disse...

Lidador:

"O que acha que explica este revivalismo do discurso marxista, por parte daqueles que não podem deixar de saber no que redundaram todas as experiências marxistas?"

Uma espécie de cura espiritual por retorno ao útero.

Quando tudo desaba à frente dos olhos deles, rebobinam para 50 anos atrás, mergulham no nevoeiro da memória e curtem o retorno ao útero.

De lá saídos reafirmam a certeza no amanhã que acabaram de viver.