Parece muito difícil perceber o que querem a generalidade dos revoltosos dos países islâmicos. É exactamente por haver dificuldade em perceber o que se pretende em cada uma daquelas paragens que a palavra revoltosos parece mais adequada. Por um lado porque a revolta parece tudo menos homogénea, por outro, porque não há homogeneidade entre países e regimes.
Naqueles países não há liberdade de imprensa, não há liberdade religiosa, não há liberdade política, numa palavra, não há liberdade e, em particular, não há liberdade para as mulheres.
Seria bom ver despontar alguma espécie de liberdade nesses países. Poder-se-ia até chamar liberdade relativa porque, a existente, de relativo tem muito pouco.
Naturalmente que a realidade em cada um desses países é diferente mas, em comum, mantêm uma distância abissal à liberdade e à democracia, pese embora uns quantos cretinos normalmente amantes “das mais amplas liberdades” nos queiram convencer do contrário. Pode dizer-se que são sociedades que vivem na idade das trevas. Têm computadores, carros, televisores e telemóveis mas vivem na idade das trevas.
Por idade das trevas (sentido lato) entende-se, por exemplo, a fraquíssima produção própria, para além da petrolífera.
Trata-se de sociedades em que a organização raia o tribalismo, geralmente por via da religião, de facções de religião ou de família.
São países ainda em que a propaganda campeia, também normalmente de teor fortemente religioso.
Nalguns deles o poder político emana directa e inequivocamente do Corão, noutros em que tal é mais difuso, Maomé anda por ali como zombie a quem não convém pisar os calos.
Esta zona do globo caracteriza-se por viver, grosso modo, dos proventos do petróleo. Não da exploração, apenas dos proventos. As verbas dele resultantes são canalizadas para as tribos, as famílias, o clero.
Voltando aos revoltosos, ouve-se de tudo e entre tudo o que se ouve ouve-se reclamar por democracia e liberdade percebendo-se, com razoável clareza, que as palavras são usadas com o significado de mais dinheiro. Para tornar as coisas ainda mais complicadas, não se percebe ainda a real magnitude de cada revolta.
Quer-se riqueza mas não se reclama por capitalismo ou por liberalismo, únicas ferramentas homo sapiens capazes de criar riqueza. Quer-se riqueza vendendo recursos naturais necessariamente a quem a cria sem eles.
O panorama revela muita incerteza. Se alguns ganhos no sentido da democracia, mesmo que pífios, podem ser conseguidos, também alguns pífios traços de democracia podem ser queimados pelo islão totalitário, o pai de todos os mostrengos. Entre estas balizas, intermináveis guerras podem acontecer, civis, regionais, étnicas, religiosas, etc. e países inteiros podem ficar ainda mais em cacos arrastando consigo os revoltosos de hoje, vítimas, amanhã, da sua incipiente revolta.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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2 comentários:
http://aperoladanet.blogspot.com/2011/02/resposta-um-comentario.html
Rio disse: ”Parece muito difícil perceber o que querem a generalidade dos revoltosos dos países islâmicos.”
Não creio que seja assim tão difícil. Mas é preciso perfazer pelo menos um destes dois requisitos: sentir empatia com o tema ou então passar algum tempo num país islâmico junto da população.
A Europa ficou há dias espantada com o fluxo de refugiados vindos da Tunísia que chegaram à ilha italiana de Lampedusa. Mas afinal eles não se libertaram? Para perceber isto, diz-nos Gert van Langendonck, é preciso compreender que os jovens tunisinos de 18 anos só querem uma coisa: pirar-se o mais depressa possível para Paris. Duas semanas de liberdade não são suficientes para fazer esquecer este sonho.
O jovem Haneed, de Zarzis (costa sul da Tunísia), diz-nos que “ficar em Zarzis significa trabalhar como aprendiz por 5 euros por dia, ou no turismo durante os meses de verão. Mas este período é ainda menos suportável: chegam os tunisinos de França com brutas máquinas e ainda por cima engatam as raparigas mais bonitas da cidade.” E acrescenta que “a maioria dos jovens trabalha no turismo só com um intuito: engatar uma francesa na esperança de casamento.”
À grande dificuldade de arranjar um emprego decente, no sentido de conseguir alguma autonomia (sair de casa dos pais), eu acrescentaria o peso da religião e do controlo social, que torna a vida destes rapazes, em constante contacto com o modo de vida europeu, insuportável…
Rio disse: ”Naqueles países não há liberdade de imprensa, não há liberdade religiosa, não há liberdade política, numa palavra, não há liberdade e, em particular, não há liberdade para as mulheres..”
E não há liberdade para chegar junto das mulheres!
Porque sem emprego não há dinheiro para sair de casa dos pais, quanto mais para casamento, a única maneira ‘legal’ de conviver com uma rapariga. É evidente que esta situação para as mulheres é bem pior: há menos empregos para raparigas, têm que esperar pacientemente que algum ‘endinheirado’ queira casar com elas (a auto-iniciativa não é bem-vista), dar umas trancadas por fora nem pensar nisso que é feio e Alá não quer e beber uns canecos para esquecer a ‘dor’ não faz parte dos costumes.
Para esta dramática situação há apenas três saídas: Islão, França ou revolta….
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