It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
teste
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Mais sexo!
Quando deixamos que as crenças ideológicas nos filtrem o mundo, acabamos por achar que é a ordem natural das coisas, aquilo que o não é, esquecendo que a realidade é sempre mais poderosa do que a nossa capacidade para a narrar de acordo com a nossas certezas.
A argumentação do meu amigo Carmo da Rosa, é um exemplo claro de uma situação em que a ideologia lhe revela um mundo que é o oposto daquele que efectivamente existe, no que toca às relações entre sexos e ao papel da sexualidade numa comunidade civilizada. Para além das tiradas engraçadas com que ele apimenta os seus textos, e que os tornam deliciosos, o que ele diz resume-se a uma colagem dos chavões de literatura progressista que vem do início do século passado, como se a realidade nada tivesse desmentido.
No poste anterior referi-me à repressão vitoriana, um espartilho que tornou lógica e até simpática, a reacção feminista.
Mas convém não esquecer que a austera moralidade vitoriana era já, ela mesma, um avanço na libertação da mulher. É verdade que a mulher passou a ser excessivamente idealizada, e viver num pedestal é uma situação que não agrada a ninguém, durante muito tempo. Mas, por outro lado, é melhor do que viver na sarjeta onde viviam antes do upgrade vitoriano e onde, de resto, vivem, na generalidade dos países do 3º mundo, muçulmanos à cabeça. O feminismo que surgiu no natural processo dialético, era uma antítese que exigia essencialmente a igualdade de direitos, não o "sexo livre". Na verdade as feministas anti-vitorianas eram tão recatadas como as não feministas. E eram perfeitamente capazes de perceber certas as vantagens que o espirito do tempo outorgava às mulheres.
Shakespeare e os autores do seu tempo, distinguiam naturalmente entre uma minoria de senhoras, as aristocratas, e uma larga maioria de mulheres. As senhoras não eram, por exemplo, susceptíveis de ser espancadas pelos maridos, ao passo que, nas mulheres, isso era normal.
O que os vitorianos fizeram foi alargar a categoria das "senhoras" de modo que pudesse incorporar mulheres de outras classes sociais, que não apenas a nobreza. Os romances de Jane Austen, mostram-nos isto. Em "Orgulho e Preconceito", Elizabeth Bennet, rapariga de uma classe média baixa, comporta-se e é tratada como senhora, por Darcy, um nobre e rico terratenente.
Esta foi, na altura, uma ideia revolucionária. Qualquer uma podia ser senhora e qualquer um podia ser cavalheiro. Não dependia do nascimento, mas sim da educação e do aperfeiçoamento individual (ver por exemplo, Pigmalião, de Bernard Shaw, que deu origem ao filme My Fair Lady).
Uma das características do cavalheiro, era o respeito com que tratava as senhoras. controlando os impulsos naturais para as tratar como seres fracos e disponíveis, que era, e é, a forma como as mulheres sempre foram (e são) tratadas em sociedades menos civilizadas.
Ainda hoje podemos observar alguns resquícios desse comportamento, quando alguém se levanta para dar o lugar a uma senhora, quando se segura na porta, etc. Trata-se de actos de deferência que as novas gerações têm manifesta dificuldade em compreender. Hoje, um rapaz levantar-se para dar lugar a uma rapariga, fará esbugalhar os olhos a esta e motivará cochichos e alguma risota dos seus pares.
O que é curioso é que tanto a rapariga como o rapaz ficariam felizes com o gesto. A rapariga porque é distinguida com uma atenção que a faz sentir-se importante, o rapaz porque se sente bem ao agradar à rapariga.
Ou sejam a realidade mostra que se trata de uma situação satisfatória para ambos, (ainda estou para conhecer uma mulher que não goste de ser apreciada e um homem que não goste de agradar às mulheres) mas a ideologia trabalha por cima e diz que, ao contrário do que parece, esta situação é má para ambos e ofensiva para a mulher.
Qual a "norma" que substituiu então este relacionamento "senhora-cavalheiro"?
Liberdade, confusão, desorientação, sob a capa da "igualdade".
O sexo é natural, nisso todos estamos de acordo. A espécie está cá, e essa é a prova.
Mas não é inocente, na realidade é menos inocente das relações humanas e é por isso que é guiado por regras de civilização.
Para começar, o sexo ocasional não agrada à generalidade das mulheres, tal como agrada à maioria dos homens e isso está plasmado em todos estudos sérios, disponíveis.
O jogo do encontro que por vezes as televisões nos mostram, e no qual as mulheres se comportam de forma igual aos homens, é uma fantasia e está viciado a favor dos homens.
Como já disse, a ideologia da "libertação sexual" foi sobretudo uma excelente táctica masculina. Isto porque, de um modo geral, para o homem, o acto sexual representa uma mescla de prazer e poder, na qual a mulher desempenha o papel de objecto. As suas fantasias vão todas nesse sentido e o tipo de pornografia que aprecia é prova suficiente desta afirmação. As mulheres, incluindo as feministas radicais, consideram que este tipo de pornografia as degrada já que, para elas, o acto sexual implica emoções humanas mais generalizadas e não há muitas mulheres dispostas a ir para a cama como objectos sexuais, ainda que o façam quando as circunstâncias o exigem. Como já expliquei, a biologia, ajuda a explicar estes comportamentos e preferências.
Ora a maneira progressista de pensar, que o CdR aqui tão bem ilustra, pretende desesperadamente fingir que tais diferenças não existem naturalmente, que são coisas "culturais".
É esta mentalidade que cria o mito de mulher desinibida e moderna, que encara o sexo com a mesma calma e confiança que se presume aos seus homólogos masculinos.
É a irrealidade deste mito que dá gás ao feminismo radical, o feminismo antimacho, que leva a a que, por reacção, o próprio acto sexual seja visto como uma forma de opressão.
Repare-se que o conceito de "assédio sexual", surge exactamente na esteira desta igualdade. O CdR pergunta porque razão não pode simplesmente perguntar a uma mulher se quer ir dar uma queca. A resposta pode ser, e tem sido, cada vez mais, um processo criminal desencadeado pela mulher a quem é feita esta proposta tão "normal" e "igualitária".
Não é difícil perceber que as mulheres estão, através deste conceito, a pedir aos homens que se comportem como cavalheiros e não como vira-latas excitados. Mas as mulheres modernas não podem dizer isto de forma clara, porque a ideologia que o CdR aqui representa, lhes garante que serem tratadas como senhoras é uma coisa odiosa e paternalista, uma afirmação de subalternização. Então, em vez disso, invocam o seu direito a não serem sujeitas a agressões e insinuações sexuais.
O problema é que isto lança a confusão. Diz aos homens que devem tratar as mulheres com respeito e circunspecção mas sem explicar porque razão a identidade sexual da mulher requer esse tratamento. Pois se somos iguais....
Na base remota desta ideologia esquizofrénica, está Freud que, nos seus primeiros ensaios, ensinou que as insatisfações sexuais têm origem em tabus e inibições culturalmente impostas. Muita gente fixou-se nisto e jamais leram as obras posteriores de Freud (particularmente "Mal-estar na Civilização"), nas quais ele dá o dito por não dito e defende que um certo grau de repressão sexual está na base da própria civilização, (é óbvio, basta lembrar que entre cães, por exemplo, não há qualquer restrição cultural) distinguindo entre repressão neurótica e repressão racional e social, distinção que a ideologia "progressista" dominante, não tem capacidade para compreender.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
-
Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
-
Crise. Recessão. Depressão. Agora é que vai ser: os EUA vão entrar pelo cano e nós atrás deles. Talvez para a próxima. Para já, e pelo trigé...
11 comentários:
Lidador:
"Hoje, um rapaz levantar-se para dar lugar a uma rapariga, fará esbugalhar os olhos a esta e motivará cochichos e alguma risota dos seus pares."
Esse carinho, agora maldito, propagou-se entretanto a uma boa parte das famílias, incluindo mulheres, no que respeita aos filhos. O carinho para com a prole resume-se a tralha, "direitos" e envio à escola para que ela o eduque.
São os modernos papás-chocadeira que se apresentam na escola para reclamar que os filhos não estão a "sair" bem educados.
Quando à estabilidade conjugal, nem vale a pena falar. O Partido Socialista legislou, aliás, o chamado casamento por quotas.
Óptimo texto! Acrescentarei algo logo que possa.
"Eu tenho amigas"
O que é curioso, CdR, é que você me acusa de fazer exactamente aquilo que não faço,mas você faz.
E que é, argumentar com casos pessoais, como se o ambiente que o rodeia, ou que você pensa rodeá-lo, fosse o mundo.
Repare, eu falei-lhe em estudos. Posso dar-lhes as referências, se quiser.
Disse-lhe que EM NENHUM LUGAR DO MUNDO, as mulheres , de um modo geral, têm a mesma atitude que os homens perante o sexo. Expliquei até quais as razões biológicas que subjazem a esta REALIDADE.
E você diz-me que tem umas amigas que não sei quê!
Faz lembrar um adepto do FCP, em pleno Estádio do Dragão, a dizer que não compreende como é possível o Benfica ter mais adeptos que o FCP,porque todos os seus amigos são do FCP e ali mesmo, no Estádio, não se vê um único benfiquista.
Mas, ó CDR, tire a prova real. Saia à rua, na liberalíssima Amesterdão, interpele as primeiras 100 gajas boas, atire-lhe a sua frase matadora e venha-me depois dar conta do resultado, isto, claro, se ainda estiver inteiro ou em liberdade.
E então, munidos de um real confronto entre a REALIDADE e aquilo que o CdR pensa ou gostaria que fosse a realidade, poderemos elocubrar.
Até lá, bolotas!
O padrão português, diz você.
Vá à Suécia, CdR. Vá à Noruega, e faça o mesmo teste.
E, já agora, talvez consiga explicar a razão pela qual Oslo tem uma taxa de violações absolutamente brutal.
Ah, e tal, o sexo livre, eu conheço uma que faz.
POis é...mas quando os filtros ideológicos não nos deixam ver além do umbigo, o mundo real pouco importa.
E, mais uma vez, confunde as coisas.
Quem falou em romantismos? Então você acha que tratar alguém com educação e consideração é "romantismo"?
Você acha mesmo que qualquer pessoa prefere ser tratada à mocada?
Creio que o seu problema é mesmo esse. Cristalizou numa narrativa ideológica e, como ela lhe transmite um mundo que não corresponde ao real, extrema os conceitos, para justificar a sua visão ideológica.
Vamos repetir:
Tratar alguém com respeito e consideração, é uma regra de CIVILIZAÇÃO, não uma sublimação da mocada nem romantismo bacoco.
No fim de contas, é assim que você age na sua vida, carago. Você não anda na rua a tratar mal as pessoas, você não se dirige a uma mulher com o nariz empinado e a cauda a abanar, atirando-lhe frases de estivador.
Você porta-se co, civilidade e educação. Com REGRAS!
Então porque razão age de uma maneira em concreto e acredita que, em abstracto, isso está mal?
Chiça, deixe lá a ideologia e olhe para as coisas COMO ELAS SÃO.
CdR:
"não responder a quem se deu ao trabalho de ler e comentar os seus postes, é também um sinal dos tempos…"
É o que se deve fazer aos papás e às mamãs que reclamam que os filhos não estão a "sair" educados.
Claro que se pode mandá-las para o raio que as parta "informando" que educar é a obrigação deles. Isso sim, é um comentário.
Aí vai outra metáfora, porventura mais escatológica:
Largar gases é natural.
Mas isso não implica que se faça tal coisa em total liberdade, na presença de outras pessoas.
Porquê?
Por respeito, por consideração, por educação, por regras de civilização.
Ou comer com as mãos e mastigar com a boca aberta. Usar maneiras à mesa não é romantismo ou afectação vitoriana e arcaica. É justamente o contrário, é respeitar o outro, o que está na mesma mesa e que se pode sentir repugnado ( se já esteve à mesa com alguém que mastiga com a boca aberta ou que mexe nas coisas com os dedos a escorrer gordura, saberá exactamente a que me refiro)
E, já agora, que estamos em maré de casos pessoais, deixe-me dizer que passei a maior parte da minha vida rodeado de mulheres.
Na minha infância a partir dos meus 3 anos, em casa era eu e 3 mulheres ( mãe e duas irmãs).
A minha mãe tinha 6 irmãs e 1 irmão.
A família do meu pai, era, 8 irmãs e 3 irmãos e uma delas, a minha Tia Maria, era a verdadeira matriarca, a que mandava naquela gente toda.
Na minha família, eu sou o único homem.
Por isso, CdR, sempre vivi com mulheres, mulheres emancipadas e fortes, e posso-lhe garantir que a minha experiência está de acordo com os estudos.
Ó CdR, acabou de malhar no ponto. Como disse, e muito bem, não é só chegar ali, e convidar a parceira para a queca. Como disse, e mto bem, há um contexto.
Ora os contextos têm as costas largas e quando a malta não sabe explicar lá muito bem porque razão uma coise é como é, debita assim umas vacuidades tipo, ah é o contexto e tal.
O que eu lhe tentei explicar, pelos vistos sem grande sucesso (é mais fácil fazer circular uma ideia à volta do mundo do que fazê-la penetrar nos escassos centímetros de osso de certas cabeças) é que aquilo a que você chama "contexto", deriva da indentidade sexual feminina, que não é igual à masculina. (Vem tudo da diferença entre XX e XY...)
E não adianta você tentar caricaturar aquilo que eu digo. Eu falei-lhe em sensibilidade, educação e cortesia, e você finge que isso é sinónimo de fórmulas e frases gongóricas do séc XIX.
Já lhe expliquei que não é, mas você, como o argumento não dá para mais, insiste na caricatura.
Não vale a pena. Eu nunca falei nisso, porque razão faz de conta que sim?
Acabou de reconhecer que a relação entre homens e mulheres não é igual à dos cães.
E invocou um "contexto". Pois agora trate de perceber que "contexto" é esse e depois de ter feito o trabalho, venha cá traduzir isso por miúdos.
Quanto a Oslo, muito bem. É porque há lá tipos que olham para as mulheres como se elas só fossem objectos sexuais. E como elas não são, e não vão na conversa do "sexo livre" (lá está, só serão convencidas pelo tal "contexto"), aquela malta age como o CdR apregoa.
Interpela a rapariga, presumo que com o mesmo tipo de frase matadora e perante a estranha recusa da feliz contemplada, aí vai disto.
O que me espanta é que o CdR, perante um tão claro exemplo, continue a achar que está a ver a coisa da forma correcta.
P.S. Francesco Alberoni, um sociólogo muito conhecido, com obras sobre amor, e enamoramento, etc, explica muito bem que a pornografia masculina tem sucesso entre os homens, porque é feita de acordo com as suas fantasias. E nessa pornografia, as mulheres ou são objectos ou máquinas sexuais, sempre prontas a abrir as pernas e a satisfazerem o parceiro.
O CdR parece pensar que o mundo real é como os filmes pronográficos.
Pelo contrário, explica o Alberoni, as mulheres não apreciam essa pornografia. A "pornografia" delas, envolve envolvimento romântico.
"E quando debitei as minhas tais ditas cujas frases, estava a ser romântico – à minha maneira"
Pois, mas é essa a questão. É que não é você que determina a maneira. É ela.
Você tem de usar a linguagem que ela permite e/ou aceita.
Tem de ir ao encontro dela e usar para com ela a linguagem própria que a convença.
O sucesso dos grandes sedutores vem exactamente daí. De falarem às mulheres na linguagem que elas gostam de ouvir, de usarem para com elas dos gestos que as sensibilizem.
E para a esmagadora maioria delas, aqui, na Holanda ou no Nepal, a abordagem brutal e canídea, não resulta, nem lhe agrada.
Cavalheirismo e cortesia é isso, meu caro. É empatia, é ser agradável, é seduzir.
Mas a sua prisão ideológica diz-lhe que isso é tratá-las como seres de 2ª categoria e ei-lo a inventar "contextos" para fazer justamente aquilo que diz que não se deve fazer, sem se sentir culpado.
"É claro que não é só chegar! Ao escrever UMA AMIGA, estou imediatamente a colocar a coisa num contexto (de amizade e conhecimento)."
Ó tempora! Ó mores!
Mas é isso mesmo que lhe estou a dizer. Essa amizade, esse conhecimento, surgiram de quê, homem de Deus?
De convívio civilizado, de tratamento educado, de confiança que se foi ganhando.
No fundo, o CdR, em vez de ver a coisa como um processo, quer isolar o momento do truca truca.
Mas você normalmente não chega ao truca-truca, assim, como nos filmes pornográficos, com um estalar de dedos.
A generalidade das mulheres não vai nisso, desculpe lá, os estudos provam-no e pelos vistos a sua experiência tb.
Note que o contrário, já não é assim. A maioria dos homens é perfeitamente capaz de passar a vias de facto sem qualquer processo de sedução.
Ainda bem que, aos poucos, está a aceitar a realidade.
Pronto, se quer chamar "contexto" , ao modo como seduziu a senhora, está à vontade. Tenho já a certeza que não foi de chofre e à mocada, mas com conversa e simpatia.
Sim, e claro que foi ela que tomou a iniciativa. Na maioria das vezes é isso que acontece, apenas o fazem de forma a fazer-nos acreditar que somos nós.
Há tempos estava a almoçar com uma senhora de sangue azul, segundo ela diz, descendente de Nuno Alvares Pereira. Pelo menos tinha mais de 10 nomes...
E estava ela a dizer que as senhoras não se servem de vinho, à mesa, nem pedem. Então como bebem?-perguntei eu.
Sugerem ao cavalheiro que está ao lado, rematou ela.
Entendeu a coisa, CDR?
Elas sinalizam a sua disponibilidade porque sabem, pela sua propria natureza, que se forem muito ostensivas, podem assustar os machos menos confiantes.
Lá está, procedem com cortesia, procuram ir ao encontro das fantasias do macho.
E até fingem...
"Pode ser que seja, mas a evitar em certas ocasiões em que possam interferir com o libido."
Espectacular CdR.
Resta-me dizer que discordo dos dois. Sou de outra "geração"... E inclino-me a concordar com o CdR...
Enviar um comentário