Evolução: macaco, troglodita faminto, chico-esperto com músculos e finalmente a magnus opus da criação divina, a mulher com as proporções ideais e aleijadinha de boa...
”Falou antes de tempo. Não é nada
disso a que eu quero chegar. Terá que ler o resto.”
Meu caro José Gonsalo,
Macacos me mordam, você escreveu ou não
escreveu esta frase?
Para comentar esta frase acho que não preciso
de ler um tratado, sobretudo se me referir apenas a ESTA FRASE.
Esta sua exigência, ”terá de ler o
resto”, lembra-me os livros de estruturalistas franceses, muito na
moda nos anos setenta e que toda a macacada da corda - se quisessem ser
realmente de esquerda, se quisessem pertencer ao grupo dos bonobos prá frentex
- ERA OBRIGADA A LER.
Pequeno incómodo! Para ler aqueles textos
complicadíssimos era imperativamente necessário ler um livro de outro autor:
uma introdução à Real Thing… Nunca soube a razão, ou a imagem sublimadora, ou a
patranha simplória que sempre me levou a achar esta exigência muito francesa,
muito latina, muito macaca… Mas confesso que na altura isto era muito mal visto
pelos outros chimpanzés, meus camaradas. E era por estas e por outras que os
primatas marxistas sempre me viram com desconfiança: este macaco tem o mesmo
pelo, cate-se como a gente, come as mesmas bananas, mas...
É preciso compreender que a época (anos 70) e
o local (Holanda) não se prestavam a perder muito tempo com leituras
fastidiosas. Os macacos menos doutrinários achavam que tinham mais que fazer. E Porquê?
Porque as macacas locais eram já de si boas como milho mas agora (refiro-me aos
anos 70), devido à benéfica influência da Escola da terra das salsichas,
tinham-se tornado bastante acessíveis. Pior, ó da fêmea que se atrevesse a
recusar participar numa geraldina (espero que conheça a expressão!).
Coitadinhas, eram imediatamente acusadas no mínimo de caretas, ou mesmo
reaccionárias e julgadas em autênticos ‘volksgericht’ estalinianos… Acusações
que hoje em dia estão bastante inflacionadas, mas que na altura eram bastante
graves.
Lembro-me que eu, em sinal de agradecimento
por tanta fartura, de cada vez que dava uma queca no meio da natureza, subia
imediatamente à árvore mais próxima e lá do alto gritava batendo com os punhos
no peito:
OOOOOOOOOBRIGADO MARCUSE, OOOOOOOOBRIGADO
ADORNO...
As macacas ficavam inicialmente perplexas (não
compreendiam o significado da primeira palavra), mas o primarismo conceptual do
positivismo politicamente correcto obrigava-as a aceitarem o meu comportamento
insólito como algo natural, cultural, diferente...
E assim cheguei ao século XXI sem
ter lido o Roland Barthes e outros grandes quebra-cabeças metafísicos mas com o
físico reconfortado. E acho que fiz bem, porque, como diz o meu Gururila, o Pat
condell “I don’t have much of a formal education – which is good, because it
means I can actually read and write” - beter than Rolland Barthes.
2 comentários:
Carmo da Rosa:
Não só me estou nas tintas para o Barthes e para o Marcuse como, ainda por cima, os acho intragáveis a todos os níveis.
Mas, uma vez mais, adiantou-se. Porque é por aí que eu lhe vou responder. E só não publiquei o texto todo de uma vez só porque acho que um blogue não deve comportar textos com mais de três páginas.
De qualquer modo, devo dizer-lhe você lê demasiado à la mode, isto é, você começa logo a fazer a crítica antes de ouvir tudo. A esse nível, parece um jornalista "agressivo" da contemporânea social-comunicação sensacionalista. É exactamente o exemplo do que nunca se deve fazer.
Portanto, primeiro leia a história toda, a do Capuchinho Vermelho ou a do troglodita sapiens sapiens, é indiferente. Depois, numa segunda leitura, então sim, critique o que não lhe soa bem. Mas só aí.
Ok? Senão, é tempo perdido, o seu e o meu.
José Gonsalo,
Acerca do Roland Barthes e do Marcuse idem. Acerca do adiantanço não estou de acordo, porque, como eu já disse, só me referia à SUA FRASE, que eu sublinhei e linkei, e NÃO ao todo. Além disso não critiquei, apenas disse que a premissa era errada (talvez isto seja criticar!) porque não era bem assim que eu via a coisa – passando a esclarecer.
Acha que um blogue não deve comportar textos de mais de 3 páginas? Pois acha muito bem.
Leio demasiado à la mode!? Huuum, eu leio da esquerda para a direita! Sou agressivo? Talvez, os islamitas também dizem que as palavras ferem mais do que as bombas, mas eu não acredito, prefiro de longe palavras. Sou um jornalista contemporâneo? Na minha idade isto é um elogio…
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