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domingo, 21 de junho de 2009

ALLAHU AKBAR, fora com o Presidente do Irão...




Afshin Ellian, filósofo e professor de Ciências Jurídicas em Leiden, nasceu em Teerão em 1966 e é refugiado político na Holanda desde 1989.

Afshin Ellian:

Mais uma vez agitação na Pérsia. Azadi, liberdade, gritam os persas. Isto é-me familiar. Eu também já gritei Azadi. Mas será que os persas alguma vez conseguirão a liberdade? Na minha geração isso não foi possível. O que é que se passa no Irão precisamente?

Todos os presidentes da Republica Islâmica do Irão são originários do regime. O primeiro presidente virou-se contra Khomeiny e foi por esse motivo deposto. O segundo morreu num atentado à bomba. Ali Khamenei, o actual líder, foi o terceiro presidente. Antigamente o regime tinha um festival de funções: um imã como líder supremo, um presidente e mais um primeiro-ministro. Mir Hossein Mousavi (rival de Ahmadinejad) foi o último primeiro-ministro do Irão, e foi primeiro-ministro durante um período de graves violações dos direitos humanos.

Não era Mousavi, mas sim o Imã Khomeiny quem ordenava as violações. Mas Mousavi nunca se opôs às graves restrições da liberdade de expressão e às execuções em massa de dissidentes. Ironicamente encontra-se agora passadas duas décadas perante o mesmo monstro que outrora serviu...

Rafsanjani foi o quarto presidente do Irão. Ali Khamenei tornou-se o líder supremo do regime islâmico. Depois de oito anos de guerra contra o Iraque de Saddam Hussein foi Rafsanjani quem endireitou a economia do Irão. Mas isso teve um preço? A formação de uma máfia financeira constituída à volta de familiares, amigos e conhecidos de Rafsanjani. Corrupção tornou-se à norma. Nesse período, e sob a tutela de Rafsanjani, formou-se uma espécie de aristocracia muçulmana. Rafsanjani é também responsável por graves atentados aos direitos humanos.

Sob as suas ordens foram assassinados centenas de dissidentes fora do Irão (na Europa também). Mas ao mesmo tempo ele é também um oportunista – pragmático se preferirem – disposto a negociar seja com quem for. Foi ele também quem introduziu uma facção no seio do regime: que no Ocidente se costuma designar por ‘facção moderada’. Fazia vista grossa às regras islâmicas de vestimenta, e outras liberdades individuais eram também, à socapa, não legalmente, toleradas. Desde então uma enorme quantidade de Iranianos tornou-se esquizofrénica: imãs barbudos bebendo whisky já não são uma excepção. No que diz respeito à política externa, Rafsanjani pretende seguir o modelo chinês: através da economia e do poder militar tentar tornar-se uma potência regional. Um clima diplomaticamente calmo é uma condição prévia. Continuar a desenvolver o programa nuclear, mas não o utilizar na retórica política. Semear a confusão nas relações diplomáticas era a charneira da estratégia política de Rafsanjani. Na realidade Khamenei sempre se opôs a esta política. Mas no início ele não tinha o poder suficiente para agir contra.

As eleições presidenciais nunca foram na realidade algo excitante no Irão. Até ao momento em que o quinto presidente, Khatami, começou a falar em público sobre liberdades individuais. Isto deu início à revolta estudantil de 1999, com as consequências que se sabe: dezenas de estudantes foram mortos, presos e torturados. Nesse momento Khatami tomou o partido do regime, e desde essa altura o líder supremo decidiu organizar as eleições de maneira diferente – manter as rédeas bastante mais curtas. Não querem correr nenhum risco. E assim foi que Ahmadinejad caiu de pára-quedas.

Mas agora há uma facção que quer devorar a outra (a de Rafsanjani). Querem fazer uma grande limpeza no seio do regime. Mousavi não pode ser presidente. Porque têm medo que com a introdução de liberdades individuais e o suspender os aspectos mais agressivos do programa nuclear, estão a pôr em perigo o fundamento ideológico do regime. Que são: a destruição de Israel, aplicação da sharia, luta contra o imperialismo cultural e jurídico do Ocidente e a exportação do Islão político.

As pessoas podem mudar. Isso também é válido para políticos. A questão crucial é saber se Mousavi está disposto a ser o Ieltsin do Irão. O povo do Irão empurra-o nessa direcção, e desde a explosão de violência é o povo quem guia Mousavi, e não o contrário. A questão é saber se esta terceira revolução Iraniana (no período de um século) vai ter sucesso. Duas revoluções anteriores falharam. Esta revolução parece-se com a primeira, a Revolução Constitucional (1906) do Irão, que tinha como norma um estado de direito. Isso é tranquilizante.

A maioria das revoluções geraram um regime totalitário. Na revolução de 1978 os jovens não sabiam como conseguir liberdade e um estado de direito de forma jurídico-constitucional. Ao contrário, o imã Khomeiny soube perfeitamente criar um regime teocrático e totalitário com a aplicação da sharia e dogmas politico-teológicos. Mas a consciência política da geração actual é consideravelmente mais alta e melhor do que a da minha geração. A nossa geração foi confrontada a uma suave forma de despotismo. Esta geração vive numa tirania totalitária que também quer moldar a vida e interferir nas escolhas pessoais dos cidadãos.

Quais são os cenários possíveis? A primeira possibilidade é que Mousavi seja presidente, e ao cumprir as suas promessas esbarre contra as limitações constitucionais do seu poder. E então vai ter que mobilisar o povo outra vez para um novo ‘design’ constitucional. Mas nos próximos dias as coisas também podem passar-se de outra maneira. Neste cenário, Rafsanjani, no seu papel de presidente dp organismo clerical que escolhe ou demite o líder supremo, tem que fazer com que Ali Khamenei seja demitido. Mousavi encarregar-se-ia da transição.

Mas na realidade a terceira possibilidade é a mais provável: repressão e massacre em massa dos oponentes. Não é preciso que isto aconteça hoje ou amanhã. Pode ser feito de forma gradual. E então estamos em vésperas de um drama Persa. Além disso, Israel, vai ser agora obrigado, com o consentimento do mundo ocidental, a uma confrontação militar com o Irão. De qualquer maneira vamos ter um verão quente. O Irão vai mais uma vez pagar as favas pelo erro fatal que cometeu há trinta anos.

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