"Segundo o ministro Vieira da Silva, Portugal passou a ser "um país de pensões viáveis". Não surpreende. Portugal é, também, o país da justiça viável, quando se vê um caso de barcos que serviam de hotéis na Expo'98 a ir agora a julgamento, até porque deve faltar pouco tempo para prescrever. Este é também um sítio de negócios viáveis, como o da Estradas de Portugal, que gastou 1,5 milhões de euros num edifício há dois anos e agora se prepara para o abandonar porque descobriu que não é seu. Portugal é também o país das acções punitivas viáveis, como foi a retirada dos benefícios fiscais a um deficiente porque devia 1,97 euros, coisa que, de resto, nem era verdade. Portugal é um país em que tudo é viável, menos o seu futuro.
Se o facilitismo se tornou a ideologia de vida do País, a resolução dos problemas tornou-se um estorvo. Ninguém já avança directamente para um problema. As verdadeiras questões que corroem o País são agarradas de cernelha. É talvez por isso que já se deixou de analisar seriamente os problemas com que a sociedade se defronta. A dúvida que ressalta do relatório da OCDE é uma: para que é que os cidadãos (e as empresas) continuam a descontar uma fortuna para o Estado, se as pensões hoje são viáveis e amanhã não sabemos? Com o é que se pode pedir a alguém que desconte para o Estado se ele já está a ver que daqui a 20 anos não vai ter dinheiro para pagar os gastos familiares? Sobre isso há um silêncio ruidoso, com o se não houvesse amanhã em Portugal. E, se calhar, não há."
Este texto é de Fernando Sobral e pode ser lido aqui.
Seria fácil dizer que o problema é o socialismo e a esquerda. Embora também seja, se nos ficarmos por isso estaremos a cair no 'facilitismo' referido pelo autor.
É que talvez seja ainda pior; andamos a fingir que o que está a acontecer não tem nada a ver connosco, que somos apenas meras vítimas, e que alguém melhor que nós resolverá por nós, a nosso favor, e sem que nos doa nada.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
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Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
9 comentários:
E são os mesmos que falam do Maddoff como sendo uma fraude.
Estes,mais espertos, quando os "descontadores" derem conta já estarão a fazer tijolo depois de gozadas as suas belas reformas.
@ PP: ”Seria fácil dizer que o problema é o socialismo e a esquerda.”
Seria fácil e falso.
Ideologicamente a direita tem mais culpa. A direita teve mais tempo as rédeas do poder na mão.
Mas como você diz “o problema é bem pior”, também acredito que sim, não é um problema ideológico é um problema cultural...
"que somos apenas meras vítimas, e que alguém melhor que nós resolverá por nós, a nosso favor, e sem que nos doa nada. "
PP e isto não é cerne da ideologia da esquerda?
A desresponsabilização, o estado como pai protector e cuidador, a cultura do "eles", os maus?
Chiça, se não é isso a esquerda, então é o quê?
Claro que pode dizer que tb era essa a ideia fascista, mas o que era o fascismo senão um estatismo nescido no mesmo ovo socialista? Não era Mussolini ele mesmo um quadro do Partido Socialista?
@Lidador ""que somos apenas meras vítimas, e que alguém melhor que nós resolverá por nós, a nosso favor, e sem que nos doa nada. "
PP e isto não é cerne da ideologia da esquerda?"
A desresponsabilização, o estado como pai protector e cuidador, a cultura do "eles", os maus?
É, sem dúvida. Mas o problema é que esta atitude foi assimilada fora da esquerda. Nesse sentido digo que a culpa não é só da esquerda, nem do socialmo.
Antes de ser eleita a Teacher disse aos ingleses: "Se queremos ter o nível de vida dos alemães temos de fazer o que eles fazem". Ela não podia ter sido mais antipopulista, e no entanto ganhou as eleições.
Onde é que hoje, fora da esquerda, encontramos políticos que digam que o futuro deve depender essencialmente daquilo que cada indivíduo faz por si mesmo e não daquilo que o Estado vai fazer ou deixa cada um fazer por si mesmo?
Aliás, a minha guerra contra a UE passa muito por isto mesmo. Disseram-nos para não nos preocuparmos mais porque a Europa ia salvaguardar o nosso bem estar e progresso. Mas não vai salvar coisa nenhuma. Ou nos salvamos porque fazemos alguma coisa por nós ou estamos condenados a ser o Trás os Montes da Europa. E a realidade é a que está à vista.
@CDR "não é um problema ideológico é um problema cultural..."
Em grande medida concordo consigo. E pegando na sua frase eu digo que é um problema idiológico com origem num problema cultural.
Caro PP
"Aliás, a minha guerra contra a UE passa muito por isto mesmo. Disseram-nos para não nos preocuparmos mais porque a Europa ia salvaguardar o nosso bem estar e progresso."
E eu que estava a gostar do seu artigo e do seu comentário (a roubar ideias hummm)
A europa representou (e ainda representa) uma oportunidade para atingirmos níveis de crescimento e qualidade de vida superiores àqueles que teriamos caso não tivessemos integrados.
Mas é só uma oportunidade, e como todas as oportunidades depende sempre de nós, e do nosso trabalho, aproveitamo-las.
@Stran
Ser-se a favor da UE nem sequer é incompatível com o meu raciocínio.
Aquilo que estou a dizer é que muitos de nós se convenceram que bastava entrar na CEE e depois era tudo fácil. Mas nada é assim.
Até para tirar proveito de alguma vantagem é preciso estar disposto a não tomar as coisas como garantidas.
«PP e isto não é cerne da ideologia da esquerda?
A desresponsabilização, o estado como pai protector e cuidador, a cultura do "eles", os maus?»
Limitar a coisa numa questão política é atavismo.
Carmo da Rosa: «não é um problema ideológico é um problema cultural...»
Ora, a responsabilização só chega à política quando nasce da cultura. Sem isso, bem podem os políticos incutir a "responsabilização". Nunca vivemos os «enclusare acts" anglo-saxónicos e além de uma recente pseudo-democracia, a nossa classe feudal era pouco autónoma, sem direitos de propriedade como na bretanha. Estava tudo sobre a tutela de um único poder que não servia de contra-poder a nada, a IGREJA.
Ao longo dos tempos a irresponsabilidade cresceu, porque o Estado se foi legitimando nessa patranha. Foi crescendo a partir desse interesse e foi amealhando com isso.
Caro PP
"Aquilo que estou a dizer é que muitos de nós se convenceram que bastava entrar na CEE e depois era tudo fácil. Mas nada é assim.
Até para tirar proveito de alguma vantagem é preciso estar disposto a não tomar as coisas como garantidas."
Concordo totalmente!!!
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