Na caixa de comentários do meu artigo COSMOPOLITAS VERSUS POPULISTAS o nosso colega RB exprime a certa altura algumas apreensões acerca do futuro político de Wilders: “Espero, sinceramente, que estes rótulos não prejudiquem Wilders em 2011.”
Por enquanto já tentaram tudo, menos matá-lo. E quando digo tudo, quero com isto dizer muita coisa, e por enquanto nada funcionou... É uma coisa fantástica, quando mais mal dizem do homem mais votos PVV caem nas urnas. Já assim foi com Fortuijn em 2002. Este povo não se deixa domesticar facilmente. Para perceber isto é muito simples, é só ler um livrinho que no meu tempo era leitura obrigatória na escola: A HOLANDA, de Ramalho Ortigão.
(Respondo às apreensões do meu colega RB pretensiosamente com um post porque acho que o escritor português que vou citar merece a minha mais sincera consideração.)
Dou a palavra à Ramalhal Figura, que visitou a Holanda em 1893.
Para opor à vontade esmagadora do soberano espanhol, a Holanda, anárquica, pobre e obscura, teve a Liga dos Maltrapilhos. Portugal, monárquico, glorioso e rico, que poucos anos antes deslumbrava a Europa com a epopeia das suas navegações, e se preparava para dominar o Mundo pela herança do império de Carlos V, não teve resistência que opor ao arbítrio de um tirano.
Em Portugal, o regime eclesiástico, envenenando lentamente as fontes da filosofia, as fontes da arte, as fontes da honra civil e da coragem militar, havia-nos manietado de antemão para a resistência à servidão política e à dominação estrangeira. O país rezava.
Os filósofos tinham-se convertido em casuístas, dirigiam a consciência pública de dentro dos confessionários, cultivando nos espíritos a análise óptica do pecado com o mesmo carinho de micrógrafos com que o povo cultivava os parasitas da pele à portaria dos conventos.
Os homens de guerra tinham-se feito salteadores. A arte tinha morrido com Luís de Camões, de muletas, sentado ao sol, entre os frades, no adro de S. Domingos.
Na Holanda a LIGA DOS MALTRAPILHOS era formada por indivíduos da primeira nobreza, apesar do nome que adoptaram e que dera o conde de Barlaymont, para tranquilizar a regente Margarida, aos que iam pedir-lhe a abolição do tribunal do Santo Ofício: - Madame, ce ne sont que des gueux.
8 comentários:
Caro CR,
Ainda ninguém aí na Holanda se apressou a ligar Wilders a Berlusconi a Bush ou à CIA ou à MOSSAD, às petrolíferas, às multinacionais "dos interesses", ao capitalismo desenfreado?
Ou a todos juntos?
Rod,
Não, Wilders é imediatamente ligado com Hitler. Não fazem a coisa por menos.Com Berlusconi, Bush e a CIA já não se consegue o efeito desejado...
Caro RoD
O enxovalhar do oponente converteu-se numa tradição da comunicação social holandesa, muito antes do Wilders.
Os verdes tentaram associar o Fritz Bolkestijn do VVD (partido liberal) e um dos primeiros políticos a criticar abertamente o islão, com o Le Pen.
Hugo Brandt Corstius um jornalista de renome, considerava o ministro das financas Ruding CDA (cristãos democratas), o Eichmann contemporâneo.
Geert Mak um conhecido escritor comparou a Ayaan Hirsi Ali com o Goebbels.
Paul Scheffer professor catedrático ligado ao PvdA (sociais democratas) foi caracterizado na media como clone do Jorg Haider, apos a publicação dum artigo critico com o titulo “O drama multicultural”.
Marcel van Dam dirigente do PvdA (sociais democratas), considerava num programa de televisão que o Pim Fortuyn era uma pessoa indigna e abjecta, poucos meses antes de um “herói” ligado aos verdes, lhe pregar um tiro na cabeça.
Mohamed Rabbat um académico holandês de origem marroquina também ligado à esquerda verde, explicava na véspera das eleições num programa de rádio que o voto no Wilders é um voto num pequeno Hitler.
Alexander Pechtold líder do D66 “Partido liberal à esquerda do VVD”, durante o debate televisivo após as eleições não perdeu a oportunidade de associar o PVV do Gert wilders com as razias nazis caso este partido venha ter uma grande implantação nacional.
Como vê o reportório é muito variado, tudo gente da corda.
Caro Go_dot,
Tenha pena desta pobre gente, de esquerda. O insulto é o único que lhes resta.
Já não têm os trabalhadores pelo seu lado, as mulheres, os judeus, os homossexuais e os intelectuais.
Ficaram com os Marroquinos, os Turcos, os Somalis e os Antilhanos. Não é que esta gente seja má, mas sejamos francos, não são a companhia ideal, não sabem apreciar um bom Côte du Rhone, não leram o último bestseller, nunca ouviram falar do Almodôvar quanto mais do El Bulli...
Basear uma relação apenas num sentimento de pena é algo de trágico... Por isso é que os vemos frequentemente a falar com árvores, ou em cursos para aprender a rir em grupo, ou para detectar bruxas a grande distância.
Que saudades eu tenho do tempo em que tudo era certinho, os pretos eram um pingo de óleo nas areias branquinhas, ninguém pisava o que ao longe se via. Éramos pobres mas
felizes, a guitarra gemia, a massa de gosto chorava, pouco se ria. Assim era o nosso belo paraíso á beira mar plantado. A maioria falou e pediu aquilo que merece. Heróis do mar marchar marchar. Pois MARCHAI. Depois,...falaremos
SAUDADES
Caro anínimo:
"Que saudades eu tenho do tempo em que tudo era certinho, os pretos eram um pingo de óleo nas areias branquinhas, ninguém pisava o que ao longe se via."
O caro anónimo quis instalar as areias e o pingo de óleo na engrenagem ideológica dos espantalhos.
O racismo é racismo seja para que lado for e as areias fartaram-se de ficar entaladas nos dentes e de terem que ter que aturar os devaneios do óleo que pretendia apresentar-se com aliviador das enxaquecas alheias. Votaram-se contra as engrenagens. Como diz a esquerda, partiram-lhes os dentes.
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@ anónimo: "Éramos pobres mas felizes, a guitarra gemia, a massa de gosto chorava,pouco se ria."
Este anónimo cheira-me a queijo de cabra e Borba tinto – só tinto! Tenho quase a certeza que é o meu grande amigo Cabeça, que em tempos era um furioso defensor de abertura total, mas que agora prefere a discrição do anonimato...
Senhor Dótor RD. Compreendo perfeitamente a sua frustração, também já dei aulas e sei que não é fácil manter a carapinha á direita, mas quem lhe disse que eu era de esquerda?.
Senhor CR. Cabeça não sou, se o fulano de que fala gosta do bom tinto e queijo de cabra nem que se chame Patas, bom gosto tem.
Nesta democrática sociedade o direito de ser até mesmo anónimo é
legitimo. O povo votou e ganhou, a vitoria é da maioria, o poder ao povo. ONDE É QUE EU JÁ OUVI ISTO?.
Anónimo serei mas preparado para o que der e vier.
SAUDADES
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