Como se esperava e é natural, Obama indicou uma "liberal" ( esquerdista, no nosso léxico).
Qual é o problema com esta escolha?
Obama deu há tempos uma ideia do seu perturbador conceito de justiça dizendo que, para ele, um bom juiz é alguém que tenha "empatia", ou seja, que ponha os seus preconceitos ideológicos à frente da impessoalidade da lei.
Sónia Sottomayor parece corresponder a esse perfil, a avaliar pelas duas situações que estão a ser suscitadas nos media e que certamente vão ser esmiuçadas nas audições.
Em 1º lugar, disse há tempos que uma juíza hispânica tenderá naturalmente a produzir melhores decisões judiciais que um juiz branco.
Pouca gente se escandalizou face a uma declaração claramente racista, mas pode imaginar-se o escândalo mundial que se seguiria se um juiz branco produzisse a declaração oposta.
(Para ter uma ideia do que se passaria, basta lembrar que um moçambicano branco, naturalizado americano, e que teve a ideia de se definir como afro-americano, foi suspenso de uma universidade e agredido verbalmente pela nomenclatura esquerdista que domina o campus onde estava a estudar).
Em 2º lugar, está o caso Ricci. O Sr Ricci é um operário branco que há tempos, sabendo que havia um concurso para bombeiros na sua autarquia, meteu uma licença e gastou largas centenas de dólares a preparar-se para o exame, fazendo das tripas coração para ganhar o emprego.
Havia 18 lugares e o Sr Ricci ficou em sexto. Emprego garantido, pensava ele.
Mas pensava mal!
A autarquia anulou o concurso porque, pasme-se, nenhum negro tinha passado nos exames.
Decisão claramente racista , que todavia não fez salivar os habituais activistas, para os quais só há racismo de brancos contra negros.
Se fosse o contrário, isto é, se uma autarquia anulasse um concurso porque nenhum branco tinha passado nos testes, é fácil de imaginar o berreiro que se seguiria.
Como é evidente, o Sr Ricci protestou. O caso chegou a tribunal e a Srª Juíza Sottomayor, munida da sua proverbial e muito gabada "empatia", não quis saber de mais nada e achou que a autarquia tinha razão e o Sr Ricci que se amanhasse e se pintasse de preto.
A decisão foi escandalosamente racista e vários juizes o deixaram escrito, uma vez que estão em causa os fundamentos da Constituição.
O caso irá ser presente ao Supremo nas próximas semanas e pouca gente duvida que será dada razão ao Sr Ricci.
Sónia Sottomayor será desautorizada, mas entretanto ganhará o lugar no mesmíssimo Supremo.
A avaliar pela "empatia" com que toma as suas decisões, os americanos irão ter por muitos e largos anos no Supremo, alguém para quem a justiça não é cega, mas o lugar óptimo para o racismo politicamente correcto.
52 comentários:
Não conheço os atributos da Sra. Sottomayor, a não ser os que vêm nos jornais e que é negra (bhr, tenham medo...), mas daí a chamar"esquerdista" (no nosso léxico) a uma liberal, só mesmo para rir...Quanto muito, "democrata" (no léxico americano).
Já esquerdista, está bem definido no dicionário, como "leftist" (com ideias de extrema-esquerda). Eu percebo que haja pessoas que não gostem de negros, mas daí a associar negros a "liberals" convenhamos ser algo exagerado...
@ Lidador: “......uma juíza hispânica tenderá naturalmente a produzir melhores decisões judiciais que um juiz branco.”
Ela devia saber que uma hispânica é por natureza branca. Até pode ser mesmo muito branca! Ou ela não viu a final da taça da liga dos campeões? Onde ‘el príncipe blanco’ – que parece anémico ou lavado todos os dias com OMO - fez uma joga do camandro...
Além desta afirmação ser realmente racista. Além de que no caso oposto dava realmente para haver manifestações anti-usa no mundo inteiro...
O moçambicano foi suspenso de uma universidade por se auto-definir como afro-americano?
Então os EUA estão piores daquilo que eu esperava! Menos 5 pontos na minha consideração pelos EUA...
@ Lidador: “......A autarquia anulou o concurso porque, pasme-se, nenhum negro tinha passado nos exames.”
Mais 5 pontos que foram à vida...
@ Lidador: “a Srª Juíza Sottomayor (...) não quis saber de mais nada e achou que a autarquia tinha razão e o Sr Ricci”
O quê, já vou em 15 pontos caneco - por este andar volto a dar em socialista!!!
Caro Holandês, a Srª Sottomayor não é negra. Nem branca. Nem amarela. É uma mestiça em cuja herança estão indígenas americanos, brancos etc. O pai dela era judeu, segundo julgo saber.
Seja como for define-se como "latina", isto é, reivindica uma pertença exclusivista que tem a ver com a língua espanhola e os valores associados à "hispanidade", tal como ela é entendida na América.
E faz muito bem. Tem as suas raízes e orgulha-se delas.
O que não está bem, e mostra um carácter perturbador, é não hesitar em afirmar a superioridade da sua etnia e em juízo tomar decisões de pendor étnico.
Imagine, por um minuto, que vá lá, um juiz wasp, dizia e fazia o mesmo que ela.
Qual seria a sua reacção?
Lamento desiludi-lo. Nos EUA, "liberal" tem um significado geral de esquerdista. Que engloba os mais radicais e os mais moderados.
David Mamet, um guionista de sucesso, não hesitou em classificar esta malta (de que ele fez parte) como "brain dead liberal".
Cdr, nos EUA há esquerda da pesada.
Talvez nunca tenha ouvido falar, mas ficou famosa a célebre "República Popular de Berkeley", pelo facto de há umas dezenas de anos, ali montarem tenda aos magotes, os esquerdistas mais tontos da América.
E há estados que nada ficam a dever aos socialismos europeus...
Ah, holandês, Obama tb não é negro.
A sua mãe era branca e o seu pai negro, o que faz dele tão branco como preto.
Mas assumir a negritude é mais chique não é?
Imagine que ele se definia como branco....havia de ser bonito.
Esta dualidade de valores não o faz pensar?
@CDR
A propósito da sua observação sobre os hispànicos, os americanos, na busca da retidão da referência racial, desenvolveram formas de chamar as coisas pelo não-nome, como sabe.
Assim:
-nos media, LifeStyle é raça; alguns conteúdos são dirigidos ao lifestyle dos negros ou dos hispânicos:
-os negros não são negros, são 'afro-americans', embora a generalidade deles não tenha referências reais ao continente;
-os hispanics são todos aqueles que têm ligações étnicas com emigrantes vindos da américa latina, isto é, geralmente têm ascedência racial nos índios não made in USA, para não confundir com;
-os american-natives, aqueles que têm sague indio made-USA;
-faltam os brancos, que não são brancos, que isso é racista, são caucasians.
Isto dos hispanics deixa os nossos nativos algo confusos, e não é caso para menos.
Já não é a primeira vez vejo portugueses a considerarem-se 'hispanics' em resposta a questionários americanos sobre o seu 'lifestyle'
Porra, isto anda pior do que eu pensava. O discurso politicamente correcto consegue deitar abaixo toda a sociedade norte-americana?
Lidador:
Tem razão, a Sottomayor é de origem latina, ou "hispânica" (léxico americano). Em rigor, ela nem sequer é americana de origem. Os únicos americanos, dignos desse nome, são os índios norte-americanos (american indians) que já lá viviam há 10.000 anos antes da chegada dos europeus.
Coisas do "melting pot". Valia mais chamar-lhes seres humanos, ou cidadãos, sei lá...
"Valia mais chamar-lhes seres humanos, ou cidadãos, sei lá..."
Valia.
Mas Obama (e isto está escrito por ele mesmo no livro "Audacity of Hope"), enquanto universitário pegou-se a sério com uma rapariga, descendente de irlandeses, indios e negros, porque ela recusava assumir-se como pertencente à "comunidade" negra, tal como Obama fazia.
A rapariga recusava prisões e culturais e reclamava-se apenas como indivíduo, livre para ser aquilo que entendesse.
Obama discordava. De resto toda a sua vida foi feita no "trabalho comunitário".
A esquerda, de um modo geral, adora as "comunidades". Na verdade acha até que os valores das "comunidades" ( certas comunidades, a bem dizer) estão acima das opções individuais. O individualismo é um dos inimigos da esquerda, como sabe.
É por isso que agrupa tudo em "classes" e tende a generalizar.
E é por isso que tende ao totalitarismo.
Ao estilo 1984, nos países comunistas.
Ao estilo "Brave New World", nos países da "esquerda civilizada"
Num lado repressão e pancada.
No outro persuasão e reforços positivos.
Mas o resultado a atingir é o mesmo: controlo,estabilidade, comunidade.
Lidador:
Não li (ainda) o livro do Obama. Mesmo que ele pensasse isso em jovem, tal pensamento (admitindo que estava "errado") era de um jovem. O Durão Barroso da UE, andou a destruir mobiliário da Faculdade de Direito no PREC e hoje é presidente da Comissão Europeia...ah, desvarios da juventude.
Querer fazer valer prevalecer os valores da comunidade não é uma coisa má (nem boa) em si. Os conservadores também o desejam. Eu, que não me considero conservador, apoio esta ideia. Como a sociologia nos ensinou, há fundamentalmente dois modelos em presença na sociedade: o modelo do conflito e o modelo da harmonia. O primeiro está ligado ás mudanças bruscas (ou violentas, no caso das revoluções) e o segundo, ás mudanças lentas (ou às reformas).
Ambos, têm vantagens e desvantagens, como saberá. Nenhum dos modelos tem só virtudes. Porque é que o Obama havia de ser um virtuoso?
@ PPÉ isso mesmo, a busca do politicamente correcto, do não-ofender, por muito precisos que os termos sejam, dá frequentemente nisso: não-nomes...
Mas tem a certeza que nos média ‘lifestyle’ é raça? Não será precisamente CULTURA, a razão que leva os nossos compatriotas a considerarem-se ‘hispanics’ nos EU?
Por falar em precisões:
Na Holanda começaram por chamar BUITENLANDERS (estrangeiros) aos imigrantes. Como a coisa tinha uma conotação chata - nós versus eles - arranjou-se, depois de 37 relatórios pagos a peso de ouro, um termo bastante engraçado que convinha a toda a gente: GASTARBEIDER (trabalhador-convidado).
Mas como a maioria dos convidados nunca mais se foram embora, recomeçou a busca para arranjar um termo para as gerações seguintes, para os filhos dos convidados. E então surgiu o MAROKKAANSE-NEDERLANDER ou TURKSE-NEDERLANDER, respectivamente Marroquino-holandês e turco-holandês. E agora sim, pelo menos de nome estão perfeitamente integrados.
(Note-se que estas últimas designações não são utilizadas em relação a etnias que NÃO causam problemas. Nunca ouvi ninguém dizer SPAANSE-NEDERLANDER ou PORTUGESE-NEDERLANDER.)
Mas como a teoria nem sempre reproduz perfeitamente a prática, sentiu-se a necessidade de juntar a designação ‘mens’ (gente) às etnias mais problemáticas que não nasceram no país, para lhes dar outra graça, para as tornar mais aceitáveis, para enfim serem vistas como gente!!!. E assim ouve-se frequentemente MAROKKAANSE-MENS ou TURKSE-MENS, respectivamente marroquino-gente e turco-gente...
Mas o mais politicamente correcto, o termo que apaga qualquer indício étnico é MEDELANDER, mas isto eu não consigo mesmo traduzir...
CdR:
Esqueceste-te do "buitenlandse werknemer" (trabalhador estrangeiro) e do "buitenlandse medewerker" (colaborador estrangeiro) que surgiram já depois do "gastarbeider" e antes da "etnische minderheid" (minoria étnica), ainda muito antes do "Marokkaanse-Nederlander"...
O "Marokkaanse-Mens" é paternalista (a gente marroquina) e não faz parte do léxico oficial. É mais usado pelo homem da rua e é, de facto, um termo depreciativo. Daí que não seja usado em relação aos portugueses (medelanders) e só seja usado em relação a determinados grupos, ou seja, os novos "judeus" (undermensch?).
Já sobre o termo "medelander" podíamos tentar traduzir por co-holandês ou co-cidadão. Lá está, já têm direito a serem considerados gente de primeira, como os holandeses.
As voltas que o Mundo dá...
Holandês voador,
A mim parece-me que ‘trabalhador’ e ‘colaborador’ estrangeiro são termos tão neutrais que se poderiam usar em relação ao director de marketing japonês da Sony em Amesterdão, ou de um engenheiro francês da Elf-Aquitaine a trabalhar em Haia...
É verdade que o ‘Marokkaanse-mens’ não faz parte do léxico oficial, mas não é por isso que não é usado em relação a portugueses ou a chineses. A razão é que em relação a estes grupos não há necessidade de MELHORAR 'coûte que coûte' a imagem de marca...
Sinceramente, não vejo qualquer relação, mas mesmo nenhuma, entre determinados grupos étnicos ACTUAIS e os judeus que nos anos trinta eram considerados ‘untermensch’!!! És capaz de ser mais preciso?
A tua tradução de MEDELANDER, co-holandês ou co-cidadão, é isso mesmo, boa malha, como se costuma dizer.
As designações "buitenlandse werknemer" e "buitenlandse medewerker" vieram substituir a designação "gastarbeider" (trabalhador convidado), usada para os emigrantes da bacia mediterrânica. O técnico francês e o técnico japonês, que dás como exemplos, não eram considerados "gastarbeiders" no sentido literal do termo. Não eram oriundos de países de emigração tradicional e exerciam funções especializadas. Quando os holandeses perceberam que os "gastarbeiders" iam ficar, mudaram a designação para outras politicamente mais correctas...
Nunca ouvi o termo "portugese mens", mas admito que haja pessoas que o usam. Se o usam frequentemente em relação aos marroquinos e aos turcos, é mais grave, porque denuncia um tom depreciativo. Daí a comparação com os "untermensch" (os judeus, no léxico nazi). Claro que os documentos oficiais nunca o podiam utilizar, mas o "homem da rua" tem destes lapsos freudianos...
Estou de acordo em relação aos 'trabalhadores-convidados'.
Sobre o resto não sei se me fiz bem entender?
Quem normalmente diz ‘Marokkaanse-mens ou ‘Turkse-mens’ são os holandeses mais inclinados para a esquerda - e também para o multiculturalismo -, e dizem-no com as melhores intenções deste mundo. O tom depreciativo é inconsciente e é apenas acusado pelos estrangeiros mais desconfiados, ou mais esclarecidos, ou ambas as coisas...
E, que eu saiba, os nazis nunca tiveram boas intenções em relação aos judeus!
"Querer fazer valer prevalecer os valores da comunidade não é uma coisa má (nem boa) em si. "
É aí que está a nossa diferença.
A esquerda , de um modo geral, advoga uma moral social e considera o todo social como mais valioso do que as partes que o constituem.
Tem a ideia do organismo social, tipo termiteira.
Na verdade, meu caro, uma "comunidade" humana não é consciente nem viva. Não tem direitos, nem valor em si.O seu valor é instrumental, na medida em que promove ou não o bem dos indivíduos.
A esquerda moderna pensa que a engenharia social pode transformar aquilo que somos, em equivalentes da formiga e ignora que tal não é possível, porque na verdade somos mais lobos que insectos. Animais sociais, sim, mas até um certo ponto.
Mas enfim, esta ética social perigosa está aí e é ela que impele ao admirável mundo novo ou ao 1984.
O "multiculturalismo", tal como é entendido pela esquerda , é um exemplo clássico. Os indivíduos são prisioneiros da sua cultura, e é nesse quadro que devem agir.
Quer um exemplo?
A afirmação de que a democracia e os direitos humanos são coisas de uma cultura "dominante" ( a nossa) e que não devem ser "vendidos" às outras culturas.
Quer outro exemplo?
Há tenpos uma juiza alemã recusou o divórcio a uma marroquina a quem o marido batia, porque, está no acordão, "bater na mulher é próprio da cultura muçulmana".
Vê como até na cabeça desta juiza, a "cultura" muçulmana é mais importante que os direitos humanos de um indivíduo?
P.S: A propósito, um tribunal de apelação anulou a sentença. Ainda há gente sensata....
Lidador:
Se o tribunal alemão anulou a sentença da juíza, prevaleceu o bom senso. A juíza foi a excepção, não a regra. Partir de um exemplo para explicar o todo, parece-me muito pouco científico e muito demagógico. Ou não será assim?
@ holandês voador: “A juíza foi a excepção, não a regra.”
Por enquanto vai sendo a excepção, mas quem nos garante que num futuro próximo não venha a ser a regra?
A conclusão que se tira destes exemplos é que a DEMOCRACIA tem de ser defendida todos os dias que Nosso Senhor nos dá – porque não cai do céu...
"A juíza foi a excepção, não a regra"
É uma maneira de relativizar o assunto. Eu prefiro ver este caso ( há outros), como um sintoma de que a ética social veiculada pela esquerda está aos poucos a desbancar a ética dos direitos humanos.
Uma espécie de Lei de Wrexam...a má ética expulsa a boa ética.
O que nos reconduz ao tema do poste. Aqui tb uma juiza que entende que a ética comunitária está acima dos direitos das pessoas, vistas como pessoas.
Para estas duas juízas, prenhes até à medula da formatação ideológica esquerdista, os indivíduos não existem enquanto seres com direitos. Pelo contrário, os direitos dependem da sua pertença comunitária.
Em meu entender é esta a grande luta ideológica das nossas sociedades:
A esquerda quer construir o organismo social, o cortiço.
No outro extremo está a anarquia.
Nenhum deles é adequado ao homem. O homem precisa de organização, não de organismos.
Organização não para lhe atribuir direitos ( os direitos são dele), mas para garantir a possibilidade de os exercitar.
Não é por acaso, meu caro, que todos os totalitarismos nasceram das ideias da esquerda.
"Ah, holandês, Obama tb não é negro.
A sua mãe era branca e o seu pai negro, o que faz dele tão branco como preto.
Mas assumir a negritude é mais chique não é?"
Na medida em que o mais chique é também, no caso, o mais eficaz...
"Imagine que ele se definia como branco....havia de ser bonito."
Eu pagava pra ver...!
"Lidador:
Tem razão, a Sottomayor é de origem latina, ou "hispânica" (léxico americano). Em rigor, ela nem sequer é americana de origem. Os únicos americanos, dignos desse nome, são os índios norte-americanos (american indians) que já lá viviam há 10.000 anos antes da chegada dos europeus."
E antes deles? Porque há cada vez mais indícios, sobretudo na América Central, da existência de povos anteriores àqueles que portugueses e espanhóis lá encontraram e que terão sido dizimados pelos actuais "indígenas", vindos de outras paragens.
A questão das origens (culturais) ou da nacionalidade é algo do âmbito pessoal, por decisão consciente, voluntária, ou por emotividade simples ou por pura inércia com raiz no espírito de rebanho. Vale, portanto, o que vale em cada caso.
O Lidador disse: "A propósito, um tribunal de apelação anulou a sentença. Ainda há gente sensata...."
Boa! Quando li a noticia da juiza sem juizo, fiquei mesmo mal disposto. Felizmente ainda há pessoas na Alemanha que não vão em parvoeiras. Muito boa noticia.
o paradoxo da tolerância
A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se concedermos uma tolerância ilimitada, até aos que são intolerantes, se não estivermos dispostos a defender a sociedade tolerante contra o avanço dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles (será destruída).
Karl Popper
CdR:
Claro que temos de defender todos os dias a democracia, mas como este sistema também não é perfeito, haverá sempre excepções (a juíza alemá) e não é por aí que virá mal ao Mundo. As excepções só confirmam a regra e sempre foi assim em todas as sociedades.
Lidador:
Comparar as sociedades de "esquerda" a uma colmeia é uma imagem digna do "Brave New World", mas estamos a falar de regimes totalitários (Coreia do Norte, China, Russia, etc.) e não dos EUA, por muito que isso lhe custe. O Obama acabou de nomear ontem um Republicano para a Defesa e então? Vem daí, mal ao Mundo?
A questão levantada no comentário anterior - "da esquerda" querer que os povos fiquem confinados às suas próprias culturas, mão tem pernas para andar. O que se passa é que, depois de um período (séculoXIX/XX) em que se procurou "exportar" o modelo ocidental como o mais desenvolvido (etnocentrismo) se caiu no oposto: as culturas devem seguir o seu desenvolvimento próprio. Isto não tem necessariamente a ver com a direita ou a esquerda, mas com o desenvovlvimento progressivo das ideias na sociedade. Passou o tempo do colonialismo e a globalização implica também o reconhecimento das diferenças. Uma coisa é os "maus tratos das mulheres" (que devem ser criticados) outra é querer que os muçulmanos adoptem o nosso modelo civilizacional. Porque carga de água?
E o juíz português, que deixou a criança ir para a Russia, é bom ou mau? É uma prova civilizacional ou trata-se de um juíz idiota?
José Gonsalo,
Tanto quanto se sabe, os primeiros habitantes do continente americano eram descendentes dos povos asiáticos, que passaram através do estreito de Goering na idade do gelo. Daí as feições dos ameríndios em países como a Bolívia, o Perú, etc...(compare com os japoneses ou com os coreanos, para citar dois exemplos).
Já a questão da nacionalidade e da cultura, obviamente que não é uma escolha subjectiva, mas do meio onde somos criados. Pode pensar que é esquimó, mas isso não faz de si um habitante da Islândia. Certo?
"E o juíz português, que deixou a criança ir para a Russia, é bom ou mau? "
Um idiota, mas não está aqui em causa nenhum tema ideológico. Comparar decisões sobre valores com decisões técnicas é pouco sério da sua parte.
A juiza alemã e a juiza americana certamente já decidiram dezenas ou centenas de vezes se mandava para a prisão o tipo que roubou a mala, ou assaltou um carro.
As decisões só são questionáveis neste plano, se forem tomadas levando em conta não os indivíduos, mas a sua pertença étnica.
Se dois tipos assaltam dois carros e o juiz manda prender o amarelo porque não gosta de ammarelos, ou porque acha que assaltar carros é uma falta grave na cultura amarela, então o caso muda de figura.
A propósito de Brave New World, um dia que tenha tempo leia o Regresso ao Admirável Mundo Novo, do mesmo autor, mas muitos anos depois.
Lá verá que Huxley entende que o totalitarismo violento leva aos mundos de Orwell ( URSS, Alemnanha N. Socialista, Coreia do Norte, etc), mas que o totalitarismo benévolo leva ao Admirável Mundo Novo, um mundo onde as pessoas são de forma civilizada, levadas a acreditar e a agir em função do "social", do organismo, da "comunidade".
Com boas palavras, com lógica, com persuasão, com condicionamento mediático e atraves dos programas escolares centralizados.
Na veradde serão até as pessoas a pedirem para serem libertadas da responsabilidade de gerirem a sua própria vida, entregando-se confiadamente nas mãos benevolentes do estado.
É para aí que caminhamos...a vamos acabar mal, evidentemente.
Lidador,
Também li o "Regresso ao Admirável Mundo Novo". Não penso que caminhemos para aí. Penso, ao contrário, que as pessoas tenderão a ter mais consciência do controlo do estado, mas exigirão intervenção do estado quando necessário. Na recente crise financeira foi necessário. No fundo, quanto mais cultas e conscientes as pessoas forem, menos aceitarão esse controlo. É o que se passa em países de democracias consolidadas. É em países como Portugal, de democracia recente e onde o grau de exigência cívica (cidadania) é menor que há mais perigo de retrocesso.
Prefiro viver num país tolerante e aberto ao Mundo (a Holanda é um bom exemplo) do que num país fechado sobre si mesmo e com tiques autoritários (como Portugal). O que torna Sócrates autoritário não é ele ser de "esquerda", é ele ser um produto de uma sociedade atávica e medrosa, que é uma herança do fascismo e da ignorância.
@ holandês voador: “haverá sempre excepções (a juíza alemá) e não é por aí que virá mal ao Mundo.”
Sim, talvez tu tenhas tendência para o optimismo e eu para o pessimismo! Quem sabe? É a questão da garrafa meia-cheia versus meia-vazia.
@ holandês voador: “...outra é querer que os muçulmanos adoptem o nosso modelo civilizacional. Porque carga de água?”
Se os muçulmanos se quedassem quietinhos no monte de areia deles e não chateassem meio-mundo ninguém lhes dava tanta atenção e o ‘real politik’ faria o resto.
Lembra-te das boas relações entre a administração Bush e a Arábia Saudita. Logo que eles comprem produtos made in USA, e paguem a tempo e horas, os americanos estão-se borrifando se eles rezam 5 ou 35 vezes por dia e não comam carne de porco...
Mas um bom comportamento para com o exterior nem sempre é suficiente!
Lembra-te dos milhares de muçulmanos Afegões já vivem no exílio (no Ocidente claro!), e os milhares que ainda hão-de vir caso os Taliban voltem ao poder! E os milhões de Persas que vivem na Europa e nos EU. E os milhões de Argelinos que se vão pôr na alheta (para junto dos seus compatriotas na Europa) quando os fundamentalistas ganharem as eleições democraticamente, como já aconteceu! E em relação aos Marroquinos e Tunisinos a conversa é precisamente a mesma...
Isto dito de outra maneira, o modelo civilizacional deles não funciona e nós (Ocidente) é que acarretamos com os problemas deles!!!
É como se o teu vizinho, com mulher e quatro filhos, em vez de trabalhar ou de cuidar da família, apanhasse regularmente uma tosga de caixão à cova e ao chegar a casa batesse na mulher e nos filhos, ao ponto dos 4 filhos fugirem para tua casa. Sendo tu (moralmente) obrigado a corar-lhes as feridas e a dar-lhes de comer...
CdR:
Eh pá, andas mesmo assustado...
Na sua maioria, os muçulmanos que vieram para a Europa não vieram por motivos políticos. São imigrantes económicos. Como eram os holandeses que emigraram para o Canadá ou para a Austrália, na década de cinquenta. Também os portugueses voltaram a emigrar e Portugal não é uma ditadura. Sempre foram motivos económicos. Só uma pequena percentagem de imigrantes na Europa são refugiados políticos. Por isso, a Holanda reduziu drasticamente o número de estrangeiros que queriam obter refúgio político. As autoridades holandesas sabem que a maior parte desses árabes e persas de que falas querem apenas trabalhar. Ora, como na Europa há 20 milhões de desempregados, é natural que eles sejam recusados. Tem pouco a ver com as ditaduras nos seus países (que existem), mas que não são a causa directa da emigração.
Essa dos marroquinos baterem mais nas mulheres deve ser verdade, mas para tua informação só este ano em Portugal morreram 41 mulheres de maus tratos domésticos. Ainda o ano vai a meio.
Isto, num país católico e de brandos costumes, olha se fossemos muçulmanos...
Dito isto, estou de acordo que os talibans devem ser corridos da face da Terra. Qualquer pessoa de bom senso percebe isso. Voltamos a dar um exemplo de um caso extremo. Não me digas que já há talibans em Amsterdão!?
Holandês:
"Tanto quanto se sabe, os primeiros habitantes do continente americano eram descendentes dos povos asiáticos, que passaram através do estreito de Goering na idade do gelo."
Não, isso era o que se pensava há uns tempos atrás. Mas há cada vez mais indícios, escritos e materiais, da existência de povos anteriores à chegada desses asiáticos e que foram exterminados por estes.
O mesmo, como sabe, aliás, se passou em todo o mundo, inclusive com os actuais povos europeus. E o nosso país é um dos mais representativos, nesse aspecto.
"Já a questão da nacionalidade e da cultura, obviamente que não é uma escolha subjectiva, mas do meio onde somos criados. Pode pensar que é esquimó, mas isso não faz de si um habitante da Islândia. Certo?"
Posso não habitar na Gronelândia, e sentir-me esquimó (brrr!!!). Mas devo dizer-lhe que me identifico mais com as formas de estar do Novo Mundo do que com as da Velha Europa. O facto de lá nunca poder ter vivido nem desenvolvido actividade não altera o modo como estou na vida. O facto de viver em Portugal e de partilhar desse viver colectivo faz-me, por outro lado, assumir voluntariamente, por apreço, o, se quiser, "espírito luso", a cultura portuguesa, que tem aspectos lindíssimos. Mas, no fundo, o que assumo, de facto, é a parte dessa cultura que fez uns quantos meterem-se ao mar e ir procurar Outro Mundo, em vez de irem chatear os marroquinos.
A esta hora da noite e depois de um dia de trabalho não dá para conseguir melhor. Se não me fiz perceber, olhe!, desculpe quaquer coisinha, como dizia a Hermínia.
isso era o que se pensava há uns tempos atrás. Mas há cada vez mais indícios, escritos e materiais, da existência de povos anteriores à chegada desses asiáticos e que foram exterminados por estes.
Mesmo que a chegada ao continente americano se tenha dado muito antes do que se pensava há uns anos – e apontava-se para 16 000/15 000 anos - foi sempre através do estreito de Bering, vindo da Ásia, que o povoamento se deu.
O que se pensa hoje é que foi em vagas sucessivas em direcção ao sul e que o continente levou milénios a ser totalmente ocupado. Provavelmente uns foram dizimando os outros, como sempre acontece.
O Cavalli-Sforza, que partiu da ligação estreita entre genética, língua e arqueologia para estudar a rota das migrações, estabelece este quadro:
1. Saída de África há 75/70 000 anos em direcção à Ásia.
2. Chegada à Oceania, a partir da Ásia, há 60/55 000 anos.
3. Primeira passagem do mar de Bering, a partir da Ásia, entre 50 000/30 000 anos atrás.
4. Início do povoamento do Médio Oriente, a partir da Ásia e África, entre 45 000/40 000 atrás.
5. Chegada à Europa, há cc de 40 000 anos, a partir do Médio Oriente e da Ásia.
@ holandês voador: “Essa dos marroquinos baterem mais nas mulheres”
Não me fiz entender! No exemplo que dei, do teu vizinho com quatro filhos, não me referia de maneira nenhuma a marroquinos ou a imigrantes em especial.
Era uma tentativa para responder à tua pergunta “.... querer que os muçulmanos adoptem o nosso modelo civilizacional. Porque carga de água?”
Tu (tal como Ocidente) também não queres que o teu vizinho (virtual) – o tal que se mete nos copos e bate na mulher e nos filhos - adopte o teu ‘modelo civilizacional’. Como toda a gente razoável, adoptas sabiamente o modus vivendi: cada um manda em sua casa; cada um sabe de si e Deus de todos...
Até ao momento em que os filhos dele te vêm bater à porta, ou a mulher, perseguida pelo marido de faca na mão, pede-te para tu telefonares à polícia. Neste caso és obrigado sem querer a tomar partido. O ‘modelo civilizacional’ do teu vizinho não funciona convenientemente e perturba o teu...
O que aconteceu na Jugoslávia. O que acontece no Darfur, na Somália e no Afeganistão. O que provavelmente vai acontecer no Paquistão...
@ holandês voador: Não me digas que já há talibans em Amsterdão!?
Há pois! Na próxima vez que vieres cá vamos vê-los sair da mesquita à sexta-feira a duzentos metros de minha casa, mas prometes não fazer fotografias nem filmar, que é para a gente não ir parar ao hospital.
Lembra-te só que o Bin Laden tem actualmente precisamente o mesmo apoio entre a juventude muçulmana, que o Che tinha entre nós nos anos setenta.
@ holandês voador: “Prefiro viver num país tolerante e aberto ao Mundo (a Holanda é um bom exemplo) do que num país fechado sobre si mesmo e com tiques autoritários (como Portugal). O que torna Sócrates autoritário não é ele ser de "esquerda", é ele ser um produto de uma sociedade atávica e medrosa, que é uma herança do fascismo e da ignorância.”
Absolutamente de acordo.
Mas para que a Holanda continue a ser um país tolerante e aberto ao mundo é preciso combater certos exageros. A tolerância e a abertura têm limites, não fazem parte do ADN deste povo.
"só este ano em Portugal morreram 41 mulheres de maus tratos domésticos. "
Holandês, esse argumento não é digno daquilo que tem aqui escrito.
Em Portugal, na Holanda e em qq país bate-se nas mulheres, bate-se nos homens, rouba-se, viola-se, etc.
Mas veja se entende que se trata de crimes.
Punidos pelas leis e condenados pela generalidade das pessoas por os considerarem actos moralmente "maus".
No Islão tb acontece isto tudo. Mas a lei islâmica PERMITE bater nas mulheres. Não considera isso "mau".
Consegue entender a diferença?
Percebe a razão pela qual o seu "argumento" é primário e não está à altura daquilo a que nos habituou?
"sociedade atávica e medrosa, que é uma herança do fascismo e da ignorância"
Evite chavões, holandês. Em 1º lugar, foi na tolerante Holanda que um político foi morto na rua, um cinesta idem e uma deputada obrigada a fugir. É talvez altura de algumas campainhas de alarme começarem a tinir no interior de algumas cabeças.
Em 2º lugar, em Portugal nunca houve fascismo. Houve uma ditadura paternalista, com um autocrata do tipo platónico.
Ignorância, sim, mas fascismo não. Os chavões são os bordões do pensamento.
De qq modo desengane-se se pensa que a educação é uma varinha mágica para a felicidade e para a racionalidade.
Os suicidas da seita japonesa Aum Shinriko eram todos universitários, engenheiros, etc.
Essa sua ideia é uma crença progressista que nenhum facto comprova.
Lidador:
O facto de a Lei Islâmica "permitir" que se bata nas mulheres, não significa que toda a gente nos países islâmicos (homens, inclusive)) esteja de acordo com tal barbárie. De resto, muitos muçulmanos rejeitam tal prática. O meu exemplo, relativamente aos crimes domésticos em Portugal, referia-se às relações homem-mulher e não às religiões, como deve perceber...
As recentes mortes na Holanda (um político morto por um holandês e um cineasta morto por um holandês de origem marroquina) são uma raridade num país que não conhecia assassinatos políticos há mais de 300 anos! Não constituem regra nenhuma. A deputada que se refugiou nos EUA, fê-lo, entre outras coisas, porque os vizinhos holandeses se queixaram da sua presença no condomínio onde habitava e porque a ministra holandesa da altura lhe retirou a nacionalidade holandesa. Foi por causa da atitude hipócrita das autoridades holandesas que Hirsi Ali saiu da Holanda, não foi por causa dos muçulmanos, pois há sete milhões de muçulmanos na América...
Sobre o "paternalismo autocrático" da ditadura portuguesa, pergunte ao CdR o que é que ele pensa disso. Estou curioso com a sua resposta.
Se, para si, a proibição de partidos políticos, de sindicatos, de liberdade de imprensa, a existência da PIDE, de presos políticos, da Mocidade Portuguesa, dos treze anos de Guerra Colonial, dos 3 milhões de emigrantes e dos 150.000 desertores e refractários, em 48 anos de ditadura (a mais longa da Europa!) são fruto de um governo paternalista, o que não será um governo ditatorial? Falando de bordões...
holandês voador:"As recentes mortes na Holanda (um político morto por um holandês e um cineasta morto por um holandês de origem marroquina) são uma raridade"
"não foi por causa dos muçulmanos, pois há sete milhões de muçulmanos na América"
Sim, porquê atacar o Afeganistão quando só morreram 4000 pessoas nos ataques ao WTC? Vendo bem 4000/300.000.000 é um cagagésimo da população americana. E divididos pela população mundial então é 0,000000000000000001. É mesmo gostar de fazer tempestades em copos de água.
" são fruto de um governo paternalista, o que não será um governo ditatorial?"
Bem Holandes, não sei se não leu bem o que escrevi, ou se quis ler outra coisa para justficar diatribe.
Leia outra vez. Eu escrevi "ditadura paternalista"
Qual a parte de "ditadura" que não entendeu?
Dean Acheson, Secretário de Estado Americano( Ministro dos Estrangeiros) insuspeito porque membro do Partido Democrata toda a vida e que lutou veementemente contra a caça às bruxas do Senador McCarthy, escreveu que "Salazar está mais próximo do estadista de Platão do que das democracias, masa ausência de força excessiva no governo separa-o dos totalitarismos " ( in D. Acheson, Present at the Creation, Londres 1969).
Salazar era um ditador paternalista. Mas era ferozmente anti-tolalitário. Em 1934 escreveu, a propósito do nazismo e do comunismo que " é preciso afastar de nós o impulso tendente à formação do que poderia chamar-se o Estado Totalitário....que poderia envolver um absolutismo pior do que aquele que antecedeu os regimes liberais".
Mais à frente vaticinou o fim destes regimes na revolução ou nas guerras de religião, mais graves do que as antigas.
De resto, meu caro, Salazar não pode ser visto a preto e branco, de forma maniqueísta.
Ele mesmo tirou o tapete aos monárquicos, e cortou as vazas às milícias de Rolão Preto, às fantasias da Ordem Nova e aos fifis de António Ferro.
Era um ditador, claro, mas mais um conservador de outros tempos, tradicionalista e provinciano, mas pouco mais.
Sabe quantas pessoas morreram na "repressão fascista" em 48 anos?
60, 30 das quais de doença no Tarrafal.
A 1ª República, só num dia, matou milhares.
Não, o homem não era deste tempo, não nos deixou bem, mas tampouco foi o godzilla fascista do mito.
Luís Oliveira:
O que é que o seu comentário tem a ver com o que eu escrevi?
Lidador:
O que Salazar disse, não é importante. O que ele fez, isso sim, é importante. A verdade é que ele apoiou o eixo nazi-fascista em 1939-45 e só quando os aliados começaram a ganhar a guerra ele mudou de campo. Sempre apoiou Franco (outro ditador) e nunca se distanciou dos regimes ditatoriais. Manteve uma ditadura feroz em Portugal e nas colónias e a prova disso são as inúmeras prisões e torturas cometidas em Portugal e em África, Fala em 60 mortes (não me faça rir) em 48 anos, metade das quais no Tarrafal. Como a contabilidade dos mortos possa ser feita pelo regime! E os 10.000 soldados mortos na guerra colonial ou os 30.000 feridos? E os milhares de africanos mortos durante os anos da ditadura? Estão aí os livros recentes sobre a actuação da PIDE em Angola e Moçambique. 60 mortos? Deve estar a brincar comigo!
Se o regime não matou mais, foi porque possuia uma polícia e uma rede de "bufos" que controlava a população portuguesa. Sabe tão bem disso como eu. E não só em Portugal. Delgado foi morto em Espanha e havia PIDES de Paris a Amsterdão. Se isto era uma ditadura paternalista...
Holandês voador: "O que é que o seu comentário tem a ver com o que eu escrevi?"
Os seus argumentos estatísticos são hilariantes. É só uma deputada, são só dois assassinatos, etc...
Como se a importância dos acontecimentos se medisse apenas pelo número de envolvidos.
Froam tontos como vc que disseram: "É só a Áustria. Relax." Ou: "è só um arquiduque. Relax"
E que agora dizem: "É só mais um país nuclear. Relax". Vamos ver o resultado.
Lidador, a meu ver, retirando a pequena imprecisão semântica (temos que ser tolerantes em relação aos amigos) sobre o fascismo português, nisso estou de acordo consigo, mas como propaganda funcionava às mil maravilhas, e eu que diga!, não vejo nada de incorrecto na afirmação do Holandês Voador “O que torna Sócrates autoritário não é ele ser de "esquerda", é ele ser um produto de uma sociedade atávica e medrosa, que é uma herança do fascismo e da ignorância.”
É verdade que ”foi na tolerante Holanda que um político foi morto na rua, um cinesta idem e uma deputada obrigada a fugir.”
E há mais. Políticos, comediantes e intelectuais continuam hoje em dia a ser protegidos pelo estado. Além disso, o medo do Islão é tanto que há dias foi preso em Amesterdão, pela polícia a mando do ministro do CDA (cristão-democrata), o desenhador Gregorius Nekschot. Qual o crime? Costuma desenhar uns ‘cartoons’ críticos em relação ao Islão para blogues como este!!! (Creio que já publiquei no FI algo dele!)
A última. Com base no medo do Islão, ou então naquilo que o estrangeiro possa pensar da Holanda – os holandeses são muito sensíveis à sua imagem de marca -, não é que uns juízes de Amesterdão resolveram julgar o Wilders por insulto a uma minoria! (Sobre este assunto já tenho um artigo traduzido e pronto a publicar, é só deixar passar esta discussão que é deveras interessante).
Estas coisas sobre a Holanda são preocupantes e eu acho que se deve falar e escrever sobre o assunto, mas a verdade é que, a curto prazo, tudo isto é menos preocupante que a crise económica em Portugal, e também menos preocupante que a crise dos tribunais, que em Portugal pura e simplesmente não funcionam, nem para a esquerda nem para a direita. Na Holanda se um Presidente da Câmara rouba é preso, em Portugal é reeleito!!!
@ holandês voador: “.... não significa que toda a gente nos países islâmicos (homens, inclusive) esteja de acordo com tal barbárie. De resto, muitos muçulmanos rejeitam tal prática.”
É verdade, há muçulmanos que rejeitam tal prática. Mas estão de acordo com outras práticas, como a lapidação e os cortes de cabeça... Caneco, é evidente que não são todos, mas basta que 20% sejam implacáveis e sigam a sharia à risca, e que 50% estejam (mais ou menos) de acordo que é preciso mão firme nas gajas, para que os restantes, com medo de passarem por maricas e serem dependurados, se calem... Não será assim?
@ holandês voador: “Foi por causa da atitude hipócrita das autoridades holandesas que Hirsi Ali saiu da Holanda, não foi por causa dos muçulmanos, pois há sete milhões de muçulmanos na América...”
A razão inicial porque ela hoje vive nos EU foram os muçulmanos! Se não vivessem muçulmanos na Holanda ela ainda hoje viveria muito feliz em Amesterdão e era do PvdA. O resto são consequências da existência de muçulmanos na Holanda que lhe querem tirar a tosse porque ela ERA muçulmana e deixou de ser, e ainda por cima FALA e FILMA o assunto. Na América ela também está sob protecção, mas é verdade que os muçulmanos americanos (e residentes) têm um “low profile” e não causam tantos problemas como na Europa. Mas porquê?
Porque se os muçulmanos se comportassem na América como se comportam na Holanda, os americanos não aturariam nem uma décima parte.... Porque, na América até o Wilders passaria facilmente por um ‘damned liberal’.
Cdr, em Portugal não houve fascismo e estou a medir aquilo que digo.
Fascismo é outra coisa. O tique de chamar fascismo às ditaduras que não tivessem inspiração comunista, começou em 1934, por decisão do Komintern.
O PCP desatou a chamar "fascistas" a tudo o que não fosse deles, e a maioria das pessoas acabou por embarcar na parvoíce.
O Salazarismo era uma ditadura. Mas não um fascismo e desafio qq um a provar o contrário recorrendo a definições claras do que se entende por fascismo.
O fascismo, de resto nasceu no mesmo ovo do comunismo. Mussolini era anti-liberal e na verdade da ala esquerda do Partido Socialista Italiano.
Caro holandes, o nº de sessenta mortos é dado pelo insuspeito historiador Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda. Claro que a sua crença é forte, mas os factos esses são implacáveis.
Já agora, na guerra em Africa morreram pouco mais de 8000 soldados, metade deles em acidentes de viação e doenças, onde é que foi buscar os 10000?
Mas se contabiliza as baixas na guerra como "vítimas da repressão fascista", então vai mal. Quer dizer que os milhares de americanos mortos na Europa a combater Hitler foram vítimas da repressão democrática?
Vamos lá ser racionais. É verdade que as suas crenças são fortes e os preconceitos tb, mas se se despisse de slogans e maniqueísmos, talvez fosse capaz de argumentar de forma mais racional.
Talvez para si seja um assunto de paixão, talvez alimente crenças que justificam as suas opções de vida, mas um pequeno banho de factos não lhe faria mal.
Não sei se reparou que eu citei Acheson.
Que conheceu Salazar, que falou com ele e que não gostava dele.
Não acha que merece mais crédito do que as suas crenças apaixonadas?
cdr, atenção aos muçulmanos da America. Há dias um deles matoua a tiro um soldado americano num Centro de Recrutamento. E depois de preso disse que para vingar o Islão.
As TV, os jornais e a Casa Branca evitaram cuidadosamente informar a público de que se tratava de um acto terrorista.
Quem por acaso se fixou na notícia, terá ficado com a impressão de que se tratou de mais um tarado qq que se pôs aos tiros.
É assim agora na América. Já não há terrorismo islâmico mas sim "man made disasters".
Já não há guerra ao terrorismo mas sim "overseas contingency operations".
Vamos bien...
"só quando os aliados começaram a ganhar a guerra ele mudou de campo. "
por acaso não foi bem assim, mas se tivesse sido, não andaria mal avisado.
Um pequeno, tem de evitar ser comido pelos grandes. E no recreio, evitar cair nas más graças dos matulões.
Não se trata de ideologia, mas de sobrevivência.
Pragmatismo, eu caro.
POrque acha que Salazar se juntou à Nato?
Porque gostava dos americanos?
HV:
“O que torna Sócrates autoritário não é ele ser de "esquerda", é ele ser um produto de uma sociedade atávica e medrosa, que é uma herança do fascismo e da ignorância.”
Eu diria "o que permite a Sócrates manter-se autoritário ..."
... ou então Sócrates é, coitado, vítima.
Luis Oliveira:
Eu não escrevi que duas mortes eram pouco ou muito. O que escrevi (veja lá se percebe isto) é que não é por terem havido duas mortes que devemos pensar que a Holanda está em guerra civil (ainda que o CdR dê por vezes essa ideia).
Se os EUA foram ao Afeganistão bombardear os Talibans fizeram muito bem e tiveram o meu apoio incondicional. Mas, o que é que isso tem a ver com a Holanda? Lá está, você acredita que a próxima guerra mundial vai começar em Amsterdão. Falando de tontos...
CdR:
É pá, já tens medo da semântica? Não me digas que foi devido à "ditadura paternalista" que tiveste de refugiar-te na Holanda?
Lidador:
O truque da definição do fascismo é velho e tem barbas. Uma ditadura é uma ditadura é uma ditadura. Na URSS, na China, Na Coreia do Norte, na Itália de Mussoli, na Espanha de Franco, ou no Portugal de Salazar. Estavam lá os elementos todos: o partido único, a polícia política, a proibição das oposições, a censura dos jornais, livros, filmes e programas de rádio, os presos políticos, as torturas e, no caso português, uma guerra colonial. Não foram 10.000, foram 8.000 mortos. E então? Citando o Luís Oliveira "os seus argumentos estatísticos são hilariantes!".
Ó homem, se gosta do Salazar, esteja à vontade!
Range:
Também serve, mas não é contraditório com o que eu escrevi.
@ Lidador: “Cdr, em Portugal não houve fascismo e estou a medir aquilo que digo. Fascismo é outra coisa.”
Isto começa a ser preocupante, já ninguém entende aquilo que eu escrevo!!!
Eu disse: “Lidador, a meu ver, retirando a pequena imprecisão semântica (...) sobre o fascismo português, nisso estou de acordo consigo,"
Como estou absolutamente de acordo consigo em relação ao ‘fascismo’ de Salazar, a imprecisão semântica não é SUA mas sim, neste caso, do Holandês Voador... Se substituir na frase dele ‘fascismo’ por ‘ditadura paternalista’ verá que, na minha opinião, nada mais há de criticável...
Doravante prometo estar mais atento aos muçulmanos americanos. Isto está uma desgraça, já não podemos fugir para lado nenhum...
Bem, vou deixar de escrever até amanhã creio. Agora tenho que ir votar – no Wilders! What else? – e depois tenho quero ver o Roland Garros....
ml:
Estava à espreita, hmm...?!
Obrigado pelo esclarecimento adicional.
Quase, quase, caro Gonsalo...
Passei por aqui, chamou-me a atenção o título do post. Mais do mesmo, brréu-béu-béu pardais ao ninho, acrescido de antiamericanismo primário e antinegrismo. O mais interessante de comentar foi mesmo este assunto.
Voilà!
HV:
"Também serve, mas não é contraditório com o que eu escrevi."
Só não é contraditório se ele fosse assim (visivelmente) antes de chegar ao poder e apenas caso lhe pareça que ele se comporta (e chegou ao poder) porque os eleitores tinham consciência de que ele era assim.
Nessa perspectiva pode encontrar-se uma explicação sobre a razão pela qual quando Salazar chegou ao poder teve o apoio popular que teve ... o que leva a conversa sobre a ditadura para uma nova perspectiva.
“O que torna Sócrates autoritário não é ele ser de "esquerda", é ele ser um produto de uma sociedade atávica e medrosa, que é uma herança do fascismo e da ignorância.”
Resumindo, ser-se de "esquerda" é um resquício do fascismo.
.
Range:
Não brinque com as palavras. Percebeu muito bem o que eu quis dizer. O Sócrates é um "parvenu", deslumbrado com as luzes da cidade, que veio das juventudes partidárias e tem passado a carreira política e académica a fazer trafulhices. Acresce que, com o poder absoluto veio a corrupção absoluta e o autoritarismo da personagem ao de cima: a tentativa do controlo dos "media", o cartão único, o "chip" nos automóveis, a repressão nas escolas, a denúncia dos sindicalistas, etc...tudo tiques autoritários, próprios de uma sociedade como a portuguesa, ainda a braços com uma herança pesada, onde a subserviência, o medo à autoridade e a hipocrisia reinante são marcas do nosso atraso. É pena, mas é assim. Eu também o lamento. Que o povo tenha votado nele, não espanta depois do desastre da governação anterior. É da lei da física: se o pêndulo vai muito para a direita volta para a esquerda e vice-versa. Que raio, você é mais inteligente do que isso...
Caro Holandês Voador,
"Não brinque com as palavras."
Então deixe o salazarismo em páz.
A brincadeira de palavras que refere serviu apenas para lhe mostrar onde as suas palavras o poderiam levar.
"[...] a tentativa do controlo dos "media", o cartão único, o "chip" nos automóveis, a repressão nas escolas, a denúncia dos sindicalistas, etc...tudo tiques autoritários, próprios de uma sociedade como a portuguesa, ainda a braços com uma herança pesada, onde a subserviência, o medo à autoridade e a hipocrisia reinante são marcas do nosso atraso."
Pois aí é que está o galho. Tudo isso são mais tiques das sociedades de pendor socialista que do salazarismo.
Tudo o que refere cabe na qualificação de 'controlo centralizado' e em mais nenhum regime como nos socialismos isso foi levado mais ao estremo. O que assistimos não é mais que 'mais do mesmo'. E repare que sempre "com as melhores intenções" porque "o que interessa são as intenções". Os resultados, esses são com culpa do salazarismo.
"Os resultados, esses são com culpa do salazarismo."
A lengalenga é sempre a mesma e aplica-se a tudo.
Se há algo de positivo a salientar na politica, diz-se que se trata de politicas sociais.
Se os resultados são maus, diz-se que são "políticas de direita".
Esta converseta parola é típica da nossa esquerda. É ouvi-los a todo o momento gabar o "modelo social europeu", e logo a seguir , para justificar a outra face da moeda, avinagrarem-se pelas "políticas neoliberais".
Mas funciona....comida parola para estômagos parolos.
"Ó homem, se gosta do Salazar, esteja à vontade!"
AS suas deduções são espantosamente pavlovianas.
Limitei-me a explicar-lhe que o termo "fascismo" não se aplica a Salazar.
Mas ou não me expliquei bem, ou o meu amigo não entendeu o que eu escrevi.
Não sei, se calhar para si a palavra "fascismo" tem um significado diferente daquele que os estudiosos das ideias politicas definem.
Na sua versão parece significar algo passional.
É curioso que o holandes não se aperceba que usa determinadsas palavras adoptando a novilíngua que os seus deformadores pretenderam.
O fascismo é uma ideologia totalitária, embora não tanto como o socialismo ( nacional e internacional). Como tal não gosto dela.
Mas isso não me impede de a reconhecer.
Tb não gosto de rabanetes e não é por isso que chamo rabanetes a tudo o que não gosto.
Sei bem o que é um rabanete e distingo-o claramente de um choco, de que tb não gosto.
O mesmo com a palavra "islamofobia".
Os aiatolas criaram-na de propósito e é espantosa a quantidade de tontos que a repetem, sem se aperceberem que estão a ser tocados à vara por uns clérigos semi-analfabetos.
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