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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

TROCA DE MAILS COM KARL MARX...




Aqui têm uma interessante troca de mails entre mim e o Karl Marx no período entre o Natal e o fim do ano - sim sim, leram bem, Karl Marx! Ou além de Deus e teorias da conspiração, também não acreditam em espiritismo?

Karl, viu a minha mensagem de Natal? É mesmo só para homens de boa vontade...
C d r

Mein liebe Portugiesische freunde,
Vi um vídeo, com umas gajas deitadas em cadeiras, no Fiel-Inimigo, mas achei-o demasiado puritano. Isso precisa é de nus à "Frontaal Naakt". Ou é ou não é!
Ihre Karl

Não senhora! São duas opções diferentes.
A puritana, do Frontaal Naakt (lembre-se que o Peter Breedveld é um grande propagandista de campos de nudismo, ora, nudismo nada tem a ver com erotismo)


e a opção erótica do FIEL (tendo a conta as reacções mais a minha creio!?), a única que interessa aos homens de boa vontade, sobretudo nesta época natalícia... Além disso, tratava-se de um reclame a uma marca de "sutiãs"! Quer reclame da coisa sem a coisa? Ou é ou não é...

c d r

liebe Freunde,
Por acaso, não acho nada puritanas as ilustrações do "Frontaal Naakt". Frequentemente, vejo lá lustrações bem eróticas, para não dizer pornográficas e de sexo explicito. Se isso é puritanismo...

Até já lá vi vídeos de gajas árabes a dançarem meio despidas. O que não quer dizer que esteja de acordo com a selecção do Peter. Mas, que é um dos blogues "sexualmente" mais "explícitos" (inclusive nos textos) isso é inegável.
Ihre Karl

Preferia gajos árabes meio-despidos, mas com um lenço palestiniano e kalashnikov? Não acredito...
c d r

Ponha lá este vídeo no Fiel Inimigo (Jingle bells original) e deixe-se de coisas...

Karl, este seu vídeo é demasiadamente ordinário para ser erótico! É quase um remédio para (demasiado) sexo... (Vi-o e depois acabou por desaparer do meu computador - talvez o 'ópio do povo'?!)

Mas se deseja realmente ver nus eróticos e ao mesmo tempo ler excelentes artigos, tem aqui o blogue da Loor, que por sinal é muito boa, escreve bem, é da corda e, segundo a própria remota descendente da Casa de Bragança!
Abr. c d r


A Loor é gira, sim senhor. É lésbica ou tem sangue azul? Ainda lá tentei deixar uma informação sobre o Duque de Bragança (o proto-rei), mas não consegui. Também li os seus comentários sobre o Hofland. Ó homem, não é preciso estar sempre a justificar o seu passado de esquerda. Parece um católico arrependido. E, afinal, foi para a cama com a Loor, ou ainda não? Força camarada, que só se perdem as que caiem no chão!

Abraços e Bom Natal (só volto no domingo)
Ihre Karl

Karl, a Loor não é lésbica: escreve amiúde e abertamente no blog dela sobre os seus engates e sobre os inúmeros bacanos que a querem engatar e como, o que eu acho de uma coragem extraordinária…

Não creio que isso seja possível no meu país - abro uma pequena excepção para Maria Filomena Mónica com o seu livro Bilhete de Identidade -, porque apareceriam imediatamente uma corja de anónimos com comentários indecorosos. Se ela tem realmente sangue azul, ou se estava a brincar, não sei, mas parece que é judia de remota origem portuguesa…

“não é preciso estar sempre a justificar o seu passado de esquerda.”

Karl, eu é que sei se é preciso ou não justificar o meu passado! É esta a grande vantagem: a liberdade total de poder dizer a qualquer momento aquilo que me dá na real gana sem precisar de pedir autorização aos camaradas do Partido e assinar com o meu nome… Devia experimentar, garanto-lhe que ficava pelo menos 20 anos mais jovem - e se rapasse essa sua barba de patriarca ainda engatava a Loor…

“E, afinal, foi para a cama com a Loor, ou ainda não?”

Nem sequer ainda tive o prazer ver a Loor ao vivo.

Bom Natal também
C d r

Liebe Freund,

Eu assino todas as coisas que escrevo com o meu nome, à excepção do Fiel-Inimigo, onde os bloguers (Lidador e Rio-de-Oiro) usam "nicks"... veja lá quem tem medo de quê...

Eu não quero ser mais jovem. Sou um produto do meu tempo e isso chega-me. Não sigo o "ar do tempo". Assumo-me com todas as virtudes e defeitos que tenho. Não me aponte passados que eu não tenho vergonha. Já você...
Ihre Karl

Karl,
Por falar em vergonha, aqui tem uma porrada de gente que ao contrário do José Estaline, Mao-Tse-Tung, Adolfo Hitler, Oliveira Salazar, Álvaro Cunhal e vossa excelência têm vergonha do passado e mudaram de opinião…

Bom Ano

C d r

PS Pode fazer uma boa acção e entrar em 2011 com o pé esquerdo, assinando por exemplo o Manifesto…

dumm portugiesisch!

Não percebe nada do que eu escrevo. Está formatado e reage como um católico arrependido. A ML já lhe tinha chamado a atenção para essa sua característica: mudou de igreja mas não mudou de raciocínio. Pensa em dicotomias: bons versus maus. Não consegue abstrair-se dos fetiches e, por isso, não consegue pensar mais além. Continua fixado num modelo acabado (o socialismo real) que implodiu e não tem nenhuma representatividade nos dias que correm. Não só você, mas todos esses palermas que escrevem no FI. O Mundo mudou e vocês não deram por isso. Como o sistema actual não responde às necessidades dos povos (80% da população mundial continua a viver na pobreza), vocês continuam a combater o "comunismo" do Estaline e do Mao-Tse-Tung como se esse modelo fosse importante nos dias que correm. E o que é que eu tenho a ver com isso? Não percebe que, da mesma forma que há muitas "direitas" há muitas "esquerdas"? E da mesma forma que o "socialismo real" não deu resposta aos problemas da humanidade, este sistema de capitalismo desregulado também não dá resposta às questões mais prementes que afectam o Mundo? Ainda não percebeu que foi a globalização desregulada dos últimos vinte anos que nos conduziram aqui? É pá, isto não é muito difícil de perceber! Quem manda no Mundo, não são os políticos, cada vez mais enfeudados aos interesses da grande finança e à economia de casino. Isso é tão evidente, que até os economistas liberais o dizem. Portanto, estamos no fim de um ciclo e este paradigma de civilização está esgotado. Como ensinou o Kuhn, quando um paradigma deixa de funcionar, isso quer dizer que não é mais aplicável. Temos de encontrar outro. Este é o desafio actual. Vai levar anos, porque estas coisas são lentas e já não foi na minha, ou na sua vida, mas não há muitas alternativas. As riquezas são finitas e não dão para todos. Logo, haverá mais guerras, para conquistar territórios e riquezas energéticas e - agora que o Mundo deixou de ser unipolar - vão aparecer novos pólos de poder (os BRICS, o Japão, a África do Sul, etc.). Logo, ou as nações se entendem, ou esta merda vai explodir por todo o lado...
Deixe lá o Estaline que está morto e enterrado e procure fora da sua igreja que é o que eu faço há mais de um século. Eu não tenho de arrepender-me de nada, porque fiz a minha travessia do deserto na altura e não me envergonho do que fiz. Já lhe disse, mais do que uma vez, que não tenho medo do meu passado e que é melhor não mo atirarem à cara, porque eu ponho-o ao peito. São as práticas que definem as pessoas e não as ideologias. Não somos de esquerda porque somos socialistas, mas somos socialistas porque somos de esquerda. Enquanto não perceber estas coisas simples, não sai dessa posição dogmática. Olha para mim, como o Karl Marx dos século dezanove e continua a pôr-me um rótulo fora de prazo. Abra a cabeça, homem!

Abraços e Bom Ano são os meus desejos
Ihre Karl


“Não percebe nada do que eu escrevo.”

Karl, ruhe bitte,

como hei-de perceber se falo de alhos e vossa senhoria responde com bugalhos! Ou seja, envio-lhe um link sobre um Congresso histórico em Paris onde são ventiladas diversas opiniões sobre a islamização da sua querida Europa, onde você tanto sucesso teve, e você enche uma A4 – e para facilitar a leitura ‘ohne eine paragraph!’ - com a SUA análise dos males do mundo num tom professoral que lhe é tão peculiar e de quem está novamente a falar às massas no tempo da Comuna de Paris. Para no fim acrescentar umas hipotéticas considerações sobre o que eu penso da sua pessoa!!!

Mas sobre aquilo que lhe enviei: o Congresso de Paris, o Manifesto, as intervenções, nem uma palavra! Tal e qual como os meus colegas de redacção…

“mudou de igreja mas não mudou de raciocínio.”

Precisamente, acertou no centro do alvo à primeira. Mas também, do homem cuja doutrina dominou o século vinte não esperava menos. Mudei realmente de uma igreja que com o tempo se tornou demasiadamente reaccionária e atávica para o meu gosto – ou já era e eu não me dei conta por lealdade ao grupo - para uma nova, que é (verdadeiramente) revolucionária e progressista, ou seja, que se coaduna mais com o meu raciocínio e …… temperamento.

“Pensa em dicotomias: bons versus maus.”

Isto é precisamente contrário ao meu raciocínio e ao meu carácter! Já no tempo em que eu era muito de esquerda preferia arrebanhar ecumenicamente o maior número possível de gente atrás de uma ideia ampla, do que discutir as vírgulas da sua doutrina com os camaradas. No meu país, sempre dei preferência a movimentos muito pouco doutrinários: LUAR, Brigadas Revolucionárias. Nunca fui de um partido que se baseava exclusivamente nos seus escritos: marxista.

Outra prova de que não penso em dicotomias é a minha grande admiração pelo Pim Fortuijn, particularmente pelo facto, não me canso de o repetir, de ele ter escrito um livro sobre a Islamização da Holanda e onde ofereceu várias páginas ao inimigo (um imã conhecido) para ele malhar à vontade. Onde é que o senhor já viu disto na esquerda tradicional? Não lembra ao diabo, e muito menos a si, oferecer umas páginas do Das Kapital ao José Pacheco Pereira para ele desancar a seu belo prazer...

Outra prova, é eu ser contra a censura de opiniões divergentes no FI. Já lhe pedi várias vezes para postar no FI, onde poderia derramar outra vez o Manifesto Comunista e, en passant, acusar a malta de palermas. Fiz o mesmo pedido à pessoa que você se refere, à ML, e como ela não se decidia, fiz eu próprio um post com um dos seus longos comentários. Mas há mais. (Agora é que os meus colegas de redacção me vão excomungar). Até já propus aos tipos do 5Dias, os maiores adeptos dos seus escritos na blogosfera portuguesa, escreverem no FIEL, e a resposta foi decepcionante: - nem pensar nisso!

Já reparou que nos blogs que (mais ou menos) abertamente apoiam as suas ideias do 'roubo da mais-valia' (5Dias-Jugular-Arrastão) é impossível comentar sem que o censor verifique primeiro se os comentários são…. Halal. Idêntica situação na Holanda. Pergunte à sua amiga e incansável seguidora Anje Meulenbelt, o que é que ela faz no blog dela com os comentários ligeiramente dissidentes…

E porquê? Três razões:

Porque não têm espírito democrata (a ditadura do proletariado continua algures enxertada na caixa dos pirolitos), porque pensam em dicotomias, bons versus maus e porque simplesmente não têm argumentos…

(Karl, peço imensa desculpa por ter respondido por si, mas sei de antemão que você não o iria fazer, como de costume, iria novamente divagar largamente sobre ihre weltanschauung.)

“O Mundo mudou e vocês não deram por isso.”

No seu tempo valia tudo, mas nos tempos que correm esta afirmação, mesmo vindo de si, é de uma arrogância que já não se usa! Em que se baseia para afirmar tal coisa? Acha realmente que é o único que se deu conta que o Mundo mudou? Os outros, coitadinhos, andam aqui na terra a ver andar os eléctricos enquanto o Senhor, do seu cemitério londrino, está perfeitamente a par de todas as mudanças do mundo! O que, desde 1883, é mesmo muita coisa, e assim até é natural que a 'queda do muro' lhe tenha escapado…

“Olha para mim, como o Karl Marx do século dezanove e continua a pôr-me um rótulo fora de prazo. Abra a cabeça, homem!”

No calor da discussão é provável que alguma vez o tivesse feito, mas creio que já lhe pedi desculpa publicamente, e o senhor, incompreensivelmente, volta sempre à carga, quando na realidade eu ultimamente nem sequer comento o que o senhor diz, apenas o que escreve: heute und jetzt. O que o senhor dizia e escrevia no século dezanove já me esqueci…

2 comentários:

Unknown disse...

Tenho andado por fora, e só agora li este texto com olhos de ler.
Está fabuloso. Chiça, CdR, você está a um nível dificil de acompanhar.

Carmo da Rosa disse...

Lidador, não, o mérito vai todo para o Karl Marx. Sem ele nada feito.

Melhor que o meu diálogo são alguns discursos do Congresso de Paris (dê uma olhadela) e o seu excelente texto da conferência do Porto que já li como rascunho. (Tire uma ou outra gaffe tipográfica, a ideologia norte-coreana é JUCHE e não ZUCHE).

Não há outras intervenções da conferência do Porto ou um vídeo Youtube ?

Como caí na asneira de colocar legendas em português no texto do marroquino, agora pediram-me para colocar legendas em holandês nos textos franceses...