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terça-feira, 10 de abril de 2012

A Comunicação Social e a Fé



René Magritte, O assassino ameaçado

Não sei se quem venha a ler isto já se deu conta de que desde que a ministra da Agricultura-e-poraífora disse que tinha fé em que chovesse, a sempre-esclarecida-mas-que-se-quer-também-sempre-politicamente-correcta comunicação social portuguesa não perde uma oportunidade, em qualquer das ocasiões em que noticia algo referente ao triângulo agricultores-chuva-ministra, para inserir um dardo embebido na fina e subtil ironia que se lhe conhece, no sentido de espicaçar a atenção do pobre e enganado povo, perdão!, público para o carácter parolo, reacionário, perdão!, retrógrado e risível de quem nos governa e de que ela é símbolo. Ainda hoje o fez, num qualquer telejornal da hora do almoço.
A mesma comunicação social que transmitiu, dois ou três dias atrás, uma peça jornalística sobre o que deverá ter sido um aspecto por ela não divulgado até à data — eu, pelo menos, ignorava-a — da personalidade de Hugo Chávez: a profunda religiosidade cristã de tão grande defensor dos fracos e oprimidos, desse modelo da luta contra o imperialismo americano. Chávez, como todo o mundo teve oportunidade de ver e ouvir, em discurso inflamado e comovente, aplaudido pela nata dos seus camaradas, agradeceu a Cristo a protecção que lhe está a dar na doença e manifestou a sua fé em que o faz e em que continuará a fazê-lo para que possa levar a cabo sua tarefa. Sem que, no caso, ninguém tivesse detectado qualquer dardo.
A mesma comunicação social, aliás, que se regozijou com a subtileza do caudillo, quando ele, em plena ONU — pouco tempo após esse monumento à imbecilidade, ao fanatismo religioso e à corrupção que dava pelo nome de Bush ter levantado os olhos ao céu (coisa impensável no homem comum) em resposta à pergunta do entrevistador sobre com quem se aconselhava nas grandes decisões sobre os problemas trazidos pelo combate ao terrorismo, perdão!, à justa luta dos povos islâmicos —, disse: “Ontem, esteve aqui o Diabo.” Sem que, também aí ou posteriormente, alertasse o pobre povo desinformado com qualquer dúvida quanto ao carácter progressista esclarecido do camarada Hugo.
A mesma comunicação social que não sugere qualquer carácter parolo, retrógrado ou perverso no islamismo, por este ser, como qualquer outra religião (menos a cristã!), respeitável, ao menos como tradição de um povo. A mesma comunicação social que não sugere qualquer carácter parolo, retrógrado ou perverso nos governantes e nos militantes islamistas, pobre gente que, embora não seja gente pobre, se vê obrigada a matar os que vivem pior do que eles; ou nos próprios islamitas emigrados, que se auto-segregam ou proferem impropérios contra os contribuintes que lhes pagam os subsídios de rendimento social. A mesma comunicação social que não sugere qualquer carácter parolo, retrógrado ou perverso no facto de quem trabalha ou visita os países islâmicos ser obrigado a observar regras ou preceitos religiosos que gerariam a sua “vigorosa denúncia” se detectadas na Europa ou nos USA, mas antes o considera como progressistamente respeitosa e cordata atitude da parte dos ocidentais.
Parola, retrógrada e perversa é a comunicação social que temos. Uma comunicação social em que qualquer pessoa, com um mínimo de inteligência e sentido de honestidade e honra, não pode nem deve fazer qualquer fé.

NOTA-  A partir de hoje passarei a publicar também aqui.

2 comentários:

Unknown disse...

Na ferida.

É exactamente assim. Creio que a maioria dos jornalistas não faz isto de forma pensada. É apenas a "trend".

No meio é considerada "inteligente" a crítica aqueles que, de algum modo, representam ideias "retrógradas".

As mesmas ideias veiculadas por pessoas "inteligentes" (de esquerda), são consideradas como uma manifestação de riqueza cultural, um especiosismo gourmet.

É como dizer uma caralhada. Se for um estivador, é obviamente mal educado e bruto.
Se for um epígono da "cultura", é sinal de sofisticação intelectual.

O que conta não é o que se diz ou faz, mas quem o diz ou faz.

Os mesmos rabiscos feitos pelo Joaquim das Osgas ou por um artista incensado, são, respectivamente, rabiscos e arte.

José Gonsalo disse...

Lidador:

Ora bem!
Só é pensada na medida em que é intencional.
Atão e o bebício?