CdR:
Já agora, numa rapidinha, e porque poderá haver mais gente
para quem o que eu pretendo dizer ainda não é claro.
A intenção altruísta implícita, se não declarada, das
lésbicas surdas que pretendem gerar um filho igualmente surdo tem a ver com a
sua capacidade para educar uma criança. Sentindo-se incapazes -ou tendo medo de
o ser- de a prepararem devidamente num e para um mundo de "normais",
isto é, num e para um mundo com uma amplitude potencial de oportunidades e de
riscos superior àquela que possuem, tencionam criar mais alguém com esse mesmo handicap. É a bem da criança que o
fazem, note, porque qualquer outra poderia ficar prejudicada. Puro altruísmo,
alguém duvida?
Se elas pretendessem educar uma criança surda já existente,
ainda vá lá. E digo "vá lá" porque, apesar disso, o mundo é
predominantemente "normal" e a criança teria que, como todos os
outros — surdos, cegos, coxos,
deficientes mentais — absorvê-lo
culturalmente para se poder desenrascar e comunicar nele. Mas pronto...
Um
casal de surdos viveu, durante anos, no prédio das traseiras do meu, tiveram
uma filha sem qualquer problema sensorial ou outro e educaram-na também sem
qualquer dificuldade acrescida. O facto de ela ter saído lésbica, não me parece
derivado de um problema educacional -
este exemplo parece uma piada, relativamente ao caso de que estamos a tratar, mas
não, é mesmo verdade.
O que se passa com os "educadores religiosos" que
pregam e praticam a excisão do clítoris é semelhante. O que eles estão a fazer,
na mais sagrada e, portanto, altruísta das missões, é proteger as mulheres, precavendo
a possibilidade de elas resvalarem para o pecado e contaminarem com ele a obra
divina. De outra maneira, o que eles fazem é moldar o mundo à sua medida, à
medida das suas possibilidades, para que esse mundo não lhes fuja ao controlo;
não pensam em alargá-lo, mas em limitá-lo, como faz qualquer medroso estúpido.
As mulheres têm que comportar-se, ser, à medida da sua compreensão do mundo.
Para bem delas, é claro, senão Deus castiga-as e aos outros que lhes permitiram
agir contra a Sua imutável e abençoada lei.
Qual é o paralelo? Parece-me evidente. Mas, se tiver estado
com atenção às mais recentes tendências da moda, verificou, com certeza, que se
reivindica cada vez mais, entre surdos "progressistas", a existência
de uma cultura própria assente na deficiência auditiva. Isso não o alerta para nada?
E agora espere mais um pouco pelo que direi a seguir.
7 comentários:
Na mesma linha aparentemente altruísta, é costume em algumas castas de intocáveis, na Índia, os pais cuja actividade familiar é pedir, mutilarem deliberadamente os filhos, para que possam ter mais sucesso na actividade, já que um pedinte mutilado suscita mais compaixão.
Não fazem isto por mal, na sua visão do mundo, estão a ajudá-los.
Lidador:
Nem mais! Obrigado pelo exemplo.
Reparem, eu acho que a linha é esta. Ao nascer: Surdo, cego mudo, marreco cocho, demente, ... (quanto mais, mais culturalmente aceitável) ...
Depois a "educação" pode melhorar: Mutilações várias, ... bebedeira sem fim, droga (tão querida à esquerda) ...
Então o retoque final: Suicídio assistido, eutanásia, aborto ...
Nesta altura o "cidadão" atinge o estatuto de novo homem, deus em novo homem. Ninguém como os muçulmanos radicais está tão perto, até pelo toque das 72 virgens.
Afirmei eu:
"bebedeira sem fim"
O CdR responde:
"Até onde vai o puritanismo burguês de direita! "
Parece razoável concluir-se que, pela sua bitola, que não for puritano de direita cambaleará permanentemente bêbedo.
CdR:
Caríssimo, você está permanentemente a ler o que eu não disse nem me passaria pela cabeça dizer. Ou ainda a argumentar com coisas que ambos sabemos e que, naturalmente, não mereceriam ser postos à baila.
Por acaso leu, em qualquer parte do que eu publiquei até agora, que o Islão é o responsável primeiro pela excisão do clítoris?
Mas, já agora, o paganismo, nas suas diversas modalidades, incluindo as animistas é o quê? Uma filosofia? Um pensamento científico? A religião greco-romana é...? A fenícia, a assíria...? As das diferentes tribos africanas, asiáticas, americanas, da Oceania...? O que é isso de uma prática pagã que não seja de um paganismo? Senão como é que poderia chamar a tal prática, pagã? Parece-me que vai por aí alguma confusão.
Quanto ao altruísmo religioso, não existe? Então porque é que uma Testemunha de Jeová lhe vai bater à porta para lhe levar a Boa Nova? Não é para o fazer partilhar dela? Não é para o livrar da ira divina futura? Religião vem de re-ligare, de religar o ser humano à sua origem no sentido da irmandade humana. É o sentido de querer para si o mesmo que quer para ela própria que leva as testemunhas de todos os tipos à missionação, é a parábola do filho pródigo na sua acepção mais simples.
Quanto ao facto de a acção das lésbicas ser, na sua raiz, um egoísmo, está dito e redito, implícita e explicitamente, no que eu escrevi logo desde o início.
É o que eu digo: alguma coisa lhe anda a perturbar a compreensão da leitura.
CdR, embora não pareça é mesmo aquilo a que se usa chamar "altruísmo". Os pais mutilam as crianças porque naquela filosofia de que as castas são estanques e não há elevador social, é a melhor maneira de garantirem a sua sobrevivência. Fazer delas pedintes com handicap, garante-lhes mais compaixão e, et por cause, mais sucesso como pedintes.
Claro que podemos, como Ayn Rand, considerar que no fundo o fazem por egoísmo. Não o dos interesses materiais próprios, mas porque sentem estar a fazer o que está certo e, por isso, a sua consciência fica reconfortada.
Mas isso levava-nos por outros caminhos.
O que não é, garanto-lhe, é cinismo. Nada poderia estar mais longe da cabeça daquela gente.
Aliás, exactamente o que se passa com os "crimes de honra" dos nossos amigos da mafoma. Matar uma filha que se desvia da fé, é, na cabeça daqueles palonços, proteger o seu futuro no além.
CdR:
Diz:
"Li, e não foi por acaso, mas no dia 4 de Abril de 2012 às 16:06 você disse isto:
”(…) Ao mesmo nível dos que praticam a excisão do clítoris para não correrem o risco de haver mais mundo para as mulheres do que aqueles que eles conseguem suportar. Aquelas lésbicas são, afinal, nesse sentido, islamitas avant la lettre. E, com este toque de poliglota, despeço-me com um abraço a todos. Até já.”
Touché. Embora a resposta se situasse, na minha cabeça, no seguimento de um post anterior, isso não ficou explícito no que escrevi. Agradeço-lhe o reparo.
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