Por sugestão da minha filha, que me mandou a obra para o Kindle, estou a ler The Hunger Games, de Suzanne Collins, uma trilogia cujo 1º filme está a bater recordes de audiência,
Dizer que a leitura é absorvente, é dizer pouco. Viciante, é a palavra certa. Tão, ou mais que as "Crónicas do Gelo e do Fogo", de George FF Martin.
O enredo de The Hunger Games decorre algures no futuro, num país, Panem, que existe no actual território da América do Norte.
O país está dividido em 12 Distritos, controlados pelo Capitólio, que para lá envia os seus dirigentes, e força armada, como Roma enviava os seus cônsules e legionários.
Os Distritos estão especializados na produção de determinados bens, e a sua população vive na miséria, sujeita a duríssima repressão.
No Capitólio, a vida é sofisticada e nada falta, desde a mais avançada medicina, ao exotismo da gastronomia, da moda e do entretenimento. Até aqui o paralelo com Roma é notório. Os banquetes incluem o clássico vomitorium, dos descantes romanos.
La creme de la creme do entretenimento são os Hunger Games, tal como em Roma eram os jogos com gladiadores.
Na verdade até os nomes de algumas personagens do Capitólio remetem para Roma, como Octávia, Plutarco, Rómulus, etc.
Mas há mais referências clássicas, como iremos ver.
Os jogos têm lugar todos os anos, numa sofisticada arena, de enorme área, cercada por um campo de força. Tudo na arena é mortal e controlado pelos Gamemakers, desde as condições meteorológicas à fauna e à flora, incluindo até a geologia. É, basicamente um enorme reality show, no qual evoluem 24 adolescentes, em transmissão directa e contínua para todo o país.
No final só pode haver um.
O fio do enredo é Katniss Everdeen, uma adolescente de 16 anos, do Distrito 12, de espírito combativo, instintos apurados e especialista na caça com arco e flechas.
Os "tributos" (a obrigatoriedade de enviar jovens é um castigo por uma rebelião que terá ocorrida há 75 anos) , um rapaz e uma rapariga por cada distrito, são sorteados entre todos os adolescentes com idades de 12 a 18 anos, e enviados para os jogos. As referências aqui remetem claramente para o mito de Teseu e do Minotauro.
Segundo este mito, Atenas, subordinada ao rei Minos, de Creta, tinha de enviar 7 rapazes e 7 raparigas a cada 7 anos, para alimentar o Minotauro. Teseu voluntariou-se para fazer parte desse lote, e matou o Minotauro. Em The Hunger Games, Katniss também se voluntaria, para salvar a sua irmã de 12 anos, que tinha sido sorteada, e acaba por servir de catalizador de uma revolta contra o Capitólio.
Não é difícil encontrar também referências, estas mais reais do que míticas, ao sistema otomano de "devshirme", (tributo de sangue), através do qual, a cada 4 anos, milhares de crianças cristãs eram retiradas às suas famílias e enviadas para a Turquia, onde eram convertidas ao Islão e treinadas para ser soldados do Califado, os temíveis Janízaros.
Há também uma clara referência feminista. Na arena de The Hunger Games, as mulheres competem de igual para igual com os homens e, à força destes, contrapõem a astúcia e outras capacidades.
São igualmente referenciáveis, os universos concentracionários ficcionais de 1984 e de O Admirável Mundo Novo, bem como a actual Coreia do Norte
Em resumo, uma leitura que vale a pena e que não deixa ninguém indiferente.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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quinta-feira, 19 de abril de 2012
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