Concelho limítrofe do de Lisboa. Hoje, de manhã. Junto ao
portão de uma escola secundária. Um automóvel que pára.
Sai um adolescente dos seus 17 anos. Despede-se da
condutora.
— Até logo!
— …
— Não, não é preciso vires buscar-me.
— …
— Não, não tenho passe.
— …
— ‘Tão, fasse cmózoutros…
— …
— O motorista deixa-os entrar todos no autocarro. Senão,
quando o autocarro passa no bairro é apedrejado.
— …
— É, é sempre assim. Há bué! Desde que eu cá estou, na
escola.
— …
— Os motoristas pensam que eu também vivo lá no bairro…
— …
— Acchh… Se eu tivesse o passe, começavam logo a
chamar-me betinho e tal… Não vale a pena. Pagar pra quê? Eu conheço os
motoristas fixes e tudo…
— …
— Tchau!
— …
— Acchh… Não há crise! A setôra já não marca falta, já
sabe que eu chego atrasado à primeira hora. Senão, tinha que chumbar uma data
deles…
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