A olho nu, não parece haver qualquer relação entre a opção ideológica de cada um e a posição relativamente à mudança climática.
Mas é inegável que as pessoas de esquerda são também as que mais tendem a acreditar que a mudança climática, além de ser culpa humana, é um assunto gravíssimo que exige intervenção dos governos, senão mesmo uma espécie de governação mundial.
Pelo contrário, quem é de direita, tende para o cepticismo.
Porque é que isto acontece? Que tem uma coisa a ver com a outra?
Para quem é de esquerda, a explicação é simples: os cépticos ou são idiotas, ou alheios à ciência, ou cínicos que fizeram pactos faustianos e venderam a alma ao Grande Capital.
Para as pessoas de direita, a explicação está na compulsão esquerdista para a centralização do poder e para a imposição da sua visão social e moral, por todos os meios possíveis.
De facto quem já debateu com pessoas de esquerda, pessoas que a si mesmas se designam por “progressistas”, percebe que, de um modo geral, estão convencidas que são mais inteligentes e esclarecidas e que estão do lado “certo”.
Facto que leva uma grande parte delas a encarar a democracia “burguesa” com alguma desconfiança, porque se trata de um sistema em que pessoas pouco esclarecidas e manipuláveis podem forçar decisões "erradas". De resto a mesma razão pela qual encaram o “mercado” (que assenta nas miríades de decisões individuais) como irracional, face às esperadas virtudes de um planeamento económico centralizado nas mãos de especialistas.
Desde Marx que a esquerda tem como assente a ideia de que as massas não estão aptas a reconhecer os seus próprios interesses e necessitam de ser conduzidas por vanguardas esclarecidas que regulem, que definam, que legislem.
Regular juridicamente a quantidade de sal no pão é apenas uma variante relativamente benigna desse atavismo, que todavia está presente também na regulação do “casamento gay” e, em grau extremo, na loucura maoísta e castrista de regular a quantidade de calorias que o cidadão teria o direito de ingerir.
A gente estúpida (aquela que não compreende as grandes ideias de esquerda) tem sido sempre o grande problema da esquerda. Por isso a eugenia foi uma das suas bandeiras emblemáticas. A ideia de esterilizar os estúpidos para que aos poucos surgisse um homem novo, foi acerrimamente defendida pela esquerda europeia e mundial. Por cá o Partido Republicano negou o direito de voto às mulheres e aos analfabetos, justamente por se tratar de gente estúpida e influenciável, incapaz por isso de decidir bem.
Que tem isto a ver com o clima?
Já lá vamos. Para já importa perceber que a esquerda encara as crises, reais ou imaginárias, como ocasiões para transferir poder para homens iluminados. É por isso que as deseja ( a começar pela centenariamente desejada "crise do capitalismo")
Por exemplo, a actual crise financeira e económica, está a ser amplamente utilizada na América para forçar a adopção de um modelo parecido com o europeu, isto é, mais centralizado, pese embora este já estar anémico antes da crise e estar a reagir pior à mesma crise. Kgrugman, o neokeynesiano, até já pensa que a Europa precisa de centralizar ainda mais a resposta à crise.
Voltando ao clima, Gore e todos aqueles que se movem na sua esteira, entendem que a questão climática é uma crise catastrófica e não apenas um problema entre outros. É que os problemas possibilitam escolhas. As ameaças existenciais compelem à acção e à união incondicional em torno do líder, do especialista.
O especialista não é, para Gore, o cientista, mas sim o político, o homem das decisões, aquele que deverá centralizar o poder e estruturar a resposta. Porque, segundo o mesmo Gore, “os cientistas não sabem. Eles simplesmente não sabem!”
Eu não sou cientista, e este tipo de profetismos apocalípticos faz-me logo torcer o nariz. Ainda me recordo (mal) de Carl Sagan que na década de 70 berrava com igual certeza e fúria, que vinha aí uma idade do gelo. E os apóstolos do gelo iminente, reclamavam também que havia um consenso, que o debate cientifico estava fechado e que era agora necessário tomar medidas políticas globais. Entre as quais, evidentemente, acabar com a sociedade de consumo, o capitalismo, etc. Ou seja, a mesma medicina que os catastrofistas de agora preconizam para a doença oposta.
É esse o padrão. As histerias climáticas, ambientais, económicas, militares, etc, surgem sempre da esquerda e, subjacente a elas, ainda que não conscientemente, está a utopia de uma sociedade sem classes que surgiria da rejeição do consumismo, se fôssemos menos, se fôssemos “bons”, enfim, se não fôssemos o que somos e retornássemos a uma (imaginária) harmonia pastoril em comunhão com o cosmos e a natureza, enfim, um regresso onírico ao Paraíso Terrestre. Ao útero.
A verdade é que o clima sempre mudou e irá continuar a mudar, com sapiens ou sem sapiens, (parece que até em Marte acontece) e os milhões de dólares que os catastrofistas querem gastar numa luta contra a inevitabilidade, sem saberem muito bem como e com que resultados, são tirados directamente dos nossos bolsos e desviados de outros problemas mais prioritários e sérios.
8 comentários:
Caro Lidador,
A partir da inevitável "revolução industrial", aristocratas viram-se ameaçados terrivelmente em seus bolsos e no seu ócio.
Daí, eles concluíram que, para manter seu lugarzinho à sombra na escala social e econômica, deveriam eliminar outra classe.
Visto o desenrolar da história nos últimos dois séculos, eles buscam por todos os meios eliminar a Igreja. Veja que todas as suas propostas e realizações dão-se no campo da Moral e da Ética- valores imateriais, ou dito de outra forma, metafísicos.
E eles estão vencendo essa "luta de classes" promovida por eles mesmos para sua sobrevivência: a eleição de um neófito em suas fileiras ao mais alto cargo político do planeta. Refiro-me ao senhor Obama, exemplo máximo para arregimentação de novos adeptos para exército desses aristocratas sanguessugas.
Dito, ainda, de outra forma por Roberto Campos: "Os comunistas sempre souberam chacoalhar as árvores para apanhar no chão os frutos. O que não sabem é plantá-las..."
«As histerias climáticas, ambientais, económicas, militares, etc, surgem sempre da esquerda»
Pena que as hostes ideologicamente liberais não sejam tão empenhadas em discutir e propôr visões não-centralizantes e não-folcóricas. A esquerda agradece e aproveita a letargia do adversário.
Não consigo imaginar o que aconteceria aos habitantes deste planeta sem os malvados agro-tóxicos, por exemplo, caro Tarzan.
Ou dito de forma forma, "discutir a relação" é coisa de socialistas, pois as tais "hostes ideologicamente liberais" estão ocupadas em estudar e trabalhar para a sua prosperidade que, por conseguinte, extensiva ao maior número possível de pessoas. Por exemplo, o agro-negócio brasileiro a produzir zinhões de toneladas de soja.
Um à parte meus caros:
Qual o vosso comentário sobre isto:
http://derterrorist.blogs.sapo.pt/793857.html
P.S. Espero que a indignação seja no minimo identica...
http://ecotretas.blogspot.com/2009/03/aquecimento-global-cancelado.html
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Sobre as Maldivas, o link é interessante:
http://wattsupwiththat.com/2009/03/19/despite-popular-opinion-and-calls-to-action-the-maldives-is-not-being-overrun-by-sea-level-rise/#more-6338
Reparem no voluntarismo dos cientistas-lenhadores.
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Oh, aveludados ecologistas! Despreocupai-vos!
Logo, logo, não haverá mais livre mercado a saquear e destruir a divina natureza.
Todos viverão dos privilégios de trabalhar apenas quatro horas por dia recebendo educação, saúde, habitação e aposentadoria grátis.
Lá estão milhões de franceses nas ruas acusando os capitalistas podres e exigindo que a maquininha de pintar dinheiro continue funcionando sem cessar. Avante, politicamente corretos!
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