DAR TESTEMUNHO
(Os textos seguintes foram originariamente dados a lume no Fórum do Diário de Notícias”)
“O POVO, NUMA DEMOCRACIA, É SOBERANO”
Alexis de Tocquevile
1. Vilaverde Cabral, sociólogo, veio a público num acto de retórica em que se tornou conhecido acumular razões para dizer que os políticos (manifestamente referia-se ao ex-premier lusitano) não deviam ser responsabilizados criminalmente por, a seu ver, não terem culpa de erros de governação cometidos durante os seus consulados.
Venho dizer, também aqui, a Vilaverde Cabral: o que se pretende, e deve ser julgado nos ex-políticos, (concretamente Sócrates e seus ajudantes, para começar) não é o terem cometido erros, incompetências e mediocridades. É terem malversado e malbaratado, por abuso de poder e arrogância culposa, o erário público.
No limite, terem depredado e alegadamente roubado, por sentimento de impunidade, o património de que deviam cuidar por imperativo constitucional.
Isso é de delito comum!
Não é possível que Vilaverde Cabral não saiba isto.
Portanto, o que diz visará apenas eventualmente eximi-los à Lei e torná-los impunes.
E isso é lamentável.
2. (Minutos depois de ter passado a limpo este texto, os órgãos de comunicação começaram, com grande soma de pormenores – que vão continuar a ser emitidos nas diversas estações de rádio e televisão e em cadernos específicos de jornais e revistas – a difundir que o ex-deputado, ex-governante e ainda figura poderosíssima do milieu político nacional Duarte Lima tinha, após aturada investigação de meses, sido formalmente acusado pela Promotoria brasileira do assassinato de Rosalina Ribeiro, abatida com vários tiros na região de Maricá, em circunstâncias especialmente penosas por, conforme consta do despacho, se ter recusado a assinar um documento que garantia ao indivíduo em causa a apropriação de mais de cinco milhões de euros.)
Comentei como segue:
O caso deste indivíduo, barão da política - arrogante, prepotente e hábil gestor de jogadas claras ou obscuras de acordo com os mídia - é paradigmático. Por isso, não estranha ver que aparecem aqui escrevinhantes, sem ele ter sido julgado, defendê-lo acerbamente como inocentinho...apesar do seu currículo dar que pensar a quem tivesse um pouco de argúcia.
Sejamos claros, embora moderados: este teve alegadamente necessidade de matar. Mas o pior é o acervo dos que não precisam de matar com sangue para "matarem o quotidiano" e nos irem matando na prática. Em "O crime e a sociedade", ensaio publicado aqui e lá fora, vem tudo explicado. É assim o dia a dia numa "sociedade criminal"! Está em linha/arquivo no TriploV e pode lê-lo facilmente.
A Promotoria brasileira descreve-o como arrogante e prepotente. Pois é... Os brasileiros dizem isto, mas por cá (basta ler-se e ver-se na santa TV os amigos ou conhecidos do homem a "amaciarem" as coisas) é um prestigiado advogado, um cordialíssimo senhor e, acima de tudo, um cristão devotado, um cidadão de fina estirpe católica e uma mais-valia na magnífica sociedade lusa.
Tenho a certeza de que será nem digo absolvido pois nem a julgamento irá, seguirá sendo um esteio social respeitado e passará um resto de vida regalado.
O destino velará por ele...e não só!
3. “Sócrates pede a deputados para chumbar o OE – dos jornais”. O ex-premier telefonou a deputados da sua linha para que votassem contra o orçamento de Estado, para não dar razão ao “desvio colossal” que se lhe atribui.
Não se estranha, mas entranha-se - parafraseando com dolorosa ironia a célebre frase de Fernando Pessoa. A quem tivesse dúvidas sobre o carácter político deste senhor, a expressão do seu sentir aqui fica na pura claridade...
Que mais dizer para o caracterizar? Creio que o acto é por si só suficiente.
E, para maior e mais exacta definição, referir que A.J.Seguro - como diversos mídias se têm feito eco - na realidade é no PS um mero eventual enquanto líder, uma quase figura decorativa para os embates imediatamente a seguir ao exílio de Sócrates, que é na verdade quem continua a mandar nesta formação partidária. Repare-se que após ter sido desmascarado o seu mau governo (digamos sem crueldade...) ninguém ali se atreve a criticá-lo!
Continua a ser, indubitavelmente, no coração político dos mais potentes, o seu deles “menino de oiro”, apesar de já não ser, pela circunstância que o ultrapassou (ter sido varrido eleitoralmente) o “animal feroz da política”. Agora será apenas, eventual e alegadamente, um tigre de papel que contudo continua a querer arranhar a nação…
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