A curto prazo:
a) a técnica do porco com óculos ou do primo fino. Declaração, usualmente infirmativa, lida ou prestada por um assecla com boa imagem ou com autoridade moral (sic). Nunca ir ao fundo da questão, mas recortar generalidades entremeadas de vagas e dissimuladas ameaças. Permite, nos casos mais eficazes, encolerizar o oponente e fazer-lhe perder tempo a recolocar os dados do assunto em apreço.
b) a técnica dos tenores. Duas ou três personalidades próximas referirem o assunto ou como um absurdo ou como um dado adquirido, conforme os casos, seguindo-se imediatamente declaração corroborando, mas feita como se não tivesse directa ligação.
c) a técnica do bilhete amoroso, comunicado enviado aos jornais, que obviamente só na próxima edição o farão sair e no qual os factos são apresentados como se tudo fosse evidente. Aqui, nunca dar indicativos falsos, mas apontar as falsidades (reais ou presuntivas) do oponente. Assim se lança a dúvida, que posteriormente pode ser aproveitada para tripudiar ou macerar.
d) a técnica do tiro ao lado. Chama-se à colação um detalhe ou caso realçado que desvie as atenções do fundamental. (Falar-se em eventuais escutas ao próprio eventual alto magistrado, desviando assim as atenções da crítica justificada de haver compadrio ou desleixo em delegações de promotoria).
A médio prazo:
a) a técnica do bom gigante. Artigo presumivelmente ou preferentemente da autoria de especialista respeitável, mostrando com soma de pormenores a razão que assiste ao objecto exposto. Daí que devam sempre ter-se alguns operadores com notoriedade pré-fabricada (ou vedetas com bom paladar) para dar credibilidade ao tema. O populacho, mesmo aparentemente culto ou não provinciano, é muito sensível a esses áulicos. (O defunto EPC foi um dos mais notórios, assinalado pelo professor da Sorbonne e da Univ. de Abidjan André Coyné, ensaísta e companheiro de André Breton, num livro editado por Lima de Freitas).
b) a técnica do engate ou do sr. prior. Convidar-se um idiota útil do campo neutro ou mesmo contrário e, com o pretexto da democraticidade, conseguir ou um artigo ou uma entrevista em que, sem dizer mal, é capciosamente objecto de uma ou duas perguntas dissimuladas que, depois, permitem estabelecer uma tese no mínimo dubidativa. (As chamadas personalidades ou famosos do sector artístico ou desportivo são geralmente um campo fértil para o operacional trabalhar.).
c) a técnica da tourada ou da puta espanhola. Mesa redonda ou debate, onde um idiota útil e um assecla fazem as despesas da defesa e simultaneamente do ataque. Nunca hostilizar e muito menos ofender o adversário, mas sim ajudar o público a reflectir (pois o público reflecte pouco, ajudado reflecte melhor…).
d) a técnica do fardo de palha, baseada no ditado de que todo o burro come palha, o que é preciso é saber-se dar-lha. Entrevista ou programa género um dia com o objecto. Humaniza o dito, possibilita-lhe boa performance, tanto mais que a matéria é editada e tratada. Responde à curiosidade latente no poviléu. (O actual premier é perito na utilização desta técnica).
e) a técnica do tio da América ou da herança milionária. Momento presuntivo de apresentação de assuntos efectuada por áulico (de ataque ou de defesa) mas sendo no entanto matéria contra-informativa clássica propiciada por um comparsa que simula interrogar mas apenas serve de introdutor. (O notório MRS é um dos mais capazes neste género de manipulação, a que chamam análise ou comentarismo. As suas intervenções são caracterizadas por um eficacíssimo cinismo).
A longo prazo:
a) técnica do bom irmão. Livro ou opúsculo com boa soma de informações sobre as razões do objecto. Visa em geral ser um detalhe de propaganda.
b) técnica do santo venerável. Geralmente biografia, em livro ou opúsculo, apontando para as qualidades com esbatimento de defeitos, do objecto. (Exemplos: “Sócrates, o menino de oiro do PS”, “Força, força, companheiro Vasco”, título a partir duma canção militante. As hagiografias da ICAR, geralmente controladas ou revistas por operacionais competentes da hierarquia ou agentes da Sodalitium Pianum).
(Em continuação iremos esclarecer alguns pontos do léxico, não só para podermos seguir em frente como para se entenderem melhor certas sequências posteriores).
(continua)
NS (antigo operacional “cloak and dagger”)
(O presente texto não teve continuação, pois entretanto o autor recebeu indicação amavelmente anónima mas credível de que, se continuasse, talvez uma bela manhã não acordasse vivo…como diz na anedota. Dado ser avisado e prudente, seguiu o conselho vindo de…algures).
NOTA: Este texto foi escrito ainda durante o consulado do senhor engenheiro José Sócrates Pinto de Sousa, actualmente em Paris, profundamente imerso em filosóficos estudos. Da sua actualidade caberá aos leitores ajuizar.
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