Isto é uma
dedicatória ao Streetwarrior, pelo seu combate sem tréguas contra a maçonaria.
Tenho cá uma fezada que a
maçonaria, muito falada actualmente em Portugal, é um trauma que
se manifesta em homens adultos, mas que foi provocada durante a infância por
uma grande carência de brincadeira devido certamente a pais demasiadamente
ambiciosos ou opressores. Todos nós, à excepção dos maçons, tivemos durante a nossa infância um sítio escondido,
secreto, que só nós e os nossos amigos mais íntimos conheciam. Refiro-me nomeadamente, mas não só, ao brincar às
cabanas. Nos maçons essa necessidade premente de
recrear a experiência das cabanas, do só-nós-é-que-sabemos, aparece inevitavelmente
tarde, quando já são adultos. E é compreensível que a coisa tenha que ser
mantida em segredo. Ninguém gosta de apregoar as suas taras aos sete ventos!
Sejam elas brincar com comboios eléctricos, soldados de chumbo ou vestir um
avental de couro e celebrar ritos estranhos…
A minha cabana e dos
meus capangas, no bairro do Cedro em Gaia, encontrava-se a 6 metros de altura,
no topo de um carvalheiro milenar situado num espécie de jardim junto à escola.
Aí passamos grande parte da nossa infância contando anedotas, trocando cromos
de futebol ou fazendo considerações sexuais sobre as mulheres que passavam por
baixo sem nos ver – havia mesmo quem aproveitasse o momento para ‘esfolar o
galho’, passe a expressão mas fica muito bem neste contexto. Até cagar lá de
cima era possível, tal era o nosso à vontade no topo desta árvore! Os cagalhões
estatelavam-se no início do tronco, o que impedia durante uns dias outros de
iniciar a já de si difícil escalada. maçon antes de colocar o avental
E assim passávamos as
férias de verão, como tantos outros rapazes espalhados pelo país: ouvindo
Beatles e gravando peidos num gravador de fita no quarto dos Rufinos até altas
horas da madrugada. Os peidos, filtrados por um amplificador e reproduzidos com
muitos decibéis através de colunas poderosíssimas acordavam a família e a
vizinhança e provocava em nós uma alegria infinda e uma galhofa que durava horas – isso sem ajuda de haxixe
ou outros estimulantes de que nós ainda não conhecíamos a existência. Enfim, era melhor do que sexo, coisa que também só conhecíamos de revistas. E a falta
de sexo impelia-nos inevitavelmente para actividades agressivas. Como por exemplo combates de bolotas. Era perigoso e aleijava pra caraças, mas
sempre era menos grave do que atirar
pedras em direcção de um bairro limítrofe, chamado “bairro das quatrocentas”
(era constituído por 400 casas). Para chegar às quatrocentas as pedras tinham
que descrever um arco por cima da auto-estrada A1 que separa os dois bairros e que tinha sido acabada de construír, ligando apenas o Porto aos Carvalhos. É
claro que havia sempre uns nabos que não conseguiam lançar as pedras para o
outro lado e elas caiam encima dos carros! Na altura o facto foi publicado
nos jornais e visto como acto de vandalismo contra automobilistas! Mas não, era
apenas aselhice. Confesso que nunca acertei num carro. Não é para me gabar, mas
atirar pedras a grande distância era dos melhorezinhos…
E quando não jogávamos futebol, o nosso ‘core
business’ a seguir a tocar à sebastiana, roubávamos fruta em Laborim (zona
rural). Aproveitando logo a seguir para nadar numa presa de água, conhecida
pela “presa das senhoras” e que ficava junto a uma mina abandonada de
volfrâmio. Entre dois mergulhos penetrávamos por vezes no interior da mina para
caçar morcegos, libertando-os mais tarde em sítio que pudesse assustar gente, e
os pobres morcegos. Enquanto uns nadavam, outros cabrões havia que se divertiam
a “ferrar a pulga”: dar um nó bastante esticado nas peúgas ou calças dos
incautos! Imagine-se a filha-da-putice, uma pessoa querer vestir-se e não poder…
Na tal presa tínhamos frequentemente um
conflito de interesses com o lavrador dos campos anexos. Eu explico. O lavrador
servia-se da presa como fonte de rega para o seu milheiral, e por isso, quando
julgava oportuno, abria uma das extremidades para a água poder correr
livremente para os seus campos. O nosso interesse era precisamente contrário:
fechar a presa o mais depressa possível para que houvesse água suficiente para
nadar e dar um cafunho sem enterrar os cornos no lodo depositado no fundo da
presa. Quando o lavrador, a centenas de metros da presa, notava que a água não
corria, vinha sorrateiro entre o milho armado com uma vara (a gente dizia
fueiro) e, sem dizer água vai, toca de malhar em todo aquele que não fugisse a
tempo ou mergulhasse na presa…
Por vezes algum de nós antecipava a chegada do
lavrador, avisando imediatamente a malta com a palavra de ordem que todos nós
conhecíamos: OLH’ Ó VELHOTE…. Era o sinal para recolher a roupa e em pêlo
atravessar o milheiral (que sofria bastante) em correria desenfreada. Do outro
lado do campo de milho havia um tanque onde mulheres lavavam a roupa. Ao
verem-nos passar a correr naqueles propósitos: nus, descalços e com a roupa
debaixo do braço, havia sempre uma que exclamava: ISTO É GANDULAGE DO CEDRO…
Da gandulage do Cedro, que eu saiba, nenhum
ingressou na maçonaria….
18 comentários:
Impagável, primo.
E é capaz de ter razão...há neste tipo de associações secretas, fixações a fases anteriores do crescimento. Creio que era Freud que falava de fases não superadas ( assim, por exemplo, o fumar seria consequência da má superação daquela fase em que o prazer está na boca e os bebés levam tudo à boca).
A Maçonaria tinha, no inicio, nobres propósitos...nomeadamente a luta contra o absolutismo dos reis e a excessiva influência do clero nos assuntos profanos.
Mas hoje?
Hoje não temos nada disso por cá e por isso qual o objectivo?
Um amigo meu, magistrado e que esteve alguns anos nos serviços de informações, tem um pó danado à maçonaria e explica que neste momento nada mais é do que um grupo de interesses.
A malta sente orgulho de ser convidada, vai aos rituais como quem vai à missa, e protegem-se uns aos outros, na vida e nas profissões. Digamos que
e o compadrio em grande escala.
Então não é que os criminosos actuais que se divertem a atirar pedras aos automóveis na A1 tem um passado.
Nunca tinha pensado tal.
" nada de mais natural do que confeccionar arranjinhos políticos e negociatas NESTES locais"
Sim, é verdade. É natural que as afinidades levem a preferências, nos negócios e na vida.
Nas os maçõnicos vão mais longe, segundo aquele meu amigo. Até têm sinais para que, por exemplo num tribunal, fazerem saber a sua condição, de forma a que , por exemplo, um juiz também mação, os beneficie.
E destes assunto, o meu amigo sabe umas coisas, que não apenas a vulgata.
Ó Amílcar, este texto do CdR está delicioso. Tomara você de ser capaz de escrever com esta vivacidade.
A avaliar pelos comentários que vai aqui escrevendo, não só não tem qualquer sentido de humor, como está a vários parsec da capacidade de perceber a qualidade quando ela lhe tenta entrar pelos olhos dentro.
Se houvesse que avaliar, em língua portuguesa, o CdR e você, pelos textos que cada um deles aqui deixa, diria que a escala de 0 a 20 não os acomodaria aos dois.
O CdR estaria no topo da escala e o Amílcar, claramente numa terceira ou 4ª escala abaixo desta.
Acredito que não seja capaz de apreciar o estilo impagavel do CdR, pelas mesmas razões que levam a minha avó a fazer esgares quando prova um caviar beluga: é um sabor que só se aprecia no fruir da educação e refinamento...coisas que ela, coitada, habituada ao bacalhau com todos e a uma vida de privações, não tem.
Carmo
"" Seria interessante que o seu amigo desse umas dicas sobre este assunto de que pouco ou nada sei""
Carmo , não diz porque em principio cada loja e cada Grau tem a sua palavra Código e os seus sinais próprios, aliados aqueles que são genaralizados pela própria instituição.
Mas aqueles que os sabem, não os dizem porque tal como o é sabido ( e estes são alguns dos bons valores e principios )estão obrigados pelo voto de secretismo que aumenta de grau em grau e que se revelarem alguma coisa...aparecem " suicidados ".
a História em torno da loja P2 ( apesar de ser conveniente dizerem que é mentira e teorias da conspiração )mostra como e o que fizeram a R.Calvi.
É claro que tal como disse num comentário ( entre outros censurados )os ideais da maçonaria não estão em causa.
O que está em causa, é o conflito de interesses que existe e que é protegido sob ameaças de morte pelo secretismo.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=SI8cxMfNBA8
O Herman ao rubro
CdR:
De-li-ci-o-so!
A mim, já me "apalparam", uns bons anos atrás, para... as duas prestigiadas agremiações! A uns, insinuei-lhes discretamente que não tenho vocação para mestre d'obras nem aprecio os emblemáticos Mercedes; aos outros, mostrei-lhes o meu canino vampiresco e afastaram-se de mim como o diabo da cruz.
Com isto, concluí que nem uns nem outros sabem verdadeiramente do que falam, já que, sendo opostos, interpretavam o que eu costumava afirmar nas amenas cavaqueiras que com eles ia tendo, como estando do "seu lado". O mesmo problema, aliás, dos brilhantes comentadores que por aqui vão deixando rastos de baba.
" Não percebi patavina, mas pronto, santa paciência, "
Não percebeu patavina mas ai a culpa já não é minha, é manifesta ignorancia sua.
Se tivesse o minimo de interesse, saberia ao que me estou a referir.
Apesar de distorcer o contexto, eu não lhe disse que sabia codigos ou segredos...disse-lhe que existiam, o que aliás, os mesmos não escondem.
É claro que quando se disponibiliza toda a inteligencia para caçar os Papões comunistas e terroristas, alguma coisa tem que ficar para trás.
http://www.youtube.com/watch?v=MEL48khJHRQ&feature=player_embedded#!
O Portugal dos Ratos
http://www.youtube.com/watch?v=Jde1D_esmxw&feature=related
Talvez assim, em forma de entertenimento, consiga compreender melhor.
Boa martelada. Carmo, no meu bairro, o único secreto local onde, não todos tinham entrada, mas só eu e a filha do sapateiro, resguardarmos o segredo, brincávamos aos casamentos, ou seja, nem uma queca era, digamos... esfregadela! de pila em haste no meu quintal por detrás do galinheiro. O segredo caiu! o choque foi noticia nas redondezas quando a minha mãe me apanhou em flagrante delito por cima da rapariga, o meu pai quando soube, nunca mais me perdoou, o sapateiro era bom, e barato! para arranjar os sapatos, tinha agora o meu pai, para as meias solas, se deslocar um par de quilómetros, e era de longe muito mais caro. A sua reacção foi para mim uma lição a não esquecer, olhou para mim e disparou! - este rapaz é uma maçada!!. Era miúdo, e a "maçada" ficou-me na cabeça que nem palavra proibida. Talvez por isso a ele posso agradecer, graças a uma má interpretação minha do termo maçada! tivesse eu livre ficado, das cagadas unhas da, Maçonaria. Gostei realmente do teu artigo, há muito que digo, não me ouves.... mas repito!. Para quando, UM LIVRO!!??.
É pessoal é isso mesmo, faz falta na nossa literatura. Livros desses vendiam-se as resmas nos supermercados perto de si, “as minhas memórias do carvalho” “Ou então do galinheiro”. Tudo que queria saber e nunca teve oportunidade acerca dos miúdos de antigamente, nomeadamente acerca de sexo, caganeiras altaneiras e guerras da pedra lascada. Mãos a obra.
Ó senhor Amílcar pelos vistos ou o senhor nasceu assim, digamos irritado!! ou provavelmente o seu trauma é de uma outra ordem, "masturbaria?!" espero que não! cuidado ou então fica ainda mais seco do que já é!. Ó homem acalme-se!. Eu vim aqui só para ver se o Carmo da Rosa, já tinha reagido, sabe....! ele é um amigo. Pá! desta não esperava eu!! Calminha.
bem pelos vistos as galinhas faziam muito chavascal.
Ó Amílcar, Fernandes, Asdrubal, ou seja o que for, não é costume meu reagir à distancia, o meu mote, e preferência, é curtir no jogo do Tete há Tete, mas já que a minha mão longe está, e não alcança, peço que mostre, se faz favor! só desta vez, uma pontinha do seu bico!! seria possível?!. Agradecido!!!!
P.S. Se não for possível, claro que compreendo, ficaremos na mesma. Quem nada é! não nasceu....você não existe!!. para mim caso arrumado. Ponto final.
Carmo. Ta mais que certo. Ontem tive que fazer um dia no Azul, o Pedro foi a uma prova de vinhos na Rai, e provou um néctar divinal, Mouchão! conheces? parece ser de chorar por mais, o preço...? não mente. Temos que combinar um destes dias, o Laureano é para mim totalmente desconhecido. Depois falamos.
"peço que mostre, se faz favor! só desta vez, uma pontinha do seu bico!! seria possível?!. Agradecido!!!!
"
bico?????? ora essa, não viu tantos no galinheiro?
tete a tete com uma cabeça dessas?
cabeça cabeça onde vais.
Ouve la ó cabeça, grande nome pá, não sei se diz tudo mas quase. Aqui o teu colega de copofonia, esta-te a poupar a malha, é um combate desigual, senao num tete a tete ficavas com duas cabeças e uma crista.
Sendo assim com tantas proteções, emborca lá uns jarroes e deixa de ser infantil, porque ele (o rosinha) mesmo definiu a situação.
Brinca muito brinca, mas não batas com a cabeça é que quando é muito grande desiquilibra as pessoas e faz galos, e la esta mais bicos estás a ver.
Delicioso este seu texto, somos mesmo da mesma geração e pelos vistos do mesmo meio social, vocês banhavam-se num tanque e nós no Rio Douro, empoleiravam-se numa árvore, nós refugiávamo-nos numa gruta natural na antiga ilha do Trinta saltando um muro nas Escadas do Barredo, “esgalhava-se” para ver quem chegava primeiro, quanto à fruta, como não haviam pomares, ia-se às camionetas que estavam a descarregar no mercado Ferreira Borges, aos caixotes e aos cachos de bananas pendurados à porta das mercearias.
As pedradas, serviam para tudo, desde as guerras Sé/Ribeira à tentativa de acertar em qualquer coisa, os alvos preferidos eram as guaritas da guarda-fiscal junto ao rio.
Ainda há dias falei com uma pessoa amiga sobre as minas da serra de Laborim.
O vosso “OLH’ Ó VELHOTE” era o nosso OLH’ Ó POLÍCIA.
Espero que não leve a mal eu publicar no meu blogue este seu texto que me deu a mesma sensação dos livros do Germano Silva, para terminar e por falar em polícia, parece que ainda sinto as correadas do meu pai no dia da minha comunhão solene.
Levantei-me por volta das sete da manhã para tomar banho e vestir o fatinho com aquele laço no braço, as primeiras calças compridas, à homem, até esse dia, fizesse calor ou frio, andei sempre de calções, devia ser para cicatrizar melhor os joelhos que andavam quase sempre esmurrados.
Voltemos ao dia da comunhão, lá fui para a igreja, por volta das dez horas já quase não via com a fome, era quase uma da tarde quando acabou a cerimónia, deram-nos um saquito de plástico com uns biscoitos e um Sumol, entretanto tínhamos de esperar pelo diploma, os velhos foram para casa adiantar o almoço melhorado. Logo apareceu uma bola de plástico para uma partida no adro enquanto o senhor abade não fazia a chamada para a entrega do certificado, para não esmurrar o verniz dos sapatos tirei-os e às peúgas, tínhamos dados uns toques quando apareceu o mono, foi a debandada em direcção à igreja, ficando para trás sapatos, coturnos e bola, praí uns vinte pares estavam alinhados na soleira da porta da escola da Protectora à Infância que ladeava o adro da Igreja de Santa Clara, era mesmo ao lado do Aljude, o guarda não conseguiu levar todos, levou os meus, azar.
Imagine o quadro quando cheguei a casa, todo aprumadinho e descalço, ainda ia a meio da explicação e já tinha levado quatro bufardos do velho, nem mudei de roupa, toca a andar para a esquadra, eu à frente o meu pai atrás.
Abreviando, voltei a levar nas ventas na esquadra e quando cheguei a casa, almoço? De grilo.
Falta só acrescentar que o meu pai era polícia e eu era daqueles que tinha a mania que era duro, levava mas não chorava, era burro!
Abraço.
PS: Os tais "cagalhões" usavam-se muito nos puxadores dos carros de quem a malta não gostava, até o da porta do comandante da PSP não escapou.
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