“A produção passou para a Eslováquia”, queixa-se o Bloco. É chato realmente. O "independente" Daniel concorda: "Eu quero que empresas vão para a Eslováquia e para Portugal. Não quero é empresas saltimbanco e sanguesuga que vão do lado para o outro conforme os Estados lhes dão mais e os trabalhadores recebem menos. E isto aplica-se aos portugueses e aos eslovacos".
É sempre fascinante observar o novelo que constantemente se enrola nesta cabeça. Quando as empresas se deslocalizam de outros países para Portugal ou para a Eslováquia em busca de subsídios e menores custos laborais é uma coisa boa. Quando saiem de Portugal ou Eslováquia para outras paragens com os mesmos objectivos é uma coisa má. "Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!" ou lá o que é. Enfim, adiante.
Passam quase 30 anos sobre a publicação do Finniston Report, um relatório encomendado pelo governo britânico para analisar o declínio da produção fabril no Reino Unido. Outrora uma nação industrial, a produção britânica tem vindo a cair acentuadamente nos últimos 30 anos (40% do PIB na altura, agora menos de 20%), perdendo terreno para concorrentes orientais com mão de obra muito mais barata.
Na altura do relatório a preocupação era o Japão. Bastou pouco mais de uma década para a indústria de motorizadas britânica ser completamente arrasada pelos japoneses. BSA, Triumph, Norton, Royal Enfield, Matchless, AJS, Sunbeam, uma a uma todas desapareceram do mercado. Seguiu-se mais tarde a indústria automóvel, com um declínio menos acentuado, mas também irreversível.
A principal conclusão do relatório foi a de que as empresas inglesas eram muito menos produtivas do que as suas principais rivais, sendo essa a raíz dos seus problemas. Retomando o exemplo da indústria motorizada, entre 1956 e 1973 o número de motorizadas produzidas por ano e por trabalhador baixou de 19 para 13 no Reino Unido, enquanto no Japão passou de 16 para 195.
O documento discute várias ideias para conseguir os urgentes ganhos de produtividade necessários, mas acima de tudo recomenda uma mudança de enfâse para produtos de alta qualidade, de alto valor acrescentado e baseados em tecnologias de ponta, onde a competição com os países em industrialização seja menos intensa. Ou seja, as boas velhas receitas do Pai Adão: "If a foreign country can supply us with a commodity cheaper than we ourselves can make it, better buy it of them with some part of the produce of our own industry, employed in a way in which we have some advantage".
São essas as características que se encontram na indústria britânica da actualidade. O seu ex-libris actual, a Rolls Royce, além dos conhecidos carros de luxo, fabrica turbinas para aviões.
Lições da história para quem as quiser estudar. Por cá já se sabe. Graças aos Danieis do nosso contentamento continuaremos a correr atrás da fabriqueta fecha-não-fecha de trousses e da Autoeuropa.
13 comentários:
«"If a foreign country can supply us with a commodity cheaper than we ourselves can make it, better buy it of them with some part of the produce of our own industry, employed in a way in which we have some advantage"»
A grande crítica a essa afirmação advém do facto de essa lógica poder retirar capacidade de criação de valor/riqueza ao país. Na minha opinião ela faz sentido desde que se garanta que os recursos (que, convém lembrar, são escassos) libertados por se deixar de produzir algo sejam alocados a actividades onde se consiga gerar mais valor acrescentado (por unidade de capital investido) do que na situação anterior.
"desde que se garanta que os recursos libertados por se deixar de produzir algo sejam alocados a actividades onde se consiga gerar mais valor acrescentado (por unidade de capital investido)"
Claro que sim. A questão é que isso não é uma escolha. Portugal vai querer competir com a China na produção de produtos de baixo valor acrescentado? Abrimos lá "lojas do português"? Por quanto tempo ainda ficará por cá a Autoeuropa?
@ Luis Oliveira: ”É sempre fascinante observar o novelo que constantemente se enrola nesta cabeça.”
Realmente, está muito bem visto. A esquerda (tipo Daniel Oliveira claro) deixou de ser internacionalista para se transformarem em defensores do interesse DA NAÇÃO (isto deve ser pronunciado com o sotaque e o trémulo do doutor Oliveira Salazar, e de preferência na presença do Daniel Oliveira) – mas continuam, nas calmas, a cantar a Internacional! Como, não sei?
@ Luis Oliveira: ”A questão é que isso não é uma escolha.”
Precisamente aquilo que eu pensei, não há sequer tempo para escolher, é adaptar (o mais rapidamente possível) ou ‘morrer’...
Interessante o relatório sobre as motas. E se não me engano as motas nipónicas são bem mais baratas que as inglesas (e italianas), e não são piores – talvez não tão bonitas!
@ Luis Oliveira: ”as empresas inglesas eram muito menos produtivas do que as suas principais rivais, sendo essa a raíz dos seus problemas. ”
Creio que nem é preciso relatório para chegar à mesma conclusão sobre as nossas empresas... Por falar em relatório. Há uns anos atrás alguém me enviou um relatório sobre “empresários portugueses’ que pairava na net com conclusões muito engraçadas: algo como Viegas Consultants!!! Conhecem?
O Pai Adão, como sempre tinha razão.
Cada um deve dedicar-se a sacar lucro do que faz melhor e é essa a divisão de tarefas à escala internacional que faz com que se vá melhorando.
É por isso que eu compro o pão ao padeiro. Não é que não seja capaz de fazer pão, por acaso até sei, mas tenho mais e melhor em que ocupar o meu tempo.
Curiosamente ( ou talvez não), a ideia económica de Hitler era a "autarchia", o conceito em que cada país deveria produzir tudo aquilo que necessitasse, reduzindo a nada o comércio mundial.
Olhem, quero só deixar aqui um desabafo, em relação às empresas Portuguesas e à produtividade etc etc.
Eu o ano passado trabalhei numa empresa alocada na esfera do Estado e financiada pelo Estado. Qualquer coisa que aglomerava seguradoras.
Garanto piamente, mas piamente que só não ganhei uma depressão grave, porque amadureci o meu sentido de sobrevivência.
Isto para falar nas somas avultadas de PERDAS, repito PERDAS que a empresa tinha disposta na INTRANET nas contas anuais. Uma pessoa notava claramente que servia apenas para garantir emprego a uma mão cheia de licenciados (e a classe média com futuro resolvido) e claro, os administratos e gestores de conference calls.
É a mesma conversa de sempre sobre a produtividade, mas in loco é outra coisa.
Desorganização e entropia endémica. Mais chefes que índios (garantidamente), horários inacreditáveis (das 09.00 às 16.00) com 1.30 minutos de almoço e apanhei gente a dormir discretamente nas casas de banho! Isto, quando estamos a falar da seguradora do Estado, com um edifício ENORME!
Chefes que e colegas que estão 4 dias a fazer uma fórmula em EXCEL! Sem palavras.
E pior, actualmente estou no maior ex-monopólio de operadora televisiva (por cabo e satélite) e só a 2009, repito, 2009 começaram a fazer avaliações internas aos trabalhadores. Isenções de horários, desprodutividade sem barreiras e limites e claro os gestores e administradores de conference calls.
Referindo ainda às dívidas avultadas que a mesma empresa tem aos canais!!!!!
Pergunto-me se isto é o que se chama de trabalho. Posições constantes e imaturas de empresas que consomem custos enormes e dão benefícios em dividendos a gente que mantém estes monopólios activos, por puro interesse imediato.
Meu caro Luís Oliveira:
"If a foreign country can supply us with a commodity cheaper than we ourselves can make it, better buy it of them with some part of the produce of our own industry, employed in a way in which we have some advantage".
Ai!, prometo a mim mesmo: Vou ler Adam Smith, para ver em que contexto é que esta célebre afirmação foi produzida. Porque eu tenho a detestável mania de achar que, quando a realidade desmente a teoria, a teoria precisa de acertos. Suspeito que no tempo de Adam Smith não havia as gigantescas diferenças no custo dos factores de produção que agora há: Por exemplo, a empresa “A” no país “x” crivada de regulamentações e constrições de todo o tipo (financeiras, ambientais, salariais, fiscais, condições de trabalho, etc.) não era obrigada a competir com a empresa “B” no país “y” livre de tropeços; e também suspeito que o pressuposto dos benefícios do mercado na eficiência na alocação de recursos era um certo “plain field” para todos. A ideia, tão cara a uma certa variante de liberalismo (e eu, não se escandalize, tenho-me na conta de liberal) de que a destruição de uma empresa é necessàriamente e a prazo positiva, por permitir o aparecimento e/ou o crescimento de outras mais eficientes, é uma ideia perigosa: Se o que liquidou a empresa foi uma envolvente negativa e não o acumular de erros da sua gestão, as outras empresas no mesmo espaço terão o mesmo destino. A pressão das circunstâncias negativas pode de facto aguçar o engenho e, por essa via, levar a uma maior eficiência. Mas induzir automàticamente o misterioso aparecimento de empresas de alto valor acrescentado? Ora.
" a empresa “A” no país “x” crivada de regulamentações e constrições de todo o tipo (financeiras, ambientais, salariais, fiscais, condições de trabalho, etc.) não era obrigada a competir com a empresa “B” no país “y” livre de tropeços; "
Caro JMG, não nego que esse tipo de concorrência seja péssima para as empresas que produzem o mesmo produto.
Mas esse é apenas um dos aspectos da questão e até o menos importante.
Cada vez que abre uma loja de legumes ao lado de outra loja de legumes, a que estava antes, acha que é negativo e que o governo devia tomar medidas.
Por exemplo se a China subsidia a produção para conquistar mercado, eu, como consumidor, compro chinês. O meu interesse é comprar produtos mais baratos.
Se eles são baratos porque o país que os produz os subsidia, melhor para mim, que estou a consumir à conta dos chineses.
Por exemplo, o Plano Marshal permitou doar à Europa de forma praticamente gratuita bens e serviços pagos pelo contribuinte americano.
Foi óptimo e ninguém de bom senso se lembrou de reclamar que isso era mau para os nossos bens e serviços
Sem dúvida que isto afecta alguns proprietários e trabalhadores que produzem os mesmos bens, mas isso é o risco normal de todos os negócios. O sistema empresarial livre é um sistema de ganhos e perdas.
Vou-lhe dar outro exemplo simples:
Suponhamos que a China produz aço a preços escandalosamente baixos.
Se não forem lançadas taxas proteccionistas, as importações europeias de aço tendem a subir. O preço do aço na Europa desce, pelo que os produtores europeus são obrigados a fechar portas. Vai haver gente desempregada, mas a história não acaba aí.
Os produtos feitos de aço, baixarão de preço e quem os compra fica com mais dinheiro para outras coisas, pelo que a procura dessas outras coisas subirá. E subirá também a necessidade de trabalhadores para responder à crescente procura de outras coisas.
É claro que isto leva um certo tempo mas, havendo mobilidade, não deverá uma perda significativa de empregos e haveria até lucro nas produções, porque os trabalhadores já não necessários à produção de aço, estariam disponíveis para produzir outra coisa qualquer.
E tudo isto à conta do contribuinte chinês, que larga dinheiro ( em subsídios), para que nós tenhamos aço barato.
Consegue encontrar alguma irracionalidade naquilo que lhe acabei de explicar?
JMG: "a destruição de uma empresa é necessàriamente e a prazo positiva, por permitir o aparecimento e/ou o crescimento de outras mais eficientes, é uma ideia perigosa"
JMG: "Mas induzir automàticamente o misterioso aparecimento de empresas de alto valor acrescentado? Ora."
São coisas independentes. As motos inglesas não desapareceram poruqe os ingleses um belo dia disseram: "ai e tal era muito mais giro fazer produtos com maior valor acrescentado". Elas despareceram poruqe foram arrasadas pela concorrência. Bem choramingaram subsídios e protecção contra as importações (que o governo britânico, diga-se de passagem, não concedeu), mas com um japonês a fazer 15 motas enquanto um inglês fazia uma, não havia volta a dar à coisa.
Quanto ao "misterioso aparecimento de empresas de alto valor acrescentado", as turbinas Rolls Royce não apreceram por geração espontânea, foram o resultado de uma estratégia up-market deliberada da companhia.
E nós por cá, vamos fazer o quê?
Os Danieis e os Jerónimos adoram as fabriquetas da treta e as Autoeuropas porque é aí que ainda vão encontrando eleitores, mas isso vai tudo ser sugado para a China e para a Índia.
cdr: "A esquerda (tipo Daniel Oliveira claro) deixou de ser internacionalista para se transformarem em defensores do interesse DA NAÇÃO"
Também ironicamente, é o liberalismo que está a libertar o proletariado internacional dos seus grilhões.
Aparentemente a frase de Adam Smith até faz sentido: se eu posso comprar a cinco, na China, o que me custa dez a produzir, então o melhor é fechar a fábrica e produzir outra coisa.
O problema é que isto ignora a dimensão temporal. Aquilo que hoje me custa cinco na China, pode amanhã custar quinze (se, por exemplo, o chinês que a produz tiver alcançado uma posição de monopólio).
Nessa altura, seria vantajoso para mim voltar a produzir a dez; mas entretanto as pessoas que trabalhavam para mim dispersaram-se por outras actividades, o know-how perdeu-se por falta de prática, as estruturas públicas que sustentavam a minha empresa foram reconvertidas para sustentar outras, e o que eu produzia a dez já não posso produzir a preço nenhum.
Há uma margem de ineficiência económica que temos que aceitar como preço da independência política. Um exemplo: quando apareceram os primeiros Lexus, logo a comunicação social americana decretou o fim a prazo da Daimler Benz. Um Lexus era tão bom como um Mercedes e ficava mais barato porque as suas peças não eram, como as do Mercedes, overengineered. Mas a administração da Daimler-Benz não ligou a este conselho, porque sabia que se dissesse a um trabalhador habituado a tornear uma peça até à tolerância do milésimo de milímetro que a partir dali a tolerância passava a ser do centésimo de milímetro, este trabalhador ficaria desmoralizado.
O que a Daimler-Benz compreendeu foi que estavam em confronto dois paradigmas: o da "qualidade" (que mais nãao é do que a conformidade com um caderno de encargos) contra o da "perfeição", com raízes nas corporações medievais, desenvolvido ao longo de séculos na cultura alemã. E com isto nenhum fabricante japonês podia concorrer.
Acresce que a Daimler-Benz sabia bem que muitos clientes estavam dispostos a pagar mais pelo bem intangível da "perfeição" - mesmo sabendo que em termos de "qualidade" o Lexus até podia ser melhor que o Mercedes.
O proteccionismo do passado, que protegia espaços geográficos, está morto. Mas vem aí um proteccionismo diferente, que em vez de espaços geográficos protege as boas práticas ambientais e laborais. Com a política de novo aos comandos e os eleitorados a pressionar neste sentido, esta evolução parece-me inevitável. E por mim é bem-vinda.
JLS: "Aquilo que hoje me custa cinco na China, pode amanhã custar quinze (se, por exemplo, o chinês que a produz tiver alcançado uma posição de monopólio)."
Acho que sim. Agora que os chineses têm o monopólio das luzinhas de natal é experiemtar vendê-las a 100 euros o conjunto.
JLS:"quando apareceram os primeiros Lexus, logo a comunicação social americana decretou o fim a prazo da Daimler Benz. Um Lexus era tão bom como um Mercedes"
Um lexus não é tão bom como um Mercedes nem aqui nem na China.
JLS:"a administração da Daimler-Benz não ligou a este conselho, porque sabia que se dissesse a um trabalhador habituado a tornear uma peça até à tolerância do milésimo de milímetro que a partir dali a tolerância passava a ser do centésimo de milímetro, este trabalhador ficaria desmoralizado."
Não sei onde é que inventa estas coisas. O trabalhador a tornear a peça até à milésima do milimetro!LOL! Mas é verdade que a Mercedes não pode fazer compromissos com a qaulidade, uma vez que esta é a base da sua estratégia.
JLS:"O que a Daimler-Benz compreendeu foi que estavam em confronto dois paradigmas: o da "qualidade" (que mais nãao é do que a conformidade com um caderno de encargos) contra o da "perfeição", com raízes nas corporações medievais, desenvolvido ao longo de séculos na cultura alemã. E com isto nenhum fabricante japonês podia concorrer."
Sim, o Lexus não concorre com a mercdes, concorre com a Volkswagen. Pelos vistos esta não dve ter caído no caldeirão da poção mágica, ou bebido nas mesmas raízes medievais ancestrais corporativas alemãs ou lá o que é.
JLS:"Acresce que a Daimler-Benz sabia bem que muitos clientes estavam dispostos a pagar mais pelo bem intangível da "perfeição" - mesmo sabendo que em termos de "qualidade" o Lexus até podia ser melhor que o Mercedes."
Sim, isto está certo. Mas já agora fique a saber que há muitas definições de qualidade - para os japoneses é o processo de fabrico que causa a perda mínima para a sociedade.
Uma alma crítica fez no Arrastão esta pergunta ao Daniel Oliveira:
@ pma: ”um francçês ganha 2500/3000 euros/mês numa qql fábrica de pneus, num trabalho não especializado..a empresa deslocaliza para portugal, numa medida apoiada pelo estado português..o investimento cria 2000 postos de trabalho directo, mas uns quantos indiretos..integra-se no crescente “cluster” da industria automóvel nacional... os ordenados pagos pelo mesmo trabalho serão cerca de metade, ou talvez um pouco mais/menos... o D.O criticaria esta “deslocalizção”!?"
E eu, numa de solidariedade entre camaradas de esquerda, arranjei uma solução para o Daniel Oliveira:
É certo e sabido que o Daniel Oliveira de lá, ou seja, Dani le rouge da Force Ouvrière, vai organizar uma greve geral contra a transferência da fábrica, contra o capital, contra o Estado capitalista português, e vai também vociferar sem razão nenhuma contra o apoio da esquerda revisionista encabeçada pelo Daniel Oliveira com sede em Pequim – ou algo no género….
Daniel Oliveira, indignado com estas infames acusações dos camaradas francious, e com toda a razão, propõe uma solução brilhante que os sindicatos franceses não podem recusar: a fábrica de pneus em vez dos míseros € 3000, passa a pagar um ‘salário justo’ de € 6000 aos trabalhadores franceses. Estes, por sua vez, prontificam-se a enviar € 2000 aos seus camaradas portugueses.
Os trabalhadores franceses ficam a ganhar mais € 1000 euros por mês, e os seus camaradas portugueses muito mais daquilo que poderiam ganhar caso a fábrica fosse montada em Portugal - e ainda por cima tinham que vergar a mola…
Os trabalhadores franceses não vão recusar ceder € 2000 dos seus salários, porque caso contrário a fábrica é transferida para Portugal e perdem pau e bola.
Esta solução vai automaticamente encarecer o preço dos pneus para caraças, o que vai obrigar toda a gente a usar menos o carro, conduzir com mais cuidado, mais devagar. Resultado: menos acidentes na estrada, menos poluição.
Mas há mais! Os papás e as mamãs portuguesas, para poupar pneus que estão pela hora da morte, passam a NÃO levar as criancinhas todas as manhãs de carro à escola, como infelizmente é costume na nossa terra. As anafadas criancinhas (correndo o risco a todo o momento de apanhar diabetes) começam a ir a pé ou de bicicleta que só lhes faz bem. Menos gastos na saúde pública.
Vão comprar pneus à loja do chinês!
Os únicos pneus autorizados em Portugal continental são os pneus franceses da dita cuja fábrica.
Os alemães e os americanos também fabricam pneus!
Bom, mau mau, já não estou a gostar da brincadeira…
Caro O-Lidador:
"Cada vez que abre uma loja de legumes ao lado de outra loja de legumes, a que estava antes, acha que é negativo e que o governo devia tomar medidas."
Uma loja ao lado de outra loja têm a mesma envolvente. O meu texto referia-se explìcitamente a envolventes diferentes, pelo que este exemplo, com cujo significado aliás concordo, não infirma nada do que eu disse.
“Os produtos feitos de aço, baixarão de preço e quem os compra fica com mais dinheiro para outras coisas, pelo que a procura dessas outras coisas subirá. E subirá também a necessidade de trabalhadores para responder à crescente procura de outras coisas.”
Se a generalidade dos produtos manufacturados num país é substituida por produtos manufacturados em outros países a procura vai fatalmente provocar défices crescentes na balança de pagamentos do país em questão. É precisamente o caso dos E.U.A. e o do nosso País. Bem sei: numerosos outros factores influenciam esta evolução, e de resto meter no mesmo saco duas realidades tão diferentes expõe-me o flanco, por permitir criticismos fáceis. Mas as altas taxas de crescimento da China têm um custo (ainda que muito menos que proporcional) em desemprego nos países com dificuldades em manter o seu aparelho produtivo. E mesmo que, como parece lógico, o crescimento económico seja globalmente maior num contexto comercial anti-proteccionismo, eu não acho anti-natural ou contraproducente que se combatam práticas concorrenciais desleais. Incidentalmente, o exemplo do aço é curioso porque o aço chinês, que já importei em chapa, não é substancialmente mais barato; mas os produtos manufacturados de aço sim. E, já agora, também importei vidro float a preços inacreditàvelmente baixos (teria ganho uma fortuna se dispusesse de capital) mas a bonança durou pouco: Só o tempo de uma firma chinesa adquirir participações significativas em multinacionais da especialidade. Parece que os Chineses não sabem muito de liberalismo ou anti-liberalismo, mas não esqueceram Sun Tzu.
“É claro que isto leva um certo tempo mas, havendo mobilidade, não deverá uma perda significativa de empregos e haveria até lucro nas produções, porque os trabalhadores já não necessários à produção de aço, estariam disponíveis para produzir outra coisa qualquer.”
A disponibilidade dos trabalhadores esbarra em numerosos obstáculos à mobilidade, legais e práticos, além de um de tomo: Um trabalhador especializado numa tarefa qualquer de aprendizado longo difìcilmente se adapta, em particular se tiver atrás de si muitos anos, a novas tarefas especializadas.
“Consegue encontrar alguma irracionalidade naquilo que lhe acabei de explicar?”
Não, não consigo. Mas, desculpe-me a tergiversação: eu, que sou democrata, não acho que a democracia seja um fato feito que sirva a todos os países em todos os momentos; eu, que sou agnóstico, não acho que os crentes estejam necessàriamente na sem-razão; eu, que gosto de vinho, admito que um mau vinho possa dar um óptimo vinagre. Em resumo, se quiser ser um pouco ácido comigo pode dizer que sou um pragmático sem princípios.
Enviar um comentário