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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

NÃO SE DEVE FALAR NA PRESENÇA DE BRANCOS….



O tráfico de escravos divide-se em três categorias: interno ou africano, oriental ou árabe-muçulmano e o ocidental ou tráfico transatlântico.

Todos nós conhecemos a triste história do tráfico de milhões de escravos africanos realizado pelo ocidente (portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses) que inicialmente foi, aqui e ali encoberto, mas actualmente está bem documentado e é publicamente exposto. E ainda bem.

Mas a Unesco tem uma certa dificuldade em esclarecer TODOS os tráficos de escravos e fala apenas no OCIDENTAL – de longe o mais fácil de abordar...

Uma história tão ou ainda mais trágica, não é tão conhecida. Há razões corânicas, (multi)culturais e mesmo masoquistas para a esconder: 1400 anos de tráfico de escravos africanos para o mundo árabe-muçulmano e o ancestral tráfico interno. Que é muito anterior à chegada dos portugueses às costas de África, e mesmo anterior à expansão muçulmana do século 7.

O Alcorão refere-se várias vezes a escravos, mas sem nunca pôr em causa o seu estatuto. É verdade que recomenda não serem muito severos com os escravos, mas autoriza a prática. Este excelente documentário, Os Escravos Desconhecidos, demonstra que os traficantes árabes tinham uma ideia muita própria de severidade. Ou seja, a prática, como de costume, está longe da teoria.

Também é verdade - vá lá! - que o Alcorão proibia a escravização de muçulmanos: todos os outros (não-muçulmanos) podiam ser escravos. Mas que fazer quando a procura é enorme e o continente africano passou a ser a única reserva de escravos para o mundo árabe-muçulmano? Este dilema vai ser facilmente contornado. E, de certa forma tal e qual como o que se passou em relação a escravatura transatlântica, criou-se um racismo que iria justificar a escravatura – mesmo dos muçulmanos (negros).

Acerca disto o antropólogo Senegalês Tidiane N’Diaye, um especialista deste assunto, afirma: “é preciso dizer que muito antes dos antropólogos europeus do século XIX terem elaborado as teorias raciais e fantasistas que hoje conhecemos, o mundo árabe no século XIV já tinha consolidado no tempo, e de forma quase irreversível, a inferioridade do homem negro através de eruditos muito respeitados e bastante ouvidos como Ibn Khaldoun: “os únicos povos a aceitar a escravatura são os negros, porque vivem num estado de humanidade inferior, perto do animal”.

Os traficantes de escravos árabes são chamados Galabs (pastores)! Não se distingue o escravo do gado. Outro hábito que contribuiu para o enorme massacre da população africana, que teve o azar de cair às mãos de traficantes árabes, era a castração, que fazia com que 70 a 80% das crianças apreendidas morressem. O que a uma certa altura parece explicar o elevadíssimo preço de eunucos no mercado de escravos.

Este Tráfico Oriental durou até ao século vinte sem nunca ter sido posto em causa. Paralelamente, e por muito estranho que pareça, a luta contra a escravatura justifica a colonização: os ingleses em Zanzibar, os franceses no Magreb.

Na conferência sobre a temática do Tráfico Interno de Escravos em Bamako (capital do Mali), Ibrahim Thioub, outro grande especialista, conta-nos uma anedota bastante significativa. “Para mim, os problemas que expunha eram inodoros [e não “indolores” como está nas legendas poruguesas do documentário – CdR] e incolores e nunca imaginei que fossem tão controversos. Mas do lado dos africanos [o público era constituído de africanos e europeus. cdr] a reacção da sala foi de uma violência que eu não esperava. Honestamente não contava que o tema fosse tão polémico e tão sensível. Tive a explicação quando abandonei a sala de conferências: um grande número de africanos abordou-me e disse-me “sabe, o que você acabou de dizer é verdade, e temos que investigar o assunto, MAS NÃO SE DEVE FALAR NISSO NA PRESENÇA DE BRANCOS."

e continua,

“Os europeus também me abordaram, mas disseram-me outra coisa: parabéns, penso exactamente o mesmo que o senhor. Você é muito corajoso em dizer o que disse, mas eu não tenho coragem, porque se o fizer vão acusar-me de racista”

10 comentários:

EJSantos disse...

Pois é. Há coisas que não se devem comentar à frente de brancos...

Anónimo disse...

Até no falso paraíso cada maometano além das 72 huris, tem 80 mil servos, ainda por cima também muçulmanos e condenados a serem servos sem culpa alguma.

AC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
AC disse...

Muito bom e obviamente muito esclarecedor para um brasileiro. Me remeteu a outro texto que lera: http://www.guardioesdaluz.com.br/patuas.htm
Mas me diga; qual a origem dessa foto? Quem são? Pois parece capoeira - e não é.

Nausícaa, São Paulo, Brasil disse...

Caro Carmo da Rosa,

Grata por esse precioso presente natalício.

Nesse último semestre, fomos sacudidos pela novidade trazida no livro "Uma gota de Sangue" de Demétrio Magnoli por apontar a invenção/desinvenção/reinvenção do racialismo e os matizes de seu uso em vários países nos últimos dois séculos.

Há pouquíssimas obras em língua portuguesa contestando e/ou iluminando cientificamente a versão "oficial", aliás, referendada pela UNESCO.

Agora, meu conhecimento sobre este assunto complexo em suas relações foi largamente enriquecido pelo trabalho executado neste excelente vídeo "Os escravos desconhecidos". Muito eu aprendi, e, por conseqüência, de muito libertei-me.

Carmo da Rosa disse...

@ AC: «Mas me diga; qual a origem dessa foto? Quem são? Pois parece capoeira - e não é.»

AC, é capoeira mesmo! Fotografia tirada por mim em São Salvador da Bahia… Dipois di comê uma excelentje moqueca di camarão i muita cêrvêja.

@ Nausícaa: «Grata por esse precioso presente natalício.»

É com todo o prazer.

Eu vi um vídeo em que Demétrio Magnoli apresenta o seu livro. Não diz uma palavra sobre o Islão e pensa, como a maioria das pessoas, que as teorias raciais nasceram no século 19! Seria talvez interessante enviar-lhe o link do Fiel Inimigo para ver se ele animava a discussão – será que ele tem um site?

Este documentário Os Escravos Desconhecidos é realmente excelente, e eu, como você, também fui por ele bastante esclarecido, mas de qualquer maneira vou também encomendar o livro do Tidiane N’Diaye: La Traite Oriental.

AC disse...

Rapaz, pelas roupas eu achei q fossem africanos. Pq os movimentos são de capoeira mesmo.

RioDoiro disse...

Excelente artigo, CdR. Excelente.

Bom ano novo.

RioDoiro disse...

... bom ano novo :) para si já deve ter sido.

Carmo da Rosa disse...

Sim, aqui é uma hora mais cedo. Lá tive que beber champanhe, que não gosto, porque as bolhas me fazem mal ao estômago, e abraçar entusiasticamente pessoas sem grande vontade.

Mas o pior são os dias que vêm a seguir. Cada pessoa que encontramos na rua ou no café e que conhecemos vagamente vamos ter que lhe desejar um ano novo muito próspero!!!

O que safa esta chatice é uns beijinhos às mulheres bonitas – que eu, à custa do ano novo, prolongo até Agosto…

Desejo-lhe um ano no cheio de ‘propriedades’ mas sobretudo muita saúde…