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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

De como me tornei verde

Arcimboldo, As Quatro Estações numa Cabeça

Foi depois de ter lido este texto do Gato José Diogo Quintela Fedorento, na PÚBLICA de ontem:

O Concílio de Copenhaga

Terminou sexta-feira o Concílio de Copenhaga, perdão, a Cimeira de Copenhaga. Como previsto, os cardeais, perdão, os delegados concluíram que por causa dos pecados de Sodoma e Gomorra, perdão, do modo de vida dos Estados Unidos e dos países da Europa Ocidental, o nosso planeta será castigado. Independentemente de aqui habitarem alguns justos, perdão, sócios da Greenpeace com as quotas em dia. Pagarão à mesma pelas faltas dos pecadores, perdão, das pessoas que insistem em gastar água, tomando banho todos os dias. A ira divina, perdão, o aquecimento global, afecta toda a gente.
A tensão é palpável, como se viu nos vários autos-de-fé, perdão, manifestações nas ruas de Copenhaga. Há quem esteja mesmo convencido de que, se não se respeitarem os Dez Mandamentos, perdão, o Protocolo de Quioto, virá aí o Apocalipse, perdão, o aumento de dois graus na temperatura da Terra. A culpa, perdão, a responsabilidade é do Homem. Dizem que se não levarmos uma vida santa, perdão, sustentável, estamos condenados, perdão, lixados. Que temos de jejuar, perdão, de ter uma alimentação vegan. Que devemos fazer um voto de pobreza, perdão, ir a pé para o emprego. E que talvez seja preciso andar com um silício à volta do lombo, perdão, passar a usar o áspero papel higiénico reciclado. Quantas mais penitências, perdão, sacrifícios estúpidos sem qualquer relação causa-efeito com o problema do aquecimento global, melhor. Caso contrário, o Anjo da Morte, perdão, a Natureza, exterminará todos os primogénitos do Egipto, perdão, os ursos polares.
Os fiéis, perdão, as pessoas, acreditam nas profecias, perdão, nas previsões do Vaticano, perdão IPPC. Isto apesar das declarações dos blasfemos, perdão, dos cientistas cépticos que, com as suas heresias, perdão, investigações, põem em causa os dogmas, perdão, as teorias dos padres, perdão, activistas do aquecimento global. E também apesar de alguns missionários, perdão, cientistas, terem sido apanhados a corrigir o cânone, perdão, a aldrabar os dados.
Mas as pessoas andam cheiinhas de temor do Deus vingativo do Antigo Testamento, perdão, do medo da Natureza, que causa tsunamis porque alguém cometeu adultério, perdão, não pagou a “compensação de carbono” da última vez que andou de avião. Têm razão em ter medo? Bem, os presságios, perdão, os sinais estão aí: descobriu-se na semana passada uma estátua de Nossa Senhora a chorar lágrimas de sangue, perdão, uma fotografia da Angelina Jolie a chorar lágrimas de sangue. O mais grave é que esse sangue tinha o nível de colesterol altíssimo, típico de uma alimentação à base de comida não kosher, perdão, de junk food proveniente de multinacionais imperialistas. Ah! Se fôssemos todos crentes, perdão, verdes.
Resta-nos rezar, perdão, comprar um carro eléctrico, para evitar que se abata sobre nós “um dilúvio que, tudo inundando, eliminará debaixo do céu todo o ser animal com sopro de vida. Tudo o que existe na Terra, perecerá”. Tal como está escrito no Génesis, 7-16, perdão, 7-17.
Se uma árvore cai na floresta sem ninguém por perto, faz barulho? A árvore talvez não, mas um ambientalista dos que estiveram em Copenhaga, ui!, faz de certeza. E muito. Põe-se aos berros a dizer que a árvore caiu por nossa culpa. Porque não fomos bons, perdão, porque ainda não trocámos as lâmpadas antigas pelas económicas.
O discurso ambientalista actual é tão útil quanto um passageiro de avião histérico a gritar “vamos cair!” quando há turbulência. Se bem que um ecologista talvez ficasse contente se o avião caísse a meio da viagem, reduzindo a pegada de carbono em metade.
Agora se o Homem é, de facto, o maior responsável pelo aquecimento global, espero que aplique o know-how à indústria dos micro-ondas, inventando um que aqueça globalmente a comida, em vez de só parcialmente. Estou farto de comer sopa que está quente à superfície, mas gelada em baixo. Se se consegue fazer com um planeta, não há razão para não se fazer com uma canja.

Verde de inveja, por não ter sido eu a escrever isto...

8 comentários:

EJSantos disse...

Ah, ah! Genial. Bem podes ficar berde de inbeja, carago!

Eurico Moura disse...

Está giro. O tipo é genial, mesmo quando não tem razão; vou recomendar-lhe o meu micro-ondas...

Zéi disse...

E com este texto de que cor fica?

Carta de um chefe indio ao presidente dos EUA

O Presidente, em Washington, informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é possível comprar ou vender o céu, a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidada da água, como vocês poderão comprá-los?
Cada parte desta terra é sagrada para meu povo. Cada arbusto brilhante do pinheiro, cada porção de praia, cada bruma na floresta escura, cada campina, cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo.
Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra, e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo, e a grande águia são nossos irmãos. O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, pertencem à mesma família.
A água brilhante que move nos rios e riachos não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se lhes vendermos a nossa terra, vocês deverão lembrar-se que ela é sagrada.
Cada reflexo espectral nas claras águas dos lagos fala de eventos e memórias na vida do meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai do meu pai.
Os rios são nossos irmãos. Eles saciam a nossa sede, conduzem nossas canoas e alimentam nossos filhos. Assim, é preciso dedicar aos rios a mesma bondade que se dedicaria a um irmão.
Se lhes vendermos nossa terra, lembrem-se de que o ar é precioso para nós; o ar partilha o seu espírito com toda a vida que ampara. O vento, que deu ao nosso avô o seu primeiro alento, também recebe seu último suspiro. O vento também dá às nossas crianças o espírito da vida.
Assim, se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão mantê-la à parte e sagrada, como um lugar onde o homem possa ir apreciar o vento, adocicado pelas flores da campina.
Ensinarão vocês às suas crianças o que ensinamos às nossas? Que a terra é nossa mãe? O que acontece à terra acontece a todos os filhos da terra.
O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos. O Homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios delas. O quer que ele faça à rede, fará a si mesmo.
Uma coisa sabemos: nosso Deus é também o seu Deus. A terra é preciosa para ele e magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador.
O destino de vocês é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos forem todos sacrificados? Os cavalos selvagens,todos domados? O que acontecerá quando os cantos secretos da floresta forem ocupados pelo odor de muitos homens e a vista dos montes floridos for bloqueada pelos fios que falam? Onde estarão as matas? Sumiram!
Onde estará a águia? Desapareceu!
E o que será dizer adeus ao pônei arisco e à caça. Será o fim da vida e o início da sobrevivência.
Quando o último pele-vermelha desaparecer, junto com a sua vastidão selvagem, e a sua memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo sobre a planície ...
... estas praias e estas florestas ainda estarão aí? Alguma coisa do espírito do meu povo ainda restará?
Amamos esta terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe.
Assim, se lhes vendermos nossa terra, amem-na como a temos amado. Cuidem dela como temos cuidado.
Gravem em suas mentes a memória da terra tal como estiver quando a receberem.
Preservem a terra para todas as crianças e amem-na, como Deus nos ama a todos. Assim como somos parte da terra, vocês também são parte da terra.
Esta terra é preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas um Deus.
Nenhum homem, vermelho ou branco, pode sobreviver à parte. Afinal, somos irmãos.

Carmo da Rosa disse...

Como me tornei verde, de chatice.

Depois do quinto "perdão" passei-me, fui ver a bola, mas como os campos estão impraticáveis devido à neve, não há bola - uma foda...

Não tendo mais nada que fazer, pus-me então a ler a carta do chefe índio ao presidente dos EUA. Bem, fiquei com pena - não do índio mas do pobre presidente que se calhar teve mesmo que ler a carta toda até ao fim, coisa que eu não fiz, mas também não sou presidente dos EUA nem fiz mal a ninguém! Que eu saiba...

Eurico Moura disse...

Carmo da Rosa:
Você fez mal a muita gente, como todos nós, só que não sabe nem quer saber. O problema não é só seu, descanse.

Carmo da Rosa disse...

@ Eurico de Moura: «Você fez mal a muita gente, como todos nós, só que não sabe nem quer saber.»

Bom, é verdade, o mal dividido por todos não custa muito ao fim do mês...

Caro Eurico, tirou-me um pesar da consciência, precisamente o que eu estava a precisar para esta época natalícia...

Zéi disse...

Bem, só me resta dizer... Coitado de si carmo rosa, coitadinho.

Carmo da Rosa disse...

Zéi: «Bem, só me resta dizer... Coitado de si carmo rosa, coitadinho.»

Caro Zéi, com base nesta sua resposta, constato que os Gatos Fedorentos em coisas de humor ainda têm muito que aprender consigo…