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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Há um plano para imbecilizar as novas gerações?

Via Lisboa-Telaviv

A mim, parece-me óbvio. Trata-se de uma das relações parasíticas em que estamos inundados. Neste caso, a imbecilização dos alunos é fundamental para a manutenção de uma classe de militantes em assistencialismo, nova horda de timoneiros da classe operária.
Há sim. E esse plano tem sido desenhado e aplicado pelo Banco Mundial, OCDE, Comissão Europeia, Governo, ministros da educação, DGIDC, IGE, DRE, escolas e departamentos de educação e editoras de manuais escolares.

O plano persegue dois objectivos: tornar a educação pública mais barata e fornecer mão-de-obra dócil, conformada e ignorante para uma economia centrada em serviços rotineiros, com pouco valor e sem nenhuma criatividade. No mercado mundial globalizado, é esse o papel que cabe a Portugal no concerto das Nações.

As escolas e os departamentos de educação colaboram de duas formas: baixando os níveis de exigência à entrada dos cursos de formação de professores e oferecendo curricula carregados de generalidades e transdisciplinaridades vazias de conteúdos. Ganham espaço nos planos de estudos coisas como estas: matemática criativa, matemática contextual, matemática para a vida, estudo da comunidade e outras irrelevâncias.

O Governo e os ministros da educação colaboram no plano afogando os professores em burocracia com o objectivo de impedir que eles pensem, façam autoformação científica e esqueçam a sua missão: transmitir a herança científica, artística, tecnológica e humanista às novas gerações. Em nome da defesa de uma falsa inovação educativa, as escolas são afogadas em constante legislação e permanentes reformas curriculares. Cada nova reforma introduz mais confusão e cria obstáculos ao cumprimento da missão do professor.

As editoras de manuais escolares colaboram no plano pondo no mercado livros de textos cheios de bonecos e com um nível de aprofundamento dos conteúdos cada vez mais baixo. Em vez dos manuais serem repositórios de conteúdos apresentados de forma rigorosa e didacticamente apropriada ao nível etário dos alunos, são monumentos ao eduquês, à novilíngua e à imbecilidade.

A IGE, a DGIDC e as DRE colaboram no plano impondo planos de recuperação e de acompanhamento e respectivos relatórios que, regra geral, não passam de repositórios do eduquês acompanhados de mentiras piedosas sobre a recuperação de alunos que necessitariam de abordagens mais directivas e ambientes escolares menos relaxados.

38 comentários:

Diogo disse...

Quase completamente de acordo.

Lura do Grilo disse...

De acordo. Trata-se de formar uma mole acrítica e nivelada por baixo como convém à esquerda.

Eurico Moura disse...

De acordo. Trata-se de formar uma mole acrítica e nivelada por baixo como convém à direita e ao capitalismo internacional.

RioDoiro disse...

Está a ver o filme ao contrário, caro Eurico.

Só com gente (mais) intelectualmente desenvolvida se consegue o progresso de que o ocidente goza, justamente onde está instalado o capitalismo internacional.

Gente nivelada por baixo há em África, no Zimbabwe, na Coreia do Norte, etc.

Paulo Porto disse...

Caro ROD,

Já desde há algum tempo que penso isso mesmo, e aqui e ali já tenho dado esta opinião.

Concordo também com o seu comentário, embora lhe lembre que a educação para uma sociedade de servos é mais grave na europa que nos países que citou. O nosso EM é uma pessoa muito estímável, mas suponho que seja dos que se prefere projeger a fé imaginando que o 'animal farm' é uma sátira ao capitalismo.

Lura do Grilo disse...

A Educação da esquerda destina-se antes de mais a formar indivíduos obedientes ao Estado e a matar todo a capacidade criativa individual. Por isso a literatura, as artes, a arquitectura e a ciência em geral desenvolvidas na URSS foram menores que no Estado de Israel e a léguas dos EUA.

A paridade militar conseguida pela URSS com os EUA foi conseguida à custa de espionagem científica e 40% do orçamento.

Jorge Oliveira disse...

Em meu entender, a orientação que, desde há uns anos, tem predominado na Educação do nosso país, não tem nada a ver com ideologias de “esquerda” ou de “direita”. Aliás, o comportamento de partidos ditos de esquerda, como o PS, por exemplo, veio baralhar de tal forma as velhas noções de esquerda e direita que julgo que nem vale a pena recorrer mais a estes conceitos.

Mas acredito que existe um plano, se não para imbecilizar, pelo menos para afastar vastas camadas de jovens do acesso a um ensino de qualidade.

De facto, as famílias que tradicionalmente têm dominado o país receiam a competição dos seus filhos com os jovens oriundos das famílias mais pobres, que anteriormente não avançavam nos estudos muito mais do que a escola primária, ou que se limitavam a cursos profissionais, mas que, principalmente após o 25 de Abril de 1974, começaram a ter a ambição de ir mais longe.

Ora, as famílias dominantes sabem que num ambiente de igualdade de oportunidades os seus filhos, não obstante as vantagens de que usufruem à partida, num meio social mais apetrechado, podem não ter assegurados os lugares mais interessantes e melhor remunerados.

Para as famílias dominantes há que fazer tudo o que for possível para impedir que se desenvolvam as condições que podem levar à igualdade de oportunidades entre os seus filhos e os filhos dos “outros”.

Na medida em que se torna cada vez mais difícil contrariar o desenvolvimento e a habilidade física dos filhos da “plebe” (é possível meter uma cunha para o filho ser apresentador de televisão, mas não para ser titular de uma grande equipa de futebol) a melhor forma de travar os jovens das famílias de mais baixo extracto social é dificultar-lhes o desenvolvimento intelectual, desvalorizando o mais possível a aquisição de conhecimentos através da escola pública.

O Ministério da Educação não tem feito outra coisa desde o 25 de Abril. Com ministros de “esquerda” ou de “direita”, o objectivo é o mesmo : tornar o ensino público cada vez mais ineficaz. Os filhos das famílias dominantes têm a opção dos colégios particulares.

Sintomaticamente, Mário Soares, “pai” fundador da democracia portuguesa, homem de esquerda, que desde o 25 de Abril tem estado sempre ligado ao poder em Portugal, é proprietário de um importante colégio particular. Os governos que dirigiu, ou influenciou, nada fizeram pelo ensino público.

Assim, com consciência ou não do que têm vindo a fazer, os ministros da Educação em Portugal, desde o 25 de Abril, não passam de executores de políticas deliberadas de desvalorização do ensino público, políticas que não têm outro propósito senão debilitar a competitividade dos jovens oriundos das famílias mais pobres.

Eurico Moura disse...

Jorge Oliveira: Agradeço o seu comentário. Poupou-me uma quantidade de prosa.
RoD: Olhe que não, Dr. Quem alimenta os quadros que suportam o dito progresso, não só cá mas principalmente nos USA, são as escolas e universidades privadas pagas a peso de $$$, embora por cá ainda existam boas Universidades públicas que vão resistindo à asfixia económica e intelectual. Mas, cada vez mais, para se ser reconhecido na academia ou na profissão , tem de ser ir lá fora fazer uma pós-graduação numa universidade de prestígio privada e bem paga.
Além disso convém não confundir boa formação técnica e científica com boa formação intelectual. Já tive colaboradores que eram óptimos matemáticos mas que, pura e simplesmente, não sabiam como funcionava o mundo.

Go_dot disse...

(…) pura e simplesmente, não sabiam como funcionava o mundo.

Talvez um desenho ajude a esclarecer o assunto.

http://www.godot.150m.com/

Carmo da Rosa disse...

@ Jorge Oliveira: ”Educação do nosso país, não tem nada a ver com ideologias de “esquerda” ou de “direita”.”.

Creio que você tem razão, talvez a única coisa tipicamente de esquerda que se poderia imputar à actual educação em Portugal é a excessiva permissividade que não existia na anterior. A meu ver – mas não sou especialista no assunto, nem professor, nem vivo em Portugal – passou-se (muito depressa) de um autoritarismo tacanho para uma permissividade criminosa.

@ Jorge Oliveira: ”Mas acredito que existe um plano, se não para imbecilizar, pelo menos para afastar vastas camadas de jovens do acesso a um ensino de qualidade.”

Uma acusação grave, mas os seus argumentos parecem-me por enquanto lógicos. Mas ao contrário do autor do post inicial, creio que você se refere unicamente a Portugal, e não mete tudo (a Europa) no mesmo saco – com Banco Mundial, OCDE e Comissão Europeia metidos numa conspiração mundial para imbecilizar as novas gerações! Porque para uma pessoa acreditar nisto é preciso mais alguma coisa do que só dizer que é assim. Penso eu de que!

DGIDC, IGE, DRE! Pergunta de aluno imbecilizado, mas que já diz duas de inglês: what a fuck is this?

ml disse...

Sr. Carmo, vivemos no mundo das siglas.

DGIDC = Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular
IGE = Inspecção Geral da Educação
DRE = Direcção Regional de Educação


passou-se (muito depressa) de um autoritarismo tacanho para uma permissividade criminosa.

Pois passou, e essa é uma das explicações para a indisciplina e permissividade em Portugal. Em Espanha, que não está melhor do que nós, até poderá haver uns pozinhos do mesmo. Mas no Reino Unido, que tem tido as escolas públicas mais violentas da Europa, qual será a razão?

Olhe, as conspirações também não me convencem. Em matérias específicas nas quais pode haver um forte interesse comum e possibilidade de controle, ainda vá, agora em países tão diferentes, com culturas, actores, populações e objectivos tão divergentes, já é conspiração a mais. E então meter o Banco Central nos projectos de esquerda, é mesmo hilariante. Banqueiros vermelhos, sei lá.

Pode haver – e há - um entendimento geral quanto ao que se pretende com a educação, mas não me parece, mesmo que seja o sonho de qq senhor do Olimpo, que haja qq possibilidade de controlar os processos a nível local. O que a Albânia pretende da sua população não será o mesmo que pretende a Dinamarca.

Em Portugal, especificamente, não se pode generalizar porque a postura dos governos, no que respeita à educação, tem sido variada. Sabendo que lidam com uma população pouco exigente em tudo o que diz respeito à formação, em comum tiveram e têm a finalidade de mostrar serviço e apresentar números. Baratos, se possível. Distinguem-se depois na vontade de o fazer mantendo uma qualidade aceitável, de o fazer de qq maneira, atalhando caminho e destruindo tudo em volta se necessário, ou de o fazer com o objectivo específico de empurrar os que puderem ser empurrados para o ensino privado e aí sim, concentrar a herança nas mãos de uns tantos. E há ainda a combinação aleatória destes objectivos.

Houve ministros, de esquerda e de direita, que se empenharam em qualificar o ensino público, talvez porque acreditassem que era possível vencer a indiferença e recuperar o tempo perdido. Neste momento tudo vai no sentido contrário, esfrangalhar a escola pública e fabricar números sobre os destroços.

O processo nem sequer é novo e coloca-se com o alargamento da escolaridade a níveis mais elevados, a que nós ainda nem acedemos. Os Estados Unidos já o vivem há muito porque foram pioneiros na educação secundária generalizada e continuam atolados nele. Basta ver as discussões de dimensão nacional sobre os maus resultados sistemáticos em competência científica e matemática que os alunos americanos obtêm nos relatórios internacionais, muito perto dos dos portugueses. E a ideia de fundo será mesmo essa, para servir à mesa e fazer parafusos basta um plano de formação sem grandes sofisticações e exigências. Os futuros dirigentes e quadros educam-se no privado, pago a peso de ouro, e assim perpetuam o legado nas mesmas mãos e famílias.
Depois vêm os pedagogos e educadores que são uns chatos e refilam, e os media lá se entretêm com estas discussões épicas.

Na Europa o problema resultante da massificação do ensino também se tem discutido acaloradamente, embora de resultados muito irregulares de país para país porque as prioridades, interesses e valores das populações são muito diversos. Temos do melhor, a Finlândia, a Holanda, a Alemanha, etc., e do pior, a Itália, a Grécia, a Espanha, a Noruega. E Portugal, já agora.

ml disse...

.

Anónimo disse...

Os banqueiros são tão comunistas como o Stalin. :)

RioDoiro disse...

Caro Eurico.

Onde tentam as pessoas salvaguardar o seu futuro senão em paragens onde o capitalismo está mais desenvolvido?

O Eurico tem assim tanta dificuldade em perceber que à medida que o capitalismo e a indústria em geral mais se desenvolvem, melhor é o nível de vida das populações?

Tem muita dificuldade em perceber que onde o capitalismo mais é posto em causa, pior vivem as pessoas?

Parece-lhe que as indústria mais sofisticada aparece onde a mão de obra é mais imbecil?

Acha que o capitalista é estúpido a ponto de escolher os locais onde o analfabetismo funcional é galopante para instalar indústria que utiliza trabalho mais bem pago?

Ou o Eurico defende o analfabetismo por permitir a instalação de indústria de quarto mundo, apenas capaz de trazer trabalho de prego, martelo, e salário a condizer?

ml disse...

Os banqueiros são tão comunistas como o Stalin.

Internacionalistas. 'Uma terra sem amos' e pricipalmente sem controle.

RioDoiro disse...

ML:

"
Internacionalistas. 'Uma terra sem amos' e pricipalmente sem controle. "

Aí está uma excelente definição do princípio básico de liberdade.

No país das maravilhas da ML até a entrega (não poderia ser venda porque isso seria uma cedência aos sulfuroso capitalismo) de preservativos teria que ser aprovada, caso a caso, pela apropriada comissão de 'sábios'.

.

Carmo da Rosa disse...

@ ml: ”Mas no Reino Unido, que tem tido as escolas públicas mais violentas da Europa, qual será a razão?”

Talvez permissividade esquerdiana misturada com multiculturalismo galopante! Que tal?

@ ml: ”O que a Albânia pretende da sua população não será o mesmo que pretende a Dinamarca.”

Evidentemente.

@ ml: ”Sabendo que lidam com uma população pouco exigente em tudo o que diz respeito à formação, em comum tiveram e têm a finalidade de mostrar serviço e apresentar números.”

Nunca estive tão de acordo consigo.

Creio que é precisamente isso o grande mal e o único fim em vista: mostrar serviço e apresentar números. E quanto maior os números, melhor! Quanto maior o hiper-mercado, melhor! Os restaurantes idem, não é a qualidade que conta mas a quantidade! Isso reflecte-se também na blogosfera, não interessa muito a qualidade do conteúdo mas sim a quantidade de posts que se debita por semana…

MUCH IS BEAUTIFUL é a doença nacional – e, valha-nos Nossa Senhora, nisso estão todos de acordo, os de esquerda e os de direita.

E continuo à espera de uma resposta para saber se há realmente uma conspiração mundial – ou pelo menos europeia – para imbecilizar o ensino?

É que não sei bem se deva inscrever o meu filho no próximo ano escolar ou dar-lhe classes particulares em casa, para ver se ele fica mais espertinho que os outros, que seguem o ensino regular….

ml disse...

Talvez permissividade esquerdiana misturada com multiculturalismo galopante! Que tal?

Uma justificação muito típica... mas um little detail estraga tudo: é que a obsessão com os números e permissividade foi desencadeada, em Portugal, pela ‘outra senhora’, a D. Ferreira Leite, e no Reino Unido foi iniciada, continuada e concluída pela... Thatcher.
Surprise, surprise! A História é muita chata a estragar-nos as convicções.

A situação tem vindo a melhorar, o Blair esfarrapou-se para a reverter quando descobriu que não tinham professores, os britânicos não estavam lá muito receptivos a levar na cara por pouco dinheiro e muito stress. A Escócia foi a 1ª a reagir e a mandar a política da Thatcher às malvas.
Vai ver que a esquerda aqui é igual à direita de lá.


Isso reflecte-se também na blogosfera, não interessa muito a qualidade do conteúdo mas sim a quantidade de posts que se debita por semana…

Pois é, o que é demais passa a irrelevante, principalmente quando a quantidade não só não garante a qualidade como nem sequer garante fiabilidade.


E continuo à espera de uma resposta para saber se há realmente uma conspiração mundial – ou pelo menos europeia – para imbecilizar o ensino?

Também eu, sou um bocadinho refractária a conspirações. Não é que não saiba que existem umas boas, mas algumas são tão megalómanas que só uma concertação muito afinadinha conseguia pôr o Alasca a piar no mesmo tom que a Cochinchina.


É que não sei bem se deva inscrever o meu filho no próximo ano escolar

Para já não tenho resposta para si, preciso de estudar melhor a movimentação do Banco Mundial, mas pelo sim pelo não eu matriculava-o, a Holanda tem-se saído bem. Mas vá ficando de olho neles, quando vir os banqueiros de punho no ar ou a citar o Josué de Castro, já sabe que está em curso um pacto com a esquerda para entorpecer a juventude. Aqui já fomos apanhados.

EJSantos disse...

"A História é muita chata a estragar-nos as convicções. "

Sim, pode ser. MAs é sempre uma boa inspeiração, e uma fonte de ensinamentos. Para quem gostar, claro.
Quanto ao ensino, sou um pouco refratario a teorias da conspiração, mas gostei do dialogo. PArece-me que a massificação do ensino e a ansia de apresentar resultados (mesmo a martelo) poderá explicar a degradação da escola.

EJSantos disse...

"inspeiração"? Ups, queria dizer inspiração!

Carmo da Rosa disse...

@ ml: ” Uma justificação muito típica...”

Não era uma justificação, era uma pergunta! E eu não tenho assim tantas convicções para estragar. Só duas. Não quero comunismo nem fascismo porque acaba sempre em Gulags, nem quero islamismo porque além de acabar em Gulags, não se pode beber tinto, comer bom presunto e as raparigas na primavera não podem andar de mini-saia. A história, como diz o ejsantos, é que nos ensina.

Mas então, estamos de acordo que em Portugal passamos, muito rapidamente, de um autoritarismo tacanho para uma permissividade criminosa. E se assim é, diz você que foi então a D. Ferreira Leite que, e contra a vontade de todos, depois do 25 de Abril de 74 desencadeou toda esta onda de permissividade de que sofre o ensino em Portugal actualmente?

A Thatcher pode ser acusada de muita coisa, mas de permissividade? Tem a certeza? Cara ml, não estará você já, inconscientemente, sob a influência perniciosa das teorias da conspiração que inspiraram o post inicial? Não será isto também uma conspiração?

@ ml: ”…mas pelo sim pelo não eu matriculava-o, a Holanda tem-se saído bem.”

E que tal matricula-lo e ao mesmo tempo comprar-lhe um Magalhães – nunca se sabe…

Eurico Moura disse...

RoD:
Desculpe lá mas não entendo o seu comentário que me é dirigido.
Mas já agora lhe digo que não pode só olhar para as indústrias que exigem um alto grau de especialização. Mesmo nessas (QUIMONDA pexpl) de pouco vale aos operários a sua alta especialização. Ficam no desemprego, ainda mais inadaptados.
Como deve saber grandes indústrias de calçado, vestuário, montagem electrónica e tantas outras, não exigem grande conhecimento escolar para operar as máquinas. Por isso facilmente vão para países do 3º mundo emergente.
Quanto ao nível de vida dos países capitalistas ser proporcional ao sua fé no paradigma, carece de esclarecimento porque as grandes indústrias desses paraísos, instalam as suas unidades produtivas em países mais pobres e mais atrasados. Deve ser pela sua generosidade.

Eurico Moura disse...

RoD: E também gostava que me dissesse quais os países não capitalistas que tinha em mente nesse comentário. Com indústria desenvolvida só conheço a China. Será que eles não tem um bom nível de vida?

RioDoiro disse...

EM:

"Por isso facilmente vão para países do 3º mundo emergente."

A alta tecnologia produzida por quem apenas sabe pregar pregos?

"Ficam no desemprego, ainda mais inadaptados."

Será cada vez pior. A "Europa" resolvei formar um 'país' para "ir à globalização impor as suas regras" (de memória citando Ana Gomes - assunto aqui longamente debaido no passado).

A "Europa" é um projecto falhado à nascença onde também isso vai acontecer ao ritmo apropriado. Vai demorar tempo, mas vai acontecer. A "Europa" pretende isolar-se dos mecanismos de mercado mundiais e comete suicídio.

"Como deve saber grandes indústrias de calçado, vestuário, montagem electrónica e tantas outras, não exigem grande conhecimento escolar para operar as máquinas."

Diz o Eurico. As de cablagens não. Mas isso não é electrónica.

"instalam as suas unidades produtivas em países mais pobres e mais atrasados."

Naturalmente. À medida que esses países não progredindo vão ocupando o lugar dos que já passaram por essa fase. O nosso caso tem o pior de ambos os casos. Não temos know-how para acompanhar/oferecer a instalação das que deveriam estar ao nosso alcance (vindas de locais que passaram a uma fase mais desenvolvidas) mas pretendemos ganhar como se tivéssemos.

Estamos, em termos de know-how ao alcance das que se deslocam para o terceiro mundo, mas não queremos receber os correspondentes salários.

"porque as grandes indústrias desses paraísos, instalam as suas unidades produtivas em países mais pobres e mais atrasados."

Evidentemente. Darão lugar a outras de mais alta tecnologia que, a seu tempo, de deslocalizarão também.

Nós estamos no caminho desse movimento de empresas/projectos. O problema é que as nossas 'especificações' como país nos deixam sem clientes (empresas em deslocalização). Vão-se embora sem que outras se mostrem interessadas.

Evidentemente que o nosso problema não é apenas de know-how/salários. E de um estado pisa-papéis, justiça que não funciona, carga fiscal sufocante (tendo em atenção a produtividade) e fisco que faz o que lhe apetece sem que nada aconteça - a não ser em tribunal 20 anos depois.

E a corrupção ...

RioDoiro disse...

Mas, diga lá, porque acha que as pessoas, em busca de melhor vida, se encaminham para os países mais capitalistas?

Esperar-se-ia que houvesse problemas fronteiriços emtre a Europa e África por haver demasiadas pessoas a fugir para África.

O Eurico está também convencido que o muro de Berlim foi construído para evitar que os alemães ocidentais invadissem a Alemanha "democrática"?

ml disse...

A história, como diz o ejsantos, é que nos ensina.

Pois é, dá-me razão. Por isso tem que rever as coordenadas do piloto automático e desactivar as convicções prêt-a-porter, porque erra. Estes processos da educação nada tiveram a ver com as opiniões pessoais dos governantes ou com ideologias, mas com objectivos. A permissividade que refiro não é nem deixa de ser a da Thatcher ou a da ‘outra senhora, mas do sistema por elas desencadeado com determinados fins.

À Thatcher saiu-lhe o tiro pela culatra, porque a falta de autoridade dos professores e das escolas por ela programada, desencadeou aquela violência que nos habituámos a ver nos ingleses quando a torneira se abre (esta frase não é apenas literal) e a qualidade escolar veio por ali abaixo. Os professores fugiram, tiveram que recrutar gente no antigo império e até nos jornais portugueses apareceram ofertas.
Mais tarde a D. Lurdes tentou fazer por cá o mesmo, um dos secretários de estado chegou a dizer que não havia problemas se acontecesse em Portugal o que tinha acontecido no Reino Unido, o Brasil era um bom fornecedor de mão-de-obra desejosa de trabalhar.

A situação melhorou um pouco mas, talvez a par da Espanha - porque a percepção e medição da agressividade são sempre falíveis - o Reino Unido continua a ser, na Europa, o sistema escolar com mais problemas de violência generalizada e falta de autoridade nas escolas públicas.
Ela própria reconheceu mais tarde, nas memórias, que as medidas lhe renderam ‘tão grande animosidade pública para tão poucos ganhos políticos’.
Já foi tarde.

Por cá estava a ‘outra senhora’ de turno quando, pressionada pela Comunidade Europeia devido a números de escolarização miseráveis perante o resto da Europa, ‘modernizou’ também o sistema mas à portuguesa. Os tempos ainda não estavam maduros para actuar com a virulência da Thatcher, mas os documentos que despachou para as escolas a ridicularizar a avaliação com base nos conhecimentos e a pressionar o chuto em frente, são uma vergonha. Nesse ano a legislação fabricada à medida obrigou a passar praticamente todos os alunos. Está tudo registado em documentos e nas pautas nacionais.

Quanto ao Magalhães – e não entrando nas trafulhices da adjudicação e nas embrulhadas socretinas – não estou contra a sua generalização aos mais novos como instrumento complementar. Afinal representa a ferramenta de futuro, desde que a aprendizagem não se alicerce em máquinas mas sim na massa cinzenta. O que não aconteceu com as calculadoras, hoje várias gerações escolares ressentem-se amargamente dessas leviandades, mal sabem somar e muito menos subtrair ou multiplicar. Já nem falo em dividir. Um dia destes uma menina com o 9º ano foi incapaz de me dar 10 cêntimos de troco sem recorrer à máquina.

O problema é que em Portugal tudo se mistura numa massa informe e a certa altura ninguém sabe em que pé está. É atávico.

Eurico Moura disse...

Quando já não houver países atrasados para o capitalismo salvar, irão, talvez, para Marte deixando por cá os párias desempregados junto com os pequenos comerciantes.
Acho que os senhores RoD e Lidador já lá moram. Que 2010 os inspire!

RioDoiro disse...

Caro Eurico,

Não corro esse risco porque parece ser inerente à coisa humana parir salvadores iluminados capazes de arrastar multidões ao abismo. Países, mesmo continentes, vão-se periodicamente deixando arrastar para a luta contra o capital e vão-se desfazendo em terra de ninguém.

Já sei, já sei. A ideia era boa, a implementação falhou porque o bicho é imperfeito.

Carmo da Rosa disse...

@ ml: «A permissividade que refiro não é nem deixa de ser a da Thatcher ou a da ‘outra senhora, mas do sistema por elas desencadeado com determinados fins.»

Cara ml, você está a falar em alhos e eu em bugalhos!

A permissividade a que eu me refiro era um AR DOS TEMPOS nos anos 60, foi o fenómeno que desencadeou o movimento hyppie nos EUA e na Europa do Norte, e o Maio de 68 em Paris por exemplo...

Não estou a ver o que é que a Thatcher ou a doutora Ferreira Leite possam ter a ver com isto...

Você refere-se a trafulhices com números para fins políticos, muitio bem, mas isso não é permissividade, isso é pura e simplesmente corrupção...

ml disse...

Meu caro Carmo da Rosa, o seu piloto automático está a dar o dito por não dito ou a desviar para bugalhos.


A meu ver … passou-se (muito depressa) de um autoritarismo tacanho para uma permissividade criminosa.

Onde entram aqui os anos 60 ou os hippies? Por muito que lhe custe, em Portugal a ‘permissividade criminosa’ nas escolas não pegou de estaca com o 25 de Abril, foi bastante mais tarde.
Continuemos.


CdR: … talvez a única coisa tipicamente de esquerda que se poderia imputar à actual educação em Portugal é a excessiva permissividade que não existia na anterior.
ML: Mas no Reino Unido, que tem tido as escolas públicas mais violentas da Europa, qual será a razão?
CdR: Talvez permissividade esquerdiana misturada com multiculturalismo galopante! Que tal?


E é só. Pelos anos 60 todos os países passaram e no resto da Europa até vividos muitíssimo mais intensamente do que em Portugal. O que nem todos tiveram foi o azar de lhes aparecer pela frente, duas e três décadas mais tarde, gente com a inabilidade política de uma Thatcher e de uma Ferreira Leite para lidar com a necessidade de alargamento.

A Thatcher já confessou o falhanço, a outra senhora continua aí convencida de que é uma grande política.

Carmo da Rosa disse...

”Onde entram aqui os anos 60 ou os hippies?”

Entram perfeitamente. A permissividade a que EU me refiro - não faço a mínima ideia a que VOCÊ se refere! - enquadrava-se perfeitamente no ‘ar dos tempos’, só que em Portugal estes fenómenos acontecem muito mais tarde.

Logo a seguir ao 25 de Abril tivemos os saneamentos, que também atingiram o ensino. Ao mesmo tempo os alunos começaram, à semelhança do que já tinha acontecido em 68 em Paris, a exigir voto em toda a matéria – e quem não colaborasse era inevitavelmente FACHISTA….

Veja se entende, trata-se de uma
mistura explosiva entre complexo de édipo, cabelos compridos, flores, peace, love, drogas, marxismo e luta de classes.

Cá está a tal permissividade (tipicamente de esquerda) que não existia no ensino em Portugal no tempo (tacanho) da outra senhora.

As mesmas asneiras baseadas no mesmo fenómeno passaram-se também no ensino holandês, e só nos últimos vinte anos é que os especialistas tem coragem para quebrar o ‘tabu’ permissivo – e que eu saiba, nem a Thatcher nem a doutora Ferreira Leite por cá andaram, nem tão pouco deixaram uma escola de pensamento…

A Thatcher é certamente uma grande política, basta citar um feito: o ter quebrado o monopólio dos sindicatos. A outra doutora não faço a mínima ideia o que fez na vida ou o que pensa fazer…

ml disse...

Veja se entende

Está bem, pronto, eu vou esforçar-me por entender. Não é fácil, mas tentar não custa. Principalmente como é que o raio dessa mistura explosiva de que fala entrou em Portugal e no Reino Unido pela mão dessas duas senhoras.

É, a Thatcher é grande, tão grande e tão interessante como o muro de Berlim que ela queria conservar à sua imagem e semelhança.

RioDoiro disse...

"Logo a seguir ao 25 de Abril tivemos os saneamentos, que também atingiram o ensino. Ao mesmo tempo os alunos começaram, à semelhança do que já tinha acontecido em 68 em Paris, a exigir voto em toda a matéria – e quem não colaborasse era inevitavelmente FACHISTA….

Veja se entende, trata-se de uma
mistura explosiva entre complexo de édipo, cabelos compridos, flores, peace, love, drogas, marxismo e luta de classes."

Nem mais.

Há ainda um tempero que ajuda ao índice de explosividade: uma boa parte dos professores, provavelmente a maioria, está convencido que isso faz sentido.

Não gostam das consequências, mas acham que é assim que está bem.

Repare-se que, quando no auge da "luta", há um par de anos, ainda se falava do putedo que, entretanto, se foi instalado na sala de aula. Neste momento esse assunto desapareceu. Apenas o 'soldo' é assunto em negociação. Carreiras, progressões, etc. Mas nunca sobre o putedo.

Carmo da Rosa disse...

@ ml: ”como é que o raio dessa mistura explosiva de que fala entrou em Portugal e no Reino Unido pela mão dessas duas senhoras.”

ml, para perceber vai ter primeiro que esquecer as duas senhoras, que nada têm de explosivo. A prova que a mistura entrou em Portugal é que até a mim me afectou, é claro que quando me pirei para a Holanda a coisa acentuou-se – estava num ambiente mais propício…

Outra coisa que eu gostaria que entendesse é que sou de opinião que nem tudo, nesse Ar do Tempo, era mau. Na minha opinião havia uma necessidade legítima na juventude da época de cortar com a mentalidade tacanha dos anos 50, que já não correspondia às necessidades dos anos 60-70.

Exemplo, as canções dos Beatles iam mais ao encontro – mesmo percebendo só metade daquilo que eles diziam – da nossa mundivisão do que as pieguices do António Calvário e do João Maria Tudela. Que houve derrapansso e aproveitamento político é outra conversa, mas também interessante.

@ range: ”Há ainda um tempero que ajuda ao índice de explosividade: uma boa parte dos professores, provavelmente a maioria, está convencido que isso faz sentido.”

Porque a maioria dos professores, como eu, foi formatada à esquerda. Mas já se nota uma mudança, pelo menos por cá! A próxima geração já não é assim – é pior (just kidding!).

@ range: ”Repare-se que, quando no auge da "luta", há um par de anos, ainda se falava do putedo que, entretanto, se foi instalado na sala de aula. .”

Putedo? Na sala de aula? Não estou a entender, o que é que você quer dizer?

ml disse...

Que houve derrapanço o e aproveitamento político é outra conversa, mas também interessante.

Pois houve, mas não tem muito a ver com isto de que falo. Os anos 60 tiveram os seus efeitos, as sociedades de um modo geral ‘dulcificaram’ e abriram-se mais aos indivíduos (o tema do outro post), a mentalidade flower-power transmitiu algum peace&love, alguma permissividade social e política, bla, bla, mas tb alguns valores que eu prezo. Mas esta violência e falta de autoridade que encontramos nas escolas hoje – e falo de Portugal e do Reino Unido - só se fizeram sentir a partir do momento em que houve necessidade de alargar a escolaridade e reformar o ambiente interno, que era extremamente selectivo mesmo nas escolas públicas.

Os anos 60 já lá vão há muito, a necessidade de fabricar números rapidamente, diluindo a autoridade escolar e a capacidade de contestação aos novos parâmetros de avaliação, é muito mais recente em Portugal.
O RU, para colocar as escolas no mercado e poupar dinheiro, desautorizou completamente os professores, de que afinal precisava, deixando-os de rastos perante a opinião pública e sem voz interna, à mercê da violência crescente. Deu o resultado que lhe disse.

Não posso deixar as outras senhoras em paz porque o que hoje se vive não é herança directa dos hippies, mas de medidas tomadas bastante mais tarde. Os outros países, pelos vistos, foram mais felizes na pessoa a quem encomendaram o processo.


Porque a maioria dos professores, como eu, foi formatada à esquerda. Mas já se nota uma mudança, pelo menos por cá! A próxima geração já não é assim – é pior (just kidding!).

Continua a analisar a situação em Portugal recorrendo ao piloto automático. São precisamente os professores ditos 'soissantards' quem mais se opõe ao que se passa hoje nas escolas. Não sei se ensinariam melhor, talvez não fossem é tão permissivos.

RioDoiro disse...

CdR:

"Putedo? Na sala de aula? Não estou a entender, o que é que você quer dizer? "

Bem, entenda nos dois sentidos, o figurado e o próprio (em menos quantidade). Regra geral não são pagas, mas algumas aceitam pagamento em carregamento de telemóvel.

Carmo da Rosa disse...

@ ml: ”esta violência e falta de autoridade que encontramos nas escolas hoje – e falo de Portugal e do Reino Unido - só se fizeram sentir a partir do momento em que houve necessidade de alargar a escolaridade e reformar o ambiente interno, que era extremamente selectivo mesmo nas escolas públicas.”

Vou resumir, para ver se percebo a coisa de forma simplista – à minha maneira.

Alargaram a escolaridade a classes sociais………mais violentas sem saber como lidar com esta gente, que tinha como palavra de ordem “O canudo ou a vida”.

Ora, como a política também estava interessada em apresentar o maior número possível de ‘sucesso’ escolar, salvou a vida e começou a distribuir canudos por dá cá aquela palha….

Resultado, as jovens académicas, para sobreviver, já que o canudo estava terrivelmente inflacionado, começaram a prostituir-se.

A oposição na Assembleia Nacional pela voz do puritaníssimo Francisco Louçã aproveitou o facto para criticar o governo:

“ - Temos a situação tão degradada com os valores éticos, sociais e morais a ser postos quotidianamente em causa por este Governo, que até universitárias começaram a prostituir-se.”

E foi nessa altura que Sócrates fez o seu melhor discurso de sempre:

“- Em primeiro lugar, este Governo não recebe lições de ética, nem quaisquer outras de ninguém; em segundo lugar e como é apanágio de V. Ex.ª que já nos habituou à distorção sistemática da realidade, o que acontece é exactamente o oposto: a situação é tão boa que até as prostitutas já são universitárias.”

@ ml: ”São precisamente os professores ditos 'soissantards' quem mais se opõe ao que se passa hoje nas escolas.”

Os ‘soixanthuitards’ são em Portugal os que mais se opõe à bandalheira que o Nuno Crato e o Medina Carreira falam? Que Deus a oiça, sendo assim ainda não está tudo perdido…

ml disse...

Não percebi nada do seu enredo, há uns detalhes meio pitorescos que me escapam, mas pelo menos é original.

Sim, que deus me ouça, e ao Nuno Crato que é soixantard.