Actualização.
A pedido de várias famílias. aqui vai, na íntegra, a resposta de Miguel Champalimaud.
Apreciadores de Vinhos e Outros
Assunto: ScrewTop /TampadeRosca /Quinta do Côtto
Na sequência da recente campanha publicitária ao vinho Quinta do Côtto, chegaram-me algumas reacções à mesma.
Sendo minha opinião que todo o debate de ideias, é útil, é com agrado que a ele me submeto, respondendo directamente àqueles que se me dirigiram e indirectamente àqueles que sobre a matéria, vinho e vedantes, têm curiosidade e opinião.
Para simplificação da elaboração dos meus comentários/resposta às reacções, dividi-os em quatro grandes tipos, a saber:
A. A gente da indústria corticeira, ex. APCOR, Ecologicalcork.com, Empregados das Corticeiras, etc, etc,.
B. A gente do Viva a Pátria, ex. cortiça produto nacional, a preservação do montado de sobro, do ambiente, de todo um sistema socioeconómico das zonas rurais de Portugal, ecossistemas únicos, etc, etc.
C. A gente da tradição dos costumes, do produto natural, etc, etc.
D. A gente da retaliação e boicote, etc, etc.
ROBERT PARKER disse:
“Acredito que em 2015, vinho engarrafado com rolhas será uma minoria. A indústria da cortiça não investiu em técnicas que evitem a transmissão ao vinho do sabor e aroma a rolha, que arruínam até 15% de todo o vinho engarrafado”.
Eu, MIGUEL CHAMPALIMAUD, digo:
“Sou a favor da inovação, da qualidade e modernidade do vinho”;
“sou a favor da verdade achando que chegou a altura de assumirmos, ao nível da indústria-vinícula, o que há mais de 40 anos, por razões óbvias, se usa em todas as universidades e ou centros de investigação vinícola, os screwtops/tampasderosca, único sistema vedante que garante eficazmente o não contágio do vinho que se encontra na garrafa, por produtos aromas e sabores que lhe são estranhos”;
“sou a favor da eficácia e produtividade e contra as falácias e os preconceitos que só defendem e servem aqueles que estão instalados à custa do bem-estar e pobreza de terceiros”;
“numa garrafa de vinho, a rolha é apenas uma matéria subsidiária, um vedante que deveria preservar o vinho que a garrafa contém e nunca arruiná-lo”;
“sou a favor dos ventos da História, recusar o progresso científico e tecnológico de nada serve, nem serviu então àqueles que, no seu tempo, foram a favor da destruição das máquinas a vapor”.
1. Dito o que, é minha convicção, sinto e penso, permitam-me deduzir e aduzir alguns argumentos e factos sobre a matéria, screwtops/tampasderosca versus rolhas de cortiça, a saber:
1.1 A gente da indústria corticeira é a única responsável pelas dificuldades com que se debate a rolha de cortiça e os produtores de cortiça. Ao não investirem há muitos anos na qualidade e fiabilidade do produto e aumentando desmesuradamente os preços das rolhas, abriram espaço aos novos vedantes nomeadamente às screwtops/tampasderosca. Os produtores de cortiça constituindo o elo mais fraco do sistema, não deixam de ser responsáveis de, pela sua falta de reacção, individualismo e passividade, terem permitido que se tenha constituído um quase monopólio no lado da industria que, abusando da sua posição dominante a montante e a jusante, sugou até ao tutano a industria vitivinícola nacional e internacional.
1.2 A gente do viva a Pátria como sempre e é próprio da História recente de Portugal, é um grupo social, reaccionário, que a coberto do amor dos outros pela pátria e do interesse dito nacional, se enriquece diariamente, empobrecendo todos os dias todo o país, pelo que nada mais há para lhe dizer, a não ser que há muito, ninguém acredita neles.
1.3 A gente da tradição dos costumes, do produto 100% natural, não resiste à realidade dos factos que todos vêem e eles não querem ver. Como todos sabemos na indústria vinícola, a rolha de cortiça como vedante de vinho, não é parte da tradição e costume. Há poucos anos (40 a 50), a tradição e o costume do vinho em todo o lado, era ser servido e bebido a partir da pipa, pelo que cai pela base a alegada ancestral tradição e costume de vedar as garrafas de vinho com rolhas de cortiça. Quanto ao 100% natural, não vêem nem querem ver o que todos na industria da cortiça e vinícola sabem há muito - todas as rolhas de cortiça são hoje tratadas com diversos produtos químicos, visando obter rolhas que em contacto com o vinho não lhe transmitam poeiras, odores e sabores alheios ao vinho que é suposto preservar, como vedante da garrafa em que são utilizadas.
Cito um pequeno exemplo constante do site Lusowine.com, António Amorim, defendendo como lhe compete a indústria da cortiça, falando das rolhas técnicas como a grande solução, diz: “Nas colagens são utilizados aglutinantes quimicamente estáveis, e mecanicamente muito resistentes”.
Diria, eu, pela indústria corticeira, são utilizadas colas químicas estáveis, segundo o Senhor António Amorim, o que não nos garante nada, na medida em que o Senhor António Amorim é interessado directo na afirmação de que tais aglutinantes ou melhor dizendo, colas, são quimicamente estáveis e não vão mais tarde ou mais cedo transmitir odores e sabores ao vinho com o qual por força das coisas estão em contacto.
1.4 A gente da retaliação e boicote, não representam mais do que a reacção de um grupo de pessoas com falta de informação e ou a mando e no interesse de terceiros que, na falta de argumentos sólidos para atacarem o moderno sistema dos screwtops/tampade rosca e defenderem o antiquado sistema de rolha de cortiça com o seu elevado deficit de fiabilidade/qualidade e custo 5 a 9 vezes mais elevado que o screwtops/tampaderosca, fazem consciente ou inconscientemente, o jogo de quem, ao abrigo de um quase monopólio e permanente abuso de uma posição dominante, usa e abusa da indústria vinícola nacional e internacional, enriquecendo ilicitamente à custa do empobrecimento daquela.
2. Antes de terminar, a título pedagógico e para reflexão de todos os interessados, deixo factos, comentários e perguntas que abaixo se transcrevem e que agradecia originassem reflexão, comentários e respostas:
2.1 a tampaderosca evita mão de obra penosa em casa e na industria hoteleira;
2.2 a água mineral com gás ou sem gás, há muito que deixou de usar cortiça como vedante;
2.3 a cerveja há muito que deixou de usar cortiça como vedante;
2.4 os medicamentos há muito que deixaram de usar cortiça como vedante;
2.5 os refrigerantes há muito que deixaram de usar cortiça como vedante;
2.6 uma tampa-de-rosca custa cerca de 1/5 a 1/9 de uma rolha de cortiça e a respectiva cápsula;
2.7 um produtor de vinho paga mais dinheiro por uma rolha de qualidade do que recebe pela venda a granel do respectivo vinho (refiro-me a 0,75 lt);
2.8 de acordo com dados da industria estima-se que cerca de 65% do vinho engarrafado vendido no mundo é comprado por mulheres;
2.9 estima-se ainda que 75% das mulheres que compram e bebem vinho têm dificuldade em abrir uma garrafa de vinho usando um saca rolhas;
2.10 de acordo com o norte americano Robert Parker, famoso apreciador e avaliador de vinhos, até 15% de todo o vinho engarrafado e vedado com rolhas de cortiça, está afectado com sabores e aromas estranhos ao vinho;
2.11 porque é que ninguém protesta ou boicota a industria de água mineral, cerveja, refrigerantes, medicamentos que deixaram de usar a cortiça como vedante?
2.12 porque será que todos aqueles sectores industriais deixaram de usar a cortiça como vedante?;
2.13 porque é que na indústria da construção não se usa, em Portugal ou no mundo, a cortiça como isolante?;
2.14 Porque é que na indústria da construção se usa, em Portugal e no mundo, como isolante produtos derivados do petróleo?;
2.15 Se for comprar uma garrafa de água mineral e tiver oportunidade de escolher entre uma garrafa vedada com rolha de cortiça e outra com tampaderosca, ao mesmo preço, qual delas compra?;
2.16 idem para garrafas de leite?;
2.17 idem para garrafas de cerveja?;
2.18 idem para garrafas de refrigerantes?;
2.19 Se comprar uma televisão para sua casa, compra também um armário para a pôr lá dentro, como fazia a sua avó ou avô nos anos 60?;
2.20 Quando vai comprar ou abrir uma garrafa de vinho fá-lo na expectativa de comer/beber a rolha?;
2.21 numa garrafa de vinho barato ou caro o que é mais importante, a qualidade intrínseca do vinho que lá está dentro, ou o vedante ser uma cara rolha de cortiça ou uma tampaderosca moderna barata, fiável e eficiente?
16 DEZ 2009
16 comentários:
Bom 2010 aos contribuintes do Fiel Inimigo. É um prazer ler-vos.
Abraço
Um abraço com chapelada, caro Levy.
A malta dos menorás também bebe uns copos e filhoses nesta altura?
«parece-me interessante esta resposta de Miguel Campalimaud.»
Range, isto é o maior ‘understatement’ de 2009!!!
O Miguel Champalimaud arrasa completamente o cartel, a máfia da Rolha de Cortiça. O texto dele merece ser publicado na íntegra…
Eu não percebo nada de rolhas, nem faço parte dos grupos de cromos que o Miguel Champalimaud caracteriza, acho que ele argumenta racionalmente, mas reconheço que uma garrafa de vinho com tampa de rosca me perturba um pouco, não sei, se calhar estou condicionado a ver aquilo como produto da fraca qualidade, tipo Teobar, ou coisa que o valha.
É como os copos...um vinho bom não se pode beber por uma caneca de café...o produto é o mesmo, mas o recipiente define um contexto.
@ Lidador: …reconheço que uma garrafa de vinho com tampa de rosca me perturba.»
A mim perturbava-me. Mas há dois anos que me deixou de perturbar definitivamente quando comecei a beber um tinto australiano com tampa-de-rosca baratinho mas absolutamente excelente, e sem a mínima alteração de qualidade de garrafa para garrafa…
Ao contrário do que acontece, mais frequentemente do que se deseja, com vinhos caros a saber a rolha! Ou então a rolha parte-se e só sai à martelada, obrigando-nos a passar o vinho por um filtro de café…
Mas reconheço que também tenho as minhas perturbações: copos só redondos; chuteiras, só pretas, e não aquelas mariquices cor de laranja, salvo seja, que usa o Cristiano Ronaldo; batom prós lábios, assim como verniz prás unhas, só encarnado vermelhão…
@cdr"um tinto australiano com tampa-de-rosca baratinho mas absolutamente excelente"
O yellow tail não é mau.
O texto do Champalimaud está magnífico, especialmente a classificação ABCD.
Eu comprei em 2008 um almanaque de enólogos holandeses, OS MELHORES VINHOS ATÉ CINCO EUROS. O Yellow Tail não conhecia mas vejo que está assinalado com sendo um bom vinho. Eu bebo Hardy’s, que também é mencionado e que ainda é mais barato que o Yellow Tail.
Também são aconselhados uma série de vinhos portugueses, alguns deles até receberam UMA estrela: Lello 2005 Douro tinto; Riba Red 2005 Ribatejo tinto; Villa Regia 2006 Douro branco.
Com TRÊS estrelas (o máximo): Vinha do Putto 2005 Bairrada tinto e Quinta da Espiga 2006 Estremadura branco.
A Casa Ermelinda Freitas tem ganho vários prémios nos concursos mais prestigiados do mundo com as nossas principais marcas: Terras do Pó, Dona Ermelinda e Quinta da Mimosa. Recentemente conquistámos o prémio de melhor tinto do mundo no concurso Vinailes Internacionales com o nosso Syrah 2005.
Com rolhas de cortiça...
Caro Eurico Moura, ganhamos com rolhas de cortiça, agora imagine o que não seria com tampas de rosca que não dão cabo do vinho - bem, seria o melhor vinho do século...
Tretas!
Misterio Malbec 2008
Pascual Toso Malbec 2008
Argentina usa rolha de cortiça.
Coca Cola usa tampa de rosca.
Beba Coca Cola e deixe o vinho para os tipos de mau gosto!
Caro Eurico,
Parto do princípio que se refer à minha pessoa:
Bebo Coca-Cola sim senhor, quando estou mal do estômago de tanto comer e beber (vinho tinto)... Melhor remédio para o estômago não há.
Por falar em remédios, já reparou que actualmente os frascos com medicamentos têm sempre tampa de rosca? Porque é mais higiénica, porque não interfere com o conteúdo.
Então porque razão é que uma grande pomada - na realidade um medicamento para a alma - não deveria ser protegida por uma tampa de rosca?
Já reparou que apesar do motor de explosão ser óptimo há malta que adora andar à vela, montar cavalos, passear de bicicleta e até a pé?
Já reparou que apesar do motor eléctrico ser económico, não poluente, e seguro, os automóveis continuam a usar motores de explosão, contrariando assim o progresso e a comodidade?
Manias...
Caro Eurico,
As manias que aponta não são iguais.
Ter um motor eléctrico num carro* é o mesmo que ter um barco sem que haja água.
Manias.
....
*A não ser que o carro tenha motor a explosão e o motor eléctrico não sirva para locomoção.
@ eurico de moura: ”Já reparou que apesar do motor de explosão ser óptimo há malta que adora andar à vela, montar cavalos, passear de bicicleta e até a pé?”
Precisamente, vejo que estamos de acordo. Mesmo sabendo que a tampa de rosca é mais prática, mais higiénica e muito mais barata, há sempre malta que adora o ritual de enfiar um saca-rolhas na garrafa e toca de puxar… manias!
Já agora devo esclarecer que a melhor embalagem para o vinho são os pacotes tipo Tetra Pak em que não entra ar na embalagem depois de aberta. Há quem venda vinho assim embalado, mas de qualidade corrente...
A lógica da rolha!
RoD: Não seja torcido! Claro que carros eléctricos implicam postos de carga. Muitos! E centrais de geração...
Assim como rolhas implicam muitos sobreiros e motores de explosão muito petróleo.
Não sei se me faço entender. A bondade das soluções não passa pela ciência mas sim pela economia.
Torcido? :)
Torcido vai ser o novo "carro" a bateria quando eu o resolver 'abordar'. Parece que vai custar tanto quanto um modelo Diesel.
Enviar um comentário