A recente cacetada anunciada para os dois próximos anos por Pedro Passos Coelho (PPC) relativamente aos subsídios dos funcionários públicos soou, aos ouvidos dos professores (provavelmente de todos os funcionários públicos), com a força de uma marreta.
Estando eu mais ligado à sala de aula é, relativamente a essas reacções que me debruço. Dando de barato que deva ser idêntico à dos restantes funcionários públicos, o argumentário dos professores, por se tratarem de professores, torna-se ainda mais embasbacante.
Uma velha máxima diz: “penso logo existo”. Aparentemente, os professores (a quem sirva esta carapuça) pensam com a mesma naturalidade: “penso que há dinheiro, logo ele existe”.
Só quem nunca passou pelo encolhimento de uma empresa pode desconhecer o que isso significa e à generalidade dos professores, mesmo sendo quem mais bem apetrechado deve estar para compreender o mundo, nunca tal passou pela cabeça. Quem trabalha no estado nunca pensa: será que a empresa está a ganhar dinheiro suficiente para pagar à malta?
O estado é a única entidade capaz de ir ao bolso do contribuinte com o mesmo à-vontade com que o contribuinte decide não comprar uma pastilha elástica e muito raramente os professores se perguntam se o país aguenta o estado que tem e se irá haver dinheiro suficiente para pagar a todos os funcionários públicos.
Pois bem, chegou o momento em que não há. Não há. E não há porque os recentes governos imbuídos em socialismo levaram o país à FALÊNCIA.
A falência dá-se, grosso modo, quando não há, disponível, dinheiro suficiente para manter uma organização a laborar regularmente com as implicações daí decorrentes. Pois, o estado está falido.
E é espantoso porque parece raro encontrar-se alguém que diga … “pois, como era de esperar, levámos a martelada”.
“Mas PPC prometeu que …”. Pois. Mas isso tem muito pouca relevância porque apenas confirma que o professor que tal refere vivia no planeta dos gambozinos. Será possível que, apesar de ser professor, não se tenha apercebido que o governo anterior martelava tudo quanto era contabilidade e assinava comboios de ruinosos contractos com tudo quanto era empresa do regime? Quem se metia em qualquer negócio por mais ruinoso que fosse, argumentando que “o estado é obrigado a isso porque os privados não avançam”? Será que um professor é capaz de, implicitamente, confessar em público ser incapaz de perceber qual a pessoa (ou partido) que, apesar de prometer mesmo sem (naturalmente) ter tomado o pulso à coisa real, é mais competente para trazer o país à realidade, mesmo que com tropeções, erros, declarações tiro-no-pé e mesmo que tenha que dar o dito por não dito?
Será possível que um professor se agarre à formalidade da promessa sem, a cada momento, ser capaz de avaliar se a medida x ou y é a mais apropriada face às presentes condições de Portugal?
Pois, Portugal vai encolher. Vai encolher muito. Se tudo correr bem encolherá até que a dimensão do estado se adeqúe à realidade. Nas empresas também, mas no estado é muito pior. As empresas (as que não são de regime), estão permanentemente face à realidade, encolhendo ou expandindo conforme os ventos, mas o estado só vê o variador de receita: a DGCI. Podia não ter que encolher tanto se tivesse ouvido Ferreira Leite há uns 3 anos e Medina Carreira há mais. Mas não ouviu. Portugal escolheu mal e parece que muito professor também (hipoteticamente mais pelo Bloco de Esquerda o que em nada abona em seu favor).
Há quem diga que para se manter no euro, Portugal terá que encolher 50%. Poderá encolher menos? Talvez, se o estado conseguir encolher de outra maneira e se as empresas forem libertadas não só do peso directo do estado como do peso da regulamentação, quer por via do seu desaparecimento quer pela redução do tempo que empata. Em boa verdade, trazer a economia à realidade tem, acessoriamente, a vantagem de vir a permitir a Portugal abandonar a “europa” sem o drama que hoje tudo ensombra.
E, como é possível que tantos professores tivessem vivido no limbo do … “penso que há dinheiro logo ele existe”? Para mim é um mistério, a não ser que se trate de pessoas sem espírito de real professor, aquele que ensina pessoas no mundo real e para o mundo real. De outra forma, terá que encontrar o caminho para ele e para os alunos rumo ao mundo dos gambozinos.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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8 comentários:
Um texto muito bom. Mas será que percebem?
Rio d'Oiro:
Chapelada com vénia tripla!
prof ramiro marques
Se já tivessem percebido, as coisas não estariam como estão. Dos que venham a ler este texto, alguns perceberão finalmente, outros hão-de ficar perplexos, a maioria irritar-se-á ou afirmar-se-á "chocada". Mas o abanão estará dado.
A pergunta que faço, porém, é outra: alguém lerá?
Este pessoal não percebeu mesmo nada. Ó pessoal, há mais animais na coutada para além do funcionalismo publico, parece que o pais é só destes e só estes tem o dever de salvar o defice. Querem ver que nestes casos não ha o principio da igualdade de todos contribuirem. Um que ja la vai, tirou 5% de ração só a uma parte dos animais da coutada, outro tirou 13mes e 14 mes só a uma mesma parte dos animais da coutada.( e a explicação foi gira de cair de costas) . ha em portugal quem se esteja a rir do que se passa em portugal.Totós, Totuus.
Francisco,
A coutada é outra. Os donos da coutada estão entrincheirados no estado pensando que podem carregar indefinidamente o contribuinte.
O contribuinte estoirou e, neste momento, a não ser que o estado retire a pata de cima do contribuinte, vai derrocar.
O governo já percebeu que foram ultrapassadas todas as fronteiras e que a economia paralela vai de vento em poupa e em franca expansão garantindo a sobrevivência, ainda que mal, do mundo privado, até que o estado, incluindo os seus mentores e funcionários, percebam que no mundo real tem que se merecer aquilo que se ganha.
A coutada é a mesma,os animais é que parece que são diferentes, lembrando george orwell, uns são mais iguais / ou diferentes que outros, e se o funcionalismo publico fica sem subsidios ( e atenção, vão se mentalizando que isto não são dois anos é definitivo ) os privados também tem, tinham que ficar sem ele subsidio, como cidadãos deste pais,solidarios no combate ao defice, só que isso para ser extensivo aos privados não podia ser assim tinha que ser por outras vias legais. Escusa de vir ca falar em pesos e gorduras,ou dizer para merecer aquilo que ganha, o que é que o senhor sabe da vida dos outros? São criterios de justiça que aqui se confrontam. Se o funcionalismo público sempre foi melhor pago é porque ai também esta o pessoal com mais habilitaçoes, sempre foi assim, o pessoal sem qualificaçoes ou mão de obra sem qualificaçoes barata sempre foi de outra categoria e era apanhado pelo privado,( excepto alguns quadros dirigentes) pois não tinha qualificaçoes para concorrer a concursos ou nomeaçoes,tanto aqui como no estrangeiro, pergunte aos nossos emigrantes.
O seu critério de justiça é como o do meu perro, o melhor bocado e mais pesado abocanha antes dos outros, e por isso a divida publica o defice, é publico e do funcionalismo publico.
Francisco,
"os privados também tem, tinham que ficar sem ele subsidio,"
Os subsídios dos privados já há muito foram à viola ou diluídos em abaixamento de salários ou diluídos em múltiplas subida de impostos para alimentar um estado gordo e que os respectivos organismos trabalham, em larga medida, para se manterem uns aos outros em actividade.
A malta que trabalha no estado, já o afirmou no passado, diz "não ter a culpa que quem trabalha forra do estado não tenha pedalada para o aguentar".
A malta que trabalha no estado vê o contribuinte, regra geral, como um gajo que deve trabalhar apenas para merecer o estado que tem.
A vaca secou, vem aí bernarda para todos, mas o caro achava que estava fora do mundo (e estava) e a realidade entrou-lhe pela porta dentro.
Esse seu espernear é companheiro de longa data para quem trabalha fora do estado. Bem-vindo ao mundo real.
O que voce diz são meia duzia de balelas.
Querem ver que o sbsidio de férias dos privados também vai ser cativado? não me faça rir. Será, porque o nosso patronato nivela sempre por baixo e esta é uma optima oportunidade para isso, mas não o vão usar para investimentos (vai uma aposta,e por isso a economia vai de vento em popa para o fundo, as receitas não entram e são cada vez menos na dgci e o cobrador do fraque daqui a seis meses esta a bater a porta de quem? ) vai entrar é na rubrica dos lucros e dividendos. Quanto ao resto voce não sabe nada. Já agora voce sabe qual foi o outro regime que atacou o funcionalismo publico e os professores em particular, não custa nada, puxe pela cabeça, lembra-se dos regentes escolares que bastava a 4 classe para ensinar, eram baratuchos não precisavam grande formação portanto de graça para o estado, e só era preciso ensinar os petizes a ler, escrever e contar.
O seu criterio de justiça e nivelamento por baixo é evidente, o que esta de acordo para o pais em que estamos. Ouça homem, ouça, se é para cortar é para todos os cidadãos tirando aqueles que ganham o minimo dos minimos. o defice é de "todos" ainda não percebeu isto.
Nem vale a pena.
Francisco,
Leia o meu comentário anterior.
Se não perceber, soletre.
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