Conheço razoavelmente bem o General Loureiro dos Santos e até já fiz com ele parte dos corpos dirigentes de uma Associação.
Tenho alguns dos seus livros, e outros serviram-me para estudar História Militar e Estratégia, no antigo Instituto de Altos Estudos Militares.
Respeito a sua inteligência e o seu pragmatismo em quase tudo.
É um homem notável que, para além de uma carreira militar como Oficial de Artilharia e de Estado-Maior, foi Ministro da Defesa e Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas.
Todavia, quando fala sobre os Estados Unidos da América, e os neocons, o General Loureiro dos Santos, adepto da escola realista, parece ter grandes dificuldades em manter a imparcialidade na análise, apesar de se esforçar visivelmente para não se afastar da honestidade intelectual que o caracteriza.
Os seus últimos livros, que se debruçam sobre as questões do Poder, focalizam-se criticamente nos EUA.
O uso recorrente da designação “Império”, é ela mesmo reveladora do filtro ideológico que distorce as percepções de Loureiro dos Santos, porque tem menos a ver com a realidade do que com a novilíngua neomarxista de Hardt e Negri, que inventaram o “Império”, como suprema diabolização de um poder cuja fase classicamente imperial se esgotou há mais de um século
Os EUA como Império, são um mito sobre o qual recai o ódio ideológico da esquerda mundial.
Basta ouvir Chavez, para perceber.
Loureiro dos Santos perde credibilidade quando usa um termo preciso, numa situação a que ele manifestamente não se aplica, apenas com a intenção de fazer crítica ideológica
É pena!
Mas há mais. Ontem, na RTP-2, Loureiro dos Santos tecia comentários sobre o Afeganistão e os Talibãs. A dada altura disse algo que ele sabe ser uma absoluta mentira: que os talibãs foram criados pelos americanos através dos paquistaneses.
À sua frente havia vários livros, um dos quais (Taliban) era justamente aquela que é considerada a melhor obra sobre os talibãs, escrita pelo paquistanês Rashid.
Nessa obra, Rashid distingue claramente o que foi o apoio americano aos mujaehdin, no tempo dos soviéticos, do movimento talibã, que apenas surgiu muito depois, no meio do caos afegão, como instrumento estritamente paquistanês, quando os americanos já estavam completamente afastados da questão afegã.
Entristece-me que um homem da craveira intelectual de Loureiro dos Santos, perca as referências e se adentre pela mentira fácil, quando o assunto é a América e a sua culpa cósmica.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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Crise. Recessão. Depressão. Agora é que vai ser: os EUA vão entrar pelo cano e nós atrás deles. Talvez para a próxima. Para já, e pelo trigé...
6 comentários:
Eu li o primeiro livro dele, saído (suponho) pouco depois do início das operações dos EUA no Iraque.
Daí para cá da-me a impressão que Loureiro dos Santos usa uma linguagem algo dúplice. Parece-me que diz o que tem a dizer usando a linguagem que "está a dar".
Quando ao fulcral do que afirma, parece-me, frequentemente, que ele constrói frases que parecem ir ao encontro da "expectativa" do jornalista, deixando espaço de manobra em sentido contrário.
Parece-me que ele configura a conversa ao ponto máximo aceite pelo "jornalismo" da praxe. De outra forma suspeito bem que nunca mais o convidariam.
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Já agora, há um outro caso, o de Adriano Moreira, em que a desadequação (aparente, pelo menos para mim) da educação à realidade patente é mais gritante.
Dá-me a impressão que o mundo configura-se hoje por escalas e medidas que Adriano nunca concebeu e tem dificuldade em lidar com elas.
Não é o caso da Europa, mas é o caso dos jogos de forças (pancadaria) internacionais (pressupondo que o terrorismo tem alguma espécie de nacionalidade).
Parece-me que Adriano não consegue enquadrar o terrorismo islâmico.
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Ele já escrevia antes. Tem livros sobre História Militar e Estratégia, que são excelentes, embora sigam implacavelmente a chamada escola realista (Morghentau, Kissinger, etc). As suas análises são boas, dentro do racional desta escola. O problema é que há outras escolas.
E a sua percepção da América como ameaça, resulta não apenas do facto de esta escola ter perdido poder no establishment americano, como tb no facto, como diz e bem, de ele ter assegurado um estatuto de voz autorizada e alinhada com o mainstream da chammada opinião pública.
Cavalga a onda do momento. Mas no processo belisca-se a credibilidade académica que ele prezava bastante.
O caso de Adriano Moreira ( um dos meus ídolos, em tempos, cheguei a fazer gazeta nos meus tempos de estudante para ir ouvir palestras que ele dava na Opus Dei) é parecido. Adriano Moreira é tb um realista que entende que os países são como bolas de bilhar e que os choques entre eles seguem a mecânica da carambola, independentemente dos valores internos, dos regimes, etc.
O que junta Loureiro dos Santos e Adriano Moreira na frente antiamericana é o facto de condenarem uma política externa "missionária", isto é, que se apoia em valores como "democracia" e "liberdade".
Pensam genuinamente que os países se devem limitar aos interesses e evitar idealismos no seu trato com os outros.
Acham que o idealismo é um perigoso conselheiro. Já tive ocasião de rebater esta visão redutora do realismo na revista "Futuro Presente". Na opinião de muita gente, "( os neocons", expandir a democracia liberal não é idealismo, mas sim realismo, porque um mundo de democracias tenderá a ser mais pacífico, já que as democracias tendem a não se guerrear entre si.
Caro Lidador,
"Acham que o idealismo é um perigoso conselheiro. Já tive ocasião de rebater esta visão..."
Julgo que esta será a frase do ano neste blogue (lol). Quem diria que o Lidador era um idelaista...
Errata: "idealista"
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