Bem, já nos safámos desta. E não jogamos muito mal, pelo menos jogamos melhor que nos jogos de apuramento… E só para chatear os PNR’s os melhores jogadores em campo foram sem dúvida Pepe e Bosingwa. O melhor do mundo não jogou mal, mas não foi o melhor do mundo. O Deco parecia que estava c’os copos e por causa dele bebi na segunda parte 7 cálices de cachaça (não tinha outra coisa em casa) para aguentar os nervos – cabrão. O Moutinho está cada vez melhor e vai um dia destes meter um golo com um remate de fora da área, reed my lips.
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É dia de futebol na Associação Portuguesa de Amesterdão (APA) numa bela final de tarde de Agosto de 2006. O salão nobre da associação encontra-se completamente cheio com cadeiras dobráveis em fila viradas para o palco onde está instalado um enorme ecrã. O jogo Portugal-Inglaterra para o campeonato do mundo de futebol de 2006 iria ser daqui a pouco transmitido em directo na TV-Internacional.
Rapidamente as pessoas passaram do bar para o salão e as cadeiras foram rapidamente ocupadas. Quem chegou um pouco mais tarde ficou de pé, contra as paredes laterais do salão.
A irremediável mas agradável barulheira que normalmente existe quando se assiste a um jogo de futebol numa associação recreativa era desta vez bastante deteriorada por tambores, mas sobretudo por um instrumento demoníaco: A BUZINA A GÁS!!!
A utilização da dita num estádio de futebol, ao ar livre, é já uma fonte de desespero para quem realmente gosta de futebol, agora imagine-se o insuportável cagaçal que produz no interior das quatro paredes de uma associação…
Como odeio este ruído. Ainda por cima este execrável basqueiro lembra-me sempre desportos inferiores, de sala: voleiboles, basqueteboles ou andeboles. Enfim, um ruído insuportavelmente provinciano.
Na altura de cantar o hino nacional, e precisamente como os jogadores na TV, toda a gente se colocou religiosamente em sentido. Verdadeiramente TODA A GENTE. Os homens foram os primeiros a levantar o cu da cadeira. As esposas foram um pouco mais lentas neste dever patriótico porque, como de costume, é a elas que incumbe outro dever, o de segurar a filharada que em mil malabarismos queria a todo o custo ficar de pé em cima das cadeiras dobráveis.
O ambiente era tão patrioticamente ameaçador que até as amigas e esposas holandesas presentes se sentiam na obrigação de se colocarem em sentido, até a minha mulher… Duas filas atrás de mim reparei na luta interna que o meu amigo de esquerda, o João Paulo, travava para não sucumbir ao nacionalismo exacerbado: deixo-me estar sentado ou levanto-me, como toda a gente? Cedeu à pressão e resolveu ficar de pé – as massas venceram.
Isto deixou de ser um encontro informal entre portugueses, para se transformar numa manifestação de saudade misturada com muito patriotismo e heróis do mar…. Não sei o que me deu na telha, mas também quis ser herói. Deixei-me estar sentado e tenho a certeza que fui o único. Não me chateia nada cantar A Portuguesa de peito inchado, até me acontece lacrimejar ao fazê-lo, mas não alinho quando se trata de uma obrigação. A minha atitude ‘déviante’ não iria ter consequências negativas para o seguimento de uma agradável noite na APA. Portugal ganhou, o Rui Costa meteu um golaço e o Beckham falhou um penálti. Não fossem as putas das buzinas e a noite teria sido perfeita…
Passados alguns minutos o Figo cabeceia a bola para dentro da baliza inglesa, a APA explode: GOOOOOOOOLOOOO! As gargantas, os tambores, as buzinas, tudo junto numa sinfonia infernal. Toda a gente de pé, eu também! As crianças, que também querem ver, encontram-se outra vez a baloiçar perigosamente com os pés encima das cadeiras dobráveis obrigando as mães, mais uma vez, a dividirem a sua atenção entre o ecrã e as crianças que correm o risco de caírem.
Um português que estava ao meu lado, e que eu nunca tinha visto mais gordo na vida, grita GOOOOOOLOOOO ao mesmo tempo que me abraça efusivamente. Perplexo, respondo o mais espontaneamente possível ao abraço com um GOLO mais tímido. A minha falta de patriotismo de circunstância de há pouco já tinha sido pelos vistos esquecida. Eu e o meu compatriota ainda não nos tínhamos inteiramente desligado do nosso abraço quando das filas mais próximas do ecrã ouço alguém gritar: É PÁ, FODA-SE, É FORA DE JOGO…
Não consegui ver a repetição do lance, aliás, do jogo só vi de vez em quando uns fragmentos entre cabeças e ombros. A voz do comentador perdia-se entre os decibéis das buzinas e dos tambores. Mas com um público tão expressivo quem é que precisa de um comentador?
De repente apercebi-me que as pessoas reagiam aquilo que viam no ecrã como se tivessem fisicamente presentes no estádio, como se o árbitro ou os jogadores pudessem realmente ouvir todas as suas imprecações ou os seus conselhos! Vi nisto uma leve semelhança com as minhas primeiras idas ao Cineteatro de Gaia (três escudos na geral). No meu tempo de criança também o público vivia os filmes como se estivessem fisicamente presentes no Far West. Cada soco que o artista dava no artista-dos-bandidos era acolhido com palmas, como num circo ou num espectáculo ao vivo. Era costume do público avisar o artista sempre que o artista-dos-bandidos pérfidamente o esperava escondido atrás de uma porta ou de uma árvore.
Não há nada como uma pequena dose de imaginação para levar-mos a nossa cruz ao calvário…
4 comentários:
Caro Carmo,
sou um bocado PNR nesta questão: não concordo com a presença de não-nacionais nas selecções. Sejam elas de atletismo, de basquetebol, de futebol, de hoquei em patins ou de petanque.
O caso do Bosingwa, porém, não me choca. É filho de pai Português, tendo nascido no antigo Zaire. Já o Petit nasceu em França e os pais são Portugueses. Já o Bruno Alves nasceu em Portugal e é filho de pais Brasileiros.
Mas agora o Pepe? O Deco?
Isso para mim já é outra estória..
O caso do Bosingwa, porém, não me choca. É filho de pai Português, tendo nascido no antigo Zaire. Já o Petit nasceu em França e os pais são Portugueses. Já o Bruno Alves nasceu em Portugal e é filho de pais Brasileiros.
Não há aqui argumentos contraditórios? Não estarão dois jás a mais?
Quando disse já era com a intenção de enumerar outros casos susceptíveis de serem contestados por algumas pessoas mas que, como vemos, não o devem ser.
Então devo ler:
O caso Bosingwa não me choca. Nasceu no antigo Zaire mas é filho de pai português. Assim como o Petit que nasceu em França mas é descendente de pais portugueses. Assim como o Bruno Alves que é filho de pais brasileiros mas nasceu em Portugal?
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