... ao DN Artes (clicar aqui, para ler a totalidade):
(…)
Os portugueses ficaram muito espantados por ter pedido a nacionalidade. Qual foi mesmo a razão?
Emocional. Sem razão. Creio que lho devo isso, ponto.
E está a pensar viver mais tempo em Portugal?
Isso estava previsto desde que iniciámos a Fundação [José Saramago] e o nosso projecto era passar por ano, pelo menos, seis meses em Portugal. O que aconteceu é que pusemos em marcha a Fundação, mas a doença impediu--nos desse projecto.
Mas nunca pensara antes pedir a nacionalidade portuguesa?
Pensámos em vários momentos conjuntamente. Ele, pedir a espanhola, e eu, a portuguesa. Termos dupla nacionalidade os dois, mas eu recusei sempre que ele pedisse a espanhola.
Porquê?
Porque ele é um símbolo de Portugal e parecia-me que tinha de ser português a 100%, sem nenhum outro documento.
(…)
Se a questão do Panteão nunca se pôs para José Saramago, também a presença de Cavaco Silva no funeral foi uma falsa questão?
Quero deixar claro que Cavaco fez o que tinha a fazer.
Não ir foi o mais correcto?
Sim. Saramago e ele não tinham partilhado a vida e, por dignidade, muito menos teriam de partilhar esse momento final. Enviou as suas condolências e fez o que tinha a fazer. Eu não entrei nunca nessa polémica sobre se Cavaco teria de ir ou não porque me parece que aconteceu o que deveria.
(…)
Como vai acabar a disputa com o fisco em Espanha?
Não sei no que vai dar! Saramago pagava onde tinha de pagar; como tinha de pagar; no momento em que tinha que pagar e o que tinha de pagar. Sem nenhuma engenharia financeira, sem nenhuma dedução por causa da Fundação, e fê-la com o seu dinheiro. Pôs os seus direitos de autor a pagar os ordenados das pessoas porque não era para ter vantagens. Porquê? Porque acreditou que poderia partilhar dessa maneira, e o que as finanças espanholas fizeram não tem nome.
Foi uma insensibilidade a questão ser anunciada após a morte?
Não, não. A insensibilidade foi dos meios de comunicação, porque isto aconteceu em Abril. A sentença já tinha saído mas publicaram-na no dia do funeral por alguma razão. Para nós não tem nenhuma interferência, porque Saramago cumpriu civicamente com os seus deveres e, quando isto começou há dez anos, pediu auxílio ao Governo de Portugal. O primeiro-ministro de Portugal e o primeiro-ministro de Espanha disseram-lhe que estava resolvido, e creio que ambos estavam convencidos de que assim era. Por outro lado, acredito que houve alguém dentro do fisco espanhol que teve muito empenho em que isto não estivesse resolvido.
Qual terá sido a razão?
Creio que foi uma perseguição claramente política. Quando o primeiro-ministro de Portugal e o primeiro-ministro de Espanha juntos disseram a Saramago que "isto está solucionado" é porque ambos acreditavam que estava. Mas desde logo alguém lhes estava a mentir. E foi aqui de Espanha, de alguém muito concreto de Espanha. (...)
(...)
Emocional. Sem razão. Creio que lho devo isso, ponto.
E está a pensar viver mais tempo em Portugal?
Isso estava previsto desde que iniciámos a Fundação [José Saramago] e o nosso projecto era passar por ano, pelo menos, seis meses em Portugal. O que aconteceu é que pusemos em marcha a Fundação, mas a doença impediu--nos desse projecto.
Mas nunca pensara antes pedir a nacionalidade portuguesa?
Pensámos em vários momentos conjuntamente. Ele, pedir a espanhola, e eu, a portuguesa. Termos dupla nacionalidade os dois, mas eu recusei sempre que ele pedisse a espanhola.
Porquê?
Porque ele é um símbolo de Portugal e parecia-me que tinha de ser português a 100%, sem nenhum outro documento.
(…)
Se a questão do Panteão nunca se pôs para José Saramago, também a presença de Cavaco Silva no funeral foi uma falsa questão?
Quero deixar claro que Cavaco fez o que tinha a fazer.
Não ir foi o mais correcto?
Sim. Saramago e ele não tinham partilhado a vida e, por dignidade, muito menos teriam de partilhar esse momento final. Enviou as suas condolências e fez o que tinha a fazer. Eu não entrei nunca nessa polémica sobre se Cavaco teria de ir ou não porque me parece que aconteceu o que deveria.
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Como vai acabar a disputa com o fisco em Espanha?
Não sei no que vai dar! Saramago pagava onde tinha de pagar; como tinha de pagar; no momento em que tinha que pagar e o que tinha de pagar. Sem nenhuma engenharia financeira, sem nenhuma dedução por causa da Fundação, e fê-la com o seu dinheiro. Pôs os seus direitos de autor a pagar os ordenados das pessoas porque não era para ter vantagens. Porquê? Porque acreditou que poderia partilhar dessa maneira, e o que as finanças espanholas fizeram não tem nome.
Foi uma insensibilidade a questão ser anunciada após a morte?
Não, não. A insensibilidade foi dos meios de comunicação, porque isto aconteceu em Abril. A sentença já tinha saído mas publicaram-na no dia do funeral por alguma razão. Para nós não tem nenhuma interferência, porque Saramago cumpriu civicamente com os seus deveres e, quando isto começou há dez anos, pediu auxílio ao Governo de Portugal. O primeiro-ministro de Portugal e o primeiro-ministro de Espanha disseram-lhe que estava resolvido, e creio que ambos estavam convencidos de que assim era. Por outro lado, acredito que houve alguém dentro do fisco espanhol que teve muito empenho em que isto não estivesse resolvido.
Qual terá sido a razão?
Creio que foi uma perseguição claramente política. Quando o primeiro-ministro de Portugal e o primeiro-ministro de Espanha juntos disseram a Saramago que "isto está solucionado" é porque ambos acreditavam que estava. Mas desde logo alguém lhes estava a mentir. E foi aqui de Espanha, de alguém muito concreto de Espanha. (...)
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7 comentários:
Saramago trazia Zapatero e Sócrates a trabalhar (mal, ao que parece) como lobistas em matéria de impostos.
É muito interessante ver a nata da burguesia "cultural" a trabalhar em rede.
Desculpar é uma coisa, esquecer, outra.
E o Zapatero estava lá há 10 anos, oh muito inteligente?
Se morderem a língua morrem envenenados.
Isto é o que se chama uma notícia "no issue".
De acordo com a entrevista, o Saramago pagou sempre os seus impostos em Portugal. Se foi assim, não devia nada em Espanha. Qualquer ser medianamente inteligente percebe isso.
E qualquer ser medianamente inteligente, se quer associar esta saga a favores pessoais, sabe que vai parar ao Aznar. Ora como tal associação é altamente improvável, a descarga de bílis só tem efeito sobre os amigalhaços.
HV:
"De acordo com a entrevista, o Saramago pagou sempre os seus impostos em Portugal. Se foi assim, não devia nada em Espanha."
Pena é que quando um "capitalista explorador" ganha dinheiro fora de Portugal e transfere para cá o dinheiro apareçam os esquerdalhos de serviço a gritar "agarra que
e malandro e não quer pagar impostos".
Saramago, justamente, alinhava pelo coro.
Cá se fazem ... (o resto já não se aplica mas pode servir como vacina).
HV:
"Qualquer ser medianamente inteligente percebe isso."
Dei relevo ao pedaço da entrevista referente ao assunto dos impostos, por esse ter sido um assunto aqui discutido e "discutido". E fi-lo sem adicionar qualquer comentário meu, precisamente para o deixar à consideração das diversas inteligências.
@ José Gonsalo: ”Dei relevo ao pedaço da entrevista referente ao assunto dos impostos”
Isto chama-se honestidade intelectual.
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