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domingo, 1 de janeiro de 2012

SOCIAL vs SOCIALISMO





O meu colega de redacção RioD’oiro acha neste post que ”as sociedades ocidentais foram contaminadas por uma visão socialista do mundo.” Eu compreendo o que ele quer dizer e estou quase quase de acordo, mas acho esta afirmação demasiadamente redutora para o meu gosto. Na minha opinião falta aqui um pouco de quase para não confundir totalmente SOCIAL com SOCIALISMO.

Quando um patrão melhora as condições laborais na sua empresa, nem sempre o faz para agradar aos socialistas. Talvez o faça no seu próprio interesse, da sua empresa. A ideia é que se os seus trabalhadores se sentirem melhor, vão provavelmente trabalhar com mais prazer e consequentemente fazer aumentar a produção. (Isto não é tão simples como parece à primeira vista, exige uma total mudança de mentalidade da parte dos patrões, mas também dos empregados.)

Um exemplo: Ser trolha* no Norte da Europa não é como em Portugal, um castigo: uma ameaça de que os pais se servem para obrigar os filhos a ter sucesso escolar (que é para mais tarde serem todos doutores). " -  Olha filho, se não passares de ano, vais trabalhar para as obras durante as férias!” . Trolha na Europa do norte tem outra conotação,  é um trabalhador especializado, bem pago, responsável e com orgulho profissional.

Este é o segredo das sociedades ricas do Norte da Europa. Por isso é que os trabalhadores holandeses, dinamarqueses e alemães produzem mais e melhor. Não somente são mais escolarizados, mas trabalham também em melhores condições, num ambiente mais agradável, mais SOCIAL, e onde automaticamente se sentem mais responsáveis e parte integrante.

Digamos que nesta parte do mundo, tanto os patrões como os trabalhadores estão ‘contaminados’ por uma visão SOCIAL da sociedade e do trabalho.

É claro que nem tudo é um mar de rosas!

A democracia (de todos os sistemas o menos mau) permite, ou melhor, é obrigada a aceitar democraticamente perversões. Um pouco por todo o lado existem políticos (nuns sítios mais do que noutros) que para ganhar eleições, pela sede do poder, prometem benesses sociais que a situação financeira dos seus países por vezes não pode pagar. Mas isto nem sempre se trata do terrível SOCIALISMO que tanto assusta os liberais. A maior parte das vezes é apenas CHICO-ESPERTISMO à la Sócrates ou Berlusconi - o que também não é de menosprezar. E por muito que nos custe, é humanamente compreensível que muita boa gente se sinta atraída por promessas de bem-estar social e não se dê conta das consequências a médio ou longo prazo…

Também não é fácil. Todos nós queremos uma semana com muito poucas horas de trabalho e o maior número possível de dias de férias por ano. E um ano com 14 meses de salário. E reforma aos 50 anos. SOBRETUDO quando no nosso país o trabalho é encarado como um castigo; quando a nossa situação laboral é péssima; quando somos tratados abaixo de cão. E quando, ainda por cima, a elite não se proíbe de nada. Não é preciso ser o Alberto Einstein para perceber  que o ambiente não é propício à moralidade e ao civismo necessário para melhorar a situação e meter mãos à obra. Obra = trolha = castigo. Logo, porque razão só me toca a mim?

Mas mesmo em Portugal é possível explicar às pessoas - e o meu colega RioD'oiro, diga-se de passagem, tem sido incansável em colocar aqui as palestras do Prof. Medina Carreira -  que o dinheiro não cai do céu: para o distribuir é preciso primeiro ganhá-lo. Como costuma dizer o Lidador: “não há jantares de graça”. Mas mesmo em Portugal, os partidos que mais prometem não são sempre os que ganham eleições. O que significa que uma parte substancial do nosso povo já não acredita totalmente em vendedores da banha da cobra. O nosso primeiro-ministro, por exemplo, já tem actualmente - aprendeu com as desventuras do seu antecessor - um discurso de poucas promessas e de avisar a malta (para o pior). Mesmo em Portugal.

Mas se ele não conseguir diminuir o mais depressa possível a desigualdade SOCIAL e o sentimento de imponência que as elites gozam, os amantes do SOCIALISMO (eles não desapareceram com a queda do muro!) vão voltar à carga e explorar a debilitada situação financeira do país.  

* Para quem só conhece a língua portuguesa falada na sua aldeia (por exemplo em Lisboa), fica agora a saber que a palavra “trolha” substitui perfeitamente a pedante e demasiadamente comprida designação “trabalhador da construção civil”… 




Um comentário do Lidador que talvez possa ajudar a compreender esta dicotomia.

Sobre o que é ou não é socialismo, é melhor ir às origens.

Os socialistas são, basicamente, herdeiros dos valores iluministas. Neles é forte a crença de que uma sociedade pode ser conduzida num melhor caminho.

Como?

Essencialmente através de decisões centralmente planeadas, por pessoas boas.

Há que ler Saint Simon...

Assim acredita-se que a acção dirigida é invariavelmente mais produtiva que a resultante das miríades de acções individuais ditadas pelo interesse da cada pessoa livre.Com nuances, é esta a essência.

Depois há aqueles que acham que se deve planear tudo, outros menos.

A diferença relativamente ao liberalismo, é que este acha que geralmente os indivíduos ( no seu conjunto), fazem melhor. A linha entre um e outro é vaga e prende-se com a maior ou menor acção do estado. A França é, claramente mais socialista ( ou menos liberal) que a Holanda, por exemplo.


5 comentários:

Anónimo disse...

"Quando um patrão melhora as condições laborais na sua empresa, nem sempre o faz para agradar aos socialistas. Talvez o faça no seu próprio interesse, da sua empresa. A ideia é que se seus trabalhadores se sentirem melhor, vão provavelmente trabalhar com mais prazer e consequentemente fazer aumentar a produção. "

Pois é...

Masw porque é que quando o patrão estado tenta motivar os seus trabalhadores (os funcionários públicos) desata uma data de gente a ganir?

Carmo da Rosa disse...

Qual Estado motivou os seus funcionários e como?

E que gente precisamente se põe a ganir e porquê?

Go_dot disse...

CdR parabéns para si e para o Lidador, pelo perfeito pontapé de saída.

Subscrevo que há grandes diferenças entre a ética de trabalho do norte e do sul da europa. E também que Paris estará mais perto de Lisboa que de Amesterdão.

Mas, perdoe-me a insistência. Eu referia-me à calda ideológica, distintamente socialista , (mais ou menos esverdeada) com que a casta actualmente no poder pretende emulsionar a “nova” Europa.

Para manter o exemplo antecedente do G. Wilders. Há poucos dias uma das emissoras de televisão holandesa, apresentou um “documentário” sobre o processo Wilders.
Todos os protagonistas se sentiam muito afectados pela impertinência da plebe, em duvidarem das sua boa fé, e estranharam que o facto de tentarem “ajudar” uma das testemunhas chave a “formar opinião”, pudesse ser interpretado como tentativa de influenciar a testemunha.
O que eu achei piada, foi que todos os figurantes, pareciam sentir-se bastante confortáveis na sua auto denominada posição de “educadores das massas” e carregavam com claro agrado a sobrecarga dessa responsabilidade.

Unknown disse...

Excelente sinopse do CdR. Mas, a meu ver, ligeiramente enviesada pela ideia que tem de que, no fundo, o socialismo é bem intencionado. Há, na análise do CdR, a forte convicção de que, no fundo, o socialismo é éticamente "bom", embora existam perversões.

Contudo o Go Dot tem bastante razão quando à "calda ideológica" socializante de muitas elites europeias.
Esta ideia que o CdR tem, da bondade ética do socialismo, é comum em muitas lideranças europeias. É, digamos, uma crença.
Com algo de freudiano, no desejo de uma protecção parental, de um estado que nos ampare e nos cuide.

Isto é bom, obviamente. Quem não gosta de ser ajudado e amparado?
O problema é que na big picture, este tipo de sociedades tendem à infantilização dos cidadãos, ao desleixo, à cada vez maior intervenção do estado, à asfixia sa liberdade e da prosperidade. Isto está documentado...e teorizado por Hayek ( O caminho da servidão).

Mas, claro, a anarquia não é o contraponto. Um estado mínimo é sempre necessário. Um estado que regule, que garanta o exercicio de direitos, que intervenha nas externalidades, que ajude quem necessita mas sem que essa ajuda seja tal que desincentive a procura do trabalho.

E que permita que os próprios cidadãos ajudem os seus compatriotas, por sua iniciativa, atraves de associações voluntárias.
Num estado em que o estado cobra muitos impostos para ajudar os necessitados, quem é exaurido desse dinheiro, não tem nenhuma vontade de ajudar mais.
Que ajude o Estado, é a resposta que se tem na ponta da língua...

Carmo da Rosa disse...

Go_dot: ” Subscrevo que há grandes diferenças entre a ética de trabalho do norte e do sul da europa.”

Não se trata somente de ética, mas de perceber que é preciso criar condições favoráveis de organização do trabalho, mais sociais (não obrigatoriamente socialistas!), mais humanas, mais eficientes, porque desta forma todos ganham: patrões e empregados.

Os patrões nórdicos (de ideologia liberal) há muito que perceberam isso, os nossos ainda não. É meia-bola e força e faço assim porque já a minha avó fazia assim. Esta mentalidade nota-se em tudo, na gastronomia, nas estradas, mas também no aspecto dos blogs…

O que eu quero dizer é que querer melhorar algo, não é automaticamente o terrível socialismo à espreita e a querer controlar a nossa vida. Nem sempre caneco.

Mas também é verdade que existe uma “calda ideológica, distintamente socialista , (mais ou menos esverdeada)” – bela metáfora para uma segunda-feira de manhã! – de gente ou menos formatada à esquerda com a ideia que são o representante do Cristo na terra…

E como esta gente, em graduações muito diferentes, quer-se substituir ao Cristo, acha que devemos dar a outra face ao ….. Islão, e a todos os outros chonés que querem substituir o nosso modus-vivendi, as nossas ‘democracias-burguesas’, como eles costumam dizer, por ditaduras socializantes do estilo Coreia do Norte (como exemplo máximo de loucura)…

Mas o Wilders, como não é crente não está para aí virado, e não quer dar face nenhuma e muito menos ao Islão. E muito menos sabendo que para isso tem o apoio de muita boa gente. E como além disso tem uns tomatões de aqui até Cabul, não tem papas na língua, o que faz a comunidade da ‘bien-pensance’, juntamente com os salafistas e os chonés, mandar-se ao ar e tentar calá-lo por todos os meios possíveis e imaginários. Não vão conseguir.

Há cada vez mais gente da esquerda socialista a passar-se para a esquerda Wilderiana (o verdadeiro partido dos trabalhadores holandeses), onde nem o Obama teria lugar, demasiadamente conservador, de direita…

Creio que isto também responde de certa forma ao último comentário do Lidador, que apareceu no momento em que acabei de escrever este… “Um estado mínimo é sempre necessário.” O problema é determinar o que é realmente estritamente mínimo, mas percebo a ideia e não sou contra.