O discurso de Obama na Assembleia Geral das Nações Unidas foi, como já é costume, muito elogiado, e há que reconhecer que o jovem que lhe escreve os discursos é um verdadeiro artista, não só na mestria com que apela à emotividade, mas sobretudo na perfeita sintonia com os dons declamatórios de Obama no uso do Teleponto.
O discurso foi grandioso, como é costume nestas ocasiões, e informou o mundo, também como é costume, que há grandes desafios pela frente. Afirmou mesmo que “ É chegado o tempo de o mundo se mover numa nova direcção”.
As pessoas ficam alarmadas pelo desafio, mas não têm uma ideia concreta de como é que isso se faz, pelo que o líder normalmente informa logo a a seguir que só ele tem a visão certa para vencer os tais grandes e urgentes desafios.
Foi aqui que Obama inovou, ao apresentar-se como apenas mais um dos gajos formidáveis que vão defrontar e vencer os grandes e urgentes desafios, nomeadamente ajudar o mundo a mudar de direcção, que parece ser o mais importante.
Se repararmos na frase, não é ele que vai mover o mundo na nova direcção. Nem sequer nós. É o próprio mundo que se vai mover, porque, segundo Obama, (ou o rapaz que lhe escreve os discursos), está escrito algures que é chegado o momento de o mundo mudar de direcção.
Pormenorizando os aspectos mecânicos da coisa, Obama explica que “ nenhuma ordem mundial que eleve uma nação sobre outras, poderá ter sucesso”.
Claro que o facto de a nação que ele representa, ter direito de veto no Conselho de Segurança, não afecta minimanente esta grandiosa visão obâmica de um mundo sem pólos de poder.
Nesta nova direcção que o mundo vai tomar de forma espontânea, todos agem em simultâneo, segundo uma táctica nova que Obama patenteou com o nome de “ Acção persistente”.
E que acções são essas? Cimeiras, conferências, negociações, consultas, etc, nas quais “ a América não perderá de vista os seus objectivos”, ou seja, não- polar e tal, mas nós trataremos do nosso, ou , como pormenoriza Obama, “ iremos desenvolver iniciativas regionais com particiação multilateral, em simultâneo com negociações bilaterais."
Em resumo, a "acção persistente", parece ser basicamente um conjunto de tertúlias.
Um pouco confuso, mas nesta altura já ninguém está a esmiuçar os pormenores das lateralidades.
A verdade é que o discurso de Obama agradou aos outros líderes que são agora, a bem dizer, colegas. Os aplausos foram constantes e até Chavez bateu palmas e se manifestou tocado pela visão obâmica, pouco faltando para derramar uma sentida lágrima.
Claro que a lógica não tem nada a ver com isto, e só assim se pode aceitar a contradição inerente ao facto de Obama, do alto do seu poder polar, declarar um mundo não-polar, isto é, decretar a partir do facto de presidir à nação mais poderosa do globo que, a partir de agora não haverá nações mais poderosas que outras.
Fica-se com a impressão de que se fosse o Rei de Vanuatu a decretar tal coisa, haveria colegas a cair de cu, de tanto rir.
4 comentários:
Bom post Lidador. Por fim, de acordo!
O companheirão em governança inclusiva.
http://www.youtube.com/watch?v=Xmn0AZzRJ9U
.
http://www.newsweek.com/id/216264
Receba mais munições. São de graça!
http://www.commentarymagazine.com/viewarticle.cfm/the-age-of-nice--or-politics-as-psychiatry-15235
Enviar um comentário