Texto de ml
A decisão da transcrição do texto, formatação da página e título são da exclusiva responsabilidade de Carmo da Rosa [e ainda bem, senão é uma balbúrdia!]. A autora do texto não foi para aí ouvida nem achada, a sua surpresa deverá ser muito semelhante à dos fiéis.
Caro Gonçalo, sabe bem que as férias, desde que não se ande em viagem, deixam mais do que tempo livre para visitar os prezados amigos. Relaxam, apelam à bonomia, à complacência, há tempo para tudo. E, aliado ao facto de no norte não ser lá muito fácil aproveitar totalmente o veraneio - o nevoeiro é frequente e a nortada ainda mais - a verdade é que também a praia há muito tempo que deixou de me encantar e sou daquelas que, ao fim de duas horitas, pega na toalha e nas japonas e vai andando à frente para casa. Mais tempo livre ainda.
Vejo que se aprimorou na escrita e, embora normalmente escreva bem, desta vez foi buscar umas palavrinhas de festa. Faz bem, precisamos e devemos de vez em quando arejar tudo o que temos.
Quanto ao nosso idio... Bush, e como já é a segunda vez que manifesta a sua fortíssima desaprovação pelo ‘primarismo’ que me estraga o texto, tenho a informá-lo de que, para mim, é o meu melhor achado nos últimos tempos e que tenciono continuar a usá-lo. Sempre. Aquele idio... sabe-me pela vida.
Não é que queira fazer concorrência ao estilo redundante do vocabulário que aqui vejo repetido vezes e vezes sem conta, de tal maneira que ultimamente me dedico à diversão extra de tentar adivinhar o autor. Não sou má de todo a fazer identificações a partir do léxico e do estilo, raras vezes erro, o que por acaso até aconteceu neste post. Como escreve pouco, não me ocorreu a autoria.
Que quer?! Podia fazer-lhe aqui uma simpática listazinha das palavras que sabem pela vida aos fiéis (alguns, sejamos justos), mas acho que não preciso, é muito fácil verificar por si.
Mas sabe, tenho um trunfo sobre si: estou-me nas tintas que diga o idiO... bama. Não tenho desses apegos a nenhum figurante político, seja ele qual for. É essa a minha vantagem sobre muita gente, não tenho ídolos. Talvez uma forte simpatia e admiração por um ou outro, e é tudo. Portanto, pode continuar a laborar no erro comum aos fiéis de me colar automaticamente a quem entender, só porque é de esquerda, e desenrolar o que fizeram e disseram ou deixaram de dizer, que eu não mexo uma pálpebra.
No master, no guru, no god.
E já que se fala nos ‘féis’, só lamento não ter sido a eu a lembrar-me dessa associação que me atribui, seria molto bien trovato e bien fatto, mas não, decorre muito mais prosaicamente do nome do blogue e dos dogmas que aqui são expostos como ‘opiniões’.
Nem tudo nos ocorre, não é verdade?, mas aí está uma sugestão a não descurar, o cruzamento das duas ideias é mesmo muito tentador.
E talvez lhe tenha escapado, mas além do Gonsalo, já pelo menos um ou dois fiéis (cá está outra vez) declararam algum não demasiado apego pelo idio... Bush. Portanto, e como sou uma adepta ferrenha da exactidão (coisa que por aqui é invariavelmente mal tratada), não iria usar um termo desadequado.
Bom, e entrando também finalmente no nosso temazinho, não sendo na verdade o Gonsalo um fiel típico, penso que teve já oportunidade de entender o que eu disse mais do que uma vez, a minha posição sobre as religiões e a razão porque as considero todas iguais, todas boas ou todas más (mais más do que boas, diga-se).
Mas vou repetir com todo o gosto e é muito simples: os textos sagrados, tanto quanto o que conheço deles, não andam na essência muito longe uns dos outros. Todos têm contradições, umas vezes mandam rachar e matar, outras perdoar, umas vezes tirar, outras dar. Não vou entrar muito por aí porque não conheço nenhum a fundo, embora a Bíblia melhor do que a Tora ou o Corão, evidentemente. Mas o que vejo é que numa leitura diacrónica (espero que não seja para si um palavrão) da história, seja das religiões da ‘paz’ seja das religiões da ‘guerra’, todas elas já serviram de pretexto para o exercício de violência iluminada sobre outros. E numa leitura sincrónica (um palavrão leva obrigatoriamente ao outro), e baseando-se nos mesmíssimos textos, há quem seja adepto da paz e quem seja adepto da guerra.
Isto leva a que uma alma mais judiciosa se ponha a pensar que, provavelmente, o problema não está na religião mas nos oficiantes (diacrónica e sincronicamente falando). Ora é a falta desse juízo que estranho em pessoas em quem seria pressuposto existir um raciocínio minimamente lógico. E embora o Gonsalo acuse a esquerda de se trair a si própria e mais não sei quê (e pela situação que vivemos ainda está por provar que a estratégia cruzadista da opinião de direita seja a mais eficaz), a verdade é que a direita do poder, a dos petróleos e dos gasodutos, não faz qualquer confusão entre água benta e cifrões e foi a primeira a correr para os trombones a pedir tolerância e respeito. Follow the money, que esse não vai em fantasias religiosas.
Porque eu nem sequer nego, muito pelo contrário, tudo o que diz sobre o terrorismo islâmico ou, o que para mim não é de somenos importância, sobre a indignidade com que tratam as mulheres e outros seres de segunda. Não tenho qualquer respeito por crenças que reduzem a mulher a uma serviçal na cozinha, na sala e no quarto. Não são só os sharianos, mas esses são os piores porque o instituíram em lei. Ou respeito por qualquer crença que mate e puna em nome da moral e dos bons costumes. Ou simplesmente que mate em nome da justiça, mas isso já é um outro tema.
O que me recuso é a cair na discussão ridícula de comparar religiões, a minha é melhor do que a tua, e é exclusivamente a esse ponto de vista que me reporto, mesmo que por aqui haja uma total incapacidade de separar as águas ou simplesmente de perceber esse ponto de vista. Nunca discuto as fundamentações religiosas de actos políticos, nem sequer em tempos mais recuados, porque não são e raramente terão sido as verdadeiras, por mais mascaradas que estejam de actos de fé.
Tem dúvidas de que foi o que aconteceu nas cruzadas? Tem dúvidas de que foi o que aconteceu com a Inquisição? Tem dúvidas de que foi o que aconteceu com as colonizações (‘alargar a fé cristã’, lembra-se?)? Tem dúvidas de que foi o que aconteceu com a fundação da Igreja de Inglaterra? Tem dúvidas de que por detrás do ubíquo Bin Laden não é a fé religiosa que faz mexer o terrorismo (independentemente de ele poder ser um homem religioso e de juntar o útil ao agradável)? Tem dúvidas de que não foi a fé religiosa que levou o Saddam Hussein, um homem que se não era ateu era pelo menos adepto da laicidade, a passar a apelar constantemente a Alá a partir da primeira guerra do Iraque?
Eu não.
Quanto ao Barthes, o gosto ou o desgosto de quem o lê é, como eu costumo dizer, o lado para que durmo melhor. Acontece que o prezado, num deslize imperdoável em relação a quem não bate bem da bola, pediu uma opinião de um autor para um trabalho concreto sobre um assunto concreto, não uma opinião sobre um livro para fruir ao serão ou para se deleitar ao sol numa tarde de praia. E como o Barthes e o Umberto Eco – arghhhhhh – são os que mais ‘visualmente’ escreveram sobre o assunto, olhe, lembrei-me dele, sei lá.
Podia ter-me ocorrido o Dan Brown ou o José Rodrigues dos Santos, ou a Margarida Rebelo Pinto, mas saiu-me o nome daquele eriçante. O Eco ainda escreveu uns romances engraçados, o prezado até podia assobiar para o ar e fazer um trabalho sobre a vida dos monges na Idade Média, agora o outro, confesso que não tem ponta por onde se lhe pegue.
Se ainda for a tempo de emendar o palpite, aqui fica a recomendação.
Ná!, ml, por aí a nossa amizade não tem futuro.
Mais um. A continuar a este ritmo, deito mesmo aquele racha-amizades pela janela fora e vamos antes ao Sade. Pode ser também Rilke? É que gosto muito, sabe, mas não ia agora fazer perigar ainda mais o bom entendimento se ele incorresse nos critérios de exclusão que tão bem definiu.
Muito obrigada pelo destaque de 1ª página que me dá, que uma vez sem exemplo não é um ‘mimo’ de quem sabe que não jogamos com armas iguais. Assinale-se, portanto.
29 comentários:
Pareceme que neste texto (da ML) faltam, algures, umas aspazitas para referencial excertos do JG.
Se assim for ponham lá os preguinhos porque, parece-me, ajuda ao entendimento.
.. a este hora li ... a 45graus - não me ocorre o termo. Vou beber um café.
"O que me recuso é a cair na discussão ridícula de comparar religiões, a..."
Cara ML, alguma vez passou-lhe pela cabeça que aquilo que repugna a algumas pessoas (por ex, a mim) não é o aspecto religioso do Islamismo, mas seim a promiscuidade entre politica, Direito e religião? Poderá ser errro meu, que não o expressei claramente, mas a minha islamofobia é provocada por esta mistura (explosiva).
A ml comete o erro básico de enfatizar os aspectos negativos comuns das religiões, para as meter no mesmo saco.
Com a tranquilidade que me advém do facto de ser agnóstico, não me custa salientar que é exactamente essa a técnica dos fanatismos monoteístas.
Os sacerdotes de uma qq religião fazem isso mesmo....todas as outras religiões são enxotadas para o curral das "falsas" religiões, dos "falsos" deuses.
Posta assim a coisa, não há já diferenças entre Shiva e Baal, entre Krishna e Ápis, entre o Sol e Kalima...são todos "falsos", são todos iguais, não há que perder tempo a lobrigar diferenças.
Logo, cristianismo e islamismo são iguais, logo a Bíblia, o Corão, O Tora, os Lusíadas, etc, são iguais, porque dizem coisas de pesadelo.
Provavelmente para a ml são igualmente inúteis e desagradáveis.
Mas não é isso que importa.
O que importa é o que eles são para aqueles que neles sustentam a sua acção.
E o Corão não é a Bíblia.
Não têm o mesmo estatuto para os respectivos fiéis e é aí que reside a diferença.
Se Pessoa louva a matança dos mouros, isso não é especialmente perigoso para os mouros, porque os livros de Pessoa não são Constituição, não são Lei, não são Código Penal, não são Código de Conduta.
Se o Corão manda matar os infiéis, isso é preocupante para os infiéis,porque é Lei, é fonte de Lei, é conduta piedosa.
Creio que até a ml percebeu a diferença.
Que o admita, é já outra coisa.
O mesmo em relação às Cruzadas.
A ml deve às Cruzadas o estar aqui e agora.
E parece não ter a mínima noção de que as Cruzadas, independentemente dos motivos pessoais que levaram cada um dos cruzados ao combate, foi uma reacção da chamada Cristandade ao avanço, até aí imparável, do alfange.
Que andou por aqui...e só de cá saíu porque as cruzadas aconteceram.
Sem cruzadas, no fundo um toque a reunir de muitos povos que partilhavam uma identidade, o islão teria imposto a sua lei na Europa.
Chegou a França e a Viena.
Entre Poitiers e Viena, a distância é pequena.
O resto...bem, o resto é a habitual hemiplegia de quem tem certezas e pensa ter dentro de si tudo o que há para saber.
P.S. Obrigado pela sugestão do Barthes.
Devolvo-lho nesta frase sobre as religiões, que quase parece aplicada a si:
Escreve Barthes em tom retórico, colocando-se ironicamente na pele de dois exploradores ocidentais:
"Os orientais possuem religiões particulares? Que tem isso? As variações de pouco valem perante a profunda unidade do idealismo....
O sincretismo foi sempre uma das grandes técnicas de assimilação da Igreja"
( Continente Perdido, Mitologias)
Vê?
Parabéns! http://portudo-e-pornada.blogspot.com/2009/09/como-eu-gostava-de-ter-escrito-isto.html
”Não tenho desses apegos a nenhum figurante político, seja ele qual for. É essa a minha vantagem sobre muita gente, não tenho ídolos. Talvez uma forte simpatia e admiração por um ou outro, e é tudo.”
Cara ml, tem realmente uma vantagem sobre muita gente. Se juntarmos os que abanam o Corão, com os que abanam o livro vermelho, temos mesmo muita gente...
”a minha posição sobre as religiões e a razão porque as considero todas iguais, todas boas ou todas más (mais más do que boas, diga-se).”
Compreendo o raciocínio mas não entendo a obstinada recusa de ver as nuances! No entanto elas existem. Creio já lhe ter lembrado que no século 16 Galileu teve prisão ao domicílio. Os actuais Galileus muçulmanos têm que se refugiar na terra do idio...Busch.
”os textos sagrados, tanto quanto o que conheço deles, não andam na essência muito longe uns dos outros.”
É verdade, mas na essência há diferenças essenciais... As nuances!
”todas elas já serviram de pretexto para o exercício de violência iluminada sobre outros.”
Absolutamente, algumas JÁ serviram, outras ainda servem. Esta diferença é essencial, sobretudo para quem é alvo (hoje) da dita cuja violência. Não o é tanto para quem confortavelmente cogita sobre esta temática à distância.
”Isto leva a que uma alma mais judiciosa se ponha a pensar que, provavelmente, o problema não está na religião mas nos oficiantes (diacrónica e sincronicamente falando).”
Uma alma ainda mais judiciosa está-se nas tintas, quer é resolver o problema. E se há a preocupação de melhor conhecer a religião problemática, isso devia servir para criar uma estratégia de combate e não para desculpar os oficiantes.
”Porque eu nem sequer nego, muito pelo contrário, tudo o que diz sobre o terrorismo islâmico”
Negar é impossível, ele é omnipresente. Mas dizer que ele é residual, ou que é a culpa deste ou daquele, disto ou daquilo, não é uma grande ajuda no combate ao terrorismo islâmico.
”O que me recuso é a cair na discussão ridícula de comparar religiões, a minha é melhor do que a tua,”
Para mim todas as religiões são ridículas, mas não entendo porque razão não se podem comparar? Como se comparam sistemas, países, pessoas, carros. Vejo nisto a diferença entre a sensata busca do mal menor pelo ‘homem comum', e a procura do absoluto pelo ‘homem novo’ que recusa ver nuances e logo que um detalhe não lhe agrada retrai-se num FUCK THE SYSTEM.
”Nunca discuto as fundamentações religiosas de actos políticos, nem sequer em tempos mais recuados, porque não são e raramente terão sido as verdadeiras, por mais mascaradas que estejam de actos de fé.”
Actos políticos são fundamentados naquilo que os políticos têm à mão de semear – qualquer coisa serve. Já houve uma guerra entre dois países da América Latina por causa de um penálti mal (ou bem!) assinalado. Mas isto não nega o facto do Islão ser bem mais fácil de utilizar para fins políticos do que o futebol.
”Tem dúvidas de que por detrás do ubíquo Bin Laden não é a fé religiosa que faz mexer o terrorismo (independentemente de ele poder ser um homem religioso e de juntar o útil ao agradável)?”
No caso Bin Laden (e não só) acredito perfeitamente que seja a fé religiosa o que o move. Útil: a sharia no poder. Agradável: quatro mulheres para todo o serviço.
Repito a frase de EJSANTOS que resume em poucas palavras todo o meu paleio:
Cara ML, alguma vez passou-lhe pela cabeça que aquilo que repugna a algumas pessoas (por ex, a mim) não é o aspecto religioso do Islamismo, mas sim a promiscuidade entre politica, Direito e religião?
rod: ”faltam, algures, umas aspazitas para referencial excertos do JG.”
Onde precisamente?
Em diagonal, porque só logo à noite lerei com atenção, parece-me que a frase
"Ná!, ml, por aí a nossa amizade não tem futuro."
é do JG.
... mas se calhar há mais ...
Sr. Carmo, logo agora que o Gonsalo escreveu um texto correcto, educado e urbano - eficaz, portanto, e sobre o qual nada a reclamar - é que resolveu colocar a minha resposta na 1ª página.
E já agora, e para sermos exactos e dar o seu a seu dono, só falta escrever em nota de rodapé:
A decisão da transcrição do texto, formatação da página e título são da exclusiva responsabilidade de Carmo da Rosa. A autora do texto não foi para aí ouvida nem achada, a sua surpresa deverá ser muito semelhante à dos fiéis.
Sr.Carmo, não continue a dar-me munições, não preciso de mais. Tudo o que diz está em concordância com o que afirmei, embora não dê por isso.
Porque pensa que Galileu foi perseguido?
Galileu era um homem muito religioso, assustou-se verdadeiramente quando comprovou o que comprovou e que contradizia a doutrina da fé, que era a sua. E o papa Urbano VIII, seu amigo pessoal, protector e homem de ciência também, e que partilhava esse conhecimento com Galileu, viu-se no entanto obrigado, em nome da instituição, a combatê-lo quando chegou ao trono do papado. Salvou-o da fogueira, mas não conseguiu ir mais longe do que isso.
Acha que era uma questão meramente religiosa, ou principalmente uma questão de poder? A partir do momento em que se aceitasse que o centro do universo já não era o planeta criado à imagem e semelhança do Criador e as cinco esferas da harmonia fossem postas em causa, estava o caldo entornado em relação à domesticação das ovelhinhas. O universo passava a ser arbitrário, já nem a Criatura era o centro geométrico de nada.
No braço de ferro pela posse absoluta da explicação do mundo visível e invisível, entre um simples mortal e a toda-poderosa igreja católica, Galileu não tinha qualquer hipótese, mesmo que a ciência fosse, como era, uma departamento da própria igreja.
Claro que se podem comparar religiões, é um tema bastante interessante, e até debulhar as razões pelas quais se tornam, de tempos a tempos, o combustível ideal para guerras, mas isso é uma outra discussão e um outro tema.
Caro ejsantos, é um prazer verificar que, querendo obter o efeito contrário, me dá toda a razão. Tudo o que diz se aplica às Cruzadas, ao colonialismo, aos Tudor.
Obrigada pelo apoio e pelo resumo das minhas palavras.
Prezado, não discuto religiões. Não me interessam neste contexto, não são a causa de nada, apenas produtos altamente inflamáveis que dão pretextos e ânimo aos guerreiros. Como sempre aconteceu e provavelmente acontecerá per omnia saecula saeculorum, amen.
E deixe-se de infantilismos, quem tanto tempo perde a catar contrastes inúteis que só servem para explicar estratégias e não motivos, devia tentar perceber um bocadinho mais do processo histórico e não vir com teses ridículas que fizeram o deleite de quem encomendou os manuais de história ao Mattoso pai. Aproveite a família e vá ao Mattoso filho, nomeadamente à História da Portugal e ao Cláudio Torres, e deixe de imaginar a história da humanidade como um romance de cavalaria.
As cruzadas não foram em primeira mão uma reacção ao islamismo (visto que se relacionaram irmãmente no Oriente), foram um movimento europeu de expansão pelo alargamento dos mercados a leste, bloqueados a sul por povos que dominavam a bacia do Mediterrâneo e que, por mero acaso, eram muçulmanos. Podiam ser hindus ou xintoístas ou ateus que o resultado teria sido o mesmo.
Tratava-se, como sempre, de poder. Nós ou eles. E a Reconquista partiu do sul da Europa, daqui exactamente, porque havia o know-how e a necessidade de vencer a asfixia de rotas comerciais já esgotadas, o norte europeu estava ainda demasiado assente na estrutura feudal para se mobilizar para esse tipo de empreendimento.
Não romantize o que não é passível de se tornar cor-de-rosa.
Vê?
Claro que vejo. O Barthes diz, de um modo muito mais informado, o mesmo que eu. Ou eu digo o mesmo que ele, afinal.
E prezado, balhamedeus, há-de ser uma eterna fonte de espanto. De vez em quando mostra uns laivos de curiosidade e entendimento e depois cai no mais grosseiro dos erros. Então vai logo citar um dos textos do Barthes que se vira completamente contra si e as suas teorias dos valores atemporais (diacrónicos, para chatear o sr. Carmo), moralmente superiores e antimulticulturalistas?
Sabemos que o sincretismo foi sempre uma das grandes técnicas de assimilação da Igreja... a postulação eterna do homem perante Deus, o carácter irrisório e contingente das geografias perante esta natureza humana, de que só cristianismo detém a chave.
...os ritos, os factos, de cultura não são nunca postos em relação com uma ordem histórica particular, com um estatuto económico ou social explícito, mas somente com as grandes formas dos lugares-comuns cósmicos.
Um pouco de “situação”, a mais superficial possível, fornece o álibi necessário à dispensa de uma situação mais profunda. Em face do estrangeiro, a Ordem não conhece mais do que duas condutas, ambas de mutilação: ou reconhecê-lo como “guignol” ou desarmá-lo como um reflexo do Ocidente.
Não vale a pena mais, todo o texto é o desenvolvimento desta tese.
Não descontextualize frases isoladas para tentar justificar teorias contrárias ao que o autor pretende, como faz sempre com o pobre do Orwell e outras vítimas.
Vejo que começou o Barthes da melhor maneira, mas não chega. A parte chata e arrepelante faz parte do programa. Ou em alternativa o Dan Brown, para satisfazer a necessidade lúdica das audiências, sei lá.
Caro Eurico, obrigada pelas suas palavras e simpatia.
Isto é uma já longa jornada de luta, nem digo pela discussão de ideias, cada qual tem direito às suas e nem pretendo converter ninguém, mas por algo muito mais simples antes de se chegar aí, o entendimento de que há outras vias de abordagem.
Como pode verificar por algumas reacções, mais uma vez nem sequer entendem o que eu quero dizer, falta o slot mental para encaixar a existência de outras explicações.
Não é por mal, como sabe, é mesmo do equipamento, e até torna a frequência deste espaço muito mais animada.
... mas se calhar há mais ...
Não há.
Na transcrição do meu comentário, o sr. Carmo esqueceu-se de que não se conseguem copiar/colar os tags HTML.
Ganda Marx, ia acabando com todas as religiões, até na China por acção de apenas um punhado de convertidos ao marxismo, liderados pelo ilustre Mao.
Se os comunistas não tivessem sido derrotados a religião dos que rezam de cu para o ar já tinha sido substituída pelo marxismo que é uma religião muito mais civilizada.
@ ml: ”só falta escrever em nota de rodapé”
Já está, e também a frase de José Gonsalo em itálico.
Bem, ml, não sei se valerá a pena...por vezes parece que você, tão extasiada de si mesma, não entende as coisas.
O Barthes refer-se exactamente à falta de empatia de uma cultura que vê os outros à sua imagem e sobre os outros projecta as suas próprias categorias.
Exactamente o que você faz, quando projecta sobre o islamismo e as "outras" religiões, as sombras daquela que enforma, ou de algum modo influencia, a cultura que a alimenta a si, a mim, a todos os que vivem nela e dela.
Fá-lo em tom crítico.
E você, não sei se tontinha, se fazendo-se, diz isso mesmo e nem por um momento percebe que é o exacto retrato da sua atitude relativamente a este assunto.
Notável!
Quanto às Cruzadas, bem, você lá saberá a História que anda a ler, mas um bom livro que tb lhe aconselho é "Maomé e Carlos Magno", de Henri Pirenne.
Para a ml entender o quão" irmamente" as culturas se davam e quão "irmamente", os muçulmanos conquistaram todo o Norte de Africa ( cristão), a Pérsia, partes da Europa, a Terra Santa, etc.
E, já agora, talvez não lhe ficasse mal ler "Eurico, o Presbítero", para ver a ideia de "irmamente" que Alexandre Herculano tinha na cabeça quanto à fraternal invasão muçulmana.
Definitivamente não vale a pena...não há pior cego do que aquele que se recusa a ver.
Ou então vivemos em mundos em angulo recto e o seu universo não é o mesmo que o meu.
No meu, para que conste, os bizantinos pediram ajuda ao Papa para enfrentar a ameaça muçulmana.
E este apelou aos Reis do Ocidente.
E assim começou.
O resto, é História.
No seu universo, se calhar terá sido diferente e foram os cruzados que atacaram Meca.
@ ml: ”Sr.Carmo, não continue a dar-me munições, não preciso de mais. Tudo o que diz está em concordância com o que afirmei, embora não dê por isso. Porque pensa que Galileu foi perseguido?”
Pois eu não procuro munições nem concordâncias, ficaria já bastante satisfeito com respostas simples e concretas às minhas questões, precisamente como trato as suas, com respeito. Uma questão de igualdade de raças e de classes. Caneco, também sou filho de Deus!
Eu sei muito bem porque razão Galileu foi perseguido... Eu sei muito bem que ele era um homem crente... Conheço muito bem a prova dada pela Igreja para provar que a terra não se move – e a prova e resposta de Galileu...
Sabe, neste país também há livros e excelentes documentários sobre o assunto e, ao contrário do nosso país, tudo em termos simples e acessíveis, ao ponto do vendedor de legumes, aqui do mercado ao lado, também saber perfeitamente porque razão Galileu foi perseguido.
Que tudo é uma questão de poder é uma verdade do Senhor de La Palisse. É o cada um puxa a brasa para a sua sardinha! Que os católicos no tempo da inquisição eram muito maus, e os cruzados mataram que se fartaram já todos nós sabemos. Mas estamos em 2009 – por isso comentário de ejsantos é legítimo - o cristianismo mudou de postura, adaptou-se. Precisamente para continuar a ter a sua parte de poder.
O Islão – tal qual se nos apresenta hoje em dia, e é com esse que temos de lidar e não um Islão utópico que virá no futuro – por enquanto não mostra provas de se querer adaptar.
Porquê?
Por duas razões. Primeiro porque quer o poder (total) e segundo porque está escrito no Corão (e o Corão é a palavra de Deus). A ordem é arbitrária e é-me completamente indiferente! O único que quero é continuar a comer presunto, beber vinho tinto, liberdade de expressão e ver as pernas às raparigas nas ruas de Amesterdão. E por estas simples aquisições sou capaz de me bater de armas na mão, e se os esquerdistas se metem no meio, para atrapalhar, também comem – nos cornos!
Resumindo, Galileu FOI perseguido. Os Galileus muçulmanos SÃO (hoje) perseguidos. É esta a diferença. É esta a discussão. Altas cogitações semióticas com estruturalistas (ou lá como eles se chamam) franceses é perda de tempo que poderia ser aproveitado para comer presunto, beber vinho.........
PS Esqueci-me de lhe dizer que o seu texto estava muito bem escrito (na minha MODESTA opinião poderia ser mais claro, mas cada um é como cada qual) por isso o publiquei.
Prezado, sinceramente já não há pachorra para a saga Orwell 2. Entretenha-se lá com o Barthes e não se rale muito a interpretar o pensamento do autor, ele já morreu e não se chateia.
E a avaliar pelo que já vai dizendo nestes primeiros comentários, o seu discurso não andaria muito longe do habitual, metade palha e outra metade comentar o comentador.
Se eu quiser relembrar o que me responderia ao ponto tal ou tal da afirmação x ou y, vou às cassetes, é só procurar nos arquivos que não andam longe.
De qq modo, registei mais uma recomendaçãozinha de leitura, essa parte é que já não dispenso.
“irmamente"
Porque é que tirou o til aos ‘irmãmente’?
Mas estamos em 2009, o cristianismo mudou de postura, adaptou-se.
Mas eu falo chinês? Não é isso que ando a dizer desde sempre? Que não é uma questão de religião mas de timing e de oficiante?
Eu bem digo...
Caneco, também sou filho de Deus!
Tem razão, as minhas desculpas, não se trata de falta de apreço. Fui ler melhor a parte do Galileu e vi que respondi ao lado. Era tal o volume de correspondência que tinha aqui à minha espera que alguma coisa me escapou.
Mas deixemos o assunto (por agora), andamos tanto à roda que ficamos orados.
na minha MODESTA opinião poderia ser mais claro, mas cada um é como cada qual, por isso o publiquei.
Ora, modesta... Se a sua modéstia quiser indicar-me onde lhe falta clareza, posso sempre reconsiderar. Não custa nada dar um jeito, agora mudar de estilo não prometo.
Agradecida pelo 'bem escrito'.
Altas cogitações semióticas com estruturalistas (ou lá como eles se chamam) franceses é perda de tempo que poderia ser aproveitado para comer presunto, beber vinho...
Ora mais um ponto em comum além do reconhecimento da utilidade do Wilders na animação de rua.
Escolha o presunto que eu levo um Bairrada macio.
A todos:
Não conseguirei responder a ninguém, antes de domingo.
Até lá.
@ ml: ”não é uma questão de religião mas de timing e de oficiante?”
Não é possível ser uma questão de religião, de timing e de oficiante? É que assim compreende-se melhor que a situação actual do mundo islâmico seja tão .........explosiva!
Não é possível ser uma questão de religião, de timing e de oficiante?
Se quiser... Agora já só falta explicar o que é fez mudar a postura do Cristianismo se a doutrina se mantém a mesma.
Talvez os tempos e os oficiantes, não? É apenas uma ideia, sei lá.
Mas eu continuo a falar chinês? Vá lá, fixe o que eu digo, não implica concordância – a religião é o combustível que alimenta o motor de explosão e não a causa.
Não me apetece mais. A partir de agora só se escrever em uzbeque.
"Caro ejsantos, é um prazer verificar que, querendo obter o efeito contrário, me dá toda a razão. Tudo o que diz se aplica às Cruzadas, ao colonialismo, aos Tudor.
Obrigada pelo apoio e pelo resumo das minhas palavras."
Cara ML. Não precisa de me ensinar História, que nesta área felizmente sou razoável. Não fique surpreendida mas sou anti clerical assumido. E neste aspecto o cristianismo não se safa. Mas porque razão dá-me exemplos do passado, e não me dá exemplos do presente? Até conheço alguns exemplos do presente, no que se refere ao cristianismo. MAs isso não apaga nem desculpa a promiscuidade muçulmana de que falei.
Acho que não preciso de falar muito mais sobre isto. Não a tomo por estupida (e espero sinceramente que não me tome por estupido) e provavelmente até entendeu muito bem o que lhe disse.
Bj
"E por estas simples aquisições sou capaz de me bater de armas na mão, e se os esquerdistas se metem no meio, para atrapalhar, também comem – nos cornos! "
Caro Carmo, muito bem dito. Por cá é isso que está em questão. Por outras terras, o que está em questão é a libertação de uma ideologia politica totalitária, disfarçada de religião.
Mas porque razão dá-me exemplos do passado, e não me dá exemplos do presente? Até conheço alguns exemplos do presente, no que se refere ao cristianismo. MAs isso não apaga nem desculpa a promiscuidade muçulmana de que falei.
Caro ejsantos
Não o tomo por estúpido, é evidente. Mas por acaso seguiu a discussão?
Desculpe lá, mas IRRA!
a libertação de uma ideologia politica totalitária, disfarçada de religião.
Ora seja muito bem vindo!!!!
Bem, esta noita vou para os copos com uns amigos!
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