Devia estar esta tarde de serviço à vindima, coisa que já não fazia há uns 40 anos. Começou a chover e fui corrido mesmo antes de pegar o alicate. Também quando era canalha o meu avô correu comigo. Parece que comia o que apanhava.
Tendo prometido a Eurico Moura escrever algo em favor (digo eu) do conservacionsimo, cá vai.
Não vivi, enquanto canalha, onde me encontro, no Minho. Aliás, ‘canalha’ é coisa do norte, não é do centro, zona de onde parte da minha família é oriunda. Mas era justamente no centro que eu assistia à difícil tomada de decisão sobre quanto drenar um terreno de cultura.
No norte, onde me encontro, toda a água parece ser bem aproveitada escorrendo de vizinho para vizinho até a última gota ser aproveitada. Tanques e charcos tomam conta da água não vá ela escorrer precocemente rumo à barragem mais próxima.
Nas terras da zona onde cresci a coisa era um bocado mais complicada porque não havia declive capaz de permitir o que o Minho permite. Quando dos retoques finais à sementeira havia que decidir sobre a quantidade de drenagem a aplicar ao terreno abrindo mais ou menos regos.
Se chovesse em demasia e houvesse pouca drenagem o terreno ficava de tal forma empapado que as culturas morriam por excesso de água. Se houvesse muita drenagem e chovesse pouco, as culturas morriam de sede.
O tempo passou e o malvado capitalismo permitiu que as bombas de rega (em furos, poços, etc) ficassem a baixo custo. Já então havia bombas a motor de combustão interna funcionando a petróleo (arranque a gasolina até que o motor ficasse quente) mas poucos as podiam comprar. A maioria dos agricultores nem poços tinham nos terrenos. Aliás, a corrente eléctrica era coisa rara.
A vida é o que é e vi-me afastado desse ambiente por bastantes anos tendo voltado a ele, a curta distância, um batatal de anos mais tarde. Voltado, encaro um panorama pouco agradável (pelo menos para mim). O agricultor tinha passado a borrifar-se completamente no facto de regar com água proveniente da chuva (directa ou indirectamente), tinha passado a drenar tanto quanto possível e tinha passado a utilizar indiscriminadamente as bombas de furo (bombas que recolhem água do solo a mais de 50 metros de profundidade, por vezes a mais de 150) para regar sempre que necessário.
Passou, portanto, a partir-se do princípio que todos os anos, sistematicamente ocorreria um dilúvio e a drenar-se tanto quanto possível.
Ribeiro Teles bem chamava a atenção que as barragens estavam a encher demasiado depressa e que tinham sido criadas condições nos terrenos que permitiam ‘despachar’ a alta velocidade a água das chuvas para as albufeiras.
Entretanto, resmungando por aqui e por ali, alguns agricultores queixavam-se dos vizinhos que teriam furos muito potentes. Mas nunca se interrogavam de onde viria a água que saia das bocas das bombas.
Eu tentava, com jeitinho, chamar a atenção que a falta de água mais que evidente em poços e evidente nos furos mais curtos se devia eventualmente (tentando minorar o efeito do que se seguia) ao ‘deitar fora’ da água das chuvas. Mas não só a hipótese não era claramente bem recebida como barrava, de imediato com dois disparates bem sedimentados: “a água que os furos tiram é proveniente de nascentes, nada tem a ver com a chuva” ou, “a culpa da falta de água tem a ver com os gajos que andam a mexer no tempo”.
Como será possível que em pleno século XX (na altura), com TV por todos os cantos, Internet na maioria das casas, com estudantes na escola, que se diga que há “nascentes de água” e que estas “nada têm a ver com a chuva”? Como é possível não se saber que só há água doce porque há chuva?
Bem, parece-me que a verdelhada tem responsabilidade no assunto porque os culpados de serviço estão mesmo à mão: “os gajos que andam a mexer no tempo”, eufemismo para “os culpados pelo aquecimento global”. Que outro papão anda à solta?
A Quercus e outros espantalhos bem querem que sejam instalados contadores em tudo quanto é poço e furo. Houve, aliás, recentemente, uma tentativa legislativa nesse sentido, abençoada pela verdelhada, cujo texto legal foi reinterpretado pela ‘figura’ do Ministro do Ambiente para acalmar o clamor (demonstrar falta de tomates).
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
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Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
2 comentários:
Ora aí está um bom exemplo de como a malta pensa que a água nasce nas torneiras!
Mas a culpa não é da verdelhada, que bem tem avisado. É do INAG ou, em última instância do Governo que não criou mecanismos de informação, inspecção e controle embora haja legislação.
Bem. Em boa verdade informação até há. A malta é que não lê.
http://snirh.pt/
http://www.inag.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=12&Itemid=37
Na minha família usava-se o poço pouco profundo: eu tocava a vaquinha para rodar o engenho carregadinho de alcatruzes. Era simplesmente ecológico.
Mudando de assunto: e esta? http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/middleeast/iran/6256173/Mahmoud-Ahmadinejad-revealed-to-have-Jewish-past.html
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