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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

SIC ITUR IN URBEM (cinco dias em Roma)


Centuriões em frente do Pantheon. 2008

Passei praticamente 5 dias a andar a pé em Roma. E perguntarão, mas porquê a pé? Muito simplesmente porque Roma tem muito que ver, e como está tudo tão concentrado a única forma é mesmo vê-la devagar, a pé... Uma vantagem, conheço hoje melhor Roma que Amesterdão. Não me refiro aos inúmeros palazzi, musei, e chiesi, porque a essas coisas só vou quando sou obrigado, ou quando não tenho mais nada que fazer, ou quando não há bichas, mas sim à topografia. Passado dois dias já não me perdia em Roma, uma proeza, tendo em conta o meu fraco sentido de orientação.

Um dia levantei-me mais cedo que o normal com a intenção de visitar o Colosseo. A minha mulher tinha-me arranjado um passe através do congresso em que participava que me garantia a entrada de borla para ver todos os calhaus milenares que desejasse. Chego ao Colosseo por volta das 10 e vislumbro uma bicha de turistas com mais de cem metros, que já ia além do Arco di Costantino. O sol, apesar de ainda não ser meio-dia, já era assaz insuportável. Ainda por cima os porteiros só deixavam entrar uma quantidade restrita de turistas de cada vez! Quando é que chegaria a minha? Talvez às três da tarde!


Colosseo. 1985

Visto esta perspectiva a minha caixa dos pirolitos começou automaticamente e sem grande esforço a arranjar desculpas para me pôr a cavar: afinal já cá estive em 1985; na realidade a Arena de Nîmes é mais bonita e mais bem conservada. Pronto, que se lixe o Colosseo. Fui ao Foro Romano que fica mesmo ali ao lado e não tinha bicha à porta e também tinha velhas pedras a dar c’um pau e, segundo me parece, também conta como souvenir cultural.



Foro Romano. 2008

Saí do Foro Romano pela via dei Fori Imperiali juntando-me discretamente a cada grupo de turistas com guia que explicava os calhaus numa língua que eu entendia: sempre se aprende alguma coisa, mas também a grupos com línguas que não percebia a ponta dum corno: sempre se vê umas turistas boas… just kidding! Nesta agradável confusão babilónica fui ter ao Monumento a Vittorio Emanuele II. Um molto bianco horrore monumentale que os romanos (habitantes de Roma) não gostam nem com pesto di pomodoro, e com toda a razão. Aliás o edifício é popularmente conhecido pelo termo depreciativo de Machina a Scribere. Realmente!

Na praça em frente da ‘máquina de escrever’ e com vista para a mesma pedi um caffe fredo. 4 EUROS?!
Ladri, pensei cá com os meus botões. Por outro lado, que diabo, estava sentado na esplanada da Piazza Venezia a 50 metros da varanda histórica de onde Mussolini prometia aos romanos panne e lavoro - e estes respondiam que já estariam bastante satisfeitos só com panne - e além disso desta vez tratava-se realmente de um vero caffe fredo (café curto e forte misturado com gelado de moca) e não, como várias vezes me serviram em Roma, café feito há umas horas atrás que sai frio do frigorífico!


Turista que bebe café frio em vez de caffe Fredo. 2008

Os preços variam muito em Roma e nada têm a ver com a qualidade, mas sim com o local onde o produto é degustado. Quem não quiser pagar 4 euros por uma bica, ou 7 por uma imperial, deve evitar as esplanadas das grandes praças, como a Piazza Navona ou a Piazza del Popolo. E realmente o popolo de cá evita as esplanadas destas praças exclusivamente povoadas por turistas incautos ou endinheirados. Fora destas atracções, a qualidade dos comes e bebes é excelente e a variedade estonteante. Os preços situam-se razoavelmente entre Lisboa e Amesterdão.


Piazza del Popolo. 2008

Falando em Euros! Em 1985, durante a minha primeira visita a Roma, estava nos meus planos, mas não pude ou esqueci-me, de visitar o EUR (Esposizione Universale di Roma). Um bairro em estilo neo-clássico mandado construir por Mussolini em 1937 para albergar a exposição internacional de 1942. É aconselhável para quem estiver interessado na chamada arquitectura fascista - se realmente é lícito politizar a arquitectura - sinceramente não creio. Pessoalmente achei alguns edifícios demasiadamente imponentes, ver mesmo pesadões e repetitivos, raramente elegantes, mas não muito diferentes, talvez até mais sóbrios do que aquilo que o muito esquerdista arquitecto catalão Ricardo Bofill constrói aqui e ali. Como por exemplo o bairro Antigone em Montpellier. Com o EUR Mussolini tencionava alargar Roma até ao mar, até Ostia, mas por causa da Guerra a coisa não se concretizou. Há males que vêm por bem …



EUR. 2008

À volta da praça Marconi encontram-se três enormes museus do tamanho dos Jerónimos mas muito branquinhos: Museo dell'Alto Medievo, Museo delle Arti e Tradizioni Popolari e Museo Preistorico Etnografico. Entrei num deles, porque a porta estava aberta, subi uma enorme escadaria e bati com o nariz numa porrada de portas fechadas. Nem viva alma!

Fui ao outro, ao Museo Prestorico. Outra enorme escadaria imperiali que dava para um patamar com várias portas. Numa delas um simpático funcionário diz-me “it’s here, and is free!”. Pronto, menos mal, já ganhei para as solas.
Numa sala de pequenas dimensões vi numas vitrinas utensílios domésticos, ornamentos e espadas etruscas muito ferrugentas. Quando quis passar para as outras salas, o funcionário sorrindo travou-me o passo: “Finito museo, the rest are offices”.
Caneco, afinal o museu parece um Ferrari, 90% é motor, o resto dá à rasca para um piloto e um conta-voltinhas!!!

Vista a partir do Palazzo dei Congressi, EUR. 2008

Já não fui ao terceiro, e, cansado de tanta cultura e de caminhar, fui beber mais um caffe fredo e comer um bolo (tudo excelente e como já tinha notado por metade do preço praticado nas esplanadas das famosas Piazzi!) para ganhar coragem para fotografar o edifício mais bonito que vi no EUR. O Palazzo della Civiltà Italiana, também conhecido por Palazzo della Civiltà del Lavoro. Não me deixaram entrar por razões de… lavoro. O popolo de cá, com o peso que 2 mil anos de civiltá lhes confere, chama a este belo edifício o colosseo quadrato.



Colosseo quadrato, EUR. 2008

Mesmo para quem não tenha orgasmos diante de velhas pedras, há muita coisa que ver nesta cidade em que cada esquina está sobrecarregada de factos históricos, já para não falar das gajas. Mas não falar, seria uma horrível omissão, um peccati, porque as romanas são mesmo muito boas. Eu até disse à minha mulher, se vir uma feia faço uma fotografia – não consegui fazer uma foto, mas fiquei com dores de pescoço de tanto seguir os movimentos destes Corpi di Dio, destas provas da existência de Deus.


Prova da existência de Deus em frente da Fonte de Trevi. 2008

Corpo di Dio lembra-me sempre a Fonte de Trevi, ou melhor, a Anita Ekberg a saltar lá pra dentro na Dolce Vita, chamando languidamente pelo jornalista de escândalos Marcello Rubini (Marcello Mastroianni): “Marcello, come here, come here”. No filme, o fotógrafo que acompanhava Marcello e que fez a famosa foto da Anita Ekberg dentro da fonte chamava-se Paparazzo. A partir deste momento nasceu o conceito.

Mas além das gajas, o que em 1985 mais me impressionou durante a minha visita à cidade eterna foi sem dúvida o Pantheon, em 2008 a mesma coisa. Única diferença é que em 1985 vi o edifício com mais 15 e agora deveriam estar pelo menos 275 pessoas a tirar fotografias debaixo da enorme e impressionante cúpula (43 metros de diâmetro). Dentro do Pantheon só espanhóis eram mais que as mães. Cada vez que os ouvia tinha que me suster para não me pôr a berrar junto deles: PANTEONES, PANTEONES…



Pantheon, interior. 2008

E pensar que o mais belo edifício de Roma - mandado construir antes de Cristo por Marcos Agrippa, genro do imperador Augusto, e reconstruído pelo imperador Adriano no anno domine de 125 -, se salvou, ao contrário de muitos outros, do zelo destruidor da Santa Igreja porque, sorte do camandro, o Papa Bonifácio IV em 609 o transformou numa igreja, a igreja de Santa Maria dos Mártires. Só assim, e só na época do renascimento é que o Panteão voltou à sua função inicial de templo pagão. Entretanto, no século 17, outro Papa, o Papa Urbano VIII (Maffeo Barberini), tratou de gamar o bronze da fachada do único monumento da antiguidade romana que chegou intacto aos nosso dias para fazer o baldaquino da Basílica de São Pedro. É caso para dizer, com os espanhóis: estos Papas son la hostia!


Papa com peixinhos. 2008

Isto levou Pasquino - uma figura enigmática da idade média que tinha por hábito escrever nas paredes de Roma críticas e sátiras contra as autoridades, e cuja prática fez tradição - a afirmar Quello che non hanno fatto i barbari, hanno fatto i Barberini. (aquilo que os bárbaros não conseguiram fazer, fizeram os Barberinis). Outra ‘pasquinata’ muito famosa apareceu por volta de 1810, depois das ocupações napoleónicas, e tem a ver com a ‘requisição’ por parte de Napoleão Bonaparte de umas pecitas de arte: I francesi sono tutti ladri, non tutti ma buona parte. (creio que toda a gente entende este trocadalho do carilho, como se costuma dizer na minha terra). Pasquino foi imortalizado pela população de Roma com uma estátua e uma pequena praça ao lado do Palazzo Braschi e muito perto da Piazza Navona.

Por falar em ladri, no último dia da minha permanência gamaram-me o porta-moedas com pouco dinheiro mas com cartões de crédito que tive que mandar anular o mais rapidamente possível. Por enquanto parece que ainda não compraram nada com o meu cartão. Espero que os lojistas italianos discriminem quanto baste: o energúmeno quer comprar uma televisão com ecrã plasma de 104 cm com um cartão de crédito holandês; não é louro nem tem os olhos azuis; não tem pinta de turista mas sim de ciganola romeno; Écho! cheira-me a esturro, vou já chamar os carabinieri…

Uma chatice que poderia bem ter evitado, foi a visita, desta vez de autocarro aberto (archeobus) com o sol impiedoso a atravessar-me o chapéu de palha, à famosa Via Appia e mais uns calhaus à volta. A informação era dada através de auscultadores na língua da nossa escolha. O problema é que era muito difícil sintonizar o gravador com a velocidade do motorista, que queria mas’é ir o mais depressa possível embora – imagino para ir ter com a Beatrice Russo. Quem viu o filme Il Postino (sobre Pablo Neruda) sabe ao que eu me refiro e compreende a pressa. Resumindo, uma pincelada, e fiquei sem saber onde fica precisamente a famosa Via Appia e, mais grave, sem saber (no momento) quem ganhou o contra-relógio no Tour de France – e se o Sastre aguentou a pedalada do Cadélllllé Evansssssé (como diziam os comentadores italianos da RAI Tre).

Esta pincelada é totalmente da minha responsabilidade e desta vez arrastei a minha mulher na aventura.
Creio vagamente ter lido no livro da Oriana Falacci (La rabbia e l'orgoglio) a controvérsia à volta da construção em Roma da maior mesquita da Europa. O meu guia turístico faz referência acrescentando o ambiente oriental do bairro onde esta se encontra.
Onde está a mesquita e como é que se diz mesquita em italiano? “Moschea, e você tem que apanhar na estação Termini o autocarro 92 que vai para Villa Adda”, responde-me o gerente do hotel.

Dentro do autocarro, e enquanto a minha mulher, entre duas palavras de inglês e meia de italiano, perguntava ao condutor pela paragem Villa Adda, eu, mais latino, mais teatrale, insistia em Moschea Moschea seguido de Allah u akbar vergando ao mesmo tempo o tronco com os braços estendidos em direcção não da Meca mas do condutor. A minha mulher, envergonhada, interrompia às cotoveladas a minha demonstração de reza muçulmana que atraía a atenção dos restantes passageiros.

Resultado, o condutor, confuso, aconselhou-nos a sair em Priscilla. Entretanto um passageiro que se interessou pelo nosso caso, dá a entender, em inglês vagamente perceptível, que também saía em Priscilla e que nos explicaria como chegar à mesquita. Para isso teríamos que atravessar Villa Adda. Neste momento, eu, devido à confusão de línguas e ao stress, em vez de Villa Adda juro que percebi Bin Laden! Perplexo, ma non tropo, tendo em conta os excessos do multiculturalismo Europeu que eu tão bem conheço, pergunto ao italiano: A paragem da mesquita chama-se mesmo Bin Laden? “No, ma che Bin Laden, Villa Adda”. Pronto pá, não te zangues! Percebi finalmente que Villa Adda não é uma paragem mas sim um parque algures perto da mesquita.


'SS 20' apontados para o céu, para Alá. Istanbul 1996

Porca miseria, não era assim tão perto. Ainda por cima eu não conseguia imaginar uma mesquita que fará um ambiente oriental num bairro deste tipo, tão chique, que mais parecia o Restelo (Lisboa) ou a Foz (Porto). Desesperados de tanto andar perguntámos ao primeiro jogger que cruzamos no lindíssimo mas enorme parque: “Signore, prego, dove la Moschea?” O italiano, infalivelmente classe-média alta, olhou-nos demoradamente antes de responder, creio que tentava compreender: primo, o que é que turistas fazem no parque e, secundo, o que vão fazer para a mesquita a estas horas? Mas o charme discreto da burguesia não lhe permitia a indiscrição necessária para satisfazer a sua curiosidade e fazer a pergunta que os seus olhos insistentes denunciavam, e que eu teria todo o gosto em responder, e ao mesmo tempo saber mais coisas sobre a controvérsia…

“A mesquita é do outro lado deste monte”, disse o jogger apontando vagamente o horizonte. “Vocês vão ter que sair do parque e seguir a estrada para a esquerda”. Porca Madonna, na estrada, pouco frequentada, não há táxis à mão de semear e só ao fim de meia-hora de marcha é que avistamos finalmente a maior mesquita da Europa. Coitadinha, que coisa tão feia, ali entalada entre um pinhal e os carris da estação Flaminio. Golpada maquiavélica da câmara de Roma para agradar a gregos e a troianos.

Niente
ambiente oriental. Niente mercado com produtos exóticos. Niente barbas ou burkas. Tudo fechado a sete chaves. Nem uma agulha bulia na quieta melancolia da casa de Maomé.
Como é triste o Islão, sobretudo quando comparado com a algazarra cacofónica de turistas vindos do mundo inteiro em frente da Basílica de São Pedro...


Piazza Pio XII

18 comentários:

Paulo Porto disse...

Um bom cicerone vc, CdR.

Saindo da sua descrição de Roma, e de regresso ao retângulo, Belém não é chique. É o melhor lugar do mundo, certo, mas não é chique. Em Belém, chique mesmo só a pastelaria - a Chique de Belém, passe a publicidade.

Agora fico à espera das crónicas dos outros todos. Já que não tenho férias, leio-vos as crónicas das ditas.

Depois pontuo. Notem bem que têm de se esforçar para se poderem equiparar a esta.

EJSantos disse...

Caro Carmo da Rosa, tu entusiasmas te por futebol, eu entusiamo me por história. Especialmente por História de Roma. Espero ainda ir aí a essa Cidade.

Unknown disse...

Magnífico cdr. Lê-se de um fôlego.

Mas olhe que a arquitectura é do mas politizado que há.

Os prédios de habitação do socialismo das cidades para lá do Muro de Berlim, o enorme palácio de Ceausescu, o estilo "Estado Novo",em Portugal, a megalomania que Hitler tinha planeado para Berlim, com edifícios faraónicos e avenidas imensas, as ideias de Mussolini, os cenários fantasiosos de Kim Jong Il, etc.

Bem, pelas suas palavras, revi Roma.
Só faltou o Papa...

Luís Oliveira disse...

Muito bom e muito engraçado.

“No, ma che Bin Laden, Villa Adda”!

LOL!

Carmo da Rosa disse...

Paulo Porto disse:
“Belém não é chique.”

Tentei apenas encontrar uma realidade nacional parecida. Porque eu de Belém, bem, realmente só conheço a pastelaria. Talvez eu esteja a confundir com o Restelo! Não será assim?

ejsantos disse:
“Espero ainda ir aí a essa Cidade.”

Mas tenha cuidado, não se deixe gamar. sobretudo no Metro e em autocarros cheios de gente.

Lidador disse:
”Mas olhe que a arquitectura é do mas politizado que há.”

Quando estava a escrever também me lembrei de alguns dos excelentes exemplos que você cita e fiquei uns belos minutos parado, em dúvida. O argumento que prevalecia é que o “big is beautiful” é mais uma questão cultural do que propriamente ideológica. Porque todas as ideologias parecem padecer do mesmo ‘mal’. Mas de todas as formas a sua observação é bastante pertinente e eu ainda não estou totalmente convencido que a coisa seja como eu digo. Um tema interessantíssimo para quem se queira aventurar – e eu serei todo ouvidos…

Luís Oliveira disse:

LOL!

É que eu Islão, Maomé e Meca confundo tudo, e depois na sonoridade nasal italiana ‘Villa Adda’ até soa parecido com Bin Laden…

Paulo Porto disse...

"Talvez eu esteja a confundir com o Restelo! Não será assim?"

É assim mesmo.

Anónimo disse...

Sim, a arquitectura pública é política. Ou não se tratasse da ocupação (poder sobre) do espaço público.
Essa de ir a Roma (onde há tanta coisa bonita) ver uma mesquita, só mesmo por masoquismo, oh Carmo...

Anónimo disse...

Estou a ver a cara do italiano a dizer: “No, ma che Bin Laden, Villa Adda”.
E a pensar: “Mama mia! cazzo, va fan culo”

… se realmente é lícito politizar a arquitectura, sinceramente não creio.

Oh CdR! quanto ao politizar da arquitectura, não precisa de ir para lá do muro de Berlin, em Amsterdam a poucos minutos da sua casa, Bijlmermeer é um colossal exemplo da arquitectura pensada e posta em pratica pelos burocratas “do partido”.
Para construir a felicidade do “homo social-o-democrático”

Como o nome indica em forma de colmeia…

http://maps.google.com/?ie=UTF8&ll=52.314566,4.968824&spn=0.028439,0.063171&t=k&z=14

Claro que os Holandeses fizeram-lhes um manguito, os mamarrachos mais nocivos já foram demolidos, o que resta são guetos de imigrantes de África e das Caraíbas.
Não e aconselhável visitar este labirinto depois do por do sol.

Maria de Mira disse...

olá meu caro

obrigada antes de mais pela interessante viagem visual e literária que me foi oferecida pela tua inteligência, perspicácia e meticulosidade...levarte-ia comigo para qualquer país do mundo (só pelos comentários claro!!!)...
a riqueza do referencial comparativo é de conteúdo respeitável o que obviamente nos enriquece...continua...o mundo precisa de linces como tu...um grande beijo
Elisa de Mira

Maria de Mira disse...

LEVAR-TE-IA é a palavra que quero corrigir no meu comentário...odeio erros ortográficos...:)
Elisa

Anónimo disse...

Geachte heer Rosa,


Het is niet mijn gewoonte om op een blog te reageren, en al helemaal niet als de gemene deler van zo’n blog een hardnekkig onbehagen betreft (zoals natuurlijk meestal het geval is); in het geval van u en uw blogvrinden, als ik het goed zie, gericht op de muzelman.

Tijd is immers kostbaar - zeker in mijn geval – en, zoals mijn oude moeder vroeger zei: geld kost niets (ik moet eerlijk toegeven dat ik die uitspraak nooit helemaal heb begrepen. Zoals ik ook niet weet of zij zelf wel wist wat ze bedoelde. Vreemd genoeg was de zeggingskracht van die paar woorden er niet minder om).

Mijn moeder, die overigens ook beweerde dat mensen, naarmate ze ouder worden, zich steeds minder druk maken om de dingen. Maar niets is minder waar! Daar had ze het toch helemaal bij het verkeerde eind. Van alle gezegdes is dat wel de meest potsierlijke. Ik maak me overal druk om. Is het niet om de veranderde opmaak van de krant, of het aankoopbeleid van mijn club, dan wel om het wonderlijke fenomeen dat, waar het weerbericht vroeger steevast mooi weer voorspelde, waarna het een dag lang grijze muizen regende, tegenwoordig het omgekeerde aan de hand lijkt, en de weermannen steeds somberder voorspellingen doen, die anderendaags door hardnekkige zonneschijn teniet wordt gedaan, en ik er maar niet achter kan komen wat ik het ergste vind.

Maar goed, ik zal u verder niet vermoeien met mijn persoonlijke grieven en irritaties. Zoals het een fatsoenlijk mens betaamt (en daar houd ik mezelf toch voor, ondanks alles, en na zovele jaren), hou ik die liever voor mezelf.

Dat zouden mensen vaker moeten doen; iets voor zichzelf houden. Iedereen schrijft maar raak tegenwoordig in het wereldje dat ze in uw taal meen ik blogosfera noemen. Terughoudendheid is ver te zoeken. En dat zou nog tot daar aan toe zijn wanneer ik, als eenvoudige lezer, wist wie ik voor me had. Anders gezegd, hoe weet ik wat ik van de woorden op een blog moet denken als ik niet weet met wie ik van doen heb?

Neem nu uw eigen blog; kunt u mij bijvoorbeeld vertellen wat de leeftijd is van de medewerkers aan Fiel Inimigo, en wat hun maatschappelijke positie? Weet u zelf eigenlijk wel waar hun wieg stond, of dat ze keurig getrouwd zijn, dan wel dat ze zich naar goed Lusitaans gebruik met enige regelmaat vergrijpen aan de meisjes die u, naar ik begrijp, zo treffend als ‘gajas’ omschrijft, of dat ze, God verhoede (en ik durf het bijna niet op te schrijven), des nachts de parken afspeuren op zoek naar rondogige Marokkaanse boys (zoals ooit uw voorbeeld, de heer Fortuyn deed)? Wat is het merk en de kilometerstand van hun auto? Wat de limiet op hun credit card? Waar gaan ze ter kapper?

Om niet dezelfde fout te maken, wil ik daarom eerst gezegd hebben dat ik een dezer dagen 71 jaar oud hoop te worden, Se Deus Quiseres, dat spreekt voor zich (ik hoop maar dat ik het juist spel). Ik ben derhalve gepensioneerd (of had ik dat al gezegd?), architect in ruste (mijn precieze naam is niet relevant. Laat ik volstaan met de opmerking dat ik als architect en stedenbouwkundige nauw betrokken was bij de totstandkoming van de Bijlmer en dat ik zelf verantwoordelijk was voor de parkeergarages).

Maar goed. Ik zou het niet in mijn hoofd hebben gehaald om op uw blog te reageren als mijn vrouw niet vanochtend bij toeval een opmerking maakte over een gebouw waar ik lang geleden mijn handtekening onder zette.

‘Alles wat jij bouwt loopt onder water of wordt afgebroken voordat de mensen er van ellende uitspringen.’ Dat waren haar woorden. Precies zo. Ze kan soms echt hartelijk zijn.

Dat het klimaat verandert, wil er bij haar niet in. Zij hecht eraan alle ramspoed ter wereld aan mijn gebouwen op te dragen. Het is wat van de liefde overblijft, soms.

Hoe dan ook, al googlend op mijn geliefde ‘Bijlmer’ kwam ik op uw blog terecht (vraag me niet hoe dat kan, zo prominent is uw blog, met alle respect, tenslotte niet, en ik heb mijn zoekactie/resultaat desgevraagd ook niet kunnen reproduceren) en bleef daar, zoals dat heet, hangen. Het gebeurt nu eenmaal niet vaak dat ik in het Portugees over een van mijn scheppingen lees (dat ik uw taal überhaupt beheers, heeft niet alleen van doen met mijn bewondering voor de grote Niemeyer, maar valt ook te herleiden op een jarenlang verblijf in uw land in de vroege jaren zestig, toen Portugal overigens nog een georganiseerde en ja, zelfs frisse indruk maakte. Overigens kan ik uw prachtige taal weliswaar lezen, maar ben ik bij het schrijven nooit veel verder gekomen dan de meest eenvoudige boodschappen - en neemt u dat laatste vooral letterlijk. Het is de reden dat ik mijn gedachten hier in het Nederlands schrijf, op het gevaar af dat u of enige van uw medebloggers er aanstoot aan neemt. Ik troost me maar met de gedachte dat een in het Portugees gestelde bijdrage van mijn kant nog tot veel meer ergernis zou leiden).

Laat ik u eerst feliciteren met uw bijdrage. Hij is levendig geschreven, in een persoonlijke stijl, waarbij u de petit histoire niet schuwt, en op heel vanzelfsprekende wijze serieuze onderwerpen verbindt met zaken die ik eerder het burleske dan wel het scabreuze toebehoren. De reisbrief staat u goed. U zou zoiets vaker moeten schrijven, is mijn bescheiden mening. Ik heb natuurlijk even op uw blog zitten rondkoekeloeren. Wat gelijk opvalt is de onmogelijk zware toon van de stukjes (niet alleen van uw stukjes hoor, uw medebloggers betonen zich ook zelden het zonnetje in huis). Niets deugt; de media niet, politici niet, ja zelfs de eigen onvrede lijkt zo nu en dan aanleiding om nog maar eens een extra register aan klaagzangen open te trekken. Alsof onze wereld elk moment met afgrijselijk dondergeraas omlaag kan komen vallen (bij wijze van spreken dan). Nee, dan bevalt uw reisverslag mij toch beter. Meneer Rosa, verdoet u uw kostbare tijd toch niet met politiek geneuzel en agitatie (het komt heus wel goed met de moslims en ons)! Gaat u in plaats daarvan eens wat vaker op reis en schrijf dan weer zo’n een aardige bijdrage. Dat de wereld voos is en de mensen onbetrouwbaar; dat weten we toch allang?

Maar goed, ieder het zijne, en laat ik ter zake komen. Dat ik sinds mijn pensionering tijd over heb, hoeft ten slotte niet ten koste van anderen te gaan. Fascisme en bouwkunst. Bestaat er zoiets als fascistoïde bouwkunst? Een goede vraag. Nu het antwoord nog.

Allereerst het begrip fascisme.

U weet ongetwijfeld net als ik dat er een tijd is geweest, althans in Nederland, waar u woont, dat het begrip fascisme te pas en te onpas werd gebezigd. Ik herinner me een uitzending op Televisie waarin de als ‘rechts’ bekend staande Katholieke Volksschrijver Gerard Reve, die overigens (maar ook dit weet u natuurlijk) ooit het begrip ‘linkse kerk’ muntte, door een journalist het vuur aan de schenen werd gelegd, en Reve op een gegeven moment uitriep: ‘Ja, maar in Nederland ben je al een fascist wanneer je licht op je fiets hebt.’

Die tijd is gelukkig voorbij. In Amsterdam fietst vrijwel niemand meer zonder verlichting. En zo achteloos als in die verdwaasde jaren zeventig wordt nu niemand meer voor fascist uitgemaakt. Zelfs uw eigen Antonio de Oliveira Salazar mag tegenwoordig niet meer zo heten. Dat maak ik tenminste op uit een recente biografie (door een meneer Noguiera Pinto) van deze talentvolle boerenzoon uit Vimieiro, die zich in het hiernamaals toch zal hebben zitten verkneukelen dat hij vorig jaar door uw volk tot belangrijkste Portugees uit de geschiedenis werd uitgeroepen.

Maar ik dwaal af. Het is de ouderdom, zegt mijn vrouw, en dat ik er maar vrede mee moet hebben, omdat het toch niet over gaat.

Fascisme dus. Een moeilijk begrip, ontstaan uit en van toepassing op bepaalde regimes in een bepaald tijdgewricht. Een begrip ook dat, zoals gezegd, later nogal werd misbruikt, en zo aan betekenis verloor.

Vreemd genoeg heeft het begrip als aanduiding van een type architectuur (en stedenbouw, laat ik dat meteen vooropstellen) een zekere zeggingskracht behouden.

Fascistische architectuur staat daarbij meestal voor een aantal samenhangende kenmerken van gebouwen (of evenementen). De gebouwen zijn groot, kennen een protserige (veelal neo-klassieke) stijl, en worden nogal eens geteisterd door een benauwende regelmaat. Daarbij zijn de straten aanmerkelijk breder dan vervoersdata strikt vereisen en zijn de pleinen van een groteske omvang.

Waarmee u ook duidelijk zal zijn dat fascistische architectuur (vanaf hier laat ik gemakshalve de stedenbouw hier ook onder vallen) van alle tijden is.

Wie beweert dat de architectuur in Benito’s Italie (de enige begripszuivere fascistische architectuur, naar mijn smaak, afgezien wellicht van Speers pogingen) daadwerkelijk afwijkt van de architectuur bij andere megalomane regimes (de voorbeelden hoef ik u vast niet te noemen), moet dat nog maar eens aan de hand van concrete kenmerken laten zien.

Zoals het ook een beetje flauw is dan maar alle megalomane architectuur fascistisch te noemen. Want daarmee zijn we weer terug bij het fietslichtje van de betreurde Gerard Reve.

Maar ik wil u terwille zijn. Ik ben tenslotte zelf medeverantwoordelijk voor een project dat in uw blog met dat zelfde epithet kreeg toebedeeld. Mijn prachtige Bijlmer! Fascistisch! Maar goed, daar moet ik boven staan. Vooruit dus. Wanneer fascistische architectuur niet bestaat; wat moeten we dan met al die megalomane gebouwen en steden van de Ceaucesco’s van deze wereld?

Anders gezegd, moeten we het beestje toch maar een naam geven?

Ik heb over die vraag lang over nagedacht. En God weet dat ik graag met een pasklaar antwoord zou komen. Maar in al zijn goedheid heeft hij mij, tot op heden althans, dat geluk niet deelachtig willen maken.

Ik kwam niet veel verder dan losse frasen, kenmerken schijnbaar zonder onderling verband. Het had te doen met de fascinatie voor massa, en met het concept van een eeuwigdurend rijk (als politieke uiting van het ontkennen van de eigen vergankelijkheid – psychologie van de koude grond, toegegeven, maar ik had niet beter). De gebouwen waren niet bedoeld om mensen in te huisvesten. Het waren steengeworden dromen, megalomaan, paranoïde, en met een sterke seksuele lading (Freud mag dan een beetje onder vuur liggen recentelijk, en het was naar het schijnt inderdaad een beetje en knoeier, wetenschappelijk gezien dan; al te vaak zat hij er met zijn Fingerspitzengefuhl toch maar akelig dichtbij; zo ook hier). De gebouwen (en natuurlijk; de pleinen etc) waren tegelijk ook bedoeld om die dromen de nek om te draaien, om ze uit het eigen hart weg te rukken (dat dromen zich ergens in het hoofd bevinden is een oude misvatting), en te verbannen naar een stenen rijk, waar ze geen schade zouden kunnen aanrichten. Het zijn gebouwen en straten als decor. Potemkin. Eisenstein.

Het geheim heb ik niet kunnen achterhalen, maar dit wilde ik er toch nog over kwijt (voor wat het waard is, toegegeven, ik ben een oude man en wordt van nature door twijfel geplaagd – een eigenschap die u en uw medebloggers, gezien de ferme meningen, ten enen male lijken te ontberen): vergeet u vooral de trappen niet!

Laat mij de trappen zien, en ik vertel u wie u bent. Het ware beter de architectuur die in uw blog door sommigen fascistisch wordt genoemd, te betitelen als ‘scenario’, als ‘toneel’. Want als ze door iets worden gekenmerkt, dan wel door ‘beweging’ .

U ziet, ik ben er nog niet helemaal. Een juist begrip ontbreekt nog. Maar wat de in uw blog genoemde voorbeelden voor alles kenmerkt, is dat ze in hoge mate ook als scenario’s kunnen worden gelezen. Als scenario’s voor massale beweging - mensenstromen, kolkende hordes - als script voor de opvoering van een massa.

Tussen Ben Hur en de Bijlmermeer zit minder verschil dan u wellicht denkt.

Sommige architecten kunnen dat goed. Speer natuurlijk, een natuurtalent. Maar ook iemand als Koolhaas heeft aanleg. Dat is niet alleen te zien aan zijn Chinese Staatstelevisietorens. Het zit in de trappen. Wie goed naar zijn ambassade in Berlijn kijkt, weet genoeg. Dat is louter trap. Koolhaas, als volleerd scenarist, nam een trap, zette die eens mooi neer – nog eens daar om de hoek, dan weer terug, daar lekker breed uitwaaierend tot een plein, en dan een spiraal naar beneden etc – en zette daar, louter omdat het nu eenmaal gebruikelijk is, wat muren omheen.

Het liefst had hij het bij een trap gelaten. Een trap waarop de massa zich een weg baant naar een niet bestaand doel; ongeremd, blind, laveloos - beweging als doel op zich.

Misschien begrijpt u wat ik bedoel, of kunt u zich er tenminste iets bij voorstellen (we moeten ons hier op aarde met dat weinige maar tevreden stellen, zegt mijn vrouw wel).

Ik had Leni Riefenstahl nog willen noemen, en ook nog iets willen zeggen over de opening van de Chinese Spelen van eerder vandaag (er is geen wezenlijk typologisch verschil tussen zo’n evenement en een regeringsgebouw ttv Ceaucesco – bent u overigens wel eens in Prora geweest, dat kan ik u van harte aanbevelen; dat is een van de meer zuivere voorbeelden; zoekt u het anders eens op via dat internet van u), maar ik laat het hier maar bij.

Het klaart weer op buiten. Ik moet nog wat boodschappen. Bewegen, zegt mijn vrouw, je moet veel bewegen. Maar ik vermoed dat ze dat slechts zegt om zo nu en dan van mij verlost te zijn).

Tijd om afscheid te nemen meneer Rosa. En misschien moet ik daarbij nog maar eens herhalen wat ik in het begin al zei; dat u van die aardige reisbrieven schrijft, met mooie anekdotes en zo’n fijne luchtige toon. Blijft u dat vooral doen en vergeet u dat politieke geklaagzang. Geloof u mij (ik ben tenslotte op leeftijd); uw politieke aanklachten zullen de wereld geen stuiver doen veranderen, maar uw reisbrieven daarentegen, die kunnen heel wat in gang zetten.

Voor het overige verblijf ik, met eerbied,

Amsterdam,
Hendrik C. Stoel
architect BD, BNA

Carmo da Rosa disse...

O BIJLMERMEER, bairro moderno construído nos anos 60 na parte Sul de Amesterdão para casais com filhos e com um salário médio, foi o primeiro grande projecto de construção moderna em larga escala e é um bom exemplo de ‘maakbaarheid’ – creio que vou ter que inventar português para descrever o conceito –, de fazeabilidade da sociedade, ou seja, no acreditar piamente que tudo numa sociedade pode ser moldado ao nosso ‘gosto’.

Nem tudo, há sempre imprevistos, e é por isso que a coisa não funcionou. Em 1968 estava pronta a primeira casa. Logo a seguir começaram a construir os famosos prédios de 10 andares colocados em forma de colmeia (honingraatmodel). Em 1975, quando acabaram de construir o último prédio, o bairro tinha 31 prédios com 13.000 apartamentos.

Para a altura, e mesmo para os padrões actuais segundo os especialistas, os apartamentos eram de grande qualidade. (Como aliás pude verificar pessoalmente porque lá vivia um amigo que eu visitava regularmente, e já vão perceber porquê). Espaçosos, aquecimento central, enorme espaço de arrumação, casas de banho luxuosas, forma engenhosa de deitar fora o lixo sem sair à rua, parque de estacionamento incorporado no prédio, um bar - na minha modesta opinião a melhor parte do projecto - em cada prédio que na altura não se chamava bar mas ‘sociedade’, ‘clube’, o que lhe dava uma conotação mais íntima e que se adaptava perfeitamente à moral sexual da época – autênticos viveiros de engate entre vizinhos…e amigos dos vizinhos. Zonas verdes a perder de vista, etc.

As razões porque o Bijlmermeer não funcionou, segundo aquilo que pude encontrar na net: Na mesma altura, ou um pouco mais tarde, começaram em Hoorn, Purmerend e Almere (vilas a norte de Amesterdão) a construir casas independentes com jardim. Ora, este tipo de habitação era mais do gosto das famílias a que o projecto de Bijlmermeer inicialmente se destinava. Entretanto, a construção do bairro sofreu atrasos, houve infra-estruturas (transportes público não eram muito eficientes) e planos iniciais que acabaram por não se realizar ou não totalmente. Por exemplo, a rua interior de cada prédio estava projectada para o rés-do-chão e passou para o primeiro andar passando os espaços de arrumação ao nível da rua. O que dava um aspecto anónimo e fechado aos prédios. Resumindo, por estas e por outras em 1974 o número de inquilinos que trocava Bijlmermeer pelas tais casas individuais a norte de Amesterdão já rondava os 30%.

Mais um imprevisto.

Em 1975 o Suriname tornou-se inesperadamente e subitamente independente da Holanda, o que originou – como de costume estas libertações têm sempre um lado menos heróico – um êxodo de Surinames em direcção dos maus, do país colonizador! Ora, grande parte desta gente veio precisamente viver para os excelentes apartamentos de Bijlmermeer que se encontravam em grande parte vazios. E esta gente, além dos mesmos problemas de adaptação a habitações modernas que em Portugal estão normalmente relacionados com ciganos - galinhas na dispensa e criação de porcos na banheira -, criaram rapidamente um ambiente de vandalismo e pequena criminalidade no bairro. O que fez com que os habitantes iniciais perante a degradação geral do bairro, ainda mais depressa se mudaram para outras paragens....menos multiculturais.

A partir daqui e com o decorrer dos anos o Bijlmermeer tornou-se uma ‘no go area’, ou como diz go_dot guetos de imigrantes de África e das Caraíbas, onde não é aconselhável visitar depois do por do sol.

É verdade, mas já não é bem assim hoje apesar da (má) fama persestir. Os tecnocratas da câmara aprenderam com os erros iniciais e o bairro levou uma grande transformação e já é bastante habitável.

Um ilustre habitante da primeira hora e grande defensor do projecto era o recentemente falecido August Willemsen, o grande tradutor da literatura portuguesa e brasileira. Também era apologista do projecto Brasília, de Óscar Niemeyer.

Carmo da Rosa disse...

O Voador disse:

Essa de ir a Roma (onde há tanta coisa bonita) ver uma mesquita, só mesmo por masoquismo, oh Carmo...

Caríssimo,

É evidente que não fui a Roma especialmente para ver uma Mesquita! Lembrei-me de repente (ideias!?) de uma visita porque vi uma curta descrição no guia sobre A MAIOR MESQUITA DA EUROPA. Uma decepção que pode servir de aviso aos amigos que por uma ou outra razão se lembrassem, como eu, de perder tempo…com esta mesquita, porque outros há que merecem uma visita.

Luís Oliveira disse...

cdr,

Na Suécia aconteceu mais sou menos a mesma coisa: Million Programme

Carmo da Rosa disse...

Luis,

Realmente o Million Programme, que eu desconhecia, é mesmo muito parecido. E já agora aproveito para perguntar como é que faço para meter um link neste espaço?
Umas fotos de Bijlmermeer sempre dava uma ideia do que estamos a discutir.

Anónimo disse...

O arquitecto Hendrik C. Stoel escreveu um interessante comentário sobre arquitectura em geral e sobre a arquitectura de Bijlmer em particular, que merece ser traduzido (?!). Porque vivi em Biljmermeer entre 1971 e 1975 (o período de maior desenvolvimento deste complexo urbanistíco) posso falar do que senti à época: já nessa altura, tinhamos a sensação de que o (relativo) conforto interior dos apartamentos, não correspondia à vida no exterior. Para além de todos os "erros" cometidos (tamanho exagerado dos blocos, pouco convívio entre os moradores, sem alternativas de lazer, etc.) foi a falta de "alma" inerente ao projecto que esteve na origem da sua (parcial) demolição, anos mais tarde. Uma vez regressados a casa, os moradores do bairro, dificilmente voltavam a sair. Amsterdão está a 10km de distância e nos arredores não existia vida nocturna. Restavam os famosos "clubes, de que fala o CdR, no primeiro andar de cada bloco. Uma tristeza. Penso ter sido essa a principal razão (mais do que o estafado "cliché" do multiculturalismo) que esteve na origem da debandada da classe média holandesa para outras paragens. Quando esta classe, de rendimentos médio-altos, começou a sair do bairro, as rendas estabelecidas pelas "woningbouwverenigingen" (associações de construção habitacional), começaram a baixar. Para quem tinha rendimentos baixos e não conseguia uma casa em Amsterdão, esta era uma alternativa atraente. A média de espera por uma casa na cidade era de 3 a 5 anos; enquanto em Bijlmer era de 1 a 2 anos. É nessa altura (anos oitenta) que se assiste à mudança dos surinames e dos africanos, que tanta "comichão" fazem ao Go-Dot, para Bijlmer.
Portanto e para concluir: Bijlmer não é, de facto, arquitectura "fascista", mas um projecto "ideal" pensado para classes médias abastadas, onde não existia vida social e onde, fora dos apartamentos, era o deserto! Brasília, que até é bonita, é uma tristeza e eu também não gostaria de lá viver...
Já agora, e para quem não sabe, os melhores bairros de Amsterdão para viver, são precisamente aqueles com vida própria, como o Pijp, o Jordaan ou o Kinkerbuurt. Por acaso, todos bem perto do centro da cidade e bastante multiculturais...

Carmo da Rosa disse...

@Elisa:
levarte-ia comigo para qualquer país do mundo (só pelos comentários claro!!!)

Levarte-ia ou levar-te-ia é igual ao litro, eu ia de qualquer maneira, sabes muito bem…

Há cá um cantor muito famoso (Herman van Veen) que numa canção canta todas as suas namoradas, dando a cada uma delas uma característica própria. Uma delas é vistosa, serve para sair em noites de gala; outra é sexy e boa na cama, serve para melhor adormecer, depois do acto, aconselhável para quem sofre de insónias; outra é a santa, serve para ficar, em casa a educar os filhos; outra é meia-maluca, serve para os dias de semana; ainda há outra que serve para trocar correspondência, uma feia com dois dedos de testa;

Que se lixe a escrita, eu não quero ser a última!

Carmo da Rosa disse...

Graças ao Luis Oliveira podem agora ver fotos do bairro Bijlmermeer, sempre dá uma ideia daquilo que estamos a falar…

Holandês Voador:
O arquitecto Hendrik C. Stoel escreveu um interessante comentário sobre arquitectura em geral e sobre a arquitectura de Bijlmer em particular, que merece ser traduzido

Caríssimo,
A tradução já está quase pronta, já só faltam as vírgulas. Creio que vou colocar o comentário como artigo, porque, como tu dizes, é realmente muito interessante. E aí continuaremos então esta interessante discussão.