Isto é uma tradução do comentário que o Sr. Hendrik C. Stoel deixou sobre o meu relato de viagem em Roma (sic itur in urbem), e sobre muitas outras coisas que eu gostaria de compartilhar com o restante pessoal que não sabe ler holandês - a maioria imagino...
Évora, Alentejo
Estimado Senhor Rosa,
Não é meu costume reagir a comentários em blogues, e muito menos se o divisor comum do blogue em questão tem a ver, se não me engano muito, com uma persistente animosidade, sua e dos seus amigos do blogue, contra o muçulmano.
Porque se o meu tempo na realidade já não é precioso, continua a ser um bem horrivelmente escasso, como a minha boa mãe antigamente já se tinha dado conta (a caminho dos cem ainda se queixava da falta de tempo!). Aliás a minha mãe também tinha por hábito afirmar que as pessoas à medida que envelhecem cada vez se preocupam menos com as coisas que as rodeiam. O que é completamente falso! Estava completamente enganada, e de todas as suas afirmações era esta a mais ridícula. Eu preocupo-me com tudo. Se não é a nova paginação do meu jornal, ou as transferências dos jogadores do meu clube, é o surpreendente fenómeno que faz com que antigamente o boletim meteorológico infalivelmente previsse bom tempo, o que era logo seguido de um dia inteiro de chuva, quando agora parece acontecer precisamente o contrário, e os meteorologistas, hoje em dia, fazem previsões cada vez mais sombrias que são imediatamente dissipadas por um radiante dia de sol, e eu não consigo saber o que é que é pior.
Bairro De Stedes em Haia
Mas está bem, eu não quero maçá-lo mais com as minhas susceptibilidades e irritações pessoais. Como é devido a uma pessoa decente (coisa que eu, apesar de tudo, e depois de tantos anos, pretendo ser) guardo isso para mim.
Algo que toda a gente deveria fazer com mais frequência: guardar coisas para si. Toda a gente escreve o que lhe passa pela cabeça naquilo que na sua língua se chama blogosfera. Um pouco de restrição seria bem melhor. E, se ao menos eu, simples leitor, soubesse a quem me dirijo. Dito de outra maneira, o que pensar de palavras escritas num blogue quando não sei com quem estou a lidar?
Vejamos o seu blogue: você por exemplo é capaz de me dizer a idade dos colaboradores do Fiel Inimigo, e a posição social? Será que você sabe em que terra é que eles nasceram, se são pessoas com casamentos sólidos, ou então se eles, como bons lusitanos, se perdem regularmente com mulheres que você, segundo aquilo que eu percebi, tão admiravelmente descreve como ‘gajas’, ou que eles, que Deus me perdoe (tenho dificuldade em escrever isto), durante a noite percorrem parques públicos à caça de boys marroquinos de tez morena (como era hábito do seu arquétipo, o Sr. Fortuijn)? Qual é a marca e a quilometragem dos seus automóveis? Qual o limite dos respectivos cartões de crédito? Onde cortam normalmente o cabelo?
Para não cometer o mesmo erro, quero deixar bem claro que um destes dias penso fazer 71 anos de idade, SE DEUS QUISERES como é evidente (só espero que esteja escrito correctamente). Sou por conseguinte um reformado (ou será que já tinha dito?), um arquitecto em repouso (o meu nome não é relevante. Mas deixe-me só dizer que eu, como arquitecto e como urbanista, estive estreitamente ligado ao projecto Bijlmermeer e fui responsável pelas parques de estacionamento).
Mas tudo bem. Mas olhe que nem me passaria pela cabeça responder ao seu blogue não fosse a minha mulher esta manhã ter feito por acaso um comentário sobre um edifício que eu num passado longínquo tinha colocado a minha assinatura.
“Tudo aquilo que constróis se afunda ou é demolido antes de as pessoas saltarem pelas janelas por já estarem pelos cabelos”. Estas eram as palavras da minha mulher. Sem tirar nem pôr. Por vezes ela até consegue ser simpática.
Ela não quer admitir que o clima está a mudar. Está convencida que todas as catástrofes no mundo têm a ver com as minhas construções. Por vezes é aquilo que fica do amor.
De qualquer maneira foi ao procurar no google algo sobre o meu querido Bijlmermeer que cheguei ao seu blogue (não me pergunte como, com todo o respeito, o seu blogue não é assim tão eminente, e quando quis já não pude continuar com a minha pesquisa) e fiquei retido. Que diabo, não é todos os dias que leio algo sobre uma das minhas criações em português (o facto de eu dominar a sua língua não tem somente a ver com a minha admiração pelo grande Niemeyer, mas tem origem numa longa permanência no seu país nos princípios dos anos sessenta, um período aliás em que Portugal era um país bem organizado, ver mesmo mais sadio. De resto é verdade que eu consigo ler a sua lindíssima língua, mas escrever nunca fui além de um simples recado – e leia isto no sentido literal. Esta é a razão pela qual eu escrevo aqui as minhas considerações em holandês, correndo o risco de você ou outro colaborador do blogue não gostar e até ficar irritado. Consolo-me com a ideia que o meu comentário escrito em português seria talvez motivo de ainda maior irritação).
Pelourinho São Salvador da Baía
Deixe-me primeiro felicitá-lo pelo seu artigo. Escrito com vivacidade, num estilo pessoal, em que você não repudia a Petite Histoire e, com bastante naturalidade liga assuntos sérios com coisas que por vezes fazem mais parte do burlesco, ver mesmo do escabroso. O relato de viagem assenta-lhe muito bem. Você deveria escrever mais neste género, esta é a minha modesta opinião. É claro que eu não resisti e dei uma vista de olhos pelo seu blogue. O que imediatamente salta à vista é o tom impossivelmente pesado dos artigos (não só dos seus, os seus colegas tão pouco se manifestam como uns exemplos de alegria infinda). Nada está bem: a imprensa, os políticos, até a própria insatisfação parece de vez em quando servir para alimentar mais uma dose de lamentações. Como se o céu a cada momento acompanhado de medonho estrondo lhes fosse cair em cima da cabeça. Não, prefiro de longe o seu relato de viagem.
Sr. Rosa, não perca o seu precioso tempo com politiquice e agitação (vai ver que as coisas vão melhorar entre nós e os muçulmanos)! Em vez disso viaje mais frequentemente e escreva mais vezes um texto engraçado como este. Que o mundo é uma porcaria e que as pessoas não são de confiança, isso já nós sabemos há muito tempo, não acha?
Mas pronto, cada tolo com a sua mania. E o facto de eu, desde que estou reformado, ter tempo de sobra não significa que o deva utilizar contra os outros. Fascismo e arquitectura. Será que existe algo como arquitectura fascista? Uma boa pergunta. Agora só falta a resposta.
Primeiro que tudo o conceito de fascismo.
Você sem dúvida que sabe tão bem como eu que um período houve, pelo menos na Holanda, onde você vive, em que o conceito de fascismo era utilizado a propósito e a despropósito. Lembro-me de uma transmissão da TV na qual o popular escritor católico, Gerard Reve - conhecido pelas suas ideias de ‘direita’, aliás foi ele quem introduziu (mas isto você também já sabia) o conceito de ‘a igreja esquerdista’ –, a uma certa altura responde desta forma a um jornalista que tentava pisar-lhe os calos: “Tudo bem, mas na Holanda uma pessoa já é fascista se tiver luz na bicicleta”.
Esse tempo felizmente já lá vai. Em Amesterdão já quase ninguém anda de bicicleta sem luz. E hoje já ninguém é acusado de fascista por dá cá aquela palha como nos perturbados anos setenta. Mesmo o seu António Oliveira Salazar já não pode ser etiquetado desta maneira. Pelo menos é a conclusão que eu tirei de uma recente biografia (escrita por um Sr. chamado Nogueira Pinto) sobre este talentoso aldeão natural do Vimieiro, que no assento eterno deve ter partido o coco quando soube que o povo do seu país o escolheu como ‘o português mais importante da história’.
Mas já estou a perder o fio à meada. É a idade, diz a minha mulher, e para eu me ir habituando, porque a coisa não passa.
O fascismo então. Um conceito complexo, criado por e aplicado a determinados regimes num período determinado. Um conceito que iria ser também assaz mal empregue, e que por isso perdeu desta forma muito do seu significado.
Mas, por mais estranho que pareça, o conceito, como indicação de um tipo de arquitectura (e de urbanização), manteve a forte conotação.
O termo arquitectura fascista aglomera quase sempre um número de características coerentes de construção. Os edifícios são grandes, dotados de um estilo espalhafatoso (a maior parte das vezes neo-clássico), e são assaz atormentados por uma angustiante regularidade. Ainda por cima as ruas são bem mais largas do que aquilo que o trânsito que por lá passa rigorosamente exige, e as praças de dimensões grotescas.
Mesquita Azul em Istanbul
Visto desta maneira é claro para si que a arquitectura fascista (e a partir deste momento incluo aqui também a urbanização) é algo de todos os tempos.
Todo aquele que afirma que a arquitectura na Itália de Benito Mussolini (na minha opinião a única que merece a pura conotação de arquitectura fascista, à excepção possivelmente das tentativas de Albert Speer na Alemanha) realmente difere da arquitectura de outros regimes megalómanos (certamente que não necessito dar-lhe exemplos), deveria demonstrar isso apoiado em exemplos concretos.
Assim como é ligeiramente infantil chamar a toda a arquitectura megalómana de fascista. Porque desta forma voltamos precisamente à situação da luz na bicicleta do escritor Gerard Reve.
Mas eu vou fazer-lhe a vontade. Em suma sou responsável por um projecto que no seu blogue foi distinguido com o mesmo epíteto. O meu belo Bijlmermeer! Fascista! Seja, mas tenho que estar acima destas coisas. Vamos então a isso. Se a ‘arquitectura fascista’ não existe, que dizer então dos edifícios e urbanizações dos Ceaucescos deste mundo?
Dito de outra maneira, será que devemos dar-lhes um nome? Eu pensei longamente sobre esta questão. E só Deus sabe o quanto eu gostaria de ter uma resposta à medida. Mas em toda a sua bondade Ele não quis dar-me esse prazer, pelo menos até agora.
Igreja da Gandra
Não passei de frases sem nexo e características aparentemente sem qualquer relação entre elas. Tinha a ver com o fascínio pelas massas, e pelo conceito de um reino de mil anos (como expressão política da negação da própria transitoriedade – psicologia da batata doce, de acordo, mas melhor do que isto não consegui arranjar). Os edifícios não eram construídos para albergar gente. Eram sonhos transformados em pedra, megalomanias, paranóias, e com uma forte conotação sexual (Freud, apesar de estar actualmente um pouco desacreditado, e realmente parece que era um trapalhão, mas só do ponto de vista científico; porque na maior parte dos casos, ele, com o seu sexto sentido (Fingerspitzengefuhl), estava quase sempre horrivelmente muito perto da verdade, neste caso também). Os edifícios (e as praças) foram também construídos para acabar com os sonhos uma vez por todas, para os arrancar do coração (que os sonhos se encontram algures na mente é um mal-entendido de longa data) e para os desterrar para um reino de pedra, onde eles não podem causar estragos. Trata-se de edifícios e ruas em forma de cenário. Potemkin. Eisenstein.
Aldeia da Luz (nova), Alentejo
O segredo não consegui decifrar, mas queria apenas dizer isto (tenha o valor que tiver, sou uma pessoa de idade e por natureza perseguido pela dúvida – uma característica que você e os seus companheiros do blogue, a ver pelas inflexíveis convicções expostas, pelos vistos nem pouco mais ou menos sofrem): não esqueça as escadas!
Mostre-me as suas escadas e eu dir-lhe-ei quem é. Melhor teria sido designar a arquitectura, que no seu blogue é intitulada de fascista, por encenação, por teatro. Porque se nela algo há de característico, apenas o movimento.
Como vê, ainda não cheguei a uma conclusão. Ainda me falta o conceito exacto. Mas uma característica dos exemplos dados no seu blogue, é que eles podem perfeitamente ser lidos como uma encenação. Como uma encenação para movimentos de massas – rios de gente, multidões efervescentes – como um guião para uma representação de massas.
Entre Ben Hur e Bijlmermeer existem menos diferenças do que aquilo que você na realidade pensa.
Alguns arquitectos sabem fazer isso muito bem. Speer, claro, um talento natural. Mas também alguém como Koolhaas [construiu no Porto A Casa da Música, trad.] tem jeito. Isso não se vê somente nas torres que ele constroi actualmente para a Televisão Estatal Chinesa. Vê-se nas escadas. Quem reparar bem na sua Embaixada em Berlim, percebe a coisa. É apenas uma escadaria. Koolhaas, um cenarista por excelência, agarrou numa escadaria, colocou-a no sítio ideal, foi ao fundo e deu a volta, abrindo a escada em leque que vai dar a uma praça e depois uma espiral para baixo. Agora ponha-se, apenas porque parece ser costume, umas paredes à volta.
De preferência ele tinha ficado apenas pela escadaria. Uma escadaria em que a multidão fosse abrindo caminho para um destino que não existe; desenfreadamente, cega, embriagada – o movimento pelo movimento.
Talvez você entenda o que eu quero dizer, ou então imagine apenas algo parecido (por vezes neste mundo temos que nos contentar com esse pouco, diz a minha mulher).
Baviera, Alemanha
Eu ainda queria falar na Leni Riefenstahl, e dizer algo sobre a abertura dos Jogos Chineses esta tarde (não há uma diferença tipológica essencial entre um acontecimento deste tipo e um palácio governamental do tempo do Ceaucesco – de resto você já alguma vez esteve em Prora, aconselho-o vivamente; é um dos exemplos mais puros; procure através da net), mas vou ficar por aqui.
O tempo começou a melhorar. Tenho que sair para ir às compras. Movimento diz a minha mulher, tens que te movimentar mais. Mas suspeito que ela diz isso para de vez em quando se ver livre de mim.
Chegou a hora da despedida Sr. Rosa. E talvez eu tenha que repetir aquilo que disse no início: que você escreve uns relatos de viagem muito engraçados, com anedotas divertidas num tom agradavelmente ligeiro. Dedique-se sobretudo a isso e deixe lá as lamentações políticas. Acredite em mim (para todos os efeitos sou uma pessoa com mais idade); as suas acusações políticas não alterarão uma palha neste mundo, mas os seus relatos de viagem ao contrário, podem fazer mexer muita coisa.
Sem outro assunto de momento despeço-me, respeitosamente,
Amsterdam,
Hendrik C. Stoel
architect BD, BNA
Não é meu costume reagir a comentários em blogues, e muito menos se o divisor comum do blogue em questão tem a ver, se não me engano muito, com uma persistente animosidade, sua e dos seus amigos do blogue, contra o muçulmano.
Porque se o meu tempo na realidade já não é precioso, continua a ser um bem horrivelmente escasso, como a minha boa mãe antigamente já se tinha dado conta (a caminho dos cem ainda se queixava da falta de tempo!). Aliás a minha mãe também tinha por hábito afirmar que as pessoas à medida que envelhecem cada vez se preocupam menos com as coisas que as rodeiam. O que é completamente falso! Estava completamente enganada, e de todas as suas afirmações era esta a mais ridícula. Eu preocupo-me com tudo. Se não é a nova paginação do meu jornal, ou as transferências dos jogadores do meu clube, é o surpreendente fenómeno que faz com que antigamente o boletim meteorológico infalivelmente previsse bom tempo, o que era logo seguido de um dia inteiro de chuva, quando agora parece acontecer precisamente o contrário, e os meteorologistas, hoje em dia, fazem previsões cada vez mais sombrias que são imediatamente dissipadas por um radiante dia de sol, e eu não consigo saber o que é que é pior.
Bairro De Stedes em Haia
Mas está bem, eu não quero maçá-lo mais com as minhas susceptibilidades e irritações pessoais. Como é devido a uma pessoa decente (coisa que eu, apesar de tudo, e depois de tantos anos, pretendo ser) guardo isso para mim.
Algo que toda a gente deveria fazer com mais frequência: guardar coisas para si. Toda a gente escreve o que lhe passa pela cabeça naquilo que na sua língua se chama blogosfera. Um pouco de restrição seria bem melhor. E, se ao menos eu, simples leitor, soubesse a quem me dirijo. Dito de outra maneira, o que pensar de palavras escritas num blogue quando não sei com quem estou a lidar?
Vejamos o seu blogue: você por exemplo é capaz de me dizer a idade dos colaboradores do Fiel Inimigo, e a posição social? Será que você sabe em que terra é que eles nasceram, se são pessoas com casamentos sólidos, ou então se eles, como bons lusitanos, se perdem regularmente com mulheres que você, segundo aquilo que eu percebi, tão admiravelmente descreve como ‘gajas’, ou que eles, que Deus me perdoe (tenho dificuldade em escrever isto), durante a noite percorrem parques públicos à caça de boys marroquinos de tez morena (como era hábito do seu arquétipo, o Sr. Fortuijn)? Qual é a marca e a quilometragem dos seus automóveis? Qual o limite dos respectivos cartões de crédito? Onde cortam normalmente o cabelo?
Para não cometer o mesmo erro, quero deixar bem claro que um destes dias penso fazer 71 anos de idade, SE DEUS QUISERES como é evidente (só espero que esteja escrito correctamente). Sou por conseguinte um reformado (ou será que já tinha dito?), um arquitecto em repouso (o meu nome não é relevante. Mas deixe-me só dizer que eu, como arquitecto e como urbanista, estive estreitamente ligado ao projecto Bijlmermeer e fui responsável pelas parques de estacionamento).
Mas tudo bem. Mas olhe que nem me passaria pela cabeça responder ao seu blogue não fosse a minha mulher esta manhã ter feito por acaso um comentário sobre um edifício que eu num passado longínquo tinha colocado a minha assinatura.
“Tudo aquilo que constróis se afunda ou é demolido antes de as pessoas saltarem pelas janelas por já estarem pelos cabelos”. Estas eram as palavras da minha mulher. Sem tirar nem pôr. Por vezes ela até consegue ser simpática.
Ela não quer admitir que o clima está a mudar. Está convencida que todas as catástrofes no mundo têm a ver com as minhas construções. Por vezes é aquilo que fica do amor.
De qualquer maneira foi ao procurar no google algo sobre o meu querido Bijlmermeer que cheguei ao seu blogue (não me pergunte como, com todo o respeito, o seu blogue não é assim tão eminente, e quando quis já não pude continuar com a minha pesquisa) e fiquei retido. Que diabo, não é todos os dias que leio algo sobre uma das minhas criações em português (o facto de eu dominar a sua língua não tem somente a ver com a minha admiração pelo grande Niemeyer, mas tem origem numa longa permanência no seu país nos princípios dos anos sessenta, um período aliás em que Portugal era um país bem organizado, ver mesmo mais sadio. De resto é verdade que eu consigo ler a sua lindíssima língua, mas escrever nunca fui além de um simples recado – e leia isto no sentido literal. Esta é a razão pela qual eu escrevo aqui as minhas considerações em holandês, correndo o risco de você ou outro colaborador do blogue não gostar e até ficar irritado. Consolo-me com a ideia que o meu comentário escrito em português seria talvez motivo de ainda maior irritação).
Pelourinho São Salvador da Baía
Deixe-me primeiro felicitá-lo pelo seu artigo. Escrito com vivacidade, num estilo pessoal, em que você não repudia a Petite Histoire e, com bastante naturalidade liga assuntos sérios com coisas que por vezes fazem mais parte do burlesco, ver mesmo do escabroso. O relato de viagem assenta-lhe muito bem. Você deveria escrever mais neste género, esta é a minha modesta opinião. É claro que eu não resisti e dei uma vista de olhos pelo seu blogue. O que imediatamente salta à vista é o tom impossivelmente pesado dos artigos (não só dos seus, os seus colegas tão pouco se manifestam como uns exemplos de alegria infinda). Nada está bem: a imprensa, os políticos, até a própria insatisfação parece de vez em quando servir para alimentar mais uma dose de lamentações. Como se o céu a cada momento acompanhado de medonho estrondo lhes fosse cair em cima da cabeça. Não, prefiro de longe o seu relato de viagem.
Sr. Rosa, não perca o seu precioso tempo com politiquice e agitação (vai ver que as coisas vão melhorar entre nós e os muçulmanos)! Em vez disso viaje mais frequentemente e escreva mais vezes um texto engraçado como este. Que o mundo é uma porcaria e que as pessoas não são de confiança, isso já nós sabemos há muito tempo, não acha?
Mas pronto, cada tolo com a sua mania. E o facto de eu, desde que estou reformado, ter tempo de sobra não significa que o deva utilizar contra os outros. Fascismo e arquitectura. Será que existe algo como arquitectura fascista? Uma boa pergunta. Agora só falta a resposta.
Primeiro que tudo o conceito de fascismo.
Você sem dúvida que sabe tão bem como eu que um período houve, pelo menos na Holanda, onde você vive, em que o conceito de fascismo era utilizado a propósito e a despropósito. Lembro-me de uma transmissão da TV na qual o popular escritor católico, Gerard Reve - conhecido pelas suas ideias de ‘direita’, aliás foi ele quem introduziu (mas isto você também já sabia) o conceito de ‘a igreja esquerdista’ –, a uma certa altura responde desta forma a um jornalista que tentava pisar-lhe os calos: “Tudo bem, mas na Holanda uma pessoa já é fascista se tiver luz na bicicleta”.
Esse tempo felizmente já lá vai. Em Amesterdão já quase ninguém anda de bicicleta sem luz. E hoje já ninguém é acusado de fascista por dá cá aquela palha como nos perturbados anos setenta. Mesmo o seu António Oliveira Salazar já não pode ser etiquetado desta maneira. Pelo menos é a conclusão que eu tirei de uma recente biografia (escrita por um Sr. chamado Nogueira Pinto) sobre este talentoso aldeão natural do Vimieiro, que no assento eterno deve ter partido o coco quando soube que o povo do seu país o escolheu como ‘o português mais importante da história’.
Mas já estou a perder o fio à meada. É a idade, diz a minha mulher, e para eu me ir habituando, porque a coisa não passa.
O fascismo então. Um conceito complexo, criado por e aplicado a determinados regimes num período determinado. Um conceito que iria ser também assaz mal empregue, e que por isso perdeu desta forma muito do seu significado.
Mas, por mais estranho que pareça, o conceito, como indicação de um tipo de arquitectura (e de urbanização), manteve a forte conotação.
O termo arquitectura fascista aglomera quase sempre um número de características coerentes de construção. Os edifícios são grandes, dotados de um estilo espalhafatoso (a maior parte das vezes neo-clássico), e são assaz atormentados por uma angustiante regularidade. Ainda por cima as ruas são bem mais largas do que aquilo que o trânsito que por lá passa rigorosamente exige, e as praças de dimensões grotescas.
Mesquita Azul em Istanbul
Visto desta maneira é claro para si que a arquitectura fascista (e a partir deste momento incluo aqui também a urbanização) é algo de todos os tempos.
Todo aquele que afirma que a arquitectura na Itália de Benito Mussolini (na minha opinião a única que merece a pura conotação de arquitectura fascista, à excepção possivelmente das tentativas de Albert Speer na Alemanha) realmente difere da arquitectura de outros regimes megalómanos (certamente que não necessito dar-lhe exemplos), deveria demonstrar isso apoiado em exemplos concretos.
Assim como é ligeiramente infantil chamar a toda a arquitectura megalómana de fascista. Porque desta forma voltamos precisamente à situação da luz na bicicleta do escritor Gerard Reve.
Mas eu vou fazer-lhe a vontade. Em suma sou responsável por um projecto que no seu blogue foi distinguido com o mesmo epíteto. O meu belo Bijlmermeer! Fascista! Seja, mas tenho que estar acima destas coisas. Vamos então a isso. Se a ‘arquitectura fascista’ não existe, que dizer então dos edifícios e urbanizações dos Ceaucescos deste mundo?
Dito de outra maneira, será que devemos dar-lhes um nome? Eu pensei longamente sobre esta questão. E só Deus sabe o quanto eu gostaria de ter uma resposta à medida. Mas em toda a sua bondade Ele não quis dar-me esse prazer, pelo menos até agora.
Igreja da Gandra
Não passei de frases sem nexo e características aparentemente sem qualquer relação entre elas. Tinha a ver com o fascínio pelas massas, e pelo conceito de um reino de mil anos (como expressão política da negação da própria transitoriedade – psicologia da batata doce, de acordo, mas melhor do que isto não consegui arranjar). Os edifícios não eram construídos para albergar gente. Eram sonhos transformados em pedra, megalomanias, paranóias, e com uma forte conotação sexual (Freud, apesar de estar actualmente um pouco desacreditado, e realmente parece que era um trapalhão, mas só do ponto de vista científico; porque na maior parte dos casos, ele, com o seu sexto sentido (Fingerspitzengefuhl), estava quase sempre horrivelmente muito perto da verdade, neste caso também). Os edifícios (e as praças) foram também construídos para acabar com os sonhos uma vez por todas, para os arrancar do coração (que os sonhos se encontram algures na mente é um mal-entendido de longa data) e para os desterrar para um reino de pedra, onde eles não podem causar estragos. Trata-se de edifícios e ruas em forma de cenário. Potemkin. Eisenstein.
Aldeia da Luz (nova), Alentejo
O segredo não consegui decifrar, mas queria apenas dizer isto (tenha o valor que tiver, sou uma pessoa de idade e por natureza perseguido pela dúvida – uma característica que você e os seus companheiros do blogue, a ver pelas inflexíveis convicções expostas, pelos vistos nem pouco mais ou menos sofrem): não esqueça as escadas!
Mostre-me as suas escadas e eu dir-lhe-ei quem é. Melhor teria sido designar a arquitectura, que no seu blogue é intitulada de fascista, por encenação, por teatro. Porque se nela algo há de característico, apenas o movimento.
Como vê, ainda não cheguei a uma conclusão. Ainda me falta o conceito exacto. Mas uma característica dos exemplos dados no seu blogue, é que eles podem perfeitamente ser lidos como uma encenação. Como uma encenação para movimentos de massas – rios de gente, multidões efervescentes – como um guião para uma representação de massas.
Entre Ben Hur e Bijlmermeer existem menos diferenças do que aquilo que você na realidade pensa.
Alguns arquitectos sabem fazer isso muito bem. Speer, claro, um talento natural. Mas também alguém como Koolhaas [construiu no Porto A Casa da Música, trad.] tem jeito. Isso não se vê somente nas torres que ele constroi actualmente para a Televisão Estatal Chinesa. Vê-se nas escadas. Quem reparar bem na sua Embaixada em Berlim, percebe a coisa. É apenas uma escadaria. Koolhaas, um cenarista por excelência, agarrou numa escadaria, colocou-a no sítio ideal, foi ao fundo e deu a volta, abrindo a escada em leque que vai dar a uma praça e depois uma espiral para baixo. Agora ponha-se, apenas porque parece ser costume, umas paredes à volta.
De preferência ele tinha ficado apenas pela escadaria. Uma escadaria em que a multidão fosse abrindo caminho para um destino que não existe; desenfreadamente, cega, embriagada – o movimento pelo movimento.
Talvez você entenda o que eu quero dizer, ou então imagine apenas algo parecido (por vezes neste mundo temos que nos contentar com esse pouco, diz a minha mulher).
Baviera, Alemanha
Eu ainda queria falar na Leni Riefenstahl, e dizer algo sobre a abertura dos Jogos Chineses esta tarde (não há uma diferença tipológica essencial entre um acontecimento deste tipo e um palácio governamental do tempo do Ceaucesco – de resto você já alguma vez esteve em Prora, aconselho-o vivamente; é um dos exemplos mais puros; procure através da net), mas vou ficar por aqui.
O tempo começou a melhorar. Tenho que sair para ir às compras. Movimento diz a minha mulher, tens que te movimentar mais. Mas suspeito que ela diz isso para de vez em quando se ver livre de mim.
Chegou a hora da despedida Sr. Rosa. E talvez eu tenha que repetir aquilo que disse no início: que você escreve uns relatos de viagem muito engraçados, com anedotas divertidas num tom agradavelmente ligeiro. Dedique-se sobretudo a isso e deixe lá as lamentações políticas. Acredite em mim (para todos os efeitos sou uma pessoa com mais idade); as suas acusações políticas não alterarão uma palha neste mundo, mas os seus relatos de viagem ao contrário, podem fazer mexer muita coisa.
Sem outro assunto de momento despeço-me, respeitosamente,
Amsterdam,
Hendrik C. Stoel
architect BD, BNA
10 comentários:
Além de que a idade não garante autoridade nem sabedoria, pergunto-me se o rei da Espanha já terá regressado da Venezuela.
Carmo Roseiro. Era para ter publicado um comentário no teu anterior (belíssimo) post. Mas devido ao também, belíssimo post do senhor Hendrik C. Stoel, vai desta. Encontrei um pouco de tempo, (tempo é sempre pouco). De pincel atrás da orelha, passo apressado, bandeja na mão,... não mata! mas é cá uma trabalhêra. O senhor Hendrik C. stoel, diz e com muita razão, a forma como tu escreves não é acompanhada á guitarra chorosa com lágrima no olho e pastel de bacalhau. Ainda bem. Continua que eu sigo.
"a forma como tu escreves não é acompanhada á guitarra chorosa com lágrima no olho"
Ah compadre, como é que vossemecê queria que eu acompanhasse a coisa à guitarra se eu não dou uma prá caixa, se eu tenho o mesmo ouvido que o seu cajado…
”a idade não garante autoridade nem sabedoria”
Caro JRC,
Uma coisa que de certeza não garante autoridade, e muito menos sabedoria, é fazer perguntas totalmente a leste – não acha?
Parabéns pela tradução. Que deu trabalho, acredito, mas ganhou-se um excelente texto e isso é que é importante. Já começo a ter saudades de Bijlmermeer. Dos "clubes", quero eu dizer...
Caro CdR
O fiasco de Bijlmermeer deve-se a meu ver, sobretudo à arrogância administrativa.
Uma administração publica convencida de ser detentora da verdade, arrogante e indiferente a necessidades individuais.
Como diz o HV trata-se de exercer o poder sobre o espaço público.
Até aqui estamos aparentemente todos de acordo.
Mas a razão por que apontei para Bijlmermeer é que, em todas as criticas circunstanciais do assunto, por razoes que me escapam, parece-me que fica sempre por abordar a vertente ideológica. Bijlmermeer foi construida por volta de 1968, justamente um período histórico em que na Europa tanto a ocidente como a oriente a inspiração totalitária estava omnipresente.
Ora os arquitectos e urbanistas da altura não estavam nem indiferentes à direcção do vento e muito menos imunes a contaminações e escaramuças ideológicas.
Tenho a certeza que o CdR tem uma citação do Sartre para ilustrar este parágrafo.
A componente ideológica deste projecto, a manipulação do espaço publico e privado é para mim a que mais salta á vista. A raiz de inspiração totalitária esta bem patente, não só na gigantesca massalidade do projecto mas sobretudo, no banir do espaço publico, de qualquer tipo de expressão individual ou de identidade colectiva.
Neste aspecto Bijlmermeer é semelhante a todas as outras experiencias de urbanismo utópico e centralista de regimes mais ou menos totalitários. Independentemente da qualidade do aquecimento central ou do luxo das casas de banho.
As explicações pormenorizadas do fiasco, a lenga-lenga do typo, era um projecto "ideal" que havia montes de boas intenções … que a concorrência com outros projectos, Hoorn, Almere, etc… soa-me sempre a desculpas de mau pagador.
Não nego que estes elementos também sejam importantes, mas não são exclusivos.
Achteraf is het altijd makkelijk praten. Estou de acordo. Mas para compreender o desastre há que abordar também a componente ideológica.
Também eu vivi uns tempos em Bijlmermeer, é o que na minha vida encontrei mais perto do flagelo de tentar reduzir o individuo a escaravelho.
Há exemplos muito piores? Sem duvida!
Lá está o dilema. Os padrões de conforto ou qualidade de vida não são estereótipos e muito menos os estereótipos pensados pelos responsáveis do projecto.
Zoals ik eens een nederlander het doeltreffend heb horen zegen:
Aangelegd met goede bedoelingen maar even gezellig als een begraafplaats.
De Bijlmermeer recordo a tristeza monótona das fachadas cinzentas iguais a perder de vista.
Não me recordo de parques de estacionamento, mas tenho boas recordações das enormes garagens cobertas em que passei tardes inteiras a aprender os rudimentos da mecânica do citroën dois cavalos. E que durante a noite abrigavam os tráficos mais variados.
Teria escolhido uma forma mais delicada para abordar o assunto se me passasse pela cabeça que um responsável pelo projecto estaria presente no fiel inimigo.
As minhas sinceras desculpas pelo faux-pas ao Sr. Stoel.
Mas há males que vêem por bem. Sem o link do Google para Bijlmermeer nem o sr. Stoel tinha chegado ao fiel inimigo, nem tínhamos lido o seu sublime comentário de serena melancolia, nem a magnifica tradução do CdR.
Mantém-se na minha modesta opinião, que Bijlmermeer é para alem do colossal erro histórico um flagrante exemplo de arquitectura de inspiração totalitária.
E que não é preciso ir á Albânia para apreciar Babilonicas utopias urbanisticas
Quanto ao holandês voador, acalme-se, confie na força da gravidade.
Aqui um film de propaganda.
http://stadsarchief.amsterdam.nl/presentaties/amsterdamse_schatten/plannen/woningbouw_bijlmermeer/schat_format.nl.html
Aqui um excelente estudo sobre o assunto + um par de recortes.
http://www.team10online.org/research/papers/delft2/velzen.pdf
Massawoningbouw als een stedebouwkundige vergissing bestempeld
In zijn proefschrift "De Bijlmermeer een grensverleggend project" uit 1989 heeft Maarten Mentzel zich afgevraagd, hoe tussen 1958 en 1965 de besluitvorming tot stand kwam, die tot zo'n extreem eenzijdig stadsdeel heeft geleid. Als een van de oorzaken noemt hij de "group think", het groepsdenken, een collectief gedragspatroon om problemen te ontlopen. Er ontstaat een blikveldvernauwing, men ziet nog maar dat éne project voor zich. Twijfel, een afwijkende mening, het terugkomen op eenmaal genomen beslissingen, worden niet geduld, ja het wordt ervaren als verraad.
op zoek te gaan naar de achtergronden en motieven voor het ontwerp van de Bijlmermeer.
(1989), Bijlmermeer als grensverleggend ideaal Delftse Universitaire Pers
Do mesmo documento:
Verwondering bracht Maarten Mentzel ertoe op zoek te gaan naar de achtergronden en motieven voor het ontwerp van de Bijlmermeer.
…waaruit een kloof naar voren komt tussen de verwachtingen van de planners en architecten enerzijds en de werkelijkheid anderzijds._Mentzel concludeert dat een kleine groep mensen het planningsproces heeft gedomineerd…
...Men ziet het achtste CIAM congres vaak als omslagpunt in de denkbeelden over de
rol van het sociale. In vele voordrachten maakte een deductieve betoogtrant plaats voor een inductieve. Het lege centrum was bij uitstek een veld voor projectie.
De toeschouwer zou tot participatie moeten worden gestimuleerd, om zo in de (spontane) actie zijn eigen identiteit én die van de gemeenschap te verwerkelijken...
…Soortgelijke ideeën werden ook door kunstenaarsgroepen als de Lettristische Internationale, de Internationale Beweging voor een Imaginistisch Bauhaus en de Internationaal Situationisten ontwikkeld, en zijn elders uitvoerig beschreven.
Los van alle bevlogen rethoriek is de kwestie in architectonisch opzicht eigenlijk pijnlijk eenvoudig.
In de moderne, democratische welvaartsstaat bleek het sociale zo moeilijk algemeen gesteld te kunnen worden, dat het slechts in zeer globale termen te verbinden is met een (stede)bouwkundige structuur.
De grondslag voor een betekenisvolle ordening werd daarmee gereduceerd tot de extreme polariteit privaat - collectief. En toch moest er gebouwd worden…
CIAM congres (1951), dat de veelzeggende titel kreeg: ‘The Heart of the City’.
Ernesto Rogers, een van de redacteuren van de congrespublicatie, bracht het idee van het centrum als volgt onder woorden.
‘Het Hart kan niet het zakencentrum zijn, zoals in kapitalistische organisaties, noch de fabriek, symbool van een proletarische samenleving.
Het Hart van de stad moet het centrum zijn van meer extensieve menselijke relaties: conversatie, discussie, het winkelen, flirten, flaneren, en het onbetaalbare “dolce far niente”
Belíssimo, só faltam os anjinhos.
’O fiasco de Bijlmermeer deve-se a meu ver, sobretudo à arrogância administrativa’
A meu ver, ou melhor, no que pude encontrar sobre o assunto na Net, parece que o fiasco se deve sobretudo a outras causas, algumas delas já foram por mim aqui nomeadas e parecem ser communis opinio. Mas isto não quer dizer que não tenha havido arrogância administrativa, acredito que sim, sobretudo num período em que, como eu já disse e você de certeza que confirma, se acreditava piamente na ‘fazeabilidade da sociedade’ (maakbaarheid). Talvez tenha havido arrogância, ou melhor, cegueira, por não terem percebido a tempo que muita gente dava preferência ao seu jardinzeco individual, em vez dos enormes espaços verdes, mas colectivos, que o projecto Bijlmer oferecia.
Mas arrogância nas administrações há sempre e é de todos os tempos. Mas o que me parece ligeiramente exagerado é afirmar que esta administração foi ‘arrogante e indiferente a necessidades individuais’!
Arrogante talvez, mas não (totalmente) indiferente. Continuo a insistir na QUALIDADE dos apartamentos, e aqui, a administração, e cito apenas um aspecto, até ULTRAPASSOU as necessidades individuais de muita gente. Ainda me lembro da airosa e enorme sala-de-estar no apartamento do meu amigo Manel Peixoto: era só arrumar a mesa e as cadeiras pró lado e podíamos jogar uma partida de futebol de salão (bewijze van spreken).
A ‘manipulação do espaço público’, que a si lhe salta à vista, e o ‘exercer do poder sobre o espaço público’, do Holandês Voador, são conceitos complexos que a mim, alma simples, para lhe ser franco não me dizem grande coisa e não sei que responder.
Isto dito de outra maneira:
Que me interessa a mim, e muito menos ao Manel Peixoto que apesar de pertencer à classe média portuguesa, e antes de vir para a Holanda, vivia numa casa (dos pais) e local (bairro do Cedro) de qualidade bastante inferiores a Bijlmermeer, que ’ os arquitectos e urbanistas da altura não estavam nem indiferentes à direcção do vento e muito menos imunes a contaminações e escaramuças ideológicas’.
Depois do fantástico ensaio do arquitecto aposentado de Bijlmermeer as poucas dúvidas que ainda tinha sobre etiquetar ideologicamente arquitectura dissiparam-se completamente.
Você a certa altura diz:’Neste aspecto Bijlmermeer é semelhante a todas as outras experiencias de urbanismo utópico e centralista de regimes mais ou menos totalitários. Independentemente da qualidade do aquecimento central ou do luxo das casas de banho
Nesta frase pode estar tudo muito certo, menos o INDEPENDENTEMENTE! Como discutir um projecto de habitação sem falar no mais importante: o espaço, o aquecimento central e o luxo da casa de banho?
Estimado CdR. Noto que insiste na “opinião geral”, para mim, ela vale o que vale e não é garantia de rigor ou autenticidade.
Compreendo que a minha opinião pouco mais peso terá, visto não ser mais que a minha experiencia pessoal.
Adiante. Reli o seu poste um par de vezes e continuo pasmado, com a sua recusa em reconhecer identidade ideológica, ou pratica politica à arquitectura.
É aconselhável para quem estiver interessado na chamada arquitectura fascista - se realmente é lícito politizar a arquitectura - sinceramente não creio.
Leio “lícito” no sentido de legitimo e “Não creio” no sentido de, duvido.
A ‘manipulação do espaço público’, que a si lhe salta à vista, e o ‘exercer do poder sobre o espaço público’, do Holandês Voador, são conceitos complexos que a mim, alma simples, para lhe ser franco não me dizem grande coisa e não sei que responder. .
Também esta retirada para os “Simple minds” é vaga e francamente, dá-me a sensação de estar a “tirar nabos da púcara”, desculpe o vernáculo.
Seja como for, almas simples ou complexas, por vezes é necessário fazer um escorço, como sabe, nem sempre é fácil, o veneno esta geralmente nos detalhes.
Quando me referi a Bijlmermeer como exemplo flagrante de arquitectura totalitária, foi justamente para sublinhar que arquitectura de carácter totalitário não é só a arquitectura oficialmente aprovada, nas ditaduras de governos ultra centralizados, na Italia fascista, na Alemanha Nazi, na União Soviética estalinista, ou na China comunista.
Grupos políticos de inspiração totalitária e com poder executivo, tem o mesmo resultado. Esse é o caso de Bijlmermeer .
Como lhe explica o sr Maarten Mentzel, (o link do poste anterior), uma reconhecida autoridade nesta matéria e professor numa das mais prestigiosas faculdade de arquitectura da Holanda, Delft. Ou o “dolce far niente” do sr Ernesto Rogers. )
Mas o Caríssimo CdR, ou não leu, ou mandou esta parte também, para o departamento dos “Simple minds”
Ora assim, também não sei que lhe diga.
Que o CdR se sinta fascinado pela imponência estrutural dos grandes empreendimentos arquitectónicos, projectos públicos em geral, compreendo e evidentemente não está só. O Egipto faz uns bons cobres a pala deste assunto.
A meu ver, essa é a razão pela qual a arquitectura sempre foi, a arte predilecta de príncipes e ditadores.
Como o HV sintetizou de forma magistral: “exercer do poder sobre o espaço público”.
INDEPENDENTEMENTE! Como discutir um projecto de habitação sem falar no mais importante: o espaço, o aquecimento central e o luxo da casa de banho? )
Claro, também a meu ver, o espaço é muito importante, nomeadamente o espaço de responsabilidade que a administração lhe concede a si como individuo.
Mas o que me parece ligeiramente exagerado é afirmar que esta administração foi ‘arrogante e indiferente a necessidades individuais’! )
Isto está já bastante diluído. O que eu disse, foi: A raiz de inspiração totalitária esta patente, não só na gigantesca massalidade do projecto mas sobretudo, no banir do espaço publico, de qualquer tipo de expressão individual ou de identidade colectiva.
Caro CdR, exagerado foi o desperdiçar de dinheiro publico. Estes projectos também podem cristalizar, através de um dialogo entre as diversas partes comprometidas, o que resultara numa representação multi-facetada e mais de acordo com o imaginário das comunidades directamente interessadas.
Possivelmente isto também não lhe dirá grande coisa, para mim é essencial.
Permita-me um par de perguntas.
Esta imunidade ideológica que atribui á arquitectura, é a seu ver, exclusiva para a arquitectura, para as artes plásticas, ou abrange as artes em geral?
Pensa que é licito (lógico) dividir a historia da arquitectura por períodos históricos (estilísticos) abrangente a correntes de pensamento e conceitos ideológicos? Tipo Romano, Renascença, Rococó, Gótico, Neo-clássico, Greco-Romano, Dórico, Bizantino, Barroco, Islâmico, Arte-deco, Art Nouveau, Bauhaus, Modernismo, etc etc, etc.
Dê uma vista de olhos pela wikipedia, ou qualquer historia da arquitectura.
Deixo-lhe uma citação (ilustracao) do sr. Albert Speer, de como a ideologia se manifesta na criação de contrastes, volumes e divisão de espaços.
…The Führer, too, is a head of state who builds, but in an entirely different sense. His major buildings that are beginning to appear in many cities are an expression of the essence of the movement. They are intended to endure for millennia and are part of the movement itself. The Führer created this movement, came to power because of its strength, and even today determines the smallest details of its structure. He does not build in the manner of earlier heads of state who were prosperous contract-givers or patrons; he must build as a National Socialist. Just as he determines the will and nature of the movement, so also he determines the simplicity and purity of its buildings, their strength of expression, the clarity of the thinking, the quality of the material, and most importantly, the new inner meaning and content of his buildings…
… Building is not merely a way of passing time for the Führer, rather a serious way of giving expression in stone to the will of the National Socialist movement…
-…It was natural that I also followed my passion for architecture. Next to music, it seemed to me the queen of the arts. Working to understand it was not "work" for me, rather a great pleasure…
He explains in "Mein Kampf"
Um excelente link para projectos não realizados. De outros socialismos.
Totalitarian architecture is strictly for the birds;-)
’Noto que insiste na “opinião geral”,’
Sim, mas não só.
Também insisti na minha opinião, que também vale o que vale mas pronto é a minha. Você acha Bijlmermeer fascista, o Augusto Willemsen sempre achou um projecto do baril, e eu, sem ter uma etiqueta à mão para lhe colar repito o que já disse: Ainda me lembro da airosa e enorme sala-de-estar no apartamento do meu amigo Manel Peixoto, era só arrumar a mesa e as cadeiras pró lado e podíamos jogar uma partida de futebol de salão. Aqui está, a minha experiência pessoal.
"continuo pasmado, com a sua recusa em reconhecer identidade ideológica, ou pratica politica à arquitectura."
Então vai continuar porque simplesmente não consigo ver diferenças entre as arquitecturas. Porque uma arquitectura megalómana e desumana (conceito subjectivo, mas é para lhe fazer a vontade) na minha opinião tanto pode ter sido mandada construir por Mussolini, como por Hitler, por Estaline, por Salazar, por Saddam Hussein, pelo Rei de Marrocos, pela administração de Nova Iorque, de Paris, ou da Malásia…
Nisto estou plenamente de acordo com a afirmação de Hendrik C. Stoel:
Todo aquele que afirma que a arquitectura na Itália de Benito Mussolini (na minha opinião a única que merece a pura conotação de arquitectura fascista, à excepção possivelmente das tentativas de Albert Speer na Alemanha), realmente difere da arquitectura de outros regimes megalómanos, deveria demonstrar isso apoiado em exemplos concretos.
Repito, a ‘manipulação do espaço público’, que a si lhe salta à vista, e o ‘exercer do poder sobre o espaço público’, do Holandês Voador, são conceitos complexos que a mim, alma simples, para lhe ser franco não me dizem grande coisa e não sei que responder.
Não há aqui RETIRADA nenhuma e muito menos VAGA. E, para agravar a complexidade do discurso você acrescenta ainda que eu estou a ’tirar nabos da púcara?’ Que nabos? Que púcara?
Creio que fui bastante claro, ‘não me dizem grande coisa e não sei que responder’. Vagas são as afirmações acima referidas!
Há manipulação do espaço público em Bijlmermeer? Sim, mas será que não há manipulação do espaço público no bairro das Olaias em Lisboa? Ou no bairro do Cedro em Vila Nova de Gaia? E, se realmente há manipulação, como é que ela se manifesta? Se todos manipulam, ninguém manipula…. Penso eu de que!
A mim parece-me que quase todos os projectos de construção são devidamente PLANEADOS por urbanistas que MANIPULAM o espaço público e EXERCEM PODER sobre o espaço público com base em interesses sociais, económicos ou políticos. Ou todos os interesses misturados em proporções iguais. Ou completamente desiguais. Ou ainda, com insistência apenas sobre um deles…
Uma câmara municipal quando tem que decidir se deve ou não construir num determinado espaço público um complexo desportivo, ou apartamentos, ou uma mesquita, está INEVITAVELMENTE a manipular ou a exercer poder sobre o espaço público…
O contrário de aquilo que acabo de dizer é a construção ou urbanismo orgânico (inventei o termo para a ocasião). Um tipo de construção em que não há planeamento, nem tão pouco MANIPULAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO, nem é regido pelas autoridades, cresce como as ervas daninhas na natureza: A construção selvagem ou o bairro da lata…
"Grupos políticos de inspiração totalitária e com poder executivo, tem o mesmo resultado. Esse é o caso de Bijlmermeer."
No resultado é que a porca torce o rabo. Creio que é aqui que a nossa opinião diverge, porque continuo a acreditar que o projecto Bijlmermeer não teve o mesmo RESULTADO. Dito de outra maneira, a qualidade de vida em Bijlmermeer era (e continua a ser) muito superior à dos projectos aprovados nas ditaduras de governos ultra-centralizados.
Mas o Caríssimo CdR, ou não leu, ou mandou esta parte também, para o departamento dos “Simple minds”
Ora assim, também não sei que lhe diga.
É verdade. Não li a reconhecida autoridade na matéria que você me aconselhou, o sr. Maarten Mentzel, porque acho que não é necessário ler altos tratados de arquitectura - cheios de terminologia complexa e outros quebra-cabeças de grande gabarito -, apenas para afirmar que os apartamentos de Bijlmermeer eram (são) bem mais confortáveis do que aquilo a que eu estava habituado no bairro do Cedro, em Vila Nova de Gaia. Já para não abordar os enormes espaços verdes que no bairro do Cedro, ao contrário de Bijlmer, são totalmente inexistentes. E também a altura não é propícia para o esforço mental que você me exige. Não sei se você está ao corrente, mas decorrem neste momento os Jogos Olímpicos, e os corpos divinais a cair de 5 metros de altura como maná, ou a correr e a saltar que é uma fervura não são propícios a grandes esforços intelectuais.
’Que o CdR se sinta fascinado pela imponência estrutural dos grandes empreendimentos arquitectónicos’
De maneira nenhuma. Sou contra a mania do BIG IS BEAUTIFUL, por isso é que gosto tanto de Amesterdão com a sua filosofia do LITTLE IS MUCH BEAUTIFUL (Klein maar fijn).
a meu ver, o espaço é muito importante, nomeadamente o espaço de responsabilidade que a administração lhe concede a si como individuo.’
‘Espaço de responsabilidade’ não sei precisamente o que é! Mas de qualquer maneira, fico já todo contente se a administração me conceder apenas bastante espaço em metros, a um preço acessível.
’A raiz de inspiração totalitária esta patente, não só na gigantesca massalidade do projecto mas sobretudo, no banir do espaço publico, de qualquer tipo de expressão individual ou de identidade colectiva.’
O projecto Bijlmermeer é assim tão grande? Ou era na altura, nos anos 60, para a Holanda, um projecto grande? Será o projecto muito maior do que os outros que são construídos hoje em dia noutros sítios, como por exemplo Kattenburg em Amersfoort. E qual é precisamente a diferença entre um e outro? E os projectos actuais não sofrem de falta de identidade colectiva? E se sofrem, porque razão?
’Esta imunidade ideológica que atribui á arquitectura, é a seu ver, exclusiva para a arquitectura, para as artes plásticas, ou abrange as artes em geral?
A meu ver abrange as artes em geral. A arte em si não tem ideologia, o APROVEITAMENTO dela é que pode ser ideológico. O Realismo-Socialista é apenas um aproveitamento saloio da pintura com conotação ideológica. A pintura de Picasso não é marxista porque Picasso era comunista…. O Speer pode dizer aquilo que quiser, mas o Arco do Triunfo que ele tinha planeado construir para o Führer em Berlim – o que fez com que o outro arco se salvasse da destruição - era apenas muito maior do que o original: o Arco de Triunfo de Paris…
Assim como o palácio de Ceaucesco em Bucareste, o Centro Comercial da Arrábida ou o Colombo na capital do império, são apenas enormes pirosidades, e mais do que mau-gosto não consigo ver.
Estes projectos também podem cristalizar, através de um dialogo entre as diversas partes comprometidas, o que resultara numa representação multi-facetada e mais de acordo com o imaginário das comunidades directamente interessadas.
Possivelmente isto também não lhe dirá grande coisa, para mim é essencial.
É verdade, tenho muita pena mas não me diz grande coisa…
Diz o CdR: Você acha Bijlmermeer fascista…
Como dizia o meu avô: “E você a dar-lhe e a burra a fugir”.
Eu referi Bijlmermeer como exemplo, de um exercício, de arquitectura totalitária, onde a ideologia, foi parte dominante de um projecto, construído à revelia dos factos. Cuja agenda, ia para alem de garantir a autonomia e o bem-estar dos indivíduos.
O CdR insiste em reduzir o conceito a uma palavra, que eu conscientemente não usei.
Confesso, que a minha reacção ao seu texto, foi um bocado descuidada, mas o assunto à partida não me parecia particularmente controverso. Um colossal projecto urbanístico, em forma de colmeia, que tem de ser parcialmente demolido em menos de 30 anos, por falta de inquilinos, parecia-me um evidente resultado prático, da reconhecida interferência ideológica neste projecto. Apesar de amigos seus, estarem encantados com o projecto e do seu gosto pelo futebol de salão
Está bem claro que não chegaremos a um acordo, não abordamos o assunto pela mesma perspectiva e os factos, parecem não ter a mesma relevância.
Diz o CdR: não consigo ver diferenças entre as arquitecturas.
De acordo o assunto é complicado, mas identificar práticas, pelas quais uns projectos urbanísticos, por exemplo Katenburg, são um sucesso e outros Bijlmermeer, são um fiasco, para daí extrair, hipóteses interpretativas e apresenta-las prontas a digerir, está fora das minhas capacidades.
Diz o CdR: Que nabos? Que púcara? _Creio que fui bastante claro, ‘não me dizem grande coisa e não sei que responder’. Vagas são as afirmações acima referidas!
Foi realmente claro. Na altura pensei que, talvez estivesse a tentar estimular reacções para um “thread” moribundo, com um argumento, a meu ver, excessivamente modesto.
Diz o CdR: Todo aquele que afirma que a arquitectura na Itália de Benito Mussolini (na minha opinião a única que merece a pura conotação de arquitectura fascista, à excepção possivelmente das tentativas de Albert Speer na Alemanha), realmente difere da arquitectura de outros regimes megalómanos, deveria demonstrar isso apoiado em exemplos concretos.
Que o caríssimo CdR recusa ler, mas lá esta o sr. Stoel também fala em “pura conotacao” enquanto eu referi Bijlmermeer, justamente porque a conotação não é clara e por isso passa geralmente despercebida.
Diz o CdR: …mandada construir por Mussolini, como por Hitler, por Estaline, por Salazar, por Saddam Hussein, pelo Rei de Marrocos, pela administração de Nova Iorque
Curioso que consiga enquadrar tudo na mesma moldura. Visto assim, realmente, arquitectura não é mais que pedra e cal?
Diz o CdR: …A mim parece-me que quase todos os projectos de construção são devidamente PLANEADOS por urbanistas que MANIPULAM o espaço público e EXERCEM PODER sobre o espaço público com base em interesses sociais, económicos ou políticos. Ou todos os interesses misturados em proporções iguais. Ou completamente desiguais. Ou ainda, com insistência apenas sobre um deles…
Quase todos ! Devidamente!!! Tá bem abelhinha!
… O contrário de aquilo que acabo de dizer é a construção ou urbanismo orgânico (inventei o termo para a ocasião). Um tipo de construção em que não há planeamento, nem tão pouco MANIPULAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO, nem é regido pelas autoridades, cresce como as ervas daninhas na natureza: A construção selvagem ou o bairro da lata…
O termo é fixe! Mas entre estas duas possibilidades existe um monte de outras nuances, como o CdR reconhece: “os interesses misturados em proporções iguais. Ou completamente desiguais. Ou ainda, com insistência apenas sobre um deles”…
A meu ver, há aqui uma grande embrulhada entre factos e métodos. Perturba-me a ideia que, no que toca a arquitectura, não note diferença entre despotismo e democracia.
Quanto à imunidade ideológica.
Diz o CdR: A meu ver abrange as artes em geral. A arte em si não tem ideologia, o APROVEITAMENTO dela é que pode ser ideológico.
Posto assim as artes parecem uma espécie de desporto, isentas de ideologia, mas utilizáveis como suporte. Talvez um excelente tema para outro thread.
Lamentavelmente, Também aqui, não estou totalmente de acordo.
A meu ver, os artistas sempre foram mensageiros, dos grandes ideais e visões da humanidade.
Dos budas do Afeganistão às pirâmides do Egipto, do World Trade Center a Bijlmermeer
O século XX é por excelência o século das grandes utopias, e os artistas, não estão imunes, bem pelo contrario. São partisans firmemente engajados. Dão forma e intenção, às grandes revoluções estéticas e politicas. Como diz o Bazelitz, os artistas inventaram tudo, inclusive o frango assado.
Individualmente, (dependendo da geografia) uns mais que outros, submetidos às exigências da propaganda ideológica, da causa ou do estado.
Os reportórios formais estão intimamente ligados a conceitos filosóficos e sínteses ideológicas.
Disputas entre revolução e tradição, burguesias e proletariados, simbolismos e abstracções.
Guerrilhas entre “inutilidades ornamentais” e “rigores funcionalistas”, para não mencionar as lutas ferozes, entre perpendiculares e diagonais.
Diz o CdR: É verdade, tenho muita pena mas não me diz grande coisa…
De acordo. reconheço, sem ironia, que nada mais tenho a acrescentar. Aceito que o meu solilóquio sobre Bijlmermeer, seja para o CdR absolutamente irrelevante, em relação ao eco da opinião geral, ao facto da opinião dos seus amigos e à superioridade com o bairro do cedro.
Reparo tardiamente, que talvez tivesse poupado um monte de tempo sem ofender susceptibilidades se tivesse colocado Bijlmermeer na prateleira das utopias românticas, em vez de entrar à bruta, com os exemplos de utopias totalitárias. É tarde e para mim são a mesma prateleira.
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