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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Eleições Norte-Americanas XII


A campanha irrepreensível do candidato Republicano para a Presidência dos Estados Unidos da América começa a dar frutos.

Numa eleição em que seria de esperar o regresso dos Democratas ao poder, apenas um candidato diferente do Partido Republicano poderia inverter esta tendência. A escolha recaiu em John Sydney McCain, herói de Guerra Americano, antigo prisioneiro de Guerra no Vietname, conhecidíssimo um pouco por todo o lado em terras do tio Sam, com muitos anos de Senado, "amigo do ambiente" e apelidado por muitos como um Maverick.

Os Norte-Americanos estão profundamente desagradados com o desempenho da Administração Bush (35% aprovam o trabalho de W. Bush, 65% não) e, é preciso que se note, no último século raríssimas foram as vezes em que qualquer um dos dois Partidos ficou mais que duas vezes seguídas na Casa Branca. Recordo-me, de cabeça, de Franklin Delano Roosevelt pelos Democratas e dos 2 mandatos de Reagan completados com mais 1 de Bush pai. Para além da conjuntura, a história do século XX está contra John McCain.

É óbvio que nenhum candidato é perfeito, e John McCain também tem pontos vistos como incómodos pelos cidadãos dos Estados Unidos: nomeadamente a sua idade (71 anos). Mas, contrastando com a idade do seu principal oponente, Barack Obama, e com a experiência deste (pouco relevante), McCain conseguiu afastar o rótulo de velho incapaz para adquirir outro: o de velho capaz. O do velho energético, o do velho com bom humor, o do velho patriota.

Outra pedra no sapato de McCain tem sido a crescente propaganda que vai contra a sua história de Prisioneiro de Guerra. John McCain raramente fala da sua experiência, não se sabe muito bem porquê, e o Partido Republicano tenta a todo o custo que ele se refira a pormenores dos 5 anos que passou no Vietname. Ele lá se vai defendendo, dizendo que Obama nem sequer cumpriu serviço militar...

As sondagens são bem elucidativas: os Norte-Americanos têm muito mais medo de Obama a Presidente do que de McCain. O número de pessoas que afirmam que Obama é muito inexperiente para Presidente ultrapassa mais que o dobro aquelas que pensam que McCain é muito velho para ser Presidente.

Os "ventos da mudança" estão cada vez mais ténues, segundo a última vaga de sondagens. As distâncias já vinham a ser encurtadas desde há algum tempo por McCain, quer a nível nacional quer a nível de estados considerados swing states. Noutros estados, tem ganho terreno.

A inteligência dos Republicanos tem sido abismal: aproveitar tudo para jogar contra Obama e a favor de McCain. Aproveitaram-se, e bem, da situação na Geórgia: o senador do Arizona falou descontraidamente em comícios sobre o assunto, clarificando a sua visão sobre a questão, atacando em todas as frentes a Rússia, ainda muito odiada nos Estados Unidos; aproveitaram-se dos deslizes típicos de campanha eleitoral: a gaffe de Obama referente aos 57 estados dos Estados Unidos da América; a suposta gaffe de Obama, desta vez no que diz respeito à questão de Jerusalém; o aceitar e a posterior recusa dos fundos eleitorais por parte do Democrata; o flip-flop referente ao Iraque e a outras questões; e, por fim, aproveitaram-se de Obama: os seus discursos de fazer chorar meio Mundo; os seus apoiantes, que não sabem bem justificar porque votam Obama; a sua inexperiência.

Voltando atrás, hoje apareceu, pela primeira vez, uma sondagem a dar uma vitória considerável a John McCain a nível nacional: 46% para 41%. Já aqui frisei anteriormente que pouca importância dou a estas sondagens, uma vez que, como sabemos, é perfeitamente possível um candidato perder a nível nacional e ganhar a eleição. Mas não deixa de ser uma sondagem digna de registo.

Este processo de aproximação de McCain vem desde há algum tempo, depois do boom de Obama nas sondagens, após a conquista da sua nomeação. A aproximação agora efectivou-se, as casas de apostas já mexem nas chamadas odds...

Desengane-se, porém, quem pensa que isto ficará por aqui até às eleições: ao ritmo a que a coisa anda, tudo pode acontecer. As coisas vão continuar loucas até ao último dia de campanha.

John McCain tem que continuar a sua recolha de Democratas independentes e de Democratas mais moderados (Joe Lieberman pode ser um bom trunfo); tem que continuar a lutar pelos votos dos não-filiados, que continuam a estar muito divididos entre os dois candidatos; tem que arranjar uma maneira de penetrar no eleitorado feminino, claramente mais chegado a Obama; não tem, forçosamente, que conquistar o voto hispânico como o fez Bush há 4 anos atrás, mas convém não perder o eleitorado de olho.

Mas John McCain também já tem outras frentes livres: os Republicanos estão cada vez mais unidos, e o sentimento NOBAMA prolifera por aquelas bandas; os Evangélicos aparecem cada vez mais, como é norma, chegados ao candidato Republicano.

Uma aposta minha: os indecisos até perto das eleições, votarão McCain. É o chamado "voto seguro".

Tanto um como outro têm reais chances de ganhar em Novembro. A diferença entre perder e ganhar nesta eleição é muito pequena: basta perder 1 estado e tudo vai por água a baixo. Cada voto conta, cada segundo de campanha é importante.

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