Cartaz do Partido Socialista Pacífico: representativo dos anos 70 na Holanda.
No seguimento do poste do meu colega Ricardo Brilhante Deverá a UE criticar a Rússia, onde ele me dá en passant umas lições de economia que eu agradeço imenso, e onde a uma certa altura até me tenta fazer compreender a diferença entre RIQUEZA INATA e RIQUEZA GERADA, lembrei-me agora de repente da existência de uma terceira riqueza: RIQUEZA GIRADA
Eu explico-me.
Na Holanda, o Banco Nacional dos Correios, Postbank (actualmente privado fazendo parte do grupo ING), chamava-se antigamente GIRO. O giro deste Banco é que nos anos 70 emitia uns livrinhos de cheques para uso dos clientes, indiferentemente se tinham muita guita no banco ou a conta negativa, de onde estes podiam levantar no máximo 300 florins por cada cheque. O que na altura equivalia à módica quantia de 30 contos. Mas atenção, estes cheques serviam apenas para levantar dinheiro na Holanda ou em qualquer país da Europa (menos na Rússia) durante as férias, mas só nos correios…
Eu falei em ‘contos’ porque não era de maneira nenhuma o único que ia munido dos famosos cheques quando ia de férias para Portugal. Toda a minha geração, todos de esquerda mais ou menos marxizante e sempre à rasca de maças, levava sempre consigo na bagagem um livrinho de cheques do Giro, e….. umas gramas de haxixe, quando nos saudosos anos 70 iam a Portugal de férias.
Estão já a antever a cena. Ao chegar ao nosso jardim era só ir aos correios mais próximos - de preferência em centros urbanos porque na província acontecia frequentemente os correios não terem 30 contos na caixa (!) ou os funcionários não conheciam o sistema e punham-se com merdas - e, só com um chequezinho, toca de levantar 30 contos, que na altura, em Portugal, era mesmo muito papel, para os derreter o mais depressa possível basicamente em copos, charros ou gajas, conforme a preferência de cada um.
É evidente que os nossos jovens refugiados, quando voltavam para a Holanda, terminadas as férias, tinham as contas bancárias feitas num oito. Mas o que é que isso importa, pelo menos passaram umas férias do caralhão. E não há como o sol, o haxixe ou o tinto para uma pessoa esquecer, por algum tempo, futuras contrariedades financeiras.
Não quero com isto de maneira nenhuma dizer que a minha geração, na sua totalidade, não pensasse nas consequências e chatices de uma conta bancária desfalcada ao chegar de férias. Talvez pensasse, mas só nos momentos de repouso. Quero eu dizer, entre um charro, uma queca ou uma piela com os amigos, jovens refugiados havia - naturalmente os mais ajuizados, rapazes que apesar de muito jovens já se punham a cogitar sobre alta finança - que estando ainda em Portugal de férias, e antevendo a desastrosa situação bancária se confortavam com esta máxima que toda a minha geração conhece, e que certamente vai ficar para a história dos refugiados políticos na Holanda: ENQUANTO HÁ GIRO HÁ ESPERANÇA…
Como eu já disse estes cheques do Giro serviam apenas para levantar dinheiro nos correios, mas NÃO serviam para fazer pagamentos. Eu, por exemplo, numa das minhas primeiras viagens a Portugal depois do 25 de Abril de 74, meti logo a pata na poça: paguei inocentemente com um dos tais cheques (provavelmente não tinha francos suficientes e sabia lá eu dessas coisas) num Auberge em Barbézieux, na estrada nacional 10 entre Bordéus e Angoulême, onde dormi uma noite com mulher e filha e comi o melhor civet de lapin da minha vida.
Mais tarde, estaria eu já provavelmente muito perto de Vilar Formoso, quando o dono da estalagem ao tentar levantar o cheque deve ter ouvido do seu banco que este tinha o mesmo valor que um boletim do totobola não preenchido. Mas como no cheque estava estampado o meu nome e a minha morada, encontrei, quando voltei de Portugal de férias, uma cartinha na caixa do correio do homem da estalagem a pedir-me, très gentiment, que lhe enviasse a quantia porque não conseguia levantar o meu cheque. Coisa que imediatamente fiz, apesar de na altura eu ver no dono da estalagem um inimigo de classe, mas tomei em conta o divinal lapin que ele me serviu.
É evidente que também paguei assim umas coisitas do género em Portugal, mas como irão compreender não vou aqui especificar onde e quem- até porque já nem me lembro precisamente e estes eram mesmo capitalistas...
Ora, de Portugal NEM UMA CARTINHA! Nem repararam, ou se repararam, desconfiados como o costume, julgaram que o nome e o endereço que estava escarrapachado no cheque era irremediavelmente falso… Não era!
Na Holanda, o Banco Nacional dos Correios, Postbank (actualmente privado fazendo parte do grupo ING), chamava-se antigamente GIRO. O giro deste Banco é que nos anos 70 emitia uns livrinhos de cheques para uso dos clientes, indiferentemente se tinham muita guita no banco ou a conta negativa, de onde estes podiam levantar no máximo 300 florins por cada cheque. O que na altura equivalia à módica quantia de 30 contos. Mas atenção, estes cheques serviam apenas para levantar dinheiro na Holanda ou em qualquer país da Europa (menos na Rússia) durante as férias, mas só nos correios…
Eu falei em ‘contos’ porque não era de maneira nenhuma o único que ia munido dos famosos cheques quando ia de férias para Portugal. Toda a minha geração, todos de esquerda mais ou menos marxizante e sempre à rasca de maças, levava sempre consigo na bagagem um livrinho de cheques do Giro, e….. umas gramas de haxixe, quando nos saudosos anos 70 iam a Portugal de férias.
Estão já a antever a cena. Ao chegar ao nosso jardim era só ir aos correios mais próximos - de preferência em centros urbanos porque na província acontecia frequentemente os correios não terem 30 contos na caixa (!) ou os funcionários não conheciam o sistema e punham-se com merdas - e, só com um chequezinho, toca de levantar 30 contos, que na altura, em Portugal, era mesmo muito papel, para os derreter o mais depressa possível basicamente em copos, charros ou gajas, conforme a preferência de cada um.
É evidente que os nossos jovens refugiados, quando voltavam para a Holanda, terminadas as férias, tinham as contas bancárias feitas num oito. Mas o que é que isso importa, pelo menos passaram umas férias do caralhão. E não há como o sol, o haxixe ou o tinto para uma pessoa esquecer, por algum tempo, futuras contrariedades financeiras.
Não quero com isto de maneira nenhuma dizer que a minha geração, na sua totalidade, não pensasse nas consequências e chatices de uma conta bancária desfalcada ao chegar de férias. Talvez pensasse, mas só nos momentos de repouso. Quero eu dizer, entre um charro, uma queca ou uma piela com os amigos, jovens refugiados havia - naturalmente os mais ajuizados, rapazes que apesar de muito jovens já se punham a cogitar sobre alta finança - que estando ainda em Portugal de férias, e antevendo a desastrosa situação bancária se confortavam com esta máxima que toda a minha geração conhece, e que certamente vai ficar para a história dos refugiados políticos na Holanda: ENQUANTO HÁ GIRO HÁ ESPERANÇA…
Como eu já disse estes cheques do Giro serviam apenas para levantar dinheiro nos correios, mas NÃO serviam para fazer pagamentos. Eu, por exemplo, numa das minhas primeiras viagens a Portugal depois do 25 de Abril de 74, meti logo a pata na poça: paguei inocentemente com um dos tais cheques (provavelmente não tinha francos suficientes e sabia lá eu dessas coisas) num Auberge em Barbézieux, na estrada nacional 10 entre Bordéus e Angoulême, onde dormi uma noite com mulher e filha e comi o melhor civet de lapin da minha vida.
Mais tarde, estaria eu já provavelmente muito perto de Vilar Formoso, quando o dono da estalagem ao tentar levantar o cheque deve ter ouvido do seu banco que este tinha o mesmo valor que um boletim do totobola não preenchido. Mas como no cheque estava estampado o meu nome e a minha morada, encontrei, quando voltei de Portugal de férias, uma cartinha na caixa do correio do homem da estalagem a pedir-me, très gentiment, que lhe enviasse a quantia porque não conseguia levantar o meu cheque. Coisa que imediatamente fiz, apesar de na altura eu ver no dono da estalagem um inimigo de classe, mas tomei em conta o divinal lapin que ele me serviu.
É evidente que também paguei assim umas coisitas do género em Portugal, mas como irão compreender não vou aqui especificar onde e quem- até porque já nem me lembro precisamente e estes eram mesmo capitalistas...
Ora, de Portugal NEM UMA CARTINHA! Nem repararam, ou se repararam, desconfiados como o costume, julgaram que o nome e o endereço que estava escarrapachado no cheque era irremediavelmente falso… Não era!
7 comentários:
CdR:
"charros ou gajas"
'E', meu caro, 'e'.
O cartaz do PSP não terá nada a ver com o Giro, mas que é giro, é...
Não deves tirar a vaca. É um símbolo intemporal.
Já sobre o símbolo da época, penso que era uma militante do PSP, mas ninguém particularmente conhecida. A verdade é que passou à história, ao contrário de muito boa gente famosa!
Tem piada, tive esse poster pendurado em Bijlmermeer. tinha uma versão (A0) oblonga com as iniciais PSP (Partido Socialista Pacifista) "DESARMANTE".
Se bem me recordo era realmente a única vista agradável na colmeia de betão armado…
E para quem chegava do bairro do Cedro, um magnifico “Bem vindo”
Prezado Senhor Da Rosa,
Por acaso (fiquei curiosa se alguem reagiu aos minhas palavras sobre a Bijlmer) li o seu girrisimo artigo sobre cheques, charros, copos e gajas. Tudo em plural, claro, uma vez que a revolucao sempre foi uma bicha com bestante fome (no meu pai diz-ze: 'fome saudavel').
Pode ter certeza que ainda eu, que naquelo epoca era novo, mas na mesma ja architecto bestante conhecido, usefrutei a sistema dos cheques. De vez em quando pagava com um cheque so para nao gostar da cara dum empragado. Tambem aconteceu que fiz aquela truc so para saber como uma pessoa ira reagir.
Ja nao vale a pena pedir desculpe. Como ja disse; era novo, impetuoso, até desvanecido...e tambem bebi bestante - mas so vinhos bons.
Pronto, isto dito agora tenho mas algumas coisitas para ajudar os factos:
O GIROBETAALKAART (para usar nas lojas) tinha um maximo do 300 florins, o GIROKASCHEQUE (para usar so nos correios) tinha um maximo do 500 florins.
E para saber a identidade da repariga no poster basta ler o seguinte:
'Tijdens de verkiezingsstrijd van 1971 ontstond er veel commotie over een affiche van een koe met daarvoor een spiernaakte vrouw. De in 1957 opgerichte Pacifistische Socialistische Partij (PSP) pleitte met deze poster voor internationale ontwapening.
Het tonen van vrouwelijk naakt vonden veel mensen schokkend. In veel gemeentes werd de PSP-poster verboden wegens 'schending van de openbare zeden' en 'het zinnenprikkelende gehalte'. Ook binnen de PSP was er kritiek op wat de 'seksistische uitbuiting van het vrouwelijk lichaam' werd genoemd. Bij ontwerper George Noordanus werden de ruiten ingegooid.
Fotograaf Hendrik-Jan Koldeweij maakte de foto niet voor de PSP. Hij wilde gewoon een typisch Hollandse foto maken en fotografeerde de 25-jarige rechtenstudente Saskia Holleman in een weideland bij Nootdorp. 'Ze bleek niet zo fotogeniek', zei Koldewei later, 'vandaar die blonde pruik.' Nieuwsgierige boeren keken van een afstandje toe. Vervolgens belandde de foto bij Noordanus, die voor de PSP een affiche moest ontwerpen. De poster zou burgerlijk Nederland schokken en tot over de grenzen faam verwerven.
Een grote stemmentrekker werd de poster niet. De partij verloor in 1971 de helft van haar vier kamerzetels. In 1990 ging de PSP op in GroenLinks.'
Com os melhores cumprimentos,
Hendrik C. Stoel
Architect BNA
CR:
"Olhe que precisamente na sua idade devia beber diariamente pelo menos 2 copinhos de vinho, tinto, só tinto, por causa do coração."
No meu caso, se bebesse esses dois copitos, estaria a proteger o meu coração ou também o das gajas que morreriam de desgosto se me desse um 'treco'? :-)
.
Ó Roseiro. Li, não só o teu artigo, curti a cena meu, a tua vibração é mesmo uma ganda curtição, és um ganzadão. A minha introdução teria que ser linguagem anos 70. Carmo. Neste Fiel mar de amigos ou inimigos onde os americanos se elegem na chata e aborrecida luta sobre o poder ao maior hamburguer em molho de coca cola, és tu o único bafo de fresco ar. Espero que não percas a pedalada,... e que a frescura continue.
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