Uma das obras que mais me marcou foi “O caminho da servidão”, de Hayek, pela vivíssima descrição do mecanismo segundo o qual o socialismo tende inevitavelmente ao controle totalitário e, no limite, a transformar os indivíduos em escravos.
Não que os pensadores socialistas tenham alguma vez definido esse objectivo. Pelo contrário, as suas intenções sempre foram as melhores, fundadas numa visão utópica de um futuro radioso; de uma sociedade na qual a existência estaria automaticamente garantida, sem que o indivíduo tivesse de se responsabilizar pela sua sobrevivência; uma sociedade onde reinasse a harmonia e na qual não haveria desafios e mudanças abruptas; uma sociedade em que cada um cumprisse aquilo que lhe fosse prescrito, tendo como objectivo o bem geral; uma sociedade onde os indivíduos não tivessem necessidade de fazer escolhas difíceis e tomar decisões cruciais para a sua vida; uma sociedade onde não houvesse inveja, e onde a benevolência do estado garantisse que o indivíduo que errasse fosse considerado vítima dessa mesma sociedade, sendo esta responsabilizada pelos erros daquele.
O socialismo foi imposto à força em alguns países (URSS), e sufragado pelo voto noutros (Alemanha nazi). Pode ser total e brutal, como na Coreia do Norte, China maoista, URSS, etc, ou parcial e fabiano, como nas sociais-democracias dos anos 70 e no “estado social” que se vai paulatinamente estabelecendo na Europa. Todavia o princípio subjacente é o mesmo, e idênticos os resultados práticos, variando apenas no tempo que levam a ser produzidos e aferidos.
A transformação dos indivíduos em escravos não é, na obra de Hayek, uma mera hipérbole. Para além do juízo ético que se possa fazer sobre o fenómeno da escravatura, tecnicamente ela pode caracterizar-se como a relação entre um proprietário que ordena, controla e dispõe do produto do trabalho de indivíduos que lhe estão sujeitos, sem o seu consentimento. O proprietário, em nome do seu próprio interesse, veste, alimenta, ensina, defende e cuida dos seus escravos.
Na história da escravatura há proprietários “bons”, que chegam mesmo a partilhar a mesa com alguns dos seus escravos, os tratam com desvelo e bondade e até lhe concedem alguma liberdade individual, e proprietários “maus”, que os chicoteiam e os tratam sem qualquer piedade.
Ora, mutatis mutandis, é exactamente isto que se passa com o estado socialista ou socializante. Na URSS, o estado socialista ordenava, controlava e dispunha de todo o produto do trabalho de todos os cidadãos. Vestia-os, alimentava-os, abrigava-os, ensinava-os, defendia-os e chicoteava-os, se estes se portassem mal.
A versão mitigada do estado social, é o proprietário “bom”. O estado ordena, controla e dispõe de quase 50% do produto do trabalho de todos os cidadãos. E almeja alimentá-los, abrigá-los (direito à habitação), ensiná-los (direito à educação) e cuidá-los (direito à saúde).
Na verdade, os chamados "direitos económicos", tão caros aos socialistas, são, na sua essência, os cuidados que o proprietário toma com a sua mão-de-obra.
19 comentários:
Com esse pretexto o comunismo vem sendo paulatinamente implantado nos vários países sul-americanos mas, na verdade, não passam de republiquetas clepto-oligárquicas, resultado das distorções de mercado que levaram os sindicalistas ao poder.
Isso começou quando instituíram a unicidade sindical, ou seja, um único sindicado para cada categoria numa mesma base territorial. Internamente os ativistas ditos socialistas se eternizaram no poder até que conseguiram se promover a verdadeiros vice-reis e colocar um deles na presidência da República do Brasil. O discurso socialista não passa de um imbróglio para assaltarem os cofres públicos e as empresas e os recursos são cada vez mais utilizados para criação da insana república bolivariana que é, por enquanto, virtual. No entanto, aparecerá de fato com território depois que consolidarem a URSAL, uma espécie de internacional socialista sul-americana. Enfim, o terror que a Europa superou mudou para a América Latina.
Estimado Fiel: concordo consigo.
E consigo também, caro anónimo.
Quanto a F. Hayek, podem ler gratuitamente a obra referida, em www.ordemlivre.org.
Digo eu...
Saloio
Se os comunistas mataram 120 milhões de pessoas e dividindo este numero pelos comunistas mundiais, então os comunistas portugueses são responsáveis por cerca de 200 mil mortos, no mínimo.
"Também se poderia dizer que o capitalismo pode ser total e brutal"
Cdr, quando se afirma que o capitalismo é o sistema que existe num país socialista, quer dizer que a novilíngua triunfou.
Na verdade, dizer que é capitalismo o que existe na China, é como dizer que democracia é o que existe na Coreia do Norte.
Quanto à suavidade da escravatura, é como lhe disse. Há proprietários que tratam bem os seus escravos os quais, por esse facto, não deixam de o ser.
Se um dia ler Hayek, verá que é exactamente esse mecanismo paternalista que torna esta escravatura tão entorpecedora.
E quando o proprietário nos prende com grilhetas douradas, até nos apaixonamos por elas e proclamamos que o patrão nos permite acelerar na auto-estrada.
Eu tenho um cão assim: não é capaz de andar na rua sem a coleira. Sempre que o levo para fora dos portões do jardim, vai a correr buscar a coleira e trá-la com os dentes. Para que lha coloque e ele então se sinta livre, provavelmente deitando olhares superiores aos outros cães.
Caro Lidador
Na minha interpretação o que hoje existe na China é capitalismo em elevado grau de pureza.
A verdade é que o capitalismo, como sistema económico, é de tal modo vantajoso que se dá bem tanto em democracia como em ditadura. A economia chilena foi recuperada pelo liberalismo económico na era de Pinochet.
«uva mijona, têm, lá está, por imposição do Estado, que ir a passo de tartaruga a 90 km por hora que se lixam»
Mas porque é que meteram na cabeça que os Estados Unidos da América estão isentos de imposição do Estado?
Há Estados que são mais conservadores, colectam mais, legislam mais etc e tudo o mais. A questão não é a distribuição da riqueza ao bom modo socialista. É a livre iniciativa (com Hayek ou sem Hayek), o acesso à riqueza, o direito à propriedade e defesa da mesma inscrista na Constituição.
Nos U.S.A também existe Estado, funcionalismo e abusos por parte do mesmo. A diferença está nos contra-pesos que defendem estas regras essenciais e que ninguém se atreve a mexer.
PP, infelizmente a máquina da novilíngua da esquerda, consegue sempre colar tudo o que parece desagradável, ao conceito de capitalismo e o facto de tanto o PP como o Cdr ( e não só...) aceitarem jogar com os conceitos definidos à esquerda, demonstra a extrema eficácia das armadilhas intelectuais da esquerda. Acaba por ser a esquerda a definir o capitalismo, o que é no mínimo paradoxal.
O PP e o Cdr aceitam como "capitalismo", a caricatura que a esquerda faz e praticamente identificam-no com milenar ansia do lucro que existe, muito antes de haver uma coisa chamada "capitalismo".
A “aura sacra fames” não é "capitalismo"..apenas a natural e humana avidez, que existiu sempre, na China, como no Benim.
Capitalismo é muito mais do que isso... é um estilo de vida norteado por normas que surgem no quadro de uma ética. E por isso é que o capitalismo progrediu e fez progredir países com determinadas características e não encontra terreno para medrar nas profundezas do Zimbabwe. A China enveredou por um sistema que tenta combinar ferramentas de mercado livre com uma férreo controle político e social.
Chamar a isso "capitalismo", é cair na armadilha dos socialistas, é abdicar da clareza do conceito em favor de uma mistficação moralista.
"ara perceber que há donos e cães, escravos e senhores e classes sociais"
Lá está...a grande vitória do marxismo é a forma insidiosa como consegue infiltrar a sua grelha de análise, as suas categorias e os seus conceitos, no discurso até daqueles que não o aceitam.
Classes sociais?
O Cdr é capaz de concretizar a que "classe social" pertence?
E o Dr Louçã?
E o Cristiano Ronaldo?
E dois ou três dos seus amigos?
E um chulo?
E uma trabalhadora do sexo? E um médico?
Já agora, quais as "classes sociais" que existem?
Veja bem, Cdr, você está a usar de forma coloquial um conceito marxista que não tem delimitação concreta. É uma abstração conveniente para reduzir a complexidade a fórmulas simplistas.
É por isso que o marxismo cultural não morreu e se reproduz no discurso e nas visões de uma caterva de jornalistas e de académicos.
Quanto ao capitalismo, importa-se então de dizer qual a diferença entre aquilo que chama "capitalismo selvagem" e a ganância e a vontade de lucro, por exemplo, no tempos dos romanos?
Eram capitalistas?
OU eram "capitalistas selvagens?
Então porque razão o capitalismo só aparece centenas de anos depois?
" a minha alusão ...a... classes sociais – NADA TEM A VER com marxismo"
CdR, "classes sociais" é um conceito marxista em estado ouro.
" é perfeitamente possível concretizar a que classe eu pertenço"
Ora concretize, lá...
" e obviamente também de toda a lista que enunciou"
Quais são as classes? 1ª, 2ª, económica? turística?
"Isto para um economista médio é tecnicamente muito simples"
Talvez...mas nunca falei com nenhum economista médio que, fora das categorias marxistas, consiga identificar classes sociais.
Será a classe dos 1000 aos 2000?
Dos 500 aos 1000?
E as subclasses?
E será que os dos 1000 aos 1300 têm mais consciência de classe que os dos 1200 aos 1400?
"e sei que estas coisas são possíveis."
Há quem diga que tb é possível viajar no tempo. Mas infelizmente ninguém sabe como sa faz.
"o capitalismo selvagem, tal como é praticado na China e no Dubai, em que os trabalhadores não têm direitos, ou muito poucos, nem sindicados nem um mínimo de legislação para os defender"
Exactamente o que existia, digamos no Império Romano.
E contudo nunca ninguém se lembrou de chamar a isso "capitalismo", selvagem ou doméstico.
Sabe porquê?
POrque isso não é capitalismo.
Isso é uma caricatura a que a esquerda logrou pegar o nome de "capitalismo".
Isso é aura sacra fames.
Que existe desde que existem sapiens.
Mas o capitalismo é uma coisa muito mais recente.
"os trabalhadores nas sociais-democracias do Norte da Europa."
A "social-democracia", faliu na década de 70. Era uma variação do socialismo. Existia tb no Reino Unido, antes da Margaret, com os resultados catastróficos que se conhecem ( a orgulhosa Albion a ter de recorrer ao FMI).
Lidador,
Hayek era um fora-de-série. Uma mente superior.
Mas há um factor que leva à derrocada do comunismo e da capitalismo: a ganância humana.
Apesar de ser melhor, a grande vantagem do capitalismo sobre o comunismo é ser mais flexivel e elástico. No entando, mal utilizado é igualmente perigoso.
Na Critica da Filosofia do Direito de Hegel, Marx disse que a religião é o ópio do povo (apesar de mesma já ter sido antes utilizada por outros, como Heinrich Heine "Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança").
Eu digo que a ideologia é a religião da política.
E os comunistas são os seus mais fervorosos consumidores!
Boas Festas!
Lidador,
Dizer que a Social-Democracia falhou nos anos setenta é uma frase que não significa nada. O que é que falhou exactamente? O modelo político, o modelo económico, o modelo social?...
Basta dar uma olhadela aos índices de desenvolvimento publicados pelo PNUD, OCDE ou EUROSTAT dos últimos vinte anos (portanto, já depois dos tais anos setenta) para perceber quais são os países mais desenvolvidos no "ranking" internacional.
Os índices de desenvolvimento aferem variáveis como o PIB, a Educação, a Saúde, a Longevidade e o Meio-Ambiente, entre outros.
Em todos estes "items" os países Escandinavos, os países da Benelux, a Alemanha ou a França estão, invariavalmente, entre os dez primeiros.
Basta ter vivido num destes países, para perceber isto. Podia dar-lhe dezenas de exemplos do quotidiano para lhe explicar, mas não vale a pena.
No entanto, nenhum destes países é (ou foi) socialista: A propriedade privada é um "bezerro de ouro", os meios de produção não estão estatizados, o mercado livre é soberano e, pasme-se, a maior parte deles são monarquias constitucionais! Como é possível falar de socialismo no Norte da Europa?
Sim, são países capitalistas, de longa tradição democrática e onde existe uma forte componente ética ligada ao protestantismo (como deve saber, já que leu Max Weber) o que explica a "face humana do capitalismo", para usar o jargão socialista.
Resumindo e concluindo: aconselho-o a ir passar umas férias à Holanda pois, estou certo, o Carmo da Rosa terá todo o prazer em mostrar-lhe as diferenças no capitalismo...
CdR
"dividir uma determinada sociedade em classes. Os economistas não fazem outra coisa…"
É verdade que fazem, mas sobretudo faz-se nas áreas de marketing. em Gestão, em que os consumidores são divididos nas classes A a D.
Eu compreendo que o Lidador associe o termo 'classes sociais' ao marxismo. No entanto o conceito é tão velho quanto o homem. Ainda hoje podemos encontrar formas de estratificação social nas sociedades mais primitivas.
VFS, concordo inteiramente consigo, excepto na questão do capitalismo.
Parece-me que sendo a ganância uma característica humana, faz parte daquilo que nos trouxe das profundezas das cavernas onde nos acoitávamos, transidos de frio e borrados de terror, até um mundo em que somos o topo da cadeia alimentar.
O capitalismo não quer corrigir os "defeitos"..limita-se a entrar em linha de conta com aquilo que somos efectivamente e não com aquilo que alguns acham que devíamos ser.
E por isso mesmo não é um sistema fechado e dogmático. Não é algo tipo chave-na-mão. Está aberto aos ventos e marés da mudança,retorce-se , adapta-se, muda, e sobrevive.
Porque é feito para homens reais e estes são tb assim.
HOlandês, tome opor exemplo a Suécia. Carl Bildt um maldito liberal, que subiu ao poder após a quase falência da Suécia, baixou impostos, privatizou, baixou a assistência estatal, enfim, fez aquilo que a boa da Margaret fez na Grâ-Bretanha.
E salvou a Suécia do abismo a que a social democracia a tinha conduzido. Hoje há empresas que em sequer pagam IRC.
A Dinamarca, elegeu um 1º ministro radicalmente liberal que, veja você, até ganhou um Prémio Hayek por ter escrito um livro intitulado " Do Estado Social ao Estado Mínimo". Hoje a Dinamarca é um dos países com maior indice de liberdade económica do mundo.
O holandes congelou no mito dos anos 70 e não percebe que já lão vão quase 40 anos e que o mundo em que parou já não existe.
A Gra-Bretanha, por exemplo, a seguir à II Guerra Mundial, nacionalizou estradas, caminhos de ferro, produção eléctrica, industria automóvel, carvão etc,etc.
Em 1974, o Labour formou governo com Harold Wilson e foi lançado um programa económico com todas as armas do arsenal keynesiano, na tentativa de quadrar o círculo: lutar contra a inflação e o déficite exerno, sustentando simultaneamente o emprego e a actividade económica. O orçamento apontava para um aumento dos investimentos publicos, ainda mais nacionalizações de indústrias "estratégicas", aumento do apoio social ao emprego, etc .
Dois anos depois, enquanto em Portugal se trombeteava o socialismo, a inflação galopava nos 20 %, a despesa social disparava e as empresas públicas apresentavam déficites impressionantes a começar pela British Leyland
Harold Wilson sem saber o que fazer, demitiu-se e passou o pântano ao seu camarada Callagan.
O efeito foi nenhum: instalou-se a estagflação, o poder de compra dos trabalhadores baixou, e começaram as greves selvagens que conduziram a uma explosão nos salários.
Não há jantares de borla e a conta veio a seguir: aumento de 50% na taxa de desemprego, inflação a 25 %, déficite externo brutal, desvalorização da libra em mais de 20%. O investimento caíu na vertical e, caso nunca visto, a orgulhosa Grâ-Bretanha foi obrigada a recorrer ao FMI para evitar a bancarrota.
Estava aberto o caminho a Margaret Tatcher que afastou definitivamente as políticas keynesianas, rachou as cabeças aos sindicatos e introduziu o monetarismo.
O Reino Unido tornou-se uma economia muito mais saudável e competitiva, onde Keynes morreu e o monetarismo se manteve, mesmo após o regresso do Labour ao poder.
Até há dias....na verdade os socialistas não aprendem e há sempre um Companheiro Vasco a ronronar por ali. O governo inglês , tal como muitos outros, já anda a renacionalizar bancos e empresas para evitar a sua falência.
Ou seja, o contribuinte inglês, quer queira quer não, terá de pagar dos seus bolsos os prejuízos privados
Enfi, este assunto dava pano para mangas e sobre a Suécia, aconselho a leitura deste post do nosso Luis Oliveira, escrito in sito.
E depois acho piada você falar da "face humana do capitalismo", a partir do quadrante socialista, quando é exactamente o socialismo que não aceita o indivíduo e os seus direitos como alfa e ómega e postula antes a "sociedade".
É do caraças. O socialismo que redundou nas maiores desgraças para os indivíduos, em TODOS os locais onde se instalou, a invocar superioridades éticas, é de um gajo cair de cu.
E tb de um gajo cair de cu, é haver gente que acha que os triunfos ímpares das democracias liberais capitalistas se devem ao socialismo, enquanto o fracasso dos países socialistas se deve aos capitalistas.
Não sei se isto é burrice se é só má-fé.
Quando você diz que a propriedade privada é um "bezerro de ouro", esquece-se de uma coisa: o dinheiro que cada um ganha é propriedade privada. E um estado que se apodera de 50% da propriedade privada de alguns para a dar a outros,está na prática a dizer que é dono das pessoas.
Caro CDR, não há " pequenas diferenças entre o ‘capitalismo’ praticado no tempo dos romanos".
No tempo dos romanos não havia capitalismo. O capitalismo não é essa caricatura. O capitalismo é uma coisa recente.
Se cai na armadilha intelectual da esquerda e chama capitalismo a tudo o que parece "feio", desarma-se na argumentação.
Sempre houve, há e haverá ganância, lucro, mais valias, etc,etc.
MAS ISSO NÃO É CAPITALISMO.
Quanto ao resto, a resposta ao holandes sobre a mitificação da social-democracia, responde bem aos seus argumentos.
Mas tenho ajuda. José Fernandes Fafe um dos conhecidos intelectuais da esquerda portuguesa, em 1989 escrevia que "é inevitável o fim do welfare do tipo nórdico e o esgotar do keynesianismo"
Tinha razão e a realidade demonstrou-o.
Mas hoje, passados quase 20 anos, imensa gente ainda se recusa a ver que já não estamos na década de 70 e que os Abba, tb já não cantam, apesar do sucesso revivalista de Mamma Mia.
PP, estratificação social é uma coisa, é uma descrição a-ideológica. "Classes sociais" é um termo com carga ideológica ,é uma categoria marxista.
Há outros pensadores que usam "estatutos".
Trata-se de abstrações, coisas que não existem. O que existe são indivíduos com diferentes identidades. Do bairro, do clube, da Companhia de Caçadores, da Beira Alta, etc.
Se o CDR ganha por exemplo, 5000 por mês e uma rapariga daquelas das montras de Amesterdão faz tb 5000, são da mesma "classe"?
Ora bolas, deixemos lá as "classe sociais". É uma simplificação marxista de realidades complexas, e neste caso é na luta entre estas abstrações que o marxismo recolhe o seu sumo.
Cria abstrações, imagina conflitos cósmicos entre elas, e à luz destas ficções postula sobre tudo.
E nós vamos aos poucos vogando na baba destes conceitos.
Caro Lidador
O termo 'classe social' é anterior a Marx. Usar a expressão 'classe social' não representa nenhuma cedência à lógica marxista. Concordo com o CdR, estamos a falar de classes, não de lutas. Os critérios que ele deu para definição da classe são os usados para as tais classes A, B, C e D que se usa para quotas de questionários em sondagens.
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Fez uma excelente explanação da falência da social democracia. Bem podia dividir isso em dois posts e publicar. Esta é a segunda 'encomenda' que lhe faço, e o meu amigo nada.
Cdr, assim de fugida, porque estou de saída, ainda bem que no andar de cima lhe falaram do "estatuto".
Trata-se de um conceito essencial da sociedade liberal e é da autoria de Webber). Pareto tem as "elites". Nestas classificações a grande diferença com os conceitos maexistas é que são categorias incomparáveis (não se pode comparar em termos de valor um grande desportista com um grande cientista) e impossíveis de hierarquizar.
Pelo contrario , o marxismo recusa o “estatuto” e avança com as “classes, em permanente conflito, fazendo mover a história, umas classes melhores que outras.
Quanto ao welfare generoso, a pergunta que lhe deixo é : generoso para quem?
É de borla?
De onde vem a "generosidade"?
Pode um indivíduo decidir por si próprio o uso do seu dinheiro ao serviço da "generosidade" dos outros?
Sabe, é tão fácil ser "generoso" quando são outros a pagar...e ainda por cima sem direito a recusar, face à decisão "generosa" de quem manda.
Bem um Bom Natal!
CDR:
"Uma rapariga com apenas o ensino primário mas que ganha €5000 por mês atrás da montra a matá-los, NÃO TEM o mesmo estatuto social (não pertence à mesma classe social), que outra rapariga que é formada em física nuclear, que faz pesquisa na universidade e que ganha €2500 por mês."
Lidador:
"o marxismo recusa o “estatuto” e avança com as “classes, em permanente conflito, fazendo mover a história, umas classes melhores que outras."
É precisamente aqui, no esclarecer desta embrulhada de conceitos, que, a meu ver, está a possibilidade de esclarecer o assunto. Noutro dia, num outro post comecei um comentário ao CDR que depois interrompi porque percebi que, para me explicar devidamente, teria que me alongar demasiado. Copiei assim o que já escrevera e guardei-o para não me esquecer e poder retomar o assunto (precisamente este assunto, mas visto a partir de outra perspectiva) mais tarde, num post.
Mas devo dizer-vos que houve um português, falecido em 1983, Manuel Grangeio Crespo, que publicou(em 1976/7/8?, numa edição de autor distribuida gratuitamente) uma reflexão muito interessante sobre o assunto numa obra intitulada "Apelo ao Povo", uma passagem importantíssima da qual foi citada posteriormente pelo Ramalho Eanes. No meio do fervor das controvérsias revolucionárias, a obra acabou por passar despercebida (o Eanes citou-a porque ele lha enviou directamente). E essa passagem tem exactamente a ver com aquilo de fala o Lidador, a ganância (eu não lhe chamaria bem isso) e o significado do trabalho nesse contexto.
O post fica assim prometido para um dia destes. Nem que seja para aumentar a confusão.
Ainda só mais uma coisa: do meu ponto de vista, a polémica em que o Álvaro Cunhal e o António Sérgio se envolveram sobre a questão do cooperativismo, se aprofundada no essencial do que os separava, tem muito, mas mesmo muito interesse. Aliás, eu aconselho a leitura do Sérgio, que não teve culpa nenhuma do que o PS fez dele, afastando-o de quem o deveria ler.
Cdr, calma.
Veja se tenta entender o meu ponto de vista.
As classe não existem. Nunca ninguém viu, cheirou ou pesou uma.
Tampouco os seres humanos trazem um carimbo marcado a ferro na nalga esquerda, a especificar a classe.
Trata-se de uma construção intelectual, uma maneira de simplificar a realidade para melhor a analisar e compreender.
O cdr usa o termo "classe", como poderia usar estrato, nível, grupo, estado (clero, nobreza, povo), etc,etc.
O que eu lhe estou a dizer é que este termo e o conceito que encerra foi apropriado pelo marxismo e o seu uso, se bem que expurgado de qualquer intenção marxista, é uma vitória do marxismo cultural.
As palavras contam. Se você chamar "Guerra do Ultramar" à nossa guerra em África, está a usar uma terminologia nas antípodas de "Guerra Colonial". Ambos os conceitos se referem ao mesmo facto, mas a terminologia usada marca imediatamente a categoria moral do evento.
Se você chama bestial a uma coisa, não está a querer dizer que se trata de algo próprio das bestas, mas sim, paradoxalmente, de algo muito bom.
o CDR diz que o Welfare state é generoso para todos.
Ora isso é impossível. Alguém tem de pagar para que outros sintam derramar-se sobre eles a generosidade do Estado.
Se o CDR ganha 4 pudins e o estado lhe leva 2 para ser generoso, não sei que contas é que você faz para assegurar que o estado está a ser generoso consigo. Quer dizer, você fica a perder 2 pudins , pode talvez vir a receber meia dúzia de tremoços e fica feliz com isso?
Já pensou o que poderia fazer com os 2 pudins que o Estado lhe surripiou?
Já pensou que você trabalhou no duro para ganhar os 4 pudins e agora quem se vai regalar com eles são gajos que não trabalharam tanto e tão bem como você?
E acha isto "generoso"?
" Mais descontos e mais impostos = mais generosidade."
Exacto. Ora parece que o CdR acha fantástio que alguém que não ele, decida sobre o dinheiro que ganha.
Eu não acredito nisso, meu caro.
Vou dar-lhe um exemplo: Eu a minha mulher largamos para o Estado, por mês, qualquer coisa como 2500 euros, em IRS e Segurança Social.
O Estado é "generoso"?
A Escola Pública é gratuita, mas como é uma merda, tenho de pagar por fora mais 200 euros por mês em aulas privadas.
Estou com um problema de saúde?
O acesso ao SNS é barato, mas se quiser ser tratado antes de morrer, tenho de pagar no privado.
É isso que faço... e largo por mês mais uma pipa de massa.
E por aí adiante.
Com metade daquilo que o Estado me surripia para praticar a "generosidade", pagaria um excelente colégio privado (se existisse cá na zona) e um seguro médico de luxo.
Você dirá que temos de ser solidários e patati-patatá, e eu dir-lhe-ei que a minha primeira solidariedade é para com os meus e não para com estranhos.
E que a solidariedade é uma questão de vontade individual e não uma imposição de um Estado iluminado.
E que nada irá mal se os que apregoam a "solidariedade" com o dinheiro dos outros, puserem a sua carteira ao serviço da boca, isto é, largarem eles o dinheiro para a generosidade que acham bem.
Todos ficariam felizes:
Os egoístas como eu, os generosos, e os alvos da "generosidade".
E o Estado em vez de andar a redistribuir generosidades, faria aquilo que tem de fazer:distribuir justiça , segurança e mais umas merdas.
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