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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A POBREZA ROMÂNTICA…


A pobreza retratada em vídeo, em canção e em poesia. Meus amigos, mais do que isto só na farmácia.


É bem possível imaginar um tipo de diálogo deste género num café de Amesterdão entre a minha pessoa e o meu amigo Cabeça:

Cabeça: O povo na minha terra era da cor da terra.
Cdr: Cor! Na minha terra o povo nem cor tinha, era pálido, anémico.
Cabeça: Mas na minha trabalhavam de Sol a Sol.
Cdr: Sol! Isso era prós ricos, na minha terra só chuva.
Cabeça: E comíamos açorda só com azeite, água, sal, pão e coentros.
Cdr: Eh compadre, o que aí vai de fartura! Azeite! Coentros! Na minha terra isso são produtos de rico.
Cabeça: Pois é, mas no meu bairro eram todos trabalhadores.
Cdr: Trabalho, no meu só trabalhos, no meu estava tudo desempregado.
Cabeça: Mesmo no verão a roupa era sempre negra!
Cdr: roupa?

Mas os Monty Python têm, sobre o mesmo tema, uma versão a quatro (Four Yorkshiremen) que, tenho que reconhecer, é bastante superior, ver mesmo absolutamente fantástica:

Fiz uma curta tradução à pressa e só do início, que os pobres já me estão a dar muito trabalho e eu não sou a mãe Teresa.

- Nunca pensei que trinta anos depois estaríamos aqui todos juntos a beber um belo copo de chateau de chatelié.
- Pelo preço de uma châvena de chá,
- Preço de châvena de chá frio, sem leite nem açucar,
- Ou, sem chá.
- Numa châvena sem asa (?).
- Nós, nem sequer châvenas tínhamos, bebíamos chá por um jornal enrolado.
- Mas éramos felizes nesses dias, apesar de sermos pobres.
- Precisamente porque éramos pobres. O meu pai costumava dizer: filho, o dinheiro não trás felicidade.
- Tinha razão. Eu era feliz e não possuía absolutamente nada. Vivíamos numa modesta casa com buracos no telhado.
-Casa! Tinhas sorte de viver numa casa. Nós vivíamos 26 num quarto sem móveis, onde faltava metade do soalho.
- Tu ainda tinhas sorte de ter um quarto, nós vivíamos no corredor.
- Nós sonhávamos com um corredor, teria sido para nós um palácio.




Mas também Jacques Brel abordou esta temática dos nossos pobres, bien de chez nous, na canção La Dame Patronesse, mas fê-lo evidentemente com muito mais humor do que os Sérgios Godinhos e os Janitas Salomés alguma vez o poderiam fazer:

Pour faire une bonne dame patronnesse, Mesdames,
Tricotez tout en couleur caca d'oie
Ce qui permet le dimanche à la grand-messe
De reconnaître ses pauvres à soi


E para terminar em grande, e com um poeta da nossa terra, e sempre mantendo o tema, aqui temos poesia de Alberto Caeiro.

Ontem o pregador de verdades dele
Falou outra vez comigo.
Falou do sofrimento das classes que trabalham
(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).
Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer,
Ou se é fome da sobremesa alheia.
Falou de tudo quando pudesse fazê-lo zangar-se.

Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!
Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é deles,
E não se cura de fora,
Porque sofrer não é ter falta de tinta
Ou o caixote não ter aros de ferro!

Haver injustiça é como haver morte.
Eu nunca daria um passo para alterar
Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.
Mil passos que desse para isso
Eram só mil passos.
Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,

9 comentários:

cabeça disse...

Carmo da Rosa. É assim! (ou não) mas, logo se vê. Pobreza sempre existiu em Portugal, seja a norte sul, este, oeste, ou na puta que pariu. Miséria humana não tem medida, pode ser descrita de todas as formas e medidas, nenhuma delas será pior ou melhor. Não estou em luta para alcançar nenhum primeiro
prémio, "nem sequer luto pelo poder absoluto sobre a descritiva pobreza". Só sei que não mais sei do que relatar aquilo que vi e vivi. PONTO FINAL. Tá bem?!. Agora vamos a factos: aquilo que tu foste "homem de estrema esquerda" digo foste, (passado) arrependido etc. e tál,... blá, blá, blá, foi o que foi, águas passadas não movem moinhos, e passarinhos ao canto. Mas e,... agora? quem és TU?!!.

Anónimo disse...

Tanto os que deblateram contra a pobreza como os que, em estilo espertalhaço, brincam com o assunto para simularem que são finórios e bebem do fino, não passam de pessoínhas muito a precisarem de trampa em cima do caixote dos pirolitos.
O Pessoa era um fingidor. Nada a dizer, fazia-o com estilo.
O resto é cambada de pequeno-burgueses pacóvios, imitações descoloridas do Sade, esse sim um tipo de colhões.
...E o resto é conversa.

Flor de Estufa

ml disse...

E já agora algum fiel podia explicar-me porque é que a meio deste post aparece por duas vezes You do not have access to this page. You might want to try logging in above. ?

Se não tenho acesso, que faço eu aqui? Cortesia da gerência?

Anónimo disse...

Estava a tentar ver algum dos vídeos?

Não sei de que vídeos fala, não os vejo.
Olhe o que me aparece neste post:

[...]
- Nós sonhávamos com um corredor, teria sido para nós um palácio.




You do not have access to this page. You might want to try logging in above.




Mas também Jacques Brel abordou esta temática dos nossos pobres
[...]


Parece-me é que aqueles avisos simpáticos estão é em vez dos vídeos, que não entraram.

Anónimo disse...

Carmo da Rosa, mudei de navegador - do Firefox para o Explorer - mas, a coisa continua sem funcionar, ou seja, as mensagens em dois imensos espaços em branco - "You do not have access to this page. You might want to try logging in above." - estao la ate este momento.

E nao me diga que sao coisas de Magalhaes [amem].

E, outra agora! Nao consigo imprimir os acentos necessarios.

Estais com fome?

No mais, Fernando Pessoa e sempre bom para fechar a noite. Sua ironia sacode as ideias.

RioDoiro disse...

A ML tem razão.

Suponho que ambos têm razão.

Eu já vi os vídeos mas agora só vejo a mensagem que a ML refere.

Logo que possa, investigarei.

RoD

cabeça disse...

Carmo. Pois muito bem. O que foste foste, já lá vai, eu nessa altura arrepiava-me todo quando ouvia vozes vomitarem bocas do tipo "viva a ditadura do proletariado" calquei alguns muros com a resposta adequada ("abaixo a dita-dura viva a dita-mole"), o pão alentejano era bom mas o efeito da sua massividade eram hemorroidas.
Como li este teu post ontem á noite, tarde e a más horas não tive tempo de reagir ao conteúdo. Para ópera bufa não está mal! mas com mais tempo, consegues muito melhor!. De resto, tens razão.

cabeça disse...

Amigo Carmo. Esta será a minha ultima reacção, já digo "porquê!". Espero que tenhas curtido esse velho documento filmado. Eu fui rever o "musica no coração" e saí de lá com tesão! até rima. O ultimo porquê!: Respondo aos teus artigos porque, (independentemente do conteúdo), são bem esgalhados, e transparentes, teem nome e cara. Não aceito comentários de, (extraterrestres?!) empacotados in-dígitos!?, batata frita sabe melhor. Olhe lá, a causa é nossa, a verdade não é tua, a Wikipédia é do baril, mostrar os tomates?! tu tás mas é maluco! - os pobretanas papavam-mos. O risco é grande mas quem vai á guerra, dá e leva. Depois falamos, digo, FALAMOS.

RioDoiro disse...

CdR:

"nem estão minimamente interessados em saber se tiveste um passado heróico; se és rico ou pobre; se és doutorado em física nuclear!"

Pela parte que me toca, no alvo.

"Nada disso interessa a estes novos portugas"

... em sentido figurado!

"Apenas argumentos contam, a democracia na sua forma mais pura…"

No alvo. Chapelada :-)

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