"Portugal é um país de analfabetos, alguns dos quais sabem ler", disse um dia Vergílio Ferreira.
Saramago sabe, também, escrever. Daí que seja confundido, muitas vezes, com um intelectual.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
8 comentários:
Era bom, era, se fosse assim tão simples, decidir que aqueles de quem não gostamos não prestam...
Mas não é.
Parece que temos a edição portuguesa dos cartoons. É bom para o Saramago, permanece o que sempre foi sem se contradizer e os livrinhos continuam a vender-se como pãezinhos. Satisfação total garantida, do autor aos leitores. Os outros não contam, apenas contribuem para o êxito editorial, sem qq compensação.
Acho que era a altura de se desenterrar o que alguns disseram por cá na altura e comparar com as indignações de hoje. Um primor de coerência e principalmente de inteligência.
Aguardemos os riots.
ml:
Não falo de gosto, falo de falta de inteligência, de ignorância, de arrogância e, sobretudo, de má-fé. Qualquer estudante de teologia (não é o meu caso) se ri das reflexões de Saramago. Falar de Caim daquela maneira, é o mesmo que ignorar que o mito tem origem nas lutas que se originaram no Médio Oriente aquando do aparecimento de práticas agrícolas, entre os pastores, nómadas, e os agricultores, sedentários, que negavam a terra aos rebanhos e começavam a revelar um espírito menos comunitário - daí Caim ser aquele que não oferece as melhores oferendas a Deus. Desde antes do final do século XIX que isto é ensinado aos teólogos e nas universidades cristãs em cursos de outras áreas.
Saramago não se interessa por essas coisas. Argumenta ao nível mais primário, para manter uma clientela feita de primarismo. Se fosse um tipo inteligente, até poderia utilizar o mito para justificar a ideologia que diz assumir. Se estivesse preocupado com a verdade, ajudaria a divulgá-la através da literatura, mesmo que para depois poder contestar o que achasse contestável em termos de uma perspectiva ateia. Mas nem isso. A única coisa que o preocupa é a dimensão de um ego artificialmente alimentado por um prémio Nobel... enfim, todos sabemos o que ele é, desde Sartre até Beckett.
Quanto à instituição Igreja Católica e ao judaísmo também não é honesto. Segue a vulgata da cartilha do materialismo dialéctico e a tradição parola de Guerra Junqueiro, de grande agrado jacobino e do Zé da Tasca, irmão do Zé Povinho, sem questionar o rigor do que nela se diz. Para quem exigia subsídios públicos para fazer as necessárias investigações quando se escreve um romance histórico e criticava os poderes instituídos por não perceberem essa necessidade, não está mal...!
Por isso reafirmo: Saramago é um analfabeto que, além de saber ler, também aprendeu a escrever, não interessa se bem ou mal. E um analfabeto desonesto e com um fígado prenhe de má-fé.
José Gonsalo, o meu ponto nem é esse, mas sim a pouca perspicácia, que chega a ser indecorosa, de quem andou a moralizar no respeitante aos cartoons de Maomé. Dá-me a ideia de que os muçulmanos tb argumentaram com a ignorância, pouca inteligência e mais não sei o quê de quem desenhou e defendeu os cartoons.
Começa a ser cansativa esta sanha beata. Primeiro, foi o filme, 'As Horas de Maria'. Uma vergonha. Depois foi 'O Evangelho segundo Jesus Cristo', uma larada de burrices. Agora a reedição da polémica por parte dos 'defensores da liberdade de expressão'. Se ao menos olhassem para o que escreveram antes...
Pouca inteligência, sim, é argumentar-se de um modo quando se está à defesa e de outra quando se está ao ataque. Pode ser muito útil, mas diz muito dos arguentes.
Quanto ao ‘crime’ em si, não posso adiantar nada. Embora tenha a certeza que sei mais de Bíblia do que a maioria dos católicos portugueses, não é o suficiente para me meter numa polémica que nem sequer me interessa. Mas olhe que ainda hoje ouvi num fórum qualquer que o José Saramago conhece a Bíblia de trás para a frente. E nem podia ser de outro modo, dado ser um autor que se sabe que se documenta ao detalhe.
O Brecht dizia que nenhum escritor ateu podia desconhecer a Bíblia, não só porque é um dos fundamentos da sua própria cultura como se tem que saber do que se fala quando se quer refutar. Foi o caso do Brecht e acho que é o que se passa com o Saramago.
E não me parece que o que ele quer contestar tenha alguma coisa a ver os fundamentos mitológicos de que a Bíblia faz eco, mas sim com o texto já depurado que passou para os crentes. Mas para o poder perceber melhor teria que ler a obra, coisa que não sei se irei fazer, sequer. Não gosto do Saramago como pessoa, não o aprecio muito como escritor. Mas os meus gostos interessam tanto para aqui como os de outra pessoa qualquer. Nada. E ele continua a ser o que é.
ML:
"de quem andou a moralizar no respeitante aos cartoons de Maomé."
Nã.
Defenderei sempre que Saramago tem o direito de dizer as besteiras que bem entender.
Mas eu tenho o direito de lhe dizer que está a cagar fora do penico.
Saramago, se pudesse (CLARAMENTE) mandava-me pata Goulag. O que ele debita é raiva, uma tentativa de fazer sofrer as imperfeitas criaturas.
http://fiel-inimigo.blogspot.com/2009/03/dos-integradores-ii.html
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Outro caso:
http://range-o-dente.blogspot.com/2007_05_01_archive.html
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ml:
(à pressa, que amanhã lhe responderei melhor)
Conhecer a Bíblia de trás para frente não significa entendê-la ou estar interessado nisso. Posso memorizar um documento para seleccionar somente aquilo que serve aos meus fins.
Nã.
Sim.
No seu caso não sei, já não tenho a memória de elefante que tinha e neste blogue não há pesquisa por autor. Resta-me acreditar em si.
Não deve ser difícil encontrar as prédicas dos oficiantes, só que não me parece que valha a pena o trabalho, é sempre a mesma melodia. Nunca é a atitude, por mais reprovável, que dá origem à objecção, mas sim a pessoa em si. Uma ética bastante elástica, convenhamos.
Outras vezes trata-se de simples burrice, mas isso é um outro post e não se aplica à generalidade da tripulação. Mas que se aplica a alguns, lá isso...
OK, José Gonçalo, mas isso que diz assenta que nem uma luva a quem anda por aí aos berros contra as maldades do Corão. E provavelmente sabem até muito menos do que o Saramago sobre a Bíblia.
E tb não me diga que para ler uns textos – apesar de, desde Darwin, a ICAR ter convertido em ‘simbolismo’ todas as extravagâncias bíblicas, até o pobre do Caim é oferecido de bandeja - é necessário frequentar-se as aulas do padre Carreira das Neves. Que tb foge com o rabo à seringa quando se sente apertado. Isto presenciei eu uma vez, quando foi confrontado com a primeira descrição que a Lúcia fez da senhora que viu em Fátima. Uma senhora vestida à moda de Lisboa, simplesmente.
Apesar de muito instado, nunca respondeu à questão que lhe puseram e que foi apenas: por que razão é que a Lúcia mudou o depoimento mais tarde, quando já estava nas mãos da santa madre? Ele não estava à espera é que lhe apresentassem um exemplar da 1ª edição das ‘aparições’ e quedou-se mudo. Literalmente.
Olhe, estão bem uns para os outros. São brancos, que se entendam.
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