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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Conservadores-liberais

Se entendermos o conservadorismo como disposição filosófica – oakeshott – e o liberalismo como cardápio – ideario pragmaticamente esquematizado – como quase todos entendem então estamos ante um dilema, não os podemos atribuir lhe estatuto igual. Enquanto o estado, o partido, a assembleia pode sofrer de hemiplegia, a natureza humana não o pode. Um liberal, hoje e amanha, terá como escopo a liberdade – seja "positiva" ou "negativa" – o conservador é puramente circunstancial. A liberdade é um fim em si mesmo. Intemporal. Não há conservador em demanda pela monarquia absoluta ou que se esbraceje entre apelos para devolver o homem à rotação dos solos, o conservador é uma criatura do seu tempo, de um presente fugaz, dotado de afectos, de hábitos, de desejos. Sabendo o seu mundo frágil, disponibiliza-se a defende-lo – ainda que sem planos substantivos. Sabe politicamente que o exercício do governo é uma actividade derradeiramente olímpica e que o chão que pisa volátil. No fundo sabe que tudo aquilo que permite uma vida civilizada está aberto às contingências do tempo, passível de perecimento. É por isso que conservadorismo e liberalismo não são insulares e nem sequer estão na mesma escala. Podemos ser liberais com preocupações conservadoras e vice-versa.

25 comentários:

Anónimo disse...

mas então de que lado está o meu caro amigo - conservador ou liberal puro e duro ?

Anónimo disse...

Pergunto-lhe isso porque acho que sãp duas convicções antagónicas

Anónimo disse...

oops- são

David Lourenço Mestre disse...

Um pouco como toda gente, sou um pouco de tudo - e nao sao assim tao antagonicas

Anónimo disse...

isso é um pouco andar à deriva, ou temos convicções politicas e defendemo-las ou então andamos ao sabor das ondas. já agora quais as possivéis semelhanças entre essas duas visões, na sua opinião.

David Lourenço Mestre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
David Lourenço Mestre disse...

tenho pouquissimas conviccoes politicas, muito mais duvidas do que certezas

penso que o liberalismo e o conervadorismo pertencem a esferas distintas, todos nós somos conservadores até certo ponto, defendemos a nossa familia, os nossos habitos, etc, e quem de nós nao tem uma veia liberal?

Anónimo disse...

caro David, você mistura alhos com bogalhos, o que é que conservador tem a ver com defender a familia ? será que defender a familia significa ser conservador ? qualquer pessoa de bem defende a sua familia e isso nada tem de conservadorismo, apenas um acto intrinsecamente humano. em relação à veia liberal concordo consigo pois de louco todos temos um pouco. louco no bom sentido, claro

David Lourenço Mestre disse...

Pois mas é justamente a minha opiniao, o conservadorismo é eminentemente humano, somos criaturas de contigencias e necessidades - familia, habitos, tradiçoes - justamente a esfera do conservadorismo

Anónimo disse...

pois mas e se tivermos um hábito, uma tradição familar vá, de fumar um joint em familia faz de nós conservadores ?
somos criaturas de hábitos porque vivemos em sociedade e, lá está, existem regras e bitolas a seguir mas isso não faz de nós conservadores. pelo menos na minha concepção de conservador

David Lourenço Mestre disse...

Mas um conservador nao tem de ser um ortodoxo rigoroso

Até que o conservadorismo está aberto à mudança e às voltalidades do tempo, porque é muito naturalmente uma transiçao entre o passado e o futuro, e politicamente uma gestao das mudanças historicas das actividades sociais

David Lourenço Mestre disse...

é a sua maxima tarefa a pacificaçao e reconciliaçao dos interesses individuais e plurais, no fundo, se pudessemos por nestes termos, é o equilibrio tensional entre reaccionarios e revolucionarios, entre o passado e o futuro

David Lourenço Mestre disse...

nao tem como papel ou desiginio a estagançao ou o recuo, isso é o campo dos reaccionarios e que desaguam com frequencia em programas de acçao contra-natura, profundamente vigilantes e caprichosos, necessariamente sobrecarregados e coercivos

VERITATIS disse...

Infelizmente, não há um Conservadorismo, mas sim conservadorismos. Tudo depende aquilo que se quer conservar: se a tradição, se o status quo.

R disse...

É um termo lato, tanto o "Liberalismo", como o "Conservadorismo".

Cavaco & Silva quando foi primeiro-ministro, ainda que num partido social-democrata, estava ao centro com laivos conservadores, mas no entanto na economia era um "liberal".


Liberalismo Clássico entende por Locke e Mill?

Tem o exemplo do nosso partido socialista; dito "liberal" e laico, mas no entanto há mais Estado, mais burocracia. Em contrapartida cospem o "liberalismo" moral da esquerda zapatista. Despenalização do aborto, lei do divórcio e por aí fora.

Quando às posições pessoais, na acepção da palavra há que ter sempre uma cotação "sociológica". Ser conservador é reservar alguma da liberdade, mas há quem defenda que a liberdade atinge-se com alguma privação que por si só jorra na dignificação humana. Enfim, vai da cultura em questão e dos contextos.

Mas há uma crise séria nesses dois conceitos, por outras palavras o "moralismo" Iluminista Europeu está de rastos.

Quanto à acepção das tendências naturais atenção para não confundir com a palavra "conservadorismo".

Os Americanos são patrióticos e não nacionalistas, no entanto muitos dos ditos liberais Americanos são patrióticos e de grosso modo os nacionalistas Europeus são em maioria conservadores (em todos os sentidos).


Outro ponto é a "história" em si como ambiguidade única. Há tendências e conjunturas que puxam regimes e ideias, e actualmente a tendência é para o "liberalismo" NÃO CLÁSSICO! Porque este "Liberalismo" que por aí anda militantemente não é o mesmo que foi postulado por Jonh Stuart Mill e Locke.

David Lourenço Mestre disse...

Escrevo com alguma relutancia sobre o assunto, mas sim, bentham, locke, mill, smith, burke... err

Isaiah berlin escreveu o seguinte sobre o liberalismo de antanho, fazendo um resumo:

"Man is, in principle at least, everywhere and in every condition, able, if he wills it, to discover and apply rational solutions to his problems. And these solutions, because they are rational cannot clash with one another, and will ultimately form a harmonious system in wihch the truth will prevail, and freedom, happiness, and unlimited opportunity for untrammelled sel-development will be open to all."

Isto certamente afastava conservadores misticos, catolicos ultra-montanos, herdeiros de maistre, etc

Mas estou a falar sobre o passado, a frase em cima já nao representa de todo o liberalismo moderno

Anónimo disse...

O que é o liberalismo moderno

Anónimo disse...

Porque é filosoficamente insustentavel.

Entao este ponto:

And these solutions, because they are rational cannot clash with one another

livra

Os marxistas desenvolveram um argumento muito interessante sobre este aspecto, mas levou-os irremediavelmente ao fanatismo, aos ferros, a uma guerra perpetua entre classes, a um cinismo absoluto - como se le nas palavras de plekhanov, salus revolutiae suprema lex - e finalmente à tirania

Mesmo na euforia do seculo xix havia entre os liberais consciencia das suas fragilidades. Mas o ambiente era outro, as clivagens maiores, havia o inimigo aboslutista, é curioso que a esquerda absorveu totalmente a ladainha do obscurantismo do seculo xix e ainda hoje a usa - os tipos (e tipas) sao doidos, nao ha comparaçao possivel entre o seculo xix e xxi

Anónimo disse...

suponho esteja a perguntar-se porque a frase nao pode resumir o liberalismo moderno

R disse...

Herdeiros de Maistre?!

Maistre teve o seu apogeu na "revolução francesa", isto é; um anti-libertário que acreditava demasiado no ser humano enquanto bicho terrível.



Mill e Locke geraram a Revolução Americana a 1776.
Maistre vem por oposição aos acontecimentos "liberais" na América que se deram na Europa e na França Iluminista.


David Lourenço, o "5 inimigos da liberdade" de Isaiah Berlin, é supostamente um epítome do que era se anti-liberal. Ele apresenta Rousseau como anti-liberal; Fichte; Hegel; Helvetius e claro o Maistre.

O que quero dizer é que o conceito liberal e conservador tem conotações diferentes.
Tal como os Jacobinos e os Girondinos.


E sim; o "liberalismo" actual foi catapultado por uma série de acontecimentos difusos, o que levou à oposição aos regimes conservadores deste princípio de século.

Anónimo disse...

quando falo de herdeiros de maistre falo de maurras, do fascismo, e de certa forma podiamos incluir lenin, que via o homem, nao no sentido hobbesiano mas justamente do mesmo modo que maistre, violento, perigoso, estupido

Berlin descreve rousseau e helvetius como inimigos da liberdade, rousseau era um liberal dentro da tradiçao francesa, ambos sao filhos do iluminismo

maistre é uma reacçao pura e dura ao iluminismo, ele queria desfazer o iluminismo

o conservadorismo, mais uma vez, é demasiado vago ideologicamente, isaiah berlin é um bom exemplo, deve ser considerado liberal? quando ele mesmo reconheceu que a liberdade nao garantia paz, igualdade, cultura, ou uma consciencia livre

R disse...

DLM de Isaiah Berlin não há uma percepção clara.
Estudou teóricos, como Koveje estudou Hegel.

É como Foucault, não há uma opinião concreta da sua posição.

Creio que Isaiah berlin é tido como um liberal conservador. Porque no "O poder das ideias" de Berlin, ataca por alto escritores "bucólicos" (belinski e bukowski)o que me parece que juntamente com essa obra de alguns fautores do Iluminismo (5 inimigos da liberdade) que tenha uma concepção conservadora, mas nunca deixa de ter o gene do liberalismo de MILL.

Ele crê que a maior liberdade é privar o alcoólico da garrafa. Afastar a garrafa do alcoólico.

Atenção, que ele refere já a pessoa (o alcóolico) num estado de consciência tresmalhado, porque ele defende a livre escolha acima de tudo. Mas defende um estado punitivo. Uma sociedade disciplinar e não uma sociedade de controlo. Tem os dois conceitos "liberalismo" com o "conservadorismo", um que justifica o outro.

R disse...

Quando referi o Foucault, como sabem ele tem obras a raiar o conservadorismo e obras a raiar na liberdade humana. No entanto apoiou o Khomeini na revolução Iraniana que oprimia as mulheres.

Foucault é um bom exemplo até; a "esquerda" totalitarista que se escondia sobre a capa do "liberalismo". É a chamada "esquerda legítima".

David Lourenço Mestre disse...

"Ele crê que a maior liberdade é privar o alcoólico da garrafa. Afastar a garrafa do alcoólico."

Mas esta é uma das percepçoes da ideia de liberdade, mais associada ao iluminismo continental que ao britanico, no fundo a liberdade é obediencia, mas obediencia a uma lei que nós atribuimos a nós proprios, assim pensava rousseau. A coerçao de terceiros em seu proprio interesse e benificio. A liberdade pelo autoconhecimento e pela razao. A liberdade "positiva".

Quando digo "quando ele mesmo reconheceu que a liberdade nao garantia paz, igualdade, cultura, ou uma consciencia livre"

Refiro-me a outros valores que nao a liberdade, a liberdade nao é o valor fundamental, é um dos valores fundamentais

já que fala de foucault ... ando com theatrum philosoficum, livro minusculo

R disse...

David Lourenço:

O que depreendi das leituras de Berlin é que ele cai mais para o lado oposto de Rousseau.
A meu ver Rousseau acreditava no homem em si mesmo como ser último da "moralia" e ética.
Berlin não acredita (ou faz por isso) que o ser humano crie por si mesmo a ética para não beber. Ele defende a livre escolha de beber ou decidir se bebe ou não. Mas ele também defende que a sociedade (e os seus mecanismos) devem de privar o alcóolico (que já escolheu beber) da garrafa. Isto é, um Estado punitivo, mas com livre escolha, porque acima de tudo ele defende a sociedade enquanto um todo.

Mas berlin não é um relativista, afirma uma só lei. Rousseau postulava o bom selvagem, e era bem mais dado a relativismos, porque para ele a lei (e refira-se a LEI em si) era dúbia. Mas como o DLM verificou, eram outros contextos e as monarquias e o centralismo grassavam a Europa. Houve muitas condicionantes para esse pensamento dito "liberal".
Berlin conserva a liberdade.

Acho que (uma simples opinião minha..) o hedonismo é um previlégio actual. Só uma pouca metade terá direito ao erro, não vejo com bons olhos o "liberalismo" clássico de formar seres humanos. É invío a longo prazo, e a sociedade dita democrática corrói. Pendo para o lado da luta oposta, cria mais coesão ao núcleo da escolha e isso endurece o espírito democrático.
É por essas e por outras que a América, o 2º berço desse liberalismo Lockiano resulta numa grande fatia actual dos 4% do pib em guerra. Os Estados Unidos sabem que sem a megalothymia crescente a democracia não funciona. Esmorece, e a "liberdade" suprime a democracia.

David Lourenço; O da editora cotovia?

Em relação a livros; ando com o do António José Saraiva - Maio e a crise da civilização Burguesa.