"Nós soldados, juramos ser fiéis à Pátria e lutar pela sua liberdade e independência. Juramos estar sempre, sempre ao lado do Povo, ao serviço da Classe Operária, dos Camponeses e do Povo Trabalhador, pela democracia e poder para o povo, pela vitória da revolução socialista"
Caso se tratasse de poesia ou de uma proposição para um novo hino nacional, poderíamos dizer que esta frase é demasiado descritiva para ser poética, porque não deixa muita margem à imaginação, um mal de que padecia este período revolucionário da nossa história. Mas como não se trata de poesia, mas sim de política, a coisa é mais grave, dá azo a mal-entendidos. Porque além de confusa, a frase contradiz-se nas suas intenções. Lutar pela liberdade num país que sofria da falta dela, é uma boa causa, mas lutar pela sua independência em 1974, num país que já é independente desde 1640, não faz sentido! Outra coisa que não faz sentido é jurar que estaremos sempre ao lado do Povo Trabalhador!
Nós quem? Ao lado, a fazer o quê?
Além disso, quem é que nos garante que a classe operária e os camponeses querem uma Revolução Socialista, sobretudo sabendo eles que esta é a maneira mais eficaz de lhes sacar o pouco poder que ainda vão tendo em regimes capitalistas?
Há, e sempre haverá, românticos (e os militares também são gente) que num período atribulado perdem a cabeça e exageram nas suas promessas de fidelidade. Toda a gente sabe de experiência própria o quão difícil é ser fiel à nossa mulher (ou marido), quanto mais à Pátria. (Bem vistas as coisas, até é mais fácil ser eternamente fiel à Pátria, entidade vaga e constituída por gente com interesses variados, do que ao nosso marido ou à nossa mulher, entidade omnipresente!
Mas então porque razão é que o povo, antes de 1974, data em que a dita cuja frase foi proferida, já punha em larga escala os cornos à Pátria: emigrando ou desertando do serviço militar? E o mais engraçado é que para ambas as situações tinha atenuantes válidas.
Como toda a gente sabe, uma grande parte do povo era muito maltratada pelos antigos donos da Pátria, não é pois para admirar que na primeira oportunidade trocassem de Pátria, e arranjassem outra que lhes oferecesse melhores condições. Onde, com o fruto do seu trabalho, pudessem comprar facilmente uma vuatúre. Até mesmo amealhar o suficiente para mais tarde mandar construir uma meisón na aldeia natal. E quem tem meisón na terra, sente uma vez por ano uma necessidade fisiológica de chegar o mais rapidamente possível ao seu destino, à sua meisón. Mesmo que para isso tenha que aterrorizar as estradas espanholas ao volante da sua vuatúre durante o período de férias. E férias pagas na sua Pátria, é coisa que o povo nunca tinha ouvido falar, razão pela qual foi mesmo obrigado a inventar o neologismo ‘vacanças’…
O povo das classes médias é um caso mais complexo, nem todos se podiam queixar de maus tratos por parte dos donos da Pátria, pelo menos que pudessem justificar um divórcio. Alguns tinham em relação aos donos da Pátria apenas uma divergência de interesses. A Pátria tinha interesses em África, que por uma razão de egoísmo mesquinho e de falta de visão, nunca quis partilhar com este povo. (Nem com este, nem com outro…)
Os donos da Pátria, completamente alheios aos perigos em que se afundavam, e com eles a Pátria, sentiram de repente a necessidade de defender, não a Pátria, mas os seus interesses em África, e foi assim que fizeram um apelo oportunista ao povo mais jovem! Mas como uma parte considerável desta juventude nunca usufruiu dos tais interesses da Pátria, fez-lhe um manguito e disse-lhe: ou comem todos ou há moralidade… Moral da história: esta parte do povo acabou também por trocar de Pátria, tal e qual como a outra.
Tolhidos pela saudade que uma longa permanência no exílio geralmente provoca, sem meisón na terra, longe da família e dos amigos, impossibilitados por razões políticas de exibirem também a sua vuatúre, estes jovens são facilmente receptivos a novas ideologias, novas mundivisões, novas drogas… E é assim que ouvem pela primeira vez alguém dizer que a religião é o ópio do povo e, como entretanto já se tinham familiarizado com o ópio ou seus derivados, resolveram estar sempre, sempre ao lado do povo…
Mas é mais do que evidente que esta nova postura, o estar ao lado do povo, era mais ditada por uma grande dose de saudade e muito fuminho, do que por uma análise racional dos interesses de cada um. A maioria daqueles que juram estar sempre, sempre ao lado do povo, mentem - típico de drogados!. Porque não é precisamente ao lado do povo que eles querem estar, mas acima… Na realidade eles não são muito diferentes dos donos da Pátria, daqueles que oprimem o povo (falta-lhes apenas o poder). O que não é de estranhar, visto fazerem parte do mesmo povo, com os mesmos hábitos e as mesmas taras. Por isso mesmo querem ser algo mais do que simplesmente povo, querem ser o seu representante. Recrear talvez certos aspectos exteriores, enquanto isso estiver na moda, mas deixando bem claro quem tem a faca e o queijo na mão.
Mas apesar de fazerem parte do mesmo povo, estão agora imbuídos de novas leituras e de novas ideias, não necessariamente mais modernas, mas que se podem muito bem resumir, evitando assim uma porrada de ‘ismos’, numa abordagem do povo diferente do posso-quero-e-mando tão peculiar dos anteriores donos da Pátria. Como já vimos, os novos amantes do povo têm precisamente a mesma atitude, mas introduziram uma inovação que, se não fosse o ódio que geralmente nutrem pela gestão capitalista, eu diria que se trata de uma técnica de marketing! Ou seja, são eles quem põem e dispõem, mas incutem ao mesmo tempo no povo a ideia que é ele quem manda; que ele é quem decide; que tudo lhe pertence…
Não será isto uma visão demasiado cínica de povo? Perguntará o leitor, não haverá gente verdadeiramente idealista entre o povo?
Há sim senhora. Há realmente gente pronta a tirar a camisa do corpo para cobrir o primeiro proletário ou camponês que se cruzar no seu caminho. Mas em parte nenhuma do mundo, nem mesmo na Palestina, estes benfeitores são em grande número – e quando aparece algum, pregam-no a uma cruz e só depois de morto é que este consegue alguns adeptos, quando já se tornou inofensivo!. Mas mesmo quando um pobre idealista, por distracção momentânea dos outros, chega muito perto do poder, o cínico, o maquiavélico, o que nasceu para mandar, tratará sempre de partir as pernas a este ingénuo cheio de boas intenções na primeira oportunidade que se lhe depara. Geralmente antes de este se tornar perigoso. Antes de ele querer dar realmente o poder ao povo….
Nelson Mandela há poucos, geralmente são os Estalines e os Mugabes quem sempre acabam por ocupar as cadeiras da frente. Por isso, o melhor é o povo fazer pela vida, informar-se o mais que possa, protestar de vez em quando, fazer barulho quando for preciso, mas sobretudo desconfiar sempre daqueles que dizem estar sempre, sempre ao lado do povo...
Nós quem? Ao lado, a fazer o quê?
Além disso, quem é que nos garante que a classe operária e os camponeses querem uma Revolução Socialista, sobretudo sabendo eles que esta é a maneira mais eficaz de lhes sacar o pouco poder que ainda vão tendo em regimes capitalistas?
Há, e sempre haverá, românticos (e os militares também são gente) que num período atribulado perdem a cabeça e exageram nas suas promessas de fidelidade. Toda a gente sabe de experiência própria o quão difícil é ser fiel à nossa mulher (ou marido), quanto mais à Pátria. (Bem vistas as coisas, até é mais fácil ser eternamente fiel à Pátria, entidade vaga e constituída por gente com interesses variados, do que ao nosso marido ou à nossa mulher, entidade omnipresente!
Mas então porque razão é que o povo, antes de 1974, data em que a dita cuja frase foi proferida, já punha em larga escala os cornos à Pátria: emigrando ou desertando do serviço militar? E o mais engraçado é que para ambas as situações tinha atenuantes válidas.
Como toda a gente sabe, uma grande parte do povo era muito maltratada pelos antigos donos da Pátria, não é pois para admirar que na primeira oportunidade trocassem de Pátria, e arranjassem outra que lhes oferecesse melhores condições. Onde, com o fruto do seu trabalho, pudessem comprar facilmente uma vuatúre. Até mesmo amealhar o suficiente para mais tarde mandar construir uma meisón na aldeia natal. E quem tem meisón na terra, sente uma vez por ano uma necessidade fisiológica de chegar o mais rapidamente possível ao seu destino, à sua meisón. Mesmo que para isso tenha que aterrorizar as estradas espanholas ao volante da sua vuatúre durante o período de férias. E férias pagas na sua Pátria, é coisa que o povo nunca tinha ouvido falar, razão pela qual foi mesmo obrigado a inventar o neologismo ‘vacanças’…
O povo das classes médias é um caso mais complexo, nem todos se podiam queixar de maus tratos por parte dos donos da Pátria, pelo menos que pudessem justificar um divórcio. Alguns tinham em relação aos donos da Pátria apenas uma divergência de interesses. A Pátria tinha interesses em África, que por uma razão de egoísmo mesquinho e de falta de visão, nunca quis partilhar com este povo. (Nem com este, nem com outro…)
Os donos da Pátria, completamente alheios aos perigos em que se afundavam, e com eles a Pátria, sentiram de repente a necessidade de defender, não a Pátria, mas os seus interesses em África, e foi assim que fizeram um apelo oportunista ao povo mais jovem! Mas como uma parte considerável desta juventude nunca usufruiu dos tais interesses da Pátria, fez-lhe um manguito e disse-lhe: ou comem todos ou há moralidade… Moral da história: esta parte do povo acabou também por trocar de Pátria, tal e qual como a outra.
Tolhidos pela saudade que uma longa permanência no exílio geralmente provoca, sem meisón na terra, longe da família e dos amigos, impossibilitados por razões políticas de exibirem também a sua vuatúre, estes jovens são facilmente receptivos a novas ideologias, novas mundivisões, novas drogas… E é assim que ouvem pela primeira vez alguém dizer que a religião é o ópio do povo e, como entretanto já se tinham familiarizado com o ópio ou seus derivados, resolveram estar sempre, sempre ao lado do povo…
Mas é mais do que evidente que esta nova postura, o estar ao lado do povo, era mais ditada por uma grande dose de saudade e muito fuminho, do que por uma análise racional dos interesses de cada um. A maioria daqueles que juram estar sempre, sempre ao lado do povo, mentem - típico de drogados!. Porque não é precisamente ao lado do povo que eles querem estar, mas acima… Na realidade eles não são muito diferentes dos donos da Pátria, daqueles que oprimem o povo (falta-lhes apenas o poder). O que não é de estranhar, visto fazerem parte do mesmo povo, com os mesmos hábitos e as mesmas taras. Por isso mesmo querem ser algo mais do que simplesmente povo, querem ser o seu representante. Recrear talvez certos aspectos exteriores, enquanto isso estiver na moda, mas deixando bem claro quem tem a faca e o queijo na mão.
Mas apesar de fazerem parte do mesmo povo, estão agora imbuídos de novas leituras e de novas ideias, não necessariamente mais modernas, mas que se podem muito bem resumir, evitando assim uma porrada de ‘ismos’, numa abordagem do povo diferente do posso-quero-e-mando tão peculiar dos anteriores donos da Pátria. Como já vimos, os novos amantes do povo têm precisamente a mesma atitude, mas introduziram uma inovação que, se não fosse o ódio que geralmente nutrem pela gestão capitalista, eu diria que se trata de uma técnica de marketing! Ou seja, são eles quem põem e dispõem, mas incutem ao mesmo tempo no povo a ideia que é ele quem manda; que ele é quem decide; que tudo lhe pertence…
Não será isto uma visão demasiado cínica de povo? Perguntará o leitor, não haverá gente verdadeiramente idealista entre o povo?
Há sim senhora. Há realmente gente pronta a tirar a camisa do corpo para cobrir o primeiro proletário ou camponês que se cruzar no seu caminho. Mas em parte nenhuma do mundo, nem mesmo na Palestina, estes benfeitores são em grande número – e quando aparece algum, pregam-no a uma cruz e só depois de morto é que este consegue alguns adeptos, quando já se tornou inofensivo!. Mas mesmo quando um pobre idealista, por distracção momentânea dos outros, chega muito perto do poder, o cínico, o maquiavélico, o que nasceu para mandar, tratará sempre de partir as pernas a este ingénuo cheio de boas intenções na primeira oportunidade que se lhe depara. Geralmente antes de este se tornar perigoso. Antes de ele querer dar realmente o poder ao povo….
Nelson Mandela há poucos, geralmente são os Estalines e os Mugabes quem sempre acabam por ocupar as cadeiras da frente. Por isso, o melhor é o povo fazer pela vida, informar-se o mais que possa, protestar de vez em quando, fazer barulho quando for preciso, mas sobretudo desconfiar sempre daqueles que dizem estar sempre, sempre ao lado do povo...
30 comentários:
Carmo da Rosa:
Obrigado pelo trabalho deste óptimo post. Era por aqui que eu iria começar um dia destes a responder a coisas que a ml e outros persistem em não querer ver, ou, mais duramente: em pegar a realidade pelos cornos. E, já agora, vou ver se nos próximos dias consigo desenvolver o tema.
Entretanto, se não tiver lido, recomendo-lhe que dê uma vista de olhos num livro de Michael Oakeshott, Moralidade e Política na Europa Moderna (ou parecido, tive uma falhazita de memória). É muito interessante.
Belissimo texto, claro e bem explicito como é seu apanágio CdR. Mas nem assim terá descanso dos bravos do pelotão vermelho...
Felizmente o povo já vai abrindo os olhos e até no Alentejo o vermelho descolorou pese embora alguns, poucos, ultimos bastiões. Para concluir relembro um velho ditado do povo, lá está, que sintetiza bem algumas das suas conclusões : " Quando a esmola é grande, o pobre desconfia ".
Ó Carmito já te tinha dito que é bonito balançar no trapézio da tua
prosa(ito). O (ito) é para rimar com Carmito. O povo na minha infinita terra, (anos 60) era da cor dela, os seus corpos eram a pele que cobria o Alentejo, gente trigueira de cara triste e olhos de azeitona. O trabalho era de sol a sol, "não muito diziam", nos seus rostos e mãos, estavam os profundos rasgos de mais mortes que vidas. Confesso que vi!. Com azeite, água, sal, pão, e coentros se comia uma açorda! nem mais nem menos. A pele cobria a terra os ossos lavravam. Eu era nessa altura jovem não muito documentado, mas doer, doía!. Enfim outros tempos.
"Mas mesmo que um pobre idealista, por distracção momentânea dos outros, chegue muito perto do poder"
Belo texto, Cdr, mas discordo absolutamente. Hitler, Estaline, Lenine, Che, Pol-Pot, Mao, Cunhal, Allende, Castro, etc, eram idealistas.
Os idealistas são o pior que pode acontecer a um país, uma vez no poder.
Porque não negoceiam as suas certezas...porque acreditam ser bons e estar no caminho certo..porque têm boas intenções e querem genuinamente transformar o mundo e os outros de forma a que sejam a imagem daquilo que eles querem fazer.
Eu, pelo contrário, acho que o poder deve ser limitado e exercido por gente cínica e que se preocupa com os seus interesses.
Um governo de Sancho Pança, será sempre mais fiávek do que um governo de D.Quijote.
"Eu era nessa altura jovem não muito documentado, mas doer, doía!"
É espantoso que tenha deixado de lhe doer precisamente quando passou a doer mais...quando o Sr Jones foi expulso e a quinta passou a ser gerida pelo representante do partido.
O povo, esse, apenas vergou mais a mola.
Caro Lidador. Doer no contexto do passado foi, no presente é!. Quem com os olhos abertos vive, vê!. A sua experiência com o partido (suponho que seja a sua) nada me diz. Ontem ou hoje, nem INTEIRO quanto mais, PARTIDO. Estou a falar de experiência HUMANA ouviu?!. Portanto, "RESPÊTO" TÁ! RESPEITINHO.
Caro Senhor Da Rosa,
Obrigado pelo seu bellisimo texto sobre a alma do povo Portugues. Sempre suspeitava que o povo era um fantasia so, uma ideia suffocante, como a vida propria, ou a mulher (so de vez em quando, claro). So u sua referencia a uma falta da poesia esta, parece me, completamente errado. Afinal, quem queria ficar sem esta musica, sem estas palavras inesqueciveis do Sergio Godinho?
http://www.youtube.com/watch?v=fQyDdHR1FYM
”O povo na minha infinita terra, (anos 60) era da cor dela, os seus corpos eram a pele que cobria o Alentejo, gente trigueira de cara triste e olhos de azeitona.”
Cabecinha,
Muito poético sim senhor, mas também tem a sua piada ver comer uma açorda com azeite, água, sal, pão e coentros, enquanto tu, eu, e os restantes cromos (muito de esquerda) comíamos açorda de marisco no Quarto Prás Nove! Mas mais engraçado ainda é notar que, precisamente como nos anos 60, ainda te perdes em poesia pela parte do povo a que não pertences, a parte que apenas viste, ou lês-te nos romances do Soeiro Pereira Gomes ou do Alves Redol. O que de certa maneira é compreensível, é sempre mais fácil romantizar o que está longe de nós – o que está perto é demasiado banal.
Digo isto porque no artigo também faço referência à parte do povo a que nós dois pertencemos: “Tolhidos pela saudade que uma longa permanência no exílio geralmente provoca,….” Mas aqui nada…
A experiência humana só dá para falar dos outros?
Acho que já é tempo de falar-mos um pouco de nós. Acho que já chegou a altura de deixarmos de ter o monopólio das mágoas do povo. Acho que o povo já é adulto suficiente para falar no assunto, se assim o entender…
”Os idealistas são o pior que pode acontecer a um país, uma vez no poder.Porque não negoceiam as suas certezas...”
Lidador,
Ontem à noite, quando li o seu comentário, dei-lhe imediatamente razão.
Os idealistas têm realmente, como você diz, essa parte chata, ‘não negoceiam as suas certezas’, é precisamente o que acontece, e com isso arrastam com eles inteiras nações para o abismo…
Hitler foi um exemplo deste tipo de idealismo. Mais perto de casa, Marcelo Caetano, menos dramático, talvez também menos idealista, sempre acabou por negociar uma retirada airosa a partir do seu ‘bunker’ do largo do Carmo. O Fidel continua ‘fidel’ aos seus ideais e não dá o braço a torcer, quando poderia ter apanhado o comboio do Gorbatchof e Cuba estaria, passo a passo, neste momento bem melhor… Mugabe! Este então perdeu completamente o juízo: o idealismo inicial passou rapidamente a uma paranóica luta pelo poder, onde são eliminados os actuais adversários, como já tinham sido antes eliminados os companheiros de luta (Joshua Nkomo) assim como a etnia a que pertenciam (genocídio em Matabeleland).
Esta manhã pus-me a matutar e:
Mas que fazer com os IDEALISTAS que por uma razão de carácter (!) não se deixam corromper pelo poder?
Cristo (a verdade é que em vida não teve muito poder, mas pronto, era bastante carismático), Gandi, Martin Luther King, Nelson Mandela.
É estranho que não me consiga lembrar de mais gente, mas de qualquer maneira esta gente deixa-me na dúvida. E a dúvida reside no facto de que o mal talvez não seja propriamente o IDEALISMO, mas a pessoa que o encarna.
Jessica Stern diz algo parecido no seu livro Terror in the Name of God: A Religião talvez faça com que as pessoas boas se tornem ainda melhores, mas não faz com que as pessoas más se tornem automaticamente boas – pode até torná-las ainda pior.
Entre estes casos extremos temos por exemplo Bush - que sempre que o vejo me dá a impressão de ter sido presidente por puro acaso, porque fez uma aposta com um amigo! – pragmático por natureza, pronto a dar o braço a torcer e a admitir os seus erros - uma qualidade que exige mais coragem do que o habitual não renunciar ao passado apenas por teimosia.
Mas continuo na dúvida…
Porque também temos os pragmáticos como Estaline, Mao e Putin, que apesar de não serem lá muito idealistas, logo que se agarram ao poder só muito dificilmente o largam.
Um tractor, [trá lá lá, trá lá lá] quando é usado com amor
Um tractor, [trá lá lá, trá lá lá] dá que fazer ao suor
Um tractor, [trá lá lá, trá lá lá] trabalha a todo o vapor
Caro Senhor C. Stoel,
Obrigado, confesso que não conhecia estas inesquecíveis palavras, esta fase….. ingrícolo-tecnológica do Sérgio Godinho! Onde é que você foi descobrir este tesouro?
Como vê, somos um país de poetas por excelência! Diga-me lá onde é que você encontra por essa Europa fora alguém capaz de fazer poesia com a ajuda DE UM SIMPLES TRACTOR ?
Carmo da Rosa.
Excelente texto. Tratei de reenviar para alguns amigos.
Ha mais senhor Rosa, ha muito mais:
'Levanto-me, acordo cedo
vou para um trabalho que para mim nao tem segredos
a minha vida nao é par atirar ao lixo
nao sou coisa nem sou bicho
nem sou carne para canhao, nao!'
(de: 'Foi a trabalhar')
E certamente devia conhecer aquela obra prima de Godinho, a cancao (vamos p'ra frente com a) 'Organizacao popular'
Sinceremente,
Hendrik C. Stoel (BNA, BNS)
Bem ó CDR, essa de o Estaline e o Mao não serem idealistas, é de caixão à cova. Eram idealistas, acreditavam naquelas baboseiras e foi por acreditarem nelas que fizeram o que fizera. Acreditavam sinceramente que estavam a fazer o bem e a fazer avançar a História na direcção "certa", aquela que Marx tinha profetizado.
Você fala-me de Mandela e Ghandi.
Ghandi tem toda aquela auréola de Santo,mas a União Indiana que nasceu da sua filosofia da não-violência ( boa táctica para lograr objectivos quando não se tem o poder da violência) iniciou a sua acção no areópago das nações, usando a violência para se apoderar de Goa, Damão, Diu, Dadrá e Nagar Aveli.
Ou seja, não-violência e tal, mas olha aqui um caso em que eu acho que tenho razão e tenho uma moca maior.
E aí vai milho.
De qq forma tem razão...existem seres humanos excepcionais. Mas nenhum sistema de poder pode estar dependente destes seres. É como uma empresa....tem de funcionar mesmo quando muda de administrador e estará bem organizada se lograr isso mesmo.
Na verdade, desde muito cedo eu deixei de endeusar pessoas. O Mandela, o Gandhi, o Luther King, o Obama são pessoas normais, peidam-se debaixo dos lençóis, querem pôr-se nas gajas boas ( ou quiseram), têm dúvidas, têm lados lunares, têm vícios, têm rabos de palha.
São humanos.
Estou a ler uma biografia do Obama, escrita por ele.
Pelas suas palavras, admite que usa o seu carisma apaziguador porque ele lhe dá vantagem no trato com os "brancos".
E refere uma frase da sua mãe que é muito interessante: " A culpa é um sentimento muito poderoso".
Não é um idealista, é um tipo que projecta essa imagem porque lhe interessa.
Para mim isso é bom.
Há contudo partes do seu discurso que são inquietantes:
Na fase da vida em que está ( no livro) considera-se um brother, num mundo de "brancos", critica uma rapariga mestiça (Joyce) porque ela recusa assumir-se como parte da "comunidade negra" e reclama para si o estatuto de "indivíduo" que tem sangue italiano, cherokee e negro.
Carmito da rosa. Nos anos 60 vivia eu no bairro de "nossa senhora da gloria", bairro de gente modesta, e onde pobres todos eram. A questão de saudosismo vem muito mais tarde. O quarto pás nove nos anos 60, se já existi-se! não tinha para nós! ponteiros. No bairro onde eu vivia era o grosso dos habitantes constituído por trabalhadores do campo, em grupo, dentro e fora da taberna do "Germano" a montanha negra (mesmo no verão a roupa sempre negra!) esperava o transporte para o sol a sol. Poesia o carálho! era com eles que eu vivia, com os seus filhos eu brincava e me batia. Queres poesia?! (o único produto alimentar que eles não compravam era o sal que traziam agarrado ás suas roupas). Bela poesia não é!. Tu eras nos anos 70 um rapazinho de esquerda agora que és?!. É pá! o que é que tens contra a poesia?!. Tás a ficar xé xé ou quê?.
"onde pobres todos eram"
Já cá faltava o ridículo orgulho de "pertencer aos pobres".
De regresso ao cristianismo mais básico ( abençoados os pobres....) e ao marxismo mais serôdio ( a classe operária, abaixo os ricos, etc).
Quando um tipo acha o máximo reivindicar o seu estatuto de "pobre", como se fosse uma medalha de valor, verifica-se a que ponto os valores estão invertidos.
Os pobres não se orgulham de o ser, caro cabeças. Os pobres querem é ser ricos, porra!
Que cambada de tontos, estes "defensores dos pobres" me saíram.
Caro Lidador. Mais uma vez. Estou a falar de uma questão muito seria.
Se não gosta da forma, cada qual é
como é!. Essa carona que você vê no
meu comentário não é ficção. Como vê dou o nome e a cara, não me escondo por detrás de nenhum L, ou esquina sou o mais transparente possível. O Carmo da Rosa tal como eu transparente é!, dá o nome, e um bocadinho da cara. Você é FIXÃO!, isto é! você é um digito como muitíssimos outros, os seus comentários ficção serão. TÁ!?
cabeça:
"Essa carona que você vê no
meu comentário não é ficção."
Isso é com cada um. Eu, por exemplo, assino Range-o-Dente. Não é o meu nome pessoal e calculo que você perceba isso. Se perceber, sabe isso. Se eu assinasse Manuel Gouveia, você ficava convencido que era esse o meu nome e, na verdade, sabia ainda menos do que sabe assinando como assino.
De qualquer forma, assinando ou não com nome real, não dá qualquer autoridade argumentativa. Por um lado, você pode argumentar que, dando a cara, se expõe a quem o conhece, decorrendo daí que mantenha uma postura racional. A verdade é que também é legítimo argumentar que tem que defender uma camisola qualquer e, por essa via, há que manter a "correcção" que a pertença a uma tribo implica.
Por alguma razão o voto é secreto, embora com muita pena dos adoradores da Coreia do Norte.
.
existi-se????? é no novo acordo ortográfico? no magalhães?
Já tá!. A fiel armada ataca. Antes que a trupe se junte e de armas em riste queiram dar a estucada final
poupo vos o estrago financeiro no caro investimento em armas, a crise não perdoa, e não vos quero ver pobres.
Estou por aqui porque o Carmo da Rosa meu amigo, é um fresco vento nesta abafada trovoada. Ver comentários meus neste blog "e consta que são sempre relacionados com os artigos do C.R.". Sobre a vossa literária participação, nada, nepes, niente, nem pó!. A vossa monologa e fastidiosa atitude em relação a qualquer comentário é indescritível. Por isso acho que vocês, antes mesmo que algo escrevam, já "TEEM RAZÃO". TÁ!!!???
Caro Carmo da Rosa e António Cabeça.
Voçês conhecem-se aí em Amsterdam?
Caro cabeça,
"Estou por aqui porque o Carmo da Rosa meu amigo, é um fresco vento nesta abafada trovoada."
E só quer ser lido pelo CdR?
.
Cabeça,
Cabeça não percas tão depressa a cabecita, lê com calma o que está escrito antes de responder ao lado, e evita sobretudo os insultos.
O que é que tu realmente queres dizer? Que foste muito pobre na tua infância, ou então que conhecias gente pobre, ou que ouviste falar de gente muito pobre?
E depois de teres escolhido uma destas possibilidades e passado a informação, o que é que pretendes que os outros blogueiros façam? Que se percam em lágrimas? Não consegues imaginar a possibilidade remota, mas muito provável de eles também terem sido pobres na infância, ou conhecer gente pobre, ou ter ouvido falar (ou ter visto um documentário na TV) de pobres?
Mas eu nem sequer falei em pobres! No meu artigo Sempre, sempre ao lado do Povo, cingi-me apenas à definição de Povo que está no meu dicionário.
E na definição do meu dicionário povo é: (L. populu), conjunto dos habitantes de um país ou de uma localidade. Por isso, o povo a que eu me referia é toda a gente, não são só os pobres, muito menos os pobres da tu escolha, os do teu bairro…
Mas enfim, vou dedicar-te um artigo que me está a dar uma trabalheira desgraçada (mais tarde vais perceber porquê) mas que seja pelas alminhas. Isto para ver se é possível resolver este mal-entendido semântico.
E com estas ainda não arranjei tempo para responder ao Lidador sobre os ‘idealistas’ Estaline e Mao, mas estou a estudar o problema…
"Vocês conhecem-se aí em Amsterdam?"
EjSantos, sim, e quando vier cá visitar os seus amigos ao norte de Amesterdão e apresento-lhe esta peça muita alentejana. Fica você a discutir com ele sobre pobres e eu fico a ver a bola, a comer a broa de Avintes com um chouriço espanhol e um tinto chileno...
ejsantos. Sim há muitos anos.
range-o-dente. Visito este blog pelo facto de ele aqui escrever, e garanto que o rapaz ainda não mostrou nem um bocadinho das suas capacidades literarias. Enfim,... adaptou-se!, ou perca de tempo! a escolha é sua.
Cabeça:
"Visito este blog pelo facto de ele aqui escrever"
Cabeça, eu não perguntei porque viria você aqui. Perguntei se queria que os seus comentários fossem lidos por apenas uma pessoa.
É que, meu caro, quando você vai a um espectáculo não está sozinho na sala.
"Enfim,... adaptou-se!, ou perca de tempo! a escolha é sua."
Ou você não faz a mínima ideia do que fala.
.
”Bem ó CDR, essa de o Estaline e o Mao não serem idealistas, é de caixão à cova. Eram idealistas, acreditavam naquelas baboseiras…”
Não estou tão seguro que seja de caixão à cova (boa, já me tinha esquecido da expressão!), porque acreditar em baboseiras não faz de ninguém automaticamente um idealista, mas sim um idiota. Toda a gente acredita em alguma coisa. O pragmático também acredita religiosamente no pragmatismo, na Realpolitik.
Um factor que envenena esta discussão é o facto de idealismo ter à esquerda uma conotação positiva: bater-se por ideias em vez da vil procura do lucro. E à direita do espectro político, uma conotação negativa: gente completamente fora da realidade e em quem não se pode confiar responsabilidades. Mas com esta visão simplória, maniqueísta e assaz redutora não se vai muito longe.
Você está convencido que o Estaline e o Mao são idealistas porque acreditavam em determinadas ideias, e é evidente que não é uma definição mais precisa do que é afinal o idealismo que vai desmentir este facto – eles realmente seguiam-se por ideias, logo são idealistas. Mas desta maneira quase todos nós cabemos nesta definição! De Estaline a Cristo passando pelo José Mourinho…
Mas eu também não tenho melhores argumentos para dizer que o Estaline e o Mao não são idealistas além da minha percepção ou impressão (feeling). Sempre vi o Estaline como um provinciano calculista, capaz de recuar um passo para melhor avançar, mas com o carácter de um gangster. Se o Estaline é um idealista, então também o é o Toto Riina. Mas por exemplo, no Trotsky já consigo ver um idealista. No que diz respeito ao Mao, outro provinciano (no sentido da sua origem rural), creio que a melhor descrição é a de Bertolucci no filme The Last Emperor, quando mostra Pu Y na rua, já sem ser imperador, a assistir a uma grandiosa manifestação do novo imperador: MAO TSE TUNG. E creio que o único verdadeiro ideal dele era ser imperador. Mas é claro que isto tudo é bastante especulativo.
” Ghandi tem toda aquela auréola de Santo, mas a União Indiana que nasceu da sua filosofia da não-violência ( boa táctica para lograr objectivos quando não se tem o poder da violência)”
Realmente uma boa táctica. Porque outros há que sem ter o poder da violência usam e abusam e acabam por não conseguir a ponta de um corno. Exemplo entre tantos, os Palestinos, Al Qaeda e…… os anarquistas gregos.
”Mas nenhum sistema de poder pode estar dependente destes seres.”
Absolutamente de acordo. Até que nem sempre, ou nem em todas as ocasiões são os melhores. Um bom exemplo, e para fugir um pouco aos políticos, foi a equipa de França de Futebol que ganhou o campeonato do mundo em 1998, em que o treinador, Aimé Jacquet, teve o cuidado mas sobretudo a grande coragem, de precisamente não seleccionar os seres excepcionais Daniel Ginola e Eric Cantona. A única forma de obter uma equipa jovem mas coesa. O Zizu ainda não era na altura o melhor do mundo.
Ainda há muito a dizer sobre isto mas vou estou com uma sede do caneco e vou beber um copo… À saúde.
"Fica você a discutir com ele sobre pobres e eu fico a ver a bola, a comer a broa de Avintes com um chouriço espanhol e um tinto chileno..."
Porra, que má sina!
Nem por sonhos. De pobrezas já ando eu farto!
Ah, já agora, caro Cabeça, gosto dos textos do Carmo da Rosa.
Estucada???????
Vai rebocar alguma parede?
Com armas? Não será estocada???
Com as letras, pelo menos, é "cada tiro cada melro".
”De resto, tens razão.”
Ó Cabeça,
Tás a ver as vantagens de discutir através do blogue! Não andamos à chapada, não nos zangamos, começas a escrever cada vez melhor e ainda por cima acabas por dizer, PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA, que eu tenho razão…
Ontem fui finalmente ver Der Baader Meinhof Komplex!
Que saudades meu Deus, não da ditadura do proletariado, não da guerrilha urbana, mas da mentalidade Schiesen-und-Ficken-sind-ein-ding… (não traduzo, quando vires percebes, porque é a melhor cena do filme – a RAF num campo de treino para palestinos da Fatah).
Carmo da Rosa e Lidador:-
E vocês a darem corda a dois analfabetos (pobres de espírito) que nem escrever sabem.
Não será preferível dar-lhes umas aulas de substituição como refere a cartilha da imbecil Maria de Lurdes Rodrigues.
"Pobres e de esquerda e já agora, de origem berbere, porra, qu'inchaço na CABEÇA do ejsantos...
FCA
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