It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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sábado, 26 de setembro de 2009
Luiz Villas-Boas
Recordo-o com saudade recordando o excelente Cascais Jazz 1980.
...
Não sei exactamente porquê, Villas-Boas não ia à bola com José Nuno Martins que (de memória) produzia espectáculos de música brasileira. Villas-Boas referia-se a ele como "o gajo que trás pr'a'i uns brasileiros".
Certo é que Nuno Martins inchava com facilidade e Villas-Boas só não lhe afinfava se não pudesse.
No Cascais Jazz de 1980, ano de Phil Woods, calhou José Nuno Martins como realizador(!) da gravação da RTP.
Naquela altura as cadeiras da plateia(?) do Dramático de Cascais, entretanto demolido, eram de madeira e eram simplesmente distribuídas sem estarem presas umas às outras.
Com o espectáculo montado, chega a malta e o equipamento da RTP e Nuno Martins resolve debitar exigências. Mantendo uma distância conveniente, aproxima-se de Villas-Boas e começa mandar vir. Villas-Boas abre os olhos, pega uma cadeira e, literalmente demolindo uma dúzia de outras, avança vociferando (%$# ... e o c...... que o f... #&#$) para Nuno Martins que, entretanto, rápido, cava do pavilhão.
Como alguém tinha dito anos antes, pensei: It's one of the pleasures of my life to be able to be on the stage with these people tonight.
....
Se bem me recordo, o Cascais Jazz 80 começou com uma banda indiana de percussão. Alguém sabe o nome?
Actualização:
De acordo com João Moreira Santos* (chapelada), tratava-se do grupo Jazzyatra.
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22 comentários:
Finalmente que descobrimos um campo comum. Conheci pessoalmente o Luís Vilas-Boas e o Nuno Martins em esferas diferentes. Um no Luisiana, em Cascais e depois em sua casa, na Rio de Janeiro e outro na Rádio Universidade onde produzi um programa de Jazz.
Personagens bem diferentes!
Vilas-Boas era uma força da natureza. Um apaixonado pela música e que, com mais outros como M.Jorge Veloso, me formatou.
Nuno Martins realizou, magistralmente, algumas das reportagens do Cascais Jazz que, lamento, nunca mais tive oportunidade de ver exibidas na RTP.
Não assisti a esse episódio (que pena!) mas não me admira. Assisti a outras explosões semelhantes do Luís...
Tenho algumas centenas de slides desses tempos de festival, aguardando digitalização. Aqui tenho alguns que já digitalizei:
http://olhares.aeiou.pt/galeriasprivadas/browse.php?user_id=11608&id=13824
Rod, boa, finalmente fez-me a vontade, com pormenores saborosos...
A personagem José Nuno Martins é um bocado irritante. Mas há que lhe reconhecer o mérito enorme de ter divulgado em Portugal alguma da melhor música do planeta: a brasileira. Para isso, muito contribuíram, segundo ele próprio, as conversas que teve, na Universidade, com Vitorino Nemésio, que lhe abriu os horizontes sobre a questão da portugalidade.
Não o conheço, tal como não conheci o Villas-Boas, apesar de termos tido, a certa altura, amigos comuns.
RoD:
O Phil Woods já tinha estado na primeira edição do festival de Jazz de Cascais (ou na segunda?). Acompanhava-o, na bateria, um músico excelente, o Daniel Humair, hoje muito considerado, mas a quem um tipo, ao meu lado, gritava: "Vai para o circo!". Na primeira edição, a abrir, esteve o Miles Davis, acompanhado por um pianista que depois se tornou no que toda a gente sabe: Keith Jarret. A fechar essa primeira edição, tocaram pela última vez os Giants of Jazz, um grupo formado pelos melhores músicos de jazz americanos, uma espécie de embaixada musical com gente como o Dizzy Gillespie e o Art Blackey.
O Villas-Boas sabia quem cá trazia.
Sei que, nos três primeiros festivais, ainda ouvi o Elvin Jones, o Roland Kirk, o Jimmy Smith, o Ornette Coleman e mais uns quantos de quem já não me lembra os nomes. Depois, deixei de ir. O ambiente estava a ficar muito bichoso para o meu gosto, o festival passou a ser mais um "evento incontornável" e aí estava na hora de eu tirar bilhete... dali para fora e ficar em casa a ouvir os discos.
O Miles veio em 71 ou 72. Sei que estava na Guiné e que me doeu não ver esse memorável concerto em que o Miles, respondendo a um cartaz exibido pela malta, fez uma declaração libertária.
Os chuis abafaram logo o evento.
Estive no Phill Woods e tenho fotos dele. Era uma festa para os fotógrafos, que podiam ir junto ao palco, sem restrições. Depois, por causa do negócio, só os profissionais autorizados o podiam fazer. Acabou para mim.
Outros festivais vieram, alguns com muita qualidade como o de Seixal. Acabou também, pois o caché dos famosos atingiu valores incomportáveis.
Adorava o ambiente bichoso que incomodava o Gonsalo...
Afinal estava enganado. O SeixalJazz continua bem de saúde :http://www.cm-seixal.pt/seixaljazz/2009/
Tenho de ir ver o Joe Lovano...
Eurico Moura:
O ambiente bichoso a que me referi era aquele que era composto por gente que comprava (já na altura!) jeans rasgados por preços caríssimos para se mostrarem contestários da sociedade de consumo. Gente que gastava moontes de dinheiro para se vestir à balda e dizer que era progressista comó caraças e que cagava vazio de cada vez que abria a boca. Gente moralmente superior, que esperava na praia pela "revolução", angustiada q.b., para não estragar a pose. Uma delícia, enfim. Os descendentes deles pululam e espreguiçam-se no BE. Existem, mas não quer dizer que eu tenha que os aturar mais do que o necessário.
Em relação à faixa libertária: ela abriu-se a alguns metros de mim, momentos depois do contrabaixista Charlie Haden, que acompanhava Ornette Coleman (e não Miles Davis), ter dito:"Next song is dedicated to the people liberation movements of the Mozambique and Angola", e haver sido saudado por uma ovação que quase deitou o pavilhão abaixo. Momentos depois dos holofotes terem detectado quem colocara a faixa que fazia alusão à independência, salvo erro, da Guiné, irrompeu a polícia a uns dois ou três metros de mim, com um chefe típico dos vilões de filme americano, de bigodinho e tudo, batendo com um pingalim na bota e dizendo: "Este é o único festival de música que se faz em Portugal, acabou e vocês é que têm a culpa". O pessoal entoou o estribilho "filhos da puta" e a coisa acalmou por uns minutos. De repente, alguém na plateia (penso que um agente da PIDE, procurando provocar a confusão definitiva, para daí obter proveitos óbvios) gritou:"Os Panteras Negras são todos umas merdas", mas um outro alguém lhe enfiou de imediato uma cadeira pela cabeça, e a coisa ficou-se por ali.
O Haden foi detido à saída da actuação e levado para interrogatório, mas ele conhecia uma lei qualquer que obrigaria o Estado Português a pagar uma indemnização fabulosa por cada minuto em que estivesse preso e, por isso, puseram-no de imediato na fronteira. Esta última parte, obviamente, contaram-ma.
Oh Gonsalo! Era giro! Era a miudagem que podia estar numa rocalhada e ia ali ouvir música da boa. O Vilas adorava essa miudagem.
Hoje essa miudagem não anda só pelo BE mas por todas as jotas. Já nem música de jeito ouvem. Mais tarde hão de ser Sócratesss.
Quanto ao episódio foi isso mesmo. Eu não estava lá mas contaram-me e ainda bem que me corrigiu pois eu já não me lembrava bem da história.
JG:
"O Haden foi detido à saída da actuação e levado para interrogatório,"
Creio que o papel de João Braga (fadista) foi importante convencendo a Pide a libertar o caramelo.
Eurico Moura:
"Hoje essa miudagem não anda só pelo BE mas por todas as jotas."
Hoje? Nas jotas?
Só se for 'j' de jarretas.
RoD! Não é essa! É outra mas com os mesmos tiques...
Eurico Moura:
Essa era, de facto, a miudagem que encheu o pavilhão de Cascais nas duas primeiras edições do festival. Era a festa. Pedíamos uma beca na sandes de quem nem sequer conhecíamos e dávamos-lhe, em troca, um golinho da nossa cerveja. Abraçávamos o par ao lado, em que a miúda, a chorar, depois da dedicatória do Haden, abraçava por sua vez o namorado, em idade de ir para a tropa.
Mas quando a coisa desandou para o intelectual pífio de olhar sobranceiro (tipo Marcos Perestrello em versão hippy ou estudante bué de universitário) ou para o pessoal que ia, nem sequer para ouvir música, mas para falar, no engate com quem tinha ao lado, eu e outros achámos que a coisa já não tinha graça.
RoD:
Exactamente, foi o João Braga.
Sim, também havia disso. Ainda hoje essa fauna habita por todo o lado. Na Radio Universidade, que era da MP e que era habitada pelos Nunos Martins, o ambiente tinha lá muito disso. Mas para mim o importante era a música, a divulgação do Jazz.
No Cascais Jazz, o que me afastou foi a qualidade das condições de som e a atitude de certas vedetas que vinham cá só cumprir o contrato. Também aumentou a oferta e em espaços mais apropriados ao jazz. Hoje vou a poucos concertos e também prefiro o conforto da minha sala. É da idade...
Quero deixar aqui o meu voto de gratidão aqueles que me mostraram o jazz de vários modos. Programas de rádio, festivais e outros eventos, tertúlias etc.
Villas-Boas - Cascaisjazz, Luisiana, viva voz
Raul Calado - Rádio
José Duarte - Rádio
Raul Vaz Bernardo - Rádio e viva voz
Paulo Gil - SeixalJazz
Rui Neves - Rádio
Estes foram os principais culpados...
Quero deixar aqui o meu voto de gratidão aqueles que me mostraram o jazz de vários modos. Programas de rádio, festivais e outros eventos, tertúlias etc.
Villas-Boas - Cascaisjazz, Luisiana, viva voz
Raul Calado - Rádio
José Duarte - Rádio
Raul Vaz Bernardo - Rádio e viva voz
Paulo Gil - SeixalJazz
Rui Neves - Rádio
Estes foram os principais culpados...
Quero deixar aqui o meu voto de gratidão aqueles que me mostraram o jazz de vários modos. Programas de rádio, festivais e outros eventos, tertúlias etc.
Villas-Boas - Cascaisjazz, Luisiana, viva voz
Raul Calado - Rádio
José Duarte - Rádio
Raul Vaz Bernardo - Rádio e viva voz
Paulo Gil - SeixalJazz
Rui Neves - Rádio
Estes foram os principais culpados...
Eu sabia que faltava alguém;
Manuel Jorge Veloso - RTP e RDP
Imprescindível!
Sem ser grande fã de musica Jazz, digo no entanto que não perdia uma noite no Dramático. Noites memoráveis até fora do estrito conceito da musica e disso quero deixar aqui testemunho.
Ora bem, Luis Villas Boas apresentava todas as bandas. Noite após noite, banda após banda era ele que na boca de cena apresentava e introduzia a banda seguinte.
E, é claro, era ele que "pagava as favas". Ruidosa e duramente vaiado sempre que pegava no micro para mais uma introdução de banda. Infalivel.
Nunca, mas nunca o vi pegar no micro que não fosse logo assobiado e enviado para os mais estranhos lugares.
Mas... estas coisas costumam ter sempre um mas...
Mas, uma bela noite, Luis Villas Boas como sempre dá inicio à apresentação da banda seguinte e há uma avantesma, um desmiolado qualquer, sentado na primeira fila que lhe atira uma lata de cerveja, acertando-lhe na face.
O Dramático emudeceu!
Luis Villas Boas, nada contente com aquela atitude, dá o maior raspanete ao rapazola da lata e o maior sermão ao publico que enchia o pavilhão.
Foram 15 minutos de sermão. Abriu o livro. Apresentou-se ali então Luis V Boas, o homem que deu corpo, alma e feitio ao Jazz em Cascais e, porque não dizê-lo, em Portugal.
No final, penso que se deve ter ouvido a maior ovação de sempre dentro do Pavilhão do Dramático. Luis Villas Boas foi aplaudido à exaustão e de pé. E bem o merecia. Bem o merecia.
Moral da História: as vaias que Villas Boas ouvia sempre nas apresentações, faziam parte do folclore tão querido dos portugueses que têm sempre queixas a dar por tudo e por nada. Era já tradição vaiar o "homem do Jazz".
Coisa que o rapaz da lata não sabia muito provavelmente.
Alencoão.
Excelente história.
Não sabia. Vou alertar o Eurico Moura.
Obrigado.
Também perdi essa! Que pena...
Ora viva a todos,
Descobri hoje este blogue e achei o artigo sobre o Villas-Boas muito interessante pois publiquei em 2007 um livro sobre ele e em 2009 um livro sobre a história do Jazz em Cascais, incluindo, claro, o Cascais Jazz.
Gostaria de ter o contacto do José Gonsalo pois gostava de rectificar a história da faixa que foi exibida no I Cascais Jazz. TEnho uma foto desse evento, mas várias pessoas afirmam que não aconteceu senão em 1973.
O meu e-mail é joaomoreirasantos@gmail.com
Já agora, o tal grupo Indiano era o Jazzyatra.
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