José Gonsalo,
Gostei do seu comentário. Desta vez, para
variar e ao contrário do Lidador, teve pena de mim e abdicou da doutrina, não
me fustigando com ideologia ou com a Escola da terra das salsichas. Optou pelo
lado humano, ousou mesmo dar um exemplo da sua família.
Diz-me que os seus avós eram mais modernos do
que estes tristes. Fantástico. Os meus avós não eram. Não sei se isto se deve a
uma diferença de classe ou geográfica entre os nossos familiares… Sei no
entanto que a relação entre o meu avô e a minha avó estava a anos luz de
distância da deste casal brasileiro. (Os meus pais idem!)
Aos nove anos de idade o meu avô já trabalhava
numa fábrica de tijolos em Vila Nova de Gaia, que eu, muitos anos mais tarde
ainda conheci em ruína. Nunca frequentou uma escola, aprendeu a ler na fábrica
com militantes anarco-sindicalistas nos momentos de descanso com a gamela da
sopa entre as pernas. Mais tarde, o seu carácter romântico e rebelde obrigou-o,
quase naturalmente, a seguir a militância política.
A política obrigou-o a deixar a família,
fugindo para Espanha. Em Espanha combateu na Guerra Civil e, como a Republica
perdeu, o meu avô lá teve que fugir outra vez. Desta vez para Marrocos. E por
aí ficou durante dez anos sem a mulher e os filhos (entre eles a minha mãe), e
sem responder às cartas de Portugal que a minha avó enviava constantemente.
A minha mãe, também uma mulher do seu tempo,
contava sem ressentimento que enquanto eles em Portugal passavam fome o meu avô
passou uns fantásticos dez anos em Marrocos. Montou uma empresa, mantinha os
seus contactos políticos com refugiados espanhóis e portugueses, e
gajas não lhe faltavam. Quando as europeias escasseavam – note que Marrocos na
altura era uma protectorado francês – as burcas também marchavam. Conta-se na
família (em segredo e com vergonha) que ele, nestes seus contactos com os
locais, fez um filho a uma moura (a expressão familiar) casada com um empregado
dele. O meu avô subornou o cornudo e a coisa ficou em águas de bacalhau. Os
mouros nessa altura tinham mais medo dos patrões do que de Alá.
Resumindo, que isto já está a ficar muito
longo, o meu avô, apesar de ser muito de esquerda (anarco-sindicalista), não se
parece nem um bocadinho com o homem do filme, como pode imaginar. Passados dez
anos e devido a pressão exercida por familiares influentes e até mesmo pelo
Cônsul francês, o meu avô lá resolveu receber a família em Marrocos.
Mas a minha avó, coitadinha (talvez por ser de
outra classe social) não era como a sua. Sofreu e calou assim como 99% das
mulheres portuguesas da sua geração. E se estivesse com problemas de
estômago à mesa, não se queixava, levantava-se e ia padecer para outro sítio. Porque
se o fizesse, o meu avô virava a mesa ao contrário e, estivesse quem estivesse,
ia tudo à frente dele: os pratos, as panelas, os filhos e as filhas. E se o seu
avô estivesse presente, ou mesmo até a sua avó, também levavam nos cornos…
Depois da tempestade passada, a família já
mais calma, o meu avô já sorridente, sabe o que é que o meu avô tinha por
hábito perguntar a mim e ao meu irmão - crianças de 7-8-9 anos de idade?
A resposta que o meu avô esperava
de nós e que iria fazer rir os adultos (homens) já nós sabíamos de cor: - duas
mulheres…
O meu avô, apesar das suas crenças ideológicas,
era um homem do seu tempo. Não quero com isto dizer que hoje em dia não existam
homens como o meu avô. Existem e eu até conheço alguns. O que já vai
escasseando, e ainda bem, são as mulheres como a minha avó.
Diz-se na família que eu herdei o temperamento
do meu avô! Não creio, talvez apenas o gosto pela política e pela polémica, até
porque nunca nenhuma mulher teve medo de mim! E a minha mulher, quando a
conheci, já era (graças ao marxismo cultural ou à Escola de Frankfurt ou a
grande puta que os pariu a todos), uma náusea emancipada muito parecida com a
mulher do filme. Tão diferente da minha avó. E eu revejo-me perfeitamente
naquele troncho, naquela repelência vertebrada mas humana do filme, e com muito
gosto. Infelizmente tão diferente do macho latino com um quadro mental do
século dezanove sonhando ainda com êxtases ao luar e com mulheres submissas –
mas sem véu islâmico, por questões doutrinárias…
6 comentários:
CdR esta sua escrita lembra a do Luiz Pacheco. No caso, isto estah melhor q algumas coisas q li dele, de outras não.
Como ja lhe disseram, vc devia escrever.
Se bem percebi, o seu avõ tratava as mulheres à bruta, sem respeito e consideração.
O que me espanta é que o CdR, hoje, com essa experiência vívida em mão, ache que tratar as mulheres com educação, sensibilidade e cortesia é, foi você que o disse, uma sublimação da brutalidade.
Resumindo, tratar as mulheres rudemente, é mau.
Tratá-las civilizadamente, é ainda pior porque, no mundo ideológico do CdR, a cortesia é brutalidade disfarçada.
Uma coisa é o seu contrário, porque a ideologia lhe diz que sim.
Espantoso!
Paulo Porto,
Já ouvi falar mas não conheço bem o Luiz Pacheco, vou-me informar e obrigadinho pela dica. Você acha que eu devia escrever? Quer você dizer, escrever para outro sítio hahahaha. Just kidding.
Agora a sério, ultimamente não tenho feito outra coisa se não escrever! O Lidador não me larga da mão, isto já parece uma relação gay… Vou ver se consigo me habituar a escrever como você, sem acentos e abreviando. Pouparia bastante tempo…
Lidador disse: Se bem percebi, o seu avô tratava as mulheres à bruta, sem respeito e consideração.
A dele sim. As amantes não sei porque não estava presente.
Lidador disse: O que me espanta é que o CdR, hoje, com essa experiência vívida em mão, ache que tratar as mulheres com educação, sensibilidade e cortesia é, foi você que o disse, uma sublimação da brutalidade..
Se o CdR disse é porque é.
E não vejo contradição nenhuma! Você sim, porque dá à palavra sublimação uma conotação negativa, que eu não dou. Parte de uma premissa errada e pensa que estou a colocá-lo no campo do meu avô em termos de relação com mulheres. Mas não estou. Você provavelmente trata a sua muito melhor, com educação, sensibilidade e cortesia, como não se cansa de repetir…
Atenção, mas não me interessa saber se você trata bem ou mal as mulheres. Não é propriamente essa a questão. Quero dizer é que, se é verdade o que conta, A RELAÇÃO com a sua mulher, ou amante, ‘what ever’, já se encontra numa fase superior a do meu avô e da minha avó. O meu avô provavelmente desconhecia o conceito de sensibilidade e cortesia no sentido que você lhe dá nesta discussão.
Lidador disse: Resumindo, tratar as mulheres rudemente, é mau. Tratá-las civilizadamente, é ainda pior porque, no mundo ideológico do CdR, a cortesia é brutalidade disfarçada..
Conclusão absurda! Sublimar não é disfarçar!
Ao sublimar, não se está a usar o cacete – está sublimado, por exemplo em palavras. Além disso, a relação dos meus avós, já era superior à do troglodita. ESTA É QUE É A QUESTÃO. O meu avó não tinha o cacete sempre à mão de semear e a minha avó não estava amarrada aos pés da mesa. A relação dos meus pais já era melhorzinha. A do casal de brasileiros do filme que coloquei, melhor ainda. A minha, excelente. A da minha filha é um mar de rosas. E assim se desenrola a história da evolução das relações homem-mulher para uma situação cada vez mais racional e agradável.
Isto se os muçulmanos ou o Rick Santorum não tomarem o poder…
CdR:
Só ontem à noite vi este seu post. Responder-lhe-ei logo que possa.
José Gonsalo,
Confesso que a minha mãe também não gostou do vídeo. Ao ver as primeiras imagens e troca de palavras exclamou: - Ai filho, que pouca vergonha...
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