Dois sinais preocupantes da europeização da América.
(1) O Governo financia empresas da esfera financeira e não financeira. Exemplos disto são plano Paulson e o recente 'bailout' da industria automóvel incompetente de Detroit. Os exemplos dos Governos europeus são idênticos.
(2) As Empresas deslocalizam em busca de melhores condições operacionais.
A deslocalização é um facto mais raro nos EUA do que na Europa. No entanto existe e ocorre agora algo de paradoxal com a Ford. A Ford recebeu milhões de dólares do Governo para financiar os seus prejuízos nos EUA, enquanto mantém fábricas no estrangeiro altamente rentáveis.
É o caso da fábrica de Camaçari, no nordeste brasileiro. A rentabilidade desta linha de montagem é maior do que a de qualquer fábrica nos EUA por duas vias. Por um lado porque o custo do trabalho é inferior no Brasil, como já se imagina. Mas, pelo menos no caso presente, esse não é o motivo mais importante para o sucesso. Acontece que no caso de Camaçari os fornecedores de acessórios estão incorporados e intervêm diretamente no processo produtivo. Esta opção permite eficiências e reduções de custo impossíveis nas congéneres americanas.
Então, porque não aplica a Ford esta boa prática nas fábricas americanas? A verdade é que uma fábrica deste tipo não é possível nos EUA porque os acordos com os sindicatos impedem que os funcionários dos fornecedores subcontratados tenham intervenção direta na linha de montagem.
(A fábrica da Ford em Camaçari http://info.detnews.com/video/index.cfm?id=1189 )
Mas talvez não seja só isto. Parece que na Ford alguém percebeu que é mais cómodo e mais barato deixar tudo como está e chorar pelo dinheiro fácil que vem do Governo, que por sua vez o vai buscar aos pagadores de impostos. Tal como parece que no Governo alguém percebeu que é mais fácil ganhar popularidade salvando emprego do que deixar falir empresas ineficientes. Também aqui tudo a expensas dos pagadores de impostos.
Com estas práticas as economias perdem músculo e acantonam-se em bolhas de conforto e segurança condenadas a prazo pela realidade. Mas enquanto a realidade não estala os dirigentes das grandes empresas empregadoras e os governantes deliciam-se com o dinheiro de quem paga impostos. Tal como acontece neste lado do Atlântico. São os EUA a europeizar-se.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
teste
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
-
Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
-
Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
7 comentários:
So uma observação: não é só a Ford que tem altos lucros no Brasil. Todas as montadoras tem. A mão-de-obra barata é só um dos fatores. A razão fundamental é muito simples: falta de concorrência com os pares importados. Só o imposto de importação tem uma alíquota de 35% (isso mesmo: 35 porcento!), além, claro de outros impostos domésticos, que tambem incidem no preço dos automóveis importados.
Enfim, é só o bom e velho protecionismo contra a concorrência externa. Não tem nada de milagroso nisso.
No fundo é mais ou menos da mesma forma que os franceses em particular e os europeus em geral protegem sua agricultura, ou seja, com barreiras tarifárias ou fito-sanitárias.
Caro anónimo
O Brasil não é um exportador de automóveis?
Mas questão não é tanto essa.
A questão é que a Ford conseguiu construir uma fábrica tecnologicamente mais avançada no Brasil do que aquelas que pode contruir nos EUA.
Quando as limitações políticas impedem a implementação das melhores soluções tecnológicas podemos começar a antecipar consequências funestas.
E não esqueça que o poder econímico dos EUA não vem apenas de ter 300 milhões de habitantes; está sobretudo ligado ao facto de um país ser um lider tecnológico.
A asneira começa logo no título, que evidencia a ignorância do autor em relação ao passado marcadamente proteccionista dos EUA durante a sua ascensão. De resto, como de boa parte dos países agora desenvolvidos.
Mas vá-se lá meter isto numa cabeça que não quer saber dos factos para nada.
SP
É claro que por 'europeização' não se subentende 'protecionismo'. O que não quer dizer que a UE não tenha sectores protegidos a par de outros protegidos. Mas esse não é o ponto.
Por 'europeização' entende-se intervencionismo económico, sobre legislação, mesmo para quem considera que isso possa ser benéfico.
Pois, pareceu-me que intervir para salvar marcas nacionais ligadas ao mercado automóvel - historieta que ocupa boa parte do post - é, de facto, uma medida proteccionista.
Quanto ao resto, é a conversa negacionista de quem vê as parvoíces em que acreditou a ruir e prefere ignorar as evidências.
Pessoal, acho que eu deveria deixar claro que os altos lucros das montadoras no Brasil advém das vendas internas e não das exportações. Estas são favorecidas por isenções tributárias diversas, assim como as dos outros países tambem o são. Mas no geral não são tão lucrativas como parecem.
Tambem acho que não estamos falando sobre protecionismo. Só o citei como justificativa dos altos lucros das montadoras no Brasil e o fiz sem juízo de valor.
Para mim é óbvio que a tônica do post foi o grau de intervencionismo na economia européia e a tentativa de usar o mesmo recurso por parte dos americanos.
O sigilo telefônico em Portugal logo estará em perigo, graças a mais uma "exportação" do Brasil.
Veja-se notícia da Folha de São Paulo de hoje, dia 30:
"Lacerda é exonerado da Abin, mas vira adido policial da embaixada do Brasil em Portugal
RENATA GIRALDI
da Folha Online, em Brasília
Afastado há três meses e meio da direção geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) desde o vazamento de dados da Operação Satiagraha, Paulo Fernando da Costa Lacerda, foi exonerado nesta segunda-feira do comando da agência. Mas, por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lacerda será o novo adido policial na embaixada do Brasil em Portugal. (...)
Lacerda foi afastado do cargo em 1º de setembro, depois de estar no foco das suspeitas sobre grampos telefônicos feitos para monitorar conversas de autoridades, entre elas o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO)."
Enviar um comentário