Teste

teste

terça-feira, 8 de junho de 2010

Huntington e a Turquia


Em 1517, os turcos entraram em Alepo, derrubaram os abássidas, e o imperador turco proclamou-se Califa (sucessor do Profeta).

O Califado é a terra irrevogavelmente doada (Waqf) por Alá aos seus fiéis para toda a eternidade. Por isso tudo aquilo que já foi muçulmano, é-o para sempre e, se perdido pelos erros dos crentes, deve ser recuperado, como é o caso da Península Ibérica que, na ortodoxia islâmica, é tão muçulmana como o Rub' al Khali (não é por acaso que o grupo saudita que quer construir uma mesquita junto ao Ground Zero, lhe chama Projecto Córdoba)

No Califado, Deus é César e as ordens do Califa são a mera expressão da vontade divina.

O Califado Otomano durou quase 5 séculos e a crueldade teocrática da Sublime Porta, expressou-se em limpezas étnicas, genocídios e transferências massivas de populações, dos arredores de Viena até às terras da Arábia

Os Jovens Turcos, de Ataturk, atribuindo a decadência à herança islâmica, acabaram com o Califado, alteraram o alfabeto (de árabe para latino), proibiram o uso de símbolos islâmicos como o véu e o fez, e impuseram à força a laicidade nas instituições. O Exército ficou como garante da herança de Ataturk.

Em 2003 Erdogan chegou ao poder (a democracia é como um autocarro. Quando chegas ao teu destino, sais- garantiu), e a Turquia voltou a ser terra do Islão, a bandeira óbvia do Califado desejado pelos jihadistas. A hostilidade contra Israel é apenas um dos movimentos no tabuleiro, indispensável, porque sem ela, nenhum líder muçulmano pode aspirar à liderança da umma.

Soube-o Nasser, Saddam, Khomeini, sabem-no Ahmadinejad e Erdogan.

Há 20 anos, Huntington tinha profetizado que era a Turquia o estado muçulmano mais apetrechado para liderar a umma. Para Huntington, o problema não era o fundamentalismo islâmico, mas o Islão, pertença superior de mais de 1 bilião de seres humanos, convencidos da superioridade da sua cultura, convictos da Verdade, e frustrados com a inferioridade do seu poder.

No Ocidente, muitos políticos recusam a visão de Huntington, como se recusar a mensagem tenha o condão de evitar o seu conteúdo. Chegou-se até ao caricato de, para exorcizar o título da obra, se ter inventado uma “Aliança de Civilizações”, sob os auspícios do inenarrável Zapatero e do, helas, primeiro-ministro turco, Recip Erdogan.

Mas a obra de Huntington, (quem duvide da sua genialidade pode conferir a inquietante coincidência entre aquilo que escreveu e o que hoje se passa no mundo), deve ser levada a sério.

O Irão não se poupa a esforços para alcançar o estatuto de Estado-Núcleo da civilização islâmica, usando Israel e a Palestina como pretexto para avançadas no território sunita e árabe, onde move já vários peões e algumas peças mais valiosas.

Mas Huntington garantia que esse papel estava destinado à Turquia. Que hoje está em plena reislamização e a cartada de fazer de Israel o inimigo externo, não sendo inédita na região, continua a ser valiosa, para unir a população. Os sinais são claros e inequívocos. Erdogan vem alterando as leis seculares impostas por Ataturk, tem promovido detenções de responsáveis militares alegando conspirações contra o Estado e fez eleger um Presidente que está sob o seu controle.

A nível externo, começou por recusar o trânsito da 4ª Divisão americana que deveria invadir o Iraque pelo Norte, cancelou exercícios da NATO, assinou tratados com o Irão e com a Síria, e intervém agora abertamente na questão israelo-árabe, tomado partido pelo Hamas e revendo a relação estratégica com Israel, país com quem tinha uma sólida cooperação militar e de informações.

Há tempos acolheu a conferência sobre a “Vitória de Gaza”, com a participação de centenas de islamistas, com o objectivo de criar mais uma frente da jihad global.

Os oradores fizeram constantes referências elogiosas à recentes atitudes anti- israelitas de Erdogan que, inebriado, as multiplica

Salvo um cada vez mais improvável golpe militar, a islamização da Turquia parece imparável e o país surgirá, tal como Huntington previu, como o Estado-Núcleo da umma. Dotar-se-á de armas nucleares.

Erdogan é o novo herói da rua islâmica e até Ahmadinejad se sente na necessidade de redobrar a retórica “anti-sionista”, para não perder o estatuto.

A NATO e a Europa, são já frentes secundárias.

Muitos viram a tempo que a entrada na UE, em vez de uma Turquia europeia, daria corpo a uma Europa turca e a manobra esbateu-se.

Quanto à NATO há quem, nos corredores de Mons, questione abertamente por que razão os dispositivos de aviso e alerta, instalados na Turquia “avariaram” justamente antes de a Rússia invadir a Geórgia.

28 comentários:

anonymoose disse...

smashing!!!!!!!!!!!!!
mais umas cabecinhas de fósforo aqui do blogue para a faixa de gaza.

Anónimo disse...

¡El Lidados ataca de nuevo! ¡Maomé o muerte!
Você é um prato, meu caro.

Anónimo disse...

Os únicos árabes bons são os que vendem o petróleo aos Stars and Stripes. Os outros são todos terroristas.

A4 disse...

Erdogan que tema e trema, nada percebe do islão, passa a vida a insultar maomé e não é capaz de em público, em directo e em liberdade analisar o islão.

Quem analisar uma milionésima parte da primeira letra do corão maldito, vê logo que o islão não tem pés nem cabeça nem coisa que se pareça.

E o corão é mesmo maldito, pois demorou 22 anos para ser dito.

anonymoose disse...

"E o corão é mesmo maldito, pois demorou 22 anos para ser dito."

acalme-se, homem, ainda vai parar às urgências. se não for o islão, é outro qualquer, mais vírgula menos vírgula. acabei de ver o "elizabeth" e nem imagina o que diziam dos papistas.
taditos vocês todos.

Carmo da Rosa disse...

Lidador, excelente texto.

”não é por acaso que o grupo saudita que quer construir uma mesquita junto ao Ground Zero, lhe chama Projecto Córdoba”

Precisamente.

“a democracia é como um autocarro. Quando chegas ao teu destino, sais”.

É isso mesmo, mas já outros antes dele diziam e faziam, e continuam a fazer o mesmo: os nossos amigos comunistas por exemplo.

“a islamização da Turquia parece imparável e o país surgirá, tal como Huntington previu, como o Estado-Núcleo da umma. Dotar-se-á de armas nucleares.”.

Nos próximos anos teremos na Turquia a prova dos nove: o islão é uma religião como as outras (domesticável) ou é uma ideologia fascizante e de conquista? Por enquanto vamos continuar com enormes dispositivos de segurança para poder viajar – e não é por causa dos hooligans do futebol ou dos budistas…

Anónimo disse...

É, a mim confiscaram-me um corta-unhas. Tomaram-me por um fanático islamista terrorista.

Anónimo disse...

Vocês estão é entaladinhos com a Turquia. O que dói é não poderem fazer nada. A Turquia é essencial para os EUA conduzirem a Guerra no Iraque, tem um esforço de guerra incontornável no Afeganistão e é o interlocutor islâmico para os americanos não perderem o pé no Médio Oriente. É por isso que os americanos não sabem o que fazer e Israel, que precisa que os americanos deem cabo do canastro ao Irão, estão a ficar desesperados e cometem loucuras assassinas como a do barco humanitário. O que vos rói — americanos e israelitas-sionistas — é que não têm alternativa à Turquia nem ao abraço com o islamismo "moderado". Mas estrebuchem, faz bem ao fígado.

Unknown disse...

"ao abraço com o islamismo "moderado"."

Ainda bem que colocou entre aspas.

É que perante as evidências, há muitos como você que, no delírio da razão, se apressam a fazer a distinção entre islamitas violentos e islamitas moderados, parecendo ignorar que tal distinção não passa de uma falácia (e quem o diz são alguns insuspeitos pensadores muçulmanos, como M Talbi, M Charfi , Samir Amin, etc).
É que os pressupostos em que se baseiam estes dois “islamismos” são exactamente os mesmos.
o que variam são as tácticas. Mas entre Bin Laden por um lado e Tariq Ramadan e Erdogan, pelo outro, há perfeita sintonia de objectivos, de resto escritos em pedra na Revelação Corânica.


De qq modo há para aí um estudo que conclui que em todas as sociedades há uma franja da população que se identifica com o "outro", com o "hostis". Trata-se do Síndroma de Estocolmo e esse estudo aponta para uma conclusão interessante: a atracção pelo hostis, pelo inimigo da sua comunidade, tem uma elavada correlação com sexualidades desviantes.

Em linguagem simples, para o meu caro entender, o que esse estudo (citado por Niall Ferguson na " A Guerra do Mundo") quer dizer é que é grande a probabilidade de você ser paneleiro.

korado disse...

Os russos nunca permitirão que a Geórgia seja membro da NATO.

E SE FÔR PRECISO A RÚSSIA VEM POR AÍ ABAIXO, LEVA TUDO À FRENTE E VAI ATÉ ISRAEL BUSCAR A «BOMBAZINHA» E ESPETÁ-LA NA CABEÇA DO BIBI!

Anónimo disse...

Um texto do lidador sem vomitar pseudo insultos propagandísticos e slogans, linha sim linha sim? estou admirado de resto não discordo por ai além.

Desde a fundação da república da turquia, esta tem desenvolvido relações preferenciais com o ocidente, implementando diversas adaptações políticas, sociais e económicas a fim de superar o legado otomano e se ajustar às exigências do mundo ocidental. Durante a guerra fria, a turquia integrando a nato, serviu como elemento de contenção da união soviética. Entretanto, o fim do mundo bipolar reduziu a importância da turquia para a ampla estratégia de contenção americana, trazendo a necessidade de novos argumentos para manter o seu peso estratégico. Ao mesmo tempo, surgiram novas oportunidades para a turquia, especialmente quanto ao desenvolvimento de relações económicas e culturais com os Estados independentes da ex-união soviética. Os atentados de 11 de setembro e a reacção norte-americana colocaram a turquia novamente no centro da política americana como exemplo de compatibilidade entre o Islão e a modernidade ocidental e no combate ao terrorismo. Diversas interpretações do espaço geopolítico mundial destacam a importância da turquia, desde sua importância estratégico-militar até seu papel como interlocutora entre o ocidente e o mundo muçulmano, dentro de uma sugestão de choque entre as civilizações. Apesar disso, a turquia ainda enfrenta sérios desafios externos em todas as direcções, entrelaçados com seus problemas internos que, por muitas vezes, ultrapassam suas fronteiras e se tornam assuntos transnacionais.

A Turquia não tem grandes hipóteses de aderir à união européia, e tenta criar condições para se integrar em estruturas regionais. A turquia não anda muito satisfeita com a u.e. e a n.a.t.o. A u.e arrasta o processo de integração e os eua nos últimos anos têm colocado a turquia em grande tensão com os vizinhos, tendo originado o primeiro veto na história da nato aos eua. Na situação da geórgia, não permitiu a entrada de vários barcos americanos no mar negro, devido a acordos existentes. Mas a turquia parece estar com outros destinos para onde se virar em caso de dificuldade a ocidente.

O Conselho de Segurança da ONU impôs hoje novas sanções ao programa nuclear do Irão, que parte do Ocidente suspeita estar focado no desenvolvimento de armas atómicas. Foram 12 votos a favor das sanções e dois contra (do Brasil e da Turquia).

Os votos contra eram esperados.

Esta viragem da turquia fora do campo ocidental sucede enquanto governa um partido religioso, o akp, e é debilitado o poder dos militares, que sempre foram o sector mais pró-ocidental do país. Já foram detidos 67 altos comandos militares, dos quais 31 foram enviados para prisão provisória, a alemanha aprofunda o seu afastamento de washington e aproxima-se da rússia, a turquia faz o mesmo, mas também se afasta de israel, e aproxima-se da síria e do irão , o japão entra em colisão com a política militar do pentágono e estende a mão à china. Mais ainda, sectores da união europeia pedem o ingresso da rússia na nato e o brasil já tem um verdadeiro conflito com a casa branca.

Mas que tempos estes a que a gente tem que se habituar, já nada é com esperávamos.

Unknown disse...

" contra (do Brasil e da Turquia).
Os votos contra eram esperados."

De resto uma boa ilustração da estranha aliança entre a esquerda tonta e o islamismo, a coligação melancia, como alguém já lhe chamou.
Não é por acaso que os "bolivarianos" do Fórum de S. Paulo, se passeiam de braço dado com os islamistas.

Como dizia Kagan, está na altura de as democracias liberais se organizarem numa aliança contra o negrume que já estende as suas sombras.

Anónimo disse...

Não me vou alongar nos comentarios consigo que de resto não leva a nada, e só se eterniizam em banalidades, mas não acho muito bom o ocidente hostilizar a turquia mas enfim cada um tem a sua cabeça para pensar.


A profundidade da crise em curso debilita o papel dos estados unidos no mundo, a tal ponto que toda a rede de alianças desde 1945 está a estalar. Os sons escutam-se nos cantos mais inesperados do planeta,

E nem isto vale de nada,

(“está na altura de as democracias liberais se organizarem numa aliança contra o negrume que já estende as suas sombras.”)

Vai haver uma nova reorganização de hegemonias políticas e econômicas já tinha dito isto num outro comentário, é a vida como dizia o outro, a gente que se habitue.

Unknown disse...

"não acho muito bom o ocidente hostilizar a turquia "

Talvez devesse colocar a questão ao contrário..

Unknown disse...

"só se eterniizam em banalidades"

está certamente a referir-se ao seu copy paste..

Anónimo disse...

o lidador eu ja tinha dito sem comentarios,
ò homem ja esta a começar a circuitar.

as discussões consigo tendo para a banalidade

Anónimo disse...

tendem

Unknown disse...

"eu ja tinha dito sem comentarios"

Como se costuma dizer, vozes de asno não chegam ao céu...

Anónimo disse...

quem disse as suas chegam.

Anónimo disse...

e os zurros também

va zurrando que tenho mais que fazer

RioD'oiro disse...

"é o interlocutor islâmico para os americanos não perderem o pé no Médio Oriente"

Isso são excelentes notícias. Quer dizer que afinal os americanos de Busssh não perderam o pé no dia em que na reunião do "gang dos 4" resolveram, nas Lages, na cimeira da guerrrrrrra, invadir o Iraque.

É extraordinário!

Anónimo disse...

Ó Lidador, você está sóbrio? Qual é a distinção que você e os seus amigos Stars and Stripes fazem no mundo do Islamismo? Se não me engano, o Egipto é o segundo comprador de armamento americano no Mºedio Oriente. É dos moderados, dos radicais ou já não interesse, desde que tenha dinheiro para pagar? A Turquia durante a década de 90 foi o maior cliente militar americano na Europa. Está a cuspir no prato que comeu? Olhe olhe a Arábia Saudita, esse moderníssimo país árabe a quem os EUA abriram as portas da sua economia. É dos moderados ou dos radicais. Vocês dormiram com eles todos, encheram-lhes os bolsos e compraram-lhes o que vos interessou, a essas elites corruptas que agora critica. Você é um hipócrita. Como esse moralismo anti-islamita que proclama. Como se não tivessem patrocinado os extremistas islâmicos que hoje dizem ameaçar a boa ordem da humanidade ocidental. É o relativismo? Então coma-o você. Porque acredito que você e a sua claque tenham razões para o temer. Para mim, é indiferente. Pior que a merda em que estamos atolados não será concerteza.

Carmo da Rosa disse...

Anónimo do dia 8 às 22:38 disse:

”Os únicos árabes bons são os que vendem o petróleo aos Stars and Stripes. Os outros são todos terroristas.”

Não é bem assim. Os que compram carros, camiões, computadores, aviões e máquinas de lavar – porque esta gente não sabe fazer a ponta dum corno, só rezar, cometer atentados e queimar bandeiras - também não são terroristas, são apenas clientes. Se pagarem a tempo e horas claro, doutra forma são também terroristas.

Carmo da Rosa disse...

Anónimo do dia 9 às 14:30 disse:

”O que vos rói — americanos e israelitas-sionistas — é que não têm alternativa à Turquia nem ao abraço com o islamismo "moderado" ”

Já percebi que você fica todo contente (questão visceral?) quando os EUA e Israel são confrontados com eventuais dificuldades, mas porque razão então colocou moderado entre aspas?

RioD'oiro disse...

"Os únicos árabes bons são os que vendem o petróleo aos Stars and Stripes. Os outros são todos terroristas.”

Sim. Eu explico.

Uns quantos esquerdalhos andam em Portugal zangados porque apenas 0.2% do PIB de Portugal foi gasto ajudando países sub-desenvolvidos. Haveria intenção paga gastar 0.5%, mas "apenas" 0.2% foram gastos.

Imagine-se se os países árabes, cheios de anéis, tivesses que ser alimentados pelos países onde se trabalha sem nada pagar em troca.

Porque não reclama a esquerdalha que sejam os países árabes, amigos dos comboios "pacifistas" e daqueles que disparam tendo como muros protectores mulheres e crianças, a pagar o desenvolvimento* do terceiro mundo?

---
* por "desenvolvimento" entende-se dar dinheiro a cúpulas políticas infinitamente corruptas e a manter enxames de "militantes do auxílio".

Carmo da Rosa disse...

Anónimo do dia 9 às 18:23 disse:

”Um texto do lidador sem vomitar pseudo insultos propagandísticos e slogans, linha sim linha sim? estou admirado de resto não discordo por ai além."

Eu também não discordo do seu texto – do Lidador tão pouco - mas a sua introdução poderia ter sido menos polémica, ver mesmo menos insultuosa!

Evitaria a desnecessária mas inevitável troca de galhardetes que se seguiu. E assim perdeu-se, mais uma vez, o que poderia ter sido uma discussão interessante….

Uma pena!

Anónimo disse...

O carmo va dar banho ao cão

Anónimo disse...

Oh pá o gajo parece que não tem cão. Podias se calhar oferecer-lhe um rotweiller, mas parece que são proibidos lá. Gostam mais da raça "wilders", ao que parece, coitados.