O Paquistão criou redes de terroristas islâmicos, ideologicamente formatados nas madrassas e teledirigidos pelos serviços secretos, na prossecução de interesses no Afeganistão e na Cachemira.
O programa escolar "Corão+Kalashnikov" foi um sucesso, estendeu-se a todo o país e dezenas de milhares de madrassas nasceram com a conivência e cumplicidade do poder político e sobretudo do aparelho militar, particularmente dos serviços secretos (ISI).
São incontáveis os grupos islâmicos que pregam , treinam e levam a cabo acções violentas, trata-se de um autêntico vespeiro que o poder ajudou a criar e pensou poder utilizar como proxies.
Sob ultimato americano, na sequência do 9/11, Musharaf foi dizendo nim e dando uma no cravo e outra na ferradura, mas sem particular empenho.
O problema é que os monstros tendem a escapar ao controlo de quem os cria.
O jihadismo tem agenda própria e os islamistas criaram uma estrutura tão poderosa e tão infiltrada nos círculos do poder militar que já não se sabe muito bem quem é o títere e quem é o titereiro.
O próprio exército paquistanês é uma força jihadista, que tem como lema, “ Fé, e jihad no caminho de Alá”, e cujos quadros foram doutrinados nesta visão.
Tanto o Ocidente como a Índia têm boas razões para acreditar que é nos santuários islamistas no Paquistão que hoje se alicerça a rede jihadista mundial e se prepara a carne para canhão utilizada no Afeganistão, Iraque, Cachemira e cidades europeias, e tudo isto sob o olhar conivente e cúmplice do aparelho militar paquistanês.
Este governo parece querer combater uma situação que tenderá a explodir-lhe na cara cada vez que houver atentados como o de Mumbai, mas é um poder fraco, perante a imensa inércia do Exército.
O país está à beira de se transformar num estado falhado, é um barril de pólvora pronto a explodir, e se a rede islamista não fôr destruida, mais tarde ou mais cedo os alvos externos irão puxar o gatilho contra o Paquistão.
Para começar a União Indiana exigiu a entrega de 20 cabecilhas islamistas que se passeiam tranquilamente no Paquistão, com o beneplácito do poder paquistanês.
O governo paquistanês está numa posição perturbadora. Não os pode entregar, mas tampouco os pode proteger e terá de fazer gestos palpáveis de apaziguamento, porque uma potência como a União Indiana não pode tolerar indefinidamente agressões como esta.
A solução, vista de fora, parece óbvia: Frankenstein tem de ser desmantelado por quem o criou. Os santuários têm de ser destruídos, as madrassas encerradas e os líderes islamistas discretamente enviados ao encontro de Alá.
Se nada disto for feito, o Paquistão irá estar ligado a futuros atentados e mais tarde ou mais cedo o céu cair-lhe-á em cima da cabeça.
Desconfio que é isso mesmo que irá acontecer.
7 comentários:
Sem tirar nem pôr, não alteraria nem sequer uma vírgula a este texto...
Quem quiser saber mais ou confirmar o que aqui está escrito aconselho a leitura de Terror in the Name of God de Jessica Stern – não sei se há uma versão em português!
O Paquistão quer provocar um incendio na casa do vizinho, mas parece que afinal quem se vai queimar é o incendiário.
"Desconfio que é isso mesmo que irá acontecer."
Pode ser que sim, pode ser que não, mas... pode ser que sim.
"O programa escolar "Corão+Kalashnikov foi um sucesso".
E o programa escolar "Marx-de -boutique + Magalhães" virá a dar em quê?
Nota: Não confundir Marx-de-boutique com Marx-de-tascarremodelada-de-Bairro Alto, mais próximo do urban matarruanism.
Li, agora há pouco, texto de Thomas Friedman no Jornal do Brasil on-line. De forma não ingênua e com conhecimento de causa, ele espera que não só o governo mas a sociedade paquistanesa dê um "Basta!" a esse comportamento assassino. Para o bem do próprio país, ou - como bem disse você - antes que o céu lhes caia sobre as cabeças.
O Paquistão desde há muito que é um "barril de pólvora" e o principal ninho de terroristas islâmicos educados nas madrassas espalhadas pelo país. Toda a gente sabia. Os EUA também, mas na divisão das esferas de influência, saída da "guerra fria", sempre apoiou os regimes paquistaneses, enquanto a Russia apoiava a Índia.
Tivesse Bush dedicado mais atenção a este país onde existem as verdadeiras armas de destruição maciça, em vez de ter-se virado para o Iraque e a história teria sido outra. Mas, compreende-se: no Paquistão não havia petróleo...
Bush?
Caro holandês, a sua perspectiva histórica anda um bocado shallow. É verdade que os EUA após a retirada soviética se desinteressaram do Afeganistão (onde tb não há petróleo, o que deixa a sua lógica algo coxa) e do Paquistão que servia de santuário, mas isso foi razoavelmente antes do Bush, diria até que remonta ao Reagan.
Com o desinteresse americano, o Afeganistão entrou numa guerra civil entre uzbeques, pastuns, tadjiques, ex-comunistas, etc,etc.
A partir de determinada altura, surgiu um movimento radical sunita, pago pelos sauditas e apoiado pelo ISI (serviço secreto paquistanês) que começou a levar tudo à frente e a perfilar-se como uma força capaz de acabar com a guerra civil. Os taliban.
Na altura Clinton era Presidente, e os talibans eram as marionetas paquistanesas e sauditas, que prometiam pacificar o Afeganistão, e fazer caretas aos iranianos.
Sabe, não importa de que cor são os gatos, importa que cacem ratos. Os talibans estavam controlados pelo Paquistão e os americanos viam a coisa ao longe, tendo como objectivo chatear os iranianos a propósito da passagem de uns gasodutos, enfim uma história demasiado complexa para si, e que ficou conhecida por o “Grande Jogo”.
As coisas começaram a azedar porque os talibans tinham agenda própria e começaram a fazer manguitos aos paquistaneses, como agora os outros jihadistas.
E depois começaram a escravizar as mulheres e o lobi feminista americano começou a pressionar Clinton. Sem que este se mexesse muito, diga-se em abono da verdade.
O caldo entornou quando os americanos exigiram a entrega de Bin Laden e os talibans recusaram.
Antes disto, eram um interlocutor como qualquer outro do tipo carniceiro. Tal como o nosso presidente andava aos abraços ao Fidel Castro , sem suspeitar que daí a uns tempos o zote resolvia mandar matar alguns discordantes e o nosso Sócrates anda em amizades perigosas com o Chavez e outros cromos.
É assim a vida. Os Estados têm relações uns com os outros, e ninguém adivinha que o fulano X vai roer a corda e ficar maluco daí a 2 anos.
De qq modo acho piada ao meu amigo porque reproduz a má-fé típica do "blame America first". Criticar a América a propósito de se meter em assuntos de outrem e criticar tb por não se meter.
Cá na terrinha chama-se a isso "preso por ter cão e preso por não ter cão".
Mas reconheço que faz um jeito do caraças ter um Bush à mão para explicar tudo o que é demasido complexo e que exige alguma pesquisa.
É por isso que as igrejas estão cheias: explicações simples para mentes preguiçosas e desejosas de um bode.
Não foram os ingleses que apoiaram o Jinnah?
Para além disso, não podemos esquecer que o Paquistão é possuidor das mais bem protegidas instalações nucleares do mundo.
"É por isso que as igrejas estão cheias: explicações simples para mentes preguiçosas e desejosas de um bode."
E sem direito a preservativo!
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