Aqueles que defendem as virtudes da economia mercado e acham este sistema o menos imperfeito de todos os que se conhecem, não passam de oportunistas que, de tocaia, assim que lobrigam uma oportunidade (uma catástrofe, uma crise, etc.) a utilizam logo como pretexto para reforçar as políticas “neoliberais”.
Quem o afirma, é a esquerdista Naomi Klein (NK) no seu livro, “The Shock Doctrine”.
NK diz que a prova está num texto de Milton Friedman, no qual ele afirmava que as mudanças de paradigma tendem a acontecer no rescaldo de eventos significativos, porque as pessoas estão mais predispostas a aceitar como inevitável aquilo que antes era impensável.
Isto parece-me genericamente verdade. Eu próprio considero impensável beber água ao almoço, mas numa certa situação dei por mim a emborcar água pútrida de uma poça, unicamente porque estava com uma sede das caraças.
O corolário de NK é triunfante: a direita, os capitalistas enfim, adoram as catástrofes e as crises, porque as aproveitam em seu benefício. É atávico, por assim dizer, está na sua natureza.
De facto a esquerda tem afirmado que as políticas liberais (flexibilização, etc) têm sido impostas aos cidadãos, assustando-os com a globalização dos mercados, a competição asiática (uma variação do “perigo amarelo de há 30 anos), etc.
Mas esta crise financeira que vamos atravessando, abate-se sobre a esquerda com a força de um paradoxo (embora pouco lhe importe, porque convive razoavelmente bem com a incoerência). É que a crise está a servir a toda uma revoada de marxistas em estado orgásmico, para “provar” que agora é que é o fim do capitalismo, que os mercados necessitam de ser fortemente regulados e que o Estado deve intervir na economia, não apenas em situações extraordinárias, como esta, mas sistemática e continuamente, para nossa suprema felicidade. (mutatis mutandis, é como sugerir que o estado de excepção, no qual os direitos individuais estão seriamente limitados, devia ser a forma usual de governar um país).
Ou seja, traduzindo a coisa, a esquerda “progressista”, aproveita a crise para fazer exactamente aquilo que condena por ser uma conduta vil da direita e dos capitalistas (vide NK) , e de caminho declara a morte do inventor da crise como argumento.
Na verdade, o argumento de Friedman era bem mais sofisticado e tinha a ver com a transformação do pensamento politicamente incorrecto em mainstream, mas isso é música demasiado melódica para ser ouvida no meio do foguetório que nos últimos dias tem sido lançado pelas hordas de colectivistas e intervencionistas que enxameiam os media.
Há que deixar a pólvora seca estoirar por si e aos poucos a boa música far-se-á ouvir. Perceber-se-á então que nem as hipotecas subprime nem os activos tóxicos são consequência de “políticas liberais”, e que as “políticas liberais” que enchem a boca dos tontos, não passam de homens de palha que eles mesmos criam para lhes atirarem tomates e mais facilmente exorcizarem os seus maniqueísmos.
Perceber-se-á que o liberalismo se funda na lei e no direito e que num mercado livre o estado tem o insubstituível papel de garantir os direitos dos operadores.
Enfim, por muito que a esquerda tenha orgasmos com a profecia messiânica do fim do capitalismo e acredite que Marx ressuscitará ao 3ºdia, o balde de água fria que a realidade lhe despejará sobre a cabeça é uma inevitabilidade. A vantagem do sistema liberal é que não é uma ideologia tipo chave na mão, mas antes um sistema aberto que contém em si os mecanismos para se questionar e evoluir.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
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Crise. Recessão. Depressão. Agora é que vai ser: os EUA vão entrar pelo cano e nós atrás deles. Talvez para a próxima. Para já, e pelo trigé...
6 comentários:
Independentemente de considerações ideológicas, por muito pertinentes que sejam, como essas, dexemos os factos falarem por si: isto que se está a passar é causado pela China, cujo IMPUNE dumping comercial está a arrasar com o comércio e a indústria da economia ocidental!
Carlos F.
Dá graça ver a Merkel e o porta voz da comissão ladrarem contra os "responsáveis".
Nas costas nacionalizam metade da banca Europeia e ainda assim pregam para que não se assuma o planos Paulston.
Por outro lado, sejamos francos, a América precisa de se revitalizar. Uma guerra e uns cinco anos de multilateralismo e um pouco mais de regulação e estão nos píncaros como foi com o Rónalde Régane!
A culpa é desta geração que não paga as contas e não viveu o desembarque da Normandia e todo esse patriotismo AMARICANO.
Tudo uma cabada de cínicos.
Esta gente que tanto é pela intervençao está apenas a defender os "tachos" de milhoes de consumidores muito além daquilo que eles poderiam.
Criticam a intervençao dizendo que há distribuiçao dos lucros e socialização dos prejuízos através dos impostos e são os primeiros a querer a intervenção.
Deixem sim que haja socializaçao dos prejuízos não os cobrindo com a intervençao estatal, deixem os accionistas de tanga que muitos bem merecem mas assumam de uma vez por todas os reflexos que isso teria nas sociedades.
Era é preciso deixar cair esses milhoes em todo o mundo que vivem sempre acima das suas possibilidades tapando as suas "necessidades" com o dinheiro dos outros e achando que o dinheiro dos outros sob a forma de crédito é um "direito", ainda que não tenham forma o pagar.
"Accionistas" aos milhões deste género há que sem poderem regularizar a sua primeira divida, passeiam-se com casas,carros, férias e consumos acrescentando dia a dia esse "direito" e que a intervençao vai pagar com os impostos cobrados a todos incluindo quem nunca participou no regabofe na cobertura desse modo de vida.
Grande post! Clap! Clap!
Lidador,
"É que a crise está a servir a toda uma revoada de marxistas em estado orgásmico, para “provar” que agora é (...) que os mercados necessitam de ser fortemente regulados..."
"Perceber-se-á (...) que num mercado livre o estado tem o insubstituível papel de garantir os direitos dos operadores."
Lindo!!!
A formação dos professores na utilização do novo computador Magalhães descrita, e filmada, por um participante.
Vejam a autêntica palhaçada que foi a acção de formação.
VEJAM AQUI!
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