Teste

teste

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Mudam os Tempos e a Beatice Também

Os tempos mudam, a realidade muda, a opinião dos beatos muda. Só o espírito da beatice permanece o mesmo.

Por exemplo, uma beata de há 50 anos venerava a aliança que uma mulher trazia no dedo. O marido era um bandalho? Dava-lhe cargas de pancada? Dormia fora de casa quando lhe dava jeito? Que interessava isso. Para a beata o que contava era uma mulher adulta estar casada, o resto era vergonha. Alcançado esse lugar ao sol trazido pelo casamento as sombras eram detalhes, por mais que cobrissem tudo. Para a beata de há cinquenta anos, o brilho do ouro da aliança no dedo de uma qualquer desgraçada era suficiente para lhe iluminar a negrura da vida e declará-la ‘feliz’.

Os tempos hoje são mais de repúdio que de casamento, logo, a beatice de hoje venera o repúdio e os seus bispos, como antes venerou outros bispos e o casamento.


Vejamos algumas outras crenças dos beatos dos nossos dias.

Os políticos trapalhões e a Euronews dizem que a culpa da crise financeira global é toda da América? Sim, é.
Pouco importa que na origem de tudo esteja o facto de o governo americano ter obrigado a banca a financiar crédito insustentável por questões políticas sócio-raciais.
Esqueça-se que a solidez financeira dos Bancos de vários países europeus está mais afetada pelo crédito malparado interno do que pela aquisição de ativos do outro lado do Atlântico (a este respeito, Portugal é um excelente exemplo).

Os beatos atuais decretaram que a culpa é da América em geral e da falta de regulação neo-liberal em particular. Para os beatos, a realidade que lhes desmente a crença deve ser omitida como antes deviam ser omitidas referências às 'amigas' do marido.


A crença ideológica e a leitura simplista das estatísticas dizem que os SNS são muito bons e a saúde nos EUA é má? Sim, é.

Pouco importa que o uso de tecnologia clínica de ponta esteja generalizado nos EUA, ao contrário do que acontece nos SNS.
Não interessa que o estilo de vida de faixas importantes da população degradem estatísticas.
É irrelevante que os políticos que defendem a existência de SNS não ponham lá os pés e recorram à medicina privada.
É tolice pensar que morrer nas filas de espera dos SNS signifique que o sistema não presta.

Para a beatice atual, o que importa é que se tem um SNS “universal”, ponto. Tal e qual como no tempo em que a beatice achava que o importante era usar aliança, ainda que o marido não praticasse dentro de casa.


O governo socialista e de esquerda diz-nos que a escola pública está cada vez melhor?
Sim, está.

É irrelevante que os professores das escolas públicas tenham uma taxa de absentismo superior a qualquer outra profissão.
Não faz mal que a média das notas nacionais suba na proporção em que a dificuldade das provas desce.
Pouco importa que pais e alunos batam nos professores à vontade.
Não interessa o bullying descontrolado nos recreios das escolas públicas.
Não há conclusões a tirar de o mais conhecido político de esquerda português ser proprietário de uma escola privada ou de os políticos de esquerda porem os filhos em escolas privadas.

Para o beatério destes dias, o que importa é que as estatísticas nos mostram que Portugal é dos países que gasta mais dinheiro do PIB em “educação”. Acresce que a escola pública, multicultural e sem 'repetências' , é um avanço social por definição, assunto fechado. Esta sacralidade moderna é uma metamorfose de sacralidades matrimoniais públicas e obrigatórias de outros tempos, só a beatice é a mesma.


Para o beato de todos os tempos, a realidade que questiona o preconceito é maldosa e enganadora. Há que não querer saber dela ao mesmo tempo que se ostraciza os seus transmissores desalinhados. Chamar-lhes nomes ajuda a resolver o problema (incréu, judeu - antes - bushista e neocon - hoje).

Portanto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas o espírito beato está vivo, de boa saúde e ‘a la page’ com as crenças dos tempos que correm.

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro PP

Gostava muito de comentar esta écloga, mas vou primeiro munir-me de algumas ferramentas que me faltam: fé (onde se compra?) e linguagem de sacristia. Estou convencida de que qualquer catecismo me pode servir de guião e logo, logo, já melhor equipada, volto à antena.

Continue o bom trabalho, não se empate.


ETIQUETAS: MUITO INTELIGENTES

Paulo Porto disse...

Cara ml

Fé, linguagem, e sobretudo atitude beata é coisa que não lhe falta, pelo que não vale a pena ir 'munir-se'. Já no que se refere a lucidez e bom-senso, isso sim, muna-se, muna-se muito.

Anónimo disse...

"Pouco importa que na origem de tudo esteja o facto de o governo americano ter obrigado a banca a financiar crédito insustentável por questões políticas sócio-raciais.
Esqueça-se que a solidez financeira dos Bancos de vários países europeus está mais afetada pelo crédito malparado interno do que pela aquisição de ativos do outro lado do Atlântico (a este respeito, Portugal é um excelente exemplo)."

Meu caro PP, e deste lado do atlantico tb foi o Estado que obrigou a financiar esse crédito?

Não me diga que depois das estatisticas de Saude dos USA, agora também são culpados desta crise. Está interessante esta evolução de raciocinio...

Rui Rodrigues disse...

Stran

Não. Deste lado do Atlântico os estados apenas contaram com o crédito bancário fácil dos últimos anos para sustentar o consumo, incluindo o crédito imobiliário.
O que aconteceu com o Hypo na Alemanha é uma estória por contar.
Um consumo alavancado sobretudo com o com crédito e sem aumentos correspondentes da produção acaba por não ser sustentado e cai. É o que está a acontecer por cá.

Já se percebeu que se os Bancos começarem a recuperar empréstimos, sobretudo imobiliários, as famílias são postas na rua. Em grandes números, o assunto fica tão visível que dá direito a perder eleições, e não há São Magalhães portátil que valha.

Veja aqui:
http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=EA6A51EB-2D27-47BB-AF9A-BA1C1D07C915&channelid=00000181-0000-0000-0000-000000000181



"Não me diga que depois das estatisticas de Saude dos USA, agora também são culpados desta crise."

Esta frase é incompreensível.

Anónimo disse...

"Não me diga que depois das estatisticas de Saude dos USA, agora também são culpados desta crise."

Esta frase é incompreensível.

Num outro comentário argumentaram que o problema dos Indicadores respeitante ao Tema Saude é devido ao elevado numero de afro americanos e agora relativamente à crise voltam a apontar para uma razão racial.

ml disse...

Fé, linguagem, e sobretudo atitude beata é coisa que não lhe falta, pelo que não vale a pena ir 'munir-se'. Já no que se refere a lucidez e bom-senso, isso sim, muna-se, muna-se muito.

Claro, caro Porto, e até vai ficar lavrado em acta. Os apontamentos estão espalhados aqui pelo blogue, é só consultá-los.


é que as estatísticas nos mostram que Portugal é dos países que gasta mais dinheiro do PIB em “educação”

Tem que proteger melhor esses pés dos tiros. Ultimamente já lá vão uns tantos buracos e se calhar esqueceu-se de actualizar a licença de porte de arma.
Dinheiro vs eficácia, onde é que eu já li isto? E não foi há muito, sei lá.

É sempre um prazer dar-lhe motes para os posts. A do beatedo ficou legível, a experiência pessoal por vezes é um bom contributo.


ETIQUETAS: MUITO INTELIGENTES