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Este será, provavelmente, um dos últimos artigos que escreverei sobre as Eleições Norte-Americanas de 2008. O tempo urge, a campanha aproxima-se do final e tudo se encontra, por muito que não queiram, difícil de prever.
O Lidador e o Paulo têm dado particular relevância, nas últimas semanas, às eleições Norte-Americanas nos seus artigos. É óptimo que isto tenha acontecido, pois de verborreia pro-Messias a malta já anda um pouco farta.
Enalteço o trabalho do Lidador, que trouxe até nós algumas das verdades escondidas pela Comunicação Social Internacional. A amizade com Ayers, as transferências monetárias para a ACORN, a sua juventude marcada pela partilha de valores muitas vezes avessos aos Norte-Americanos e os jantares suspeitos com Palestinianos levam-nos a pensar quem será, realmente, Barack Obama.
Ninguém sabe ao certo. Creio que nem Barack Obama saberá. Mas isso também é parte da estratégia: dar uma no cravo, outra na ferradura.
A maioria das pessoas pensa que sabe o que o Obama é: Deus. É o tipo que não entrará em Guerras e que vai terminar com as já existentes, é o tipo que fechará Guantánamo e Abu Ghraib, é o tipo que reatará as boas relações dos Estados Unidos com a Europa, é o tipo que se sentará à mesa das negociações com tudo e com todos, é o tipo que defenderá a diplomacia e repudiará a Guerra, é o tipo que vai ratificar um futuro tratado Mundial relacionado com o Aquecimento Global, é o tipo que vai colocar os Estados Unidos no Tribunal Penal Internacional, é o tipo que vai distribuir a riqueza, é o tipo que dará saúde para todos os Americanos, é o tipo que ajudará África.
Outros, nos quais creio que o meu colega Paulo se insere, acreditam que Obama trará alguma espécie de mudança, mas longe daquela que a esquerda Mundial sonha. Fará reformas a nível interno, aumentará impostos, tomará medidas proteccionistas, concentrará esforços no Afeganistão, falará com a Europa, praticará a diplomacia, atacará o Irão e defenderá Israel.
Outros, nos quais eu me insiro, não julgam nada. Estamos confusos demais para isso. O rapazinho diz uma coisa nas Primárias e agora diz outra totalmente diferente? Vê babado durante toda a sua vida os discursos do Reverendo Wright e agora critica-o acerrimamente? Financia a ACORN e depois diz que não tem nada que o relacione com ela? Diz que cortará os impostos à classe média, quando 40% dela já não os paga? Primeiro aceita os fundos federais e depois diz que já não precisa deles? Vai retirar do Iraque e depois defende uma política ponderada? Defende a diplomacia a todo o custo e enviará mais tropas para o Afeganistão?
Acho muito difícil prever um mandato Obama, a avaliar por aquilo que ele já fez e disse no decorrer de toda esta campanha. A futurologia do meu colega Paulo até pode estar certa, mas Obama não é coerente. Deduzir algo das palavras de Obama é um exercício perigosíssimo. Obama é perigoso.
O Senador John McCain, pelo contrário, é um tipo que conhecemos bem, do qual sabemos o percurso de vida, os feitos, os projectos e a sinceridade. John McCain é um grande candidato para a Presidência dos Estados Unidos da América, um homem capaz, pela sua cultura, vivência e personalidade, de conduzir os destinos do mais forte país do Mundo. Os tempos são difíceis, requerem experiência, audácia, inteligência: McCain, no alto dos seus 72 anos, é um senhor em política internacional, profundo conhecedor do Mundo que nos rodeia. É isto que nós precisamos.
Alguém iluminado nunca negará as capacidades de John McCain. Poderá negar as de Sarah Palin, as de Bush, as de Cheney, as de Obama, as de Biden, as de Colin Powell, as de Rumsfeld. Mas nunca as de John McCain.
Tristemente, deparo-me, hoje em dia, com a extrema dificuldade que John McCain terá para vencer as eleições deste ano. A escolha de Sarah Palin revelou-se, depois de uns primeiros tempos, a pior coisa que poderia ter feito: a Governadora do Alaska tem-se revelado fútil, ignorante, interesseira e, dessa forma, uma péssima parceira para o Senador McCain. Mitt Romney, Rudy Giuliani, Mike Huckabee ou Joe Lieberman seriam, todos eles, melhores escolhas para o cargo de vice-Presidente dos Estados Unidos. Não que fossem melhores a desempenhar o cargo (um cargo que exige, como já referi, pouco), mas ajudariam, com certeza, McCain a ganhar mais votos, em diferentes áreas geográficas e em diferentes grupos eleitorais.
Porém, não vale a pena martelar mais no assunto, a escolha está feita e até pode ser que resulte.
As sondagens deste ano são, dada toda a conjuntura, bastante falíveis: clima de recessão económica; um negro a concorrer para Presidente e uma mulher para vice-Presidente; um mandato Bush odiado por 60% dos Americanos; uma Guerra do Iraque que, apesar de estar agora a ser ganha, ainda deixa muitas dúvidas no ar; uma Rússia e um Irão agressivos, uma Venezuela que abre demais a boca; um inexperiente a concorrer para o cargo, com ligações perigosas e, para muitos, muçulmano; um herói de guerra a concorrer para o cargo.
São umas eleições suy generis. Tanto para os Estados Unidos como para a Europa. Umas eleições que definirão o nosso futuro, tal é, em algumas matérias, o antagonismo existente entre os dois candidatos.
A Europa reconhece que as eleições são especiais, na medida em que existe um candidato especial, fofinho, bonito e imaculado. Que ninguém lhe ouse fazer o mesmo que fizeram a Kennedy! A esperança é grande, mas ao mesmo tempo pequena: os Americanos, esse povo racista, já alterou resultados de eleições para colocar Satã no poder, em detrimento do magnífico Al Gore...
Então não é que já prenderam uma carrada de neo-nazis que queriam matar o Obama? Ai estes Americanos, rudes, racistas, xenófobos, estúpidos, burros!
Do alto da minha ignorância, o que acham que aconteceria a um judeu se este se candidatasse para a Presidência Húngara? E a um negro que se candidatasse para a Presidência Alemã? E a um cigano que se candidatasse para a Presidência Italiana?
Acho que todos nós sabemos a resposta.
O mapa dos Estados Unidos que vos trago acima é a minha visão sobre o estado das coisas nas eleições: o azul retrata os estados "já" ganhos por Obama; o vermelho retrata os estados "já" ganhos por McCain; o cinzento os estados que poderão ver o sentido de voto alterado.
Obama leva, de facto, uma vantagem considerável de 63 votos eleitorais na corrida para a Casa Branca. Porém, está longe de poder gritar vitória, apesar de ser quase certa a sua vitória na Pennsylvania (+21), no Iowa (+7) e no New Mexico (+5). Com a junção destes três estados, ficam a falar 11 votos (Obama fica com 260).
Ora, estou em querer que podemos excluir de possíveis estados a ganhar por Obama a Carolina do Norte (reduto que Bush ganhou por 13% e que, por força de ser um estado com muitos Afro-Americanos, está agora muito dividido), o Indiana (Bush ganhou o Indiana por 20% mas, dada a proximidade geográfica do Illinois e a expansão dos subúrbios deste mesmo estado, para além de uma possível mãozinha da ACORN, Obama encontra-se por perto) e o Missouri. Com a junção destes três estados às contas de McCain, ficam a faltar 71 votos (McCain fica com 200).
A decisão faz-se, portanto, no Colorado, no Nevada, no Ohio, na Vírginia, na Florida e no New Hampshire.
John McCain tem que ganhar, forçosamente, Ohio e a Florida. As coisas não estão muito negras, é até provável que isso aconteça. Com a junção destes dois estados, McCain ficaria com 247 votos, contra os 260 de Obama.
McCain pode até perder a Vírginia, mas teria que ganhar Iowa ou New Mexico como recompensa (ou outro qualquer estado fora Colorado, Nevada e New Hampshire). Porém, penso que as coisas continuam a estar muito equilibradas na Vírginia, que costuma, por tradição, votar Republicano.
Isto vai ser renhido. É bastante provável que, dado o actual estado de coisas, o vencedor nem chegue aos 300 votos eleitorais (McCain de certeza que não chega).
Entretanto, seguem preparativos aqui em casa para o grande dia. Quem quer vir beber uma jola e ver a eleição?