Geir Haarde, primeiro-ministro da Islândia até há algumas semanas, foi entrevistado ontem em direto no programa de entrevistas curtas da BBC, o ‘Hard Talk’. (ver aqui)
Sobre esta entrevista, três notas:
O conteúdo; A Islândia bem pode ser considerada o melhor ‘case study’ sobre a crise financeira mundial. O país entrou numa escalada de crédito louca. Atraiu até fundos internacionais para capitalização no pequeno sistema financeiro da ilha. A vertente financeira da economia passou a ser muito importante no bem estar da população islandesa; por um lado, através do financiamento de um padrão de consumo superior ao adequado para o nível de rendimento das pessoas; por outro, como fonte direta de rendimento de uma parte cada vez maior da população ativa.
Finalmente, com um sector financeiro sobredimensionado, o sistema entrou em rotura. E bastou uma pequena desconfiança para dar início ao colapso. Os rendimentos da atividade financeira quebraram, muitos deixaram de poder pagar os empréstimos; os Bancos não conseguiram pagar ao estrangeiro o capital que tinham pedido emprestado para injetar nas famílias e empresas islandesas.
Haarde foi o PM islandês que supôs que o país podia prosperar com base numa economia financeira desajustada da realidade. Falhou, assumiu o erro e teve de se demitir.
Na Islândia percebe-se agora que é necessário regressar à economia real, a assentar os pés no chão. Geir Haarde é um dos que entende isso. Ele disse na entrevista que os islandeses teriam que voltar a trabalhar e investir nas atividades económicas que são uma vantagem marginal do país. Referiu, naturalmente, a indústria pesqueira.
A forma; Haarde passou a imagem de um homem sério. Assumiu falhas e explicou, sem bodes expiatórios nem fantasias, a situação no seu país. Enfrentou um jornalista agressivo, com uma ou outra pergunta acintosa. Ainda assim ele nunca saiu do seu tom sóbrio. Não se desculpou com nada nem ninguém em nenhum momento, excepção feita à importância que atribuiu a Gordon Brown no espoletar da derrocada dos Bancos islandeses. (Não cabe aqui entrar nesse detalhe, pode ver-se na entrevista.)
Uma comparação; ao ver este ex primeiro-ministro islandês, os seus modos tranquilos, a admissão de falhas, a forma como apontou soluções opostas ao caminho anterior, percebemos que estamos na presença de um político decente, honesto.
Inevitavelmente vem à lembrança o nosso primeiro-ministro, embora pelas razões opostas. Os modos agressivos e agitados de Sócrates, a total incapacidade de admitir os seus (muitos) erros próprios, a forma como aponta como saída da crise a mesma receita que levou até ela (o excesso de crédito).
A comparação entre um e outro evidencia com transparência cristalina que Sócrates, ao contrário de Haarde, não é um político decente nem honesto.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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2 comentários:
Muito bom post, e por isso vou já ver o Hardtolk, que como entrevistadores não há pai...
Paulo Porto,
Já tentou enviar este texto para um jornal? Creio que faz muita falta...
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